Saturday, 07 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1304

A (incômoda) transparência de gastos

A ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, abordou em sua coluna de domingo [10/2/08] uma matéria envolvendo W. Richard West Jr., diretor do Museu Nacional do Índio Americano, publicada no dia 28/12/07. O artigo revelava que, nos quatro anos de sua gestão no museu – de 2003 a 2007 –, foram gastos mais de US$ 250 mil com despesas de viagem. A denúncia gerou críticas do diretor, de seus amigos e contribuintes do museu. Para eles, a matéria foi injusta, já que West teria conseguido arrecadar US$ 155 milhões para a instituição neste período.


O diretor teria gasto o alto valor com viagens para Paris, estadias em hotéis de luxo, refeições em restaurantes caros e deslocamento em limusines, além da produção de um vídeo de US$ 30 mil e um quadro com seu rosto no valor de US$ 48.500 para sua festa de despedida. As viagens foram para palestras, captação de recursos e parcerias com outros museus. A matéria levou a revisões oficiais dos gastos.


Os repórteres do Post James V. Grimaldi e Jacqueline Trescott contam que diversas pessoas do museu entraram em contato com eles pedindo que os gastos de West fossem investigados. Fontes não reveladas forneceram documentos sobre as viagens. Os repórteres já haviam escrito sobre os gastos do ex-secretário do museu, Lawrence M. Small, e sua vice, Sheila Burke, que renunciaram ao cargo. O inspetor-geral do museu, Sprightley Ryan – que investiga as despesas de West –, alega que os funcionários da instituição devem seguir as regras do Federal Travel Regulation, que regula as despesas de viagens com dinheiro público, mas confessa que nem sempre o museu verificou com afinco os gastos da diretoria.


Em sua defesa


West defende-se e diz que suas despesas foram autorizadas por supervisores, incluindo as que não se encaixavam nas regras, como bilhete aéreo com passagem executiva e diárias em hotéis luxuosos. Ele diz ter usado milhas para fazer um upgrade na sua classe aérea e ter pagado com seu dinheiro despesas de restaurante. O vídeo não foi feito a seu pedido e ele admite que, se pudesse voltar no tempo, não pagaria o quadro com dinheiro do museu. West é membro das tribos Cheyenne e Arapaho e especialista em museus e assuntos indígenas. Ele também é presidente do conselho da Associação Americana de Museus e faz parte do Conselho Internacional de Museus, com sede em Paris.


Diversas matérias do Post foram publicadas sobre West e sobre o museu indígena; a maioria, segundo Deborah, foi positiva ou neutra. A primeira matéria revelava que West ficou fora do museu por 576 dias em viagens, de 2003 a 2007. A segunda matéria mostrava que as 30 viagens dele em 2007 deixaram-no fora por 180 dias a um custo de US$ 105.598 – cinco vezes mais que a média de despesas de viagem de qualquer outro diretor do museu.


Para a consultora do museu Maureen K. Robinson, West é um líder reconhecido nacionalmente e internacionalmente, e o Post o pegou em sua pior situação. Já Harold K. Skramstad Jr., ex-diretor do museu e consultor, considerou justa a cobertura do diário. ‘É uma quantia extraordinária. Diretores têm de viajar, mas não dá para passar todo o seu tempo em encontros profissionais’, opinou.