As primeiras declarações do ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social, desanuviaram um ambiente gravemente tensionado há quase dois anos. As palavras deste capixaba – que, como todos, parece ser mais tranqüilo do que os mineiros – não renderam manchetes, mas estão fadadas a esvaziar um impasse que intoxicava as relações entre governo e imprensa e comprometia seriamente nossa tranqüilidade institucional.
Qual a mágica deste comentarista político que se exibia nas mais importantes vitrines da mídia brasileira e agora, com a mesma habilidade, consegue reverter uma situação que chegou a ser apontada como dramática e irreversível?
Franklin Martins apenas reconheceu a existência de um foco de tensões. Nada mais, nada menos. A solução de um problema começa pelo reconhecimento de sua existência. Detalhe? Pode ser, mas a partir dele é possível buscar uma enunciado correto. O resto – a busca da solução – é relativamente fácil. O que nos leva a estabelecer um axioma audacioso: não há problemas insolúveis, há problemas escondidos debaixo do tapete. Ou erroneamente formulados.
Poder real
O conflito governo versus imprensa existe desde meados de 2005, escancarado pelas revelações sobre a existência do mensalão, valerioduto e afins. O governo e o partido do governo resolveram ignorá-lo e quando isto ficou impossível tentou o by pass, a perigosa ultrapassagem: começou a bombardear a imprensa com acusações de golpista, partidária etc., etc. O confronto agravou-se quando, duas semanas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, a Polícia Federal desvendou um dos maiores escândalos eleitorais da nossa história política: a compra de um dossiê falso destinado à publicação num semanário de circulação nacional para prejudicar candidatos da oposição.
Ao reconhecer que governo e imprensa passaram por uma ‘crise política monumental’ e que, doravante, a relação entre as partes deverá ser ‘mais fluída, mais tranqüila, mais profissional, menos defensiva’, o novo ministro tem a coragem de identificar o problema e nomeá-lo de forma pertinente e explícita. Assume-se, assim, assim como autêntico mediador. Mediador e não intermediador. Mediador, com engenheiro de comunicação, especialista em abrir novos canais de comunicação. Ou desentupir os existentes.
Custa crer que assessores presidenciais do porte de Marco Aurélio Garcia e Tarso Genro não tenham percebido que a entonação frenética das críticas à imprensa vocalizadas pelo candidato-presidente da República durante a campanha eleitoral constituía séria ameaça ao processo democrático.
O primeiro a perceber o perigo do confronto foi o jornalista Eugênio Bucci, presidente da estatal Radiobrás, ao declarar que um governo não pode apresentar-se como vítima da imprensa. A recíproca, sim, pode ser verdadeira: governos têm poder real, a imprensa jamais poderia confrontar o aparato de força embutido nos poderes executivo, legislativo e judiciário.
Plural e poderosa
Quem obrigou Richard Nixon a renunciar foi a sociedade americana – o Washington Post, amparado na Constituição dos EUA, apenas ofereceu-lhe subsídios. O mesmo aconteceu no Brasil: a derrubada de Collor de Mello foi obra do Legislativo e do Judiciário, Veja e a imprensa apenas utilizaram a sua capacidade de duvidar das versões oficiais.
Como jornalista, Franklin Martins localizou um campo minado. Como funcionário a serviço da sociedade mostra-se disposto a criar alternativas viáveis para tornar nossa comunicação social mais pluralista e, portanto, mais poderosa. Como comentarista político (que jamais deixará de ser) percebeu que é indispensável dar nome aos bois. Antes que, tomados pela fúria, derrubem o circo.