Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Ação policial fecha emissora e destrói jornais

Homens armados usando máscaras fecharam a estação de TV KTN, invadiram os escritórios do Standard, jornal mais antigo do Quênia, e queimaram os exemplares que seriam publicados no dia seguinte, em uma violenta operação na madrugada de quarta-feira (2/3). O ataque ocorreu dois dias depois que três jornalistas do Standard foram presos, acusados de inventar uma matéria sobre um encontro secreto do presidente com um líder da oposição. Os homens não usavam uniformes, mas se identificaram como policiais e levaram quatro funcionários da emissora para a delegacia após o ataque.


Os editores Chaacha Mwita e Dennis Onyango e o repórter Ayub Savula foram presos em uma delegacia na capital, Nairóbi, após serem intimados a se apresentarem às autoridades. A justificativa para a detenção foi um artigo publicado na edição do dia 25/2, sobre um suposto encontro do presidente Kibaki com o ex-ministro do Meio Ambiente Kalonzo Musyoka, para a discussão de uma possível aliança política. Musyoka deixou o governo em novembro do ano passado e juntou-se à oposição em campanha contra um projeto constitucional proposto pelo chefe de Estado. As assessorias de imprensa dos dois políticos negam o encontro.


Funcionários no chão, fogueira de jornais


A polícia realizou ações simultâneas para atacar os escritórios dos veículos de comunicação, que pertencem ao mesmo grupo. Na emissora de TV, houve pânico quando os seguranças foram feridos, computadores foram confiscados e cabos e outros equipamentos, destruídos. A equipe que trabalhava no local foi obrigada a deitar no chão durante a operação. A KTN só voltou a transmitir na tarde do dia seguinte. As prensas do Standard foram paradas e milhares de cópias do jornal foram queimadas em uma fogueira no meio da rua.


Esta é a primeira vez que um governo no Quênia fecha uma grande companhia de comunicação, surpreendendo jornalistas e empresários de mídia acostumados a trabalhar em um ambiente relativamente liberal. ‘Nós acreditamos que esta é uma tentativa direta para acabar com a liberdade de imprensa no país, que é garantida pela constituição’, afirmou Tom Mshindi, executivo-chefe do Standard Group.


Mordida de cobra


O governo do Quênia admitiu responsabilidade pelos ataques, que foram condenados pelas embaixadas britânica e americana. O ministro de Segurança Interna do país, John Michuki, afirmou que a ação policial tinha como objetivo proteger a segurança do Estado. ‘Se você bate em uma cobra, deve estar preparado para ser mordido por ela’, comparou.


As relações da comunidade internacional com a administração de três anos de Kibaki têm se deteriorado nos últimos meses por escândalos de corrupção. Três ministros já deixaram seus cargos, e a frustração do governo parece se intensificar com as contínuas críticas da imprensa à atuação do presidente diante da crise. Informações de Jeevan Vasagar [The Guardian, 3/3/06] e dos Repórteres Sem Fronteiras [1 e 2/3/06].