Preparemo-nos para o retorno do tema de abertura da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, exatamente às 19 horas, horário de Brasília. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, a flexibilização para a veiculação da Voz do Brasil no rádioestá suspensa até que todas as instâncias de recursos sejam julgadas. Embora a transmissão do programa seja obrigatória desde 1938, algumas cidades pelo Brasil haviam conquistado, nos últimos anos, a concessão de liminares que permitiam a veiculação do noticiário radiofônico mais antigo do país em horários alternativos. No Rio Grande do Sul, essa passou a ser a regra, inclusive.
Criado no governo Vargas, o programa sempre teve a intenção de ser o canal oficial de divulgação dos atos e idéias do Poder Executivo. Com o tempo, o Legislativo e Judiciário Federal também passaram a ocupar esse privilegiado espaço midiático. Incrivelmente, embora surgido e mantido pelos governos autoritários, o programa persevera fortemente mesmo nos governos democráticos que se sucedem desde a Constituição de 1988.
Trata-se da voz de que Brasil? Eco de que opiniões e verdades? A quem interessa, engarrafado em alguma avenida enquanto tenta chegar a casa depois do trabalho, escutar a voz rouca que transmite a versão oficial de fatos muitas vezes sequer compreendidos em seus contextos?
O silêncio da pluralidade comunicativa
A proposta da Voz do Brasil vem de um tempo em que as pessoas viviam ao redor do rádio e era ele o grande veículo de informação do país. Terminado o noticiário, as pessoas iam se recolhendo às suas camas e sentiam-se unidas ao moderno projeto para a construção da identidade nacional de um próspero país do futuro. Mas, e hoje, século 21 do terceiro milênio, o que tem a Voz do Brasil para fazer vibrar o ouvinte?
Dezenove horas é o tempo da necessidade de informações locais com prestação de serviço sobre o trânsito, a chuva, o sol; é hora de ouvir música, relaxar, torcer pelo time preferido. É hora de enviar torpedo, telefonar, mandar mensagens pelo MSN e Twitter para o programa preferido e participar com voz ativa de uma comunicação ágil e de partilha dos problemas e alegrias cotidianas. É hora de tudo, menos de se aborrecer e ver silenciada a pluralidade comunicativa em nome do direito de fala de apenas um, que sequer sabemos exatamente quem é ou o que deseja com o monopólio da fala, quando em Brasília o relógio bater 19 horas.
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Jornalista, Porto Alegre, RS