A denúncia do Fantástico (27/2) sobre a destruição de documentos do período da ditadura militar é muito séria, e não pode passar em branco. Ela não pode ser tratada como uma denúncia a mais, ou só mais uma atração do ‘show da vida’. Será um grande desrespeito à história do país e à luta pelos direitos humanos, se tudo for ignorado.
Com a queima de documentos fica claro que muita coisa ainda está encoberta sobre esses anos tristes da vida brasileira. E tudo ganha importância quando se observa que existe um temor muito grande de que isso se torne público. A conservação desse material é essencial para que as marcas deixadas pelo regime militar sejam tratadas. A sociedade tem o direito de abrir as caixas-pretas e saber o que ocorreu naqueles anos sombrios. Além do que, os documentos são de interesse direto das famílias de vítimas da ditadura.
Uma grande perda
É inegável a contribuição do Fantástico com a denúncia. Na primeira vez em que ela foi veiculada, meses atrás, causou reação muito positiva de setores da sociedade: alguns arquivos do período da ditadura foram abertos ao público, além de alertar-se sobre o risco que nossa história corria.
O caso é urgente, por isso é preciso que haja uma mobilização para que se evite a destruição desses arquivos. É obrigação dos outros meios de comunicação dar a merecida importância ao caso. Não é o momento de ficar com aquele ciúme infantil, de não querer dar os méritos a uma rede de televisão, e acabar prejudicando toda a nação.
Em nossa história já tivemos uma grande perda com a destruição do arquivo da escravidão, promovida por Rui Barbosa. Claro, as intenções de Rui Barbosa eram bem diferentes da dos responsáveis pela queima dos documentos da ditadura militar. Mas o prejuízo foi imenso. Com o arquivo poderíamos conhecer melhor a formação do povo brasileiro, e denunciar de forma mais consistente a crueldade da escravidão.
******
Jornalista, professor da PUC-Minas Arcos e doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo