‘Por trás de uma cena como a reprodução do bombardeio da cidade de São Paulo durante a Revolução de 24, fato pouco explorado pelos livros de História e que foi ao ar semana passada na minissérie Um só Coração, existem pesquisadores de confiança dos autores Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Muitos não sabem ou não lêem com atenção os créditos da minissérie, mas a dupla se cerca de uma equipe formada por jornalistas, arquitetos e historiadores, que lhes presta consultoria histórica e está de plantão para esclarecer dúvidas de última hora, dia e noite.
Cercar-se de um núcleo de apoio histórico, no entanto, não é privilégio unicamente de Maria Adelaide e Alcides. O trabalho de bastidor desses anônimos, apesar de pouco divulgado, é bastante utilizado por outros autores de minisséries, novelas, de teatro, escritores e roteiristas de cinema, que preferem a confiabilidade desses profissionais e não encontram tempo para conciliar processo de criação e pesquisa. Afinal, deslizes históricos enfraquecem obras e deixam especialistas de cabelo em pé.
Para Maria Adelaide, os consultores são uma questão de necessidade. ‘Preciso da correta informação histórica mesmo que seja para transgredi-la’, observa ela, que recorre a este tipo de auxílio desde sua primeira minissérie, A Muralha. ‘Não tenho a menor desenvoltura para escrever se não tiver conhecimento do que de fato aconteceu.’ Alcides Nogueira acredita que a verossimilhança proporcionada por esses profissionais é essencial, mesmo se tratando de uma obra ficcional, já que os autores também se embrenham por universos de personagens e fatos reais. ‘Tudo o que diz respeito aos fatos históricos, ao comportamento da época enfocada, às expressões mais usadas passa pelo crivo deles’, afirma. ‘Fora isso, nossos pesquisadores nos municiam com informações detalhadas sobre os mais diversos temas.’
Uma equipe foi montada especialmente para esta minissérie. Nela, está a pesquisadora Cármen Righetto, uma espécie de braço direito de Maria Adelaide há muito tempo. Cármen conhece a autora desde que as duas eram jornalistas na extinta Abril Cultural. Depois de sair da Abril, a pesquisadora chegou a montar uma empresa e, tempos depois, se viu em meio a uma crise. ‘Maria Adelaide percebeu que eu estava numa situação profissional difícil e, como na Abril a primeira coisa que fiz foi pesquisar textos, ela me chamou.’
Há 12 anos, Cármen começou a trabalhar para Maria Adelaide, Alcides e Silvio de Abreu. Para Maria Adelaide, prestou consultoria nas minisséries A Muralha, A Casa das Sete Mulheres e, desde junho do ano passado, em Um só Coração. É, sem dúvida, o trabalho que lhe dá prazer, mesmo diante do grau de exigência. ‘Faço a leitura final dos capítulos antes de irem para o Rio, porque não deixo escapar nenhum fato.’ Ela fez o levantamento, por exemplo, da vida de Flávio de Carvalho, um arquiteto excêntrico que, como tantos outros personagens da vida real, caiu no esquecimento e será resgatado na minissérie.
Também amigo próximo dos dois autores, é a primeira vez que o jornalista Wladimir Sacchetta e sua produtora Companhia da Memória prestam consultoria.
Fundada em 1985, a empresa é especializada justamente em pesquisa histórica e memória brasileira, para livros, exposições, documentos, histórias de empresa e TV. Um dos principais projetos desenvolvidos pela companhia, segundo o jornalista, foi a biografia de Monteiro Lobato, recordando seus 50 anos de morte.
Para a minissérie, Sacchetta recrutou dois pesquisadores, um em São Paulo e outro no Rio. ‘Estamos subsidiando Maria Adelaide e Alcides, a qualquer momento, com temas específicos’, diz ele, que auxilia também o jornalista Elio Gaspari no quarto volume da série Ilusões Armadas. ‘Os dois são muito aberto a sugestões. Quando é de natureza histórica, eles acatam; quando está no plano da ficção, fica à critério deles.’
O autor Walcyr Carrasco, conhecido por novelas de época como a ótima O Cravo e a Rosa, A Padroeira e o atual folhetim das 6, Chocolate com Pimenta, é outro que não abre mão de seus consultores. ‘Pesquisador é importante em toda novela, mesmo atual: ele lê os capítulos, vê se há algum erro e me comunica’, explica. ‘Se tomo alguma liberdade poética, tem de ser consciente.’ Em A Padroeira, além de uma pesquisadora só para orientá-lo, ele teve assistência de historiadores antes das gravações. Entre eles, Ronaldo Vainfas, especialista em período colonial, que ministrou um workshop sobre a religiosidade para os atores. ‘É uma forma de ambientar o elenco na época em que vão atuar’, justifica.
Deslocada – Agora, em Chocolate com Pimenta, Carrasco e sua colaboradora Thelma Guedes contam com o reforço do pesquisador André Ryoki. ‘Um dia, por exemplo, eu escrevi: ‘Vou te pôr no meu caderninho’. O André me alertou que essa expressão se referia a caderno de telefones. Como na época ninguém possuía esse tipo de caderninho, a expressão estaria deslocada’, conta o autor. Segundo Ryoki, seu trabalho está dividido em duas partes: num primeiro momento, recolhe todo tipo de informação histórica, sobre cinema, música, moda e costumes, cenário político, referente à década de 20 e depois, é responsável pela revisão historiográfica dos capítulos. ‘Este não é exatamente um nicho novo para nós, mas, por outro lado, com a retomada do cinema nacional, deve abrir novas oportunidades de trabalho.’
Para rodar o belo Desmundo, ambientado em 1570, o cineasta Alain Fresnot necessitou da colaboração de pesquisadores no campo histórico e lingüístico.
A sujeira das estradas e problemas sanitários da velha Brasil colonial reproduzida no longa são tão convincentes quanto as falas dos atores, pronunciadas em bom português arcaico. Os diálogos ficaram a cargo do pesquisador e lingüista Helder Ferreira. ‘Contratá-lo foi uma das últimas decisões que tomei, tendo em vista nosso orçamento’, comenta Fresnot.
‘Helder tem um trabalho maravilhoso em cima do português arcaico, que buscou em peças de Gil Vicente e documentos de época. Ele não só pesquisou, como treinou o elenco.’ O esmero dos figurinos, cenografia, entre outros aspectos, também merece ser destacado.
No teatro, a preocupação com a precisão histórica e cenográfica pode ser menos evidente, mas também se faz necessária. No caso da historiadora Maria Izilda Matos, um de seus livros, Boêmias em Copacabana – Dolores Duran, não só serviu de inspiração para um musical sobre a cantora e compositora, como a própria autora se tornou consultora da montagem. O musical estreou no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, em 1998, e rodou o País. ‘Completei a pesquisa, usei parte do material não usado no livro, dei workshop para a equipe, troquei experiência com figurinistas, participei de várias etapas’, descreve. Enquanto a peça esteve em cartaz, Maria Izilda conta que se esgotaram duas edições do livro.
De um modo geral, os consultores históricos acompanham de perto a feitura das obras, mas não interferem nelas. Por isso, muitas vezes, por mais que dêem todo tipo de suporte, não conseguem evitar escorregadelas cometidas por um cenógrafo ou um figurinista mais descuidado, ou pelo próprio autor, em nome da tal ‘licença poética’. E é para essa fronteira pouco visível entre ficção e realidade que historiadores mais ortodoxos torcem o nariz. Elias Tomé Saliba não segue essa linha, mas faz ressalvas. Acredita que a obra ficcional não tem de ser fiel à história, mas precisa respeitá-la. ‘A produção pode ser boa, mas não é uma aula de história.’’
Beth Néspoli
‘Pascoal da Conceição busca ações de Mário de Andrade’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/02/04
‘Quem conviveu com Mário de Andrade não poupa elogios a seu intérprete na minissérie Um só Coração – o ator Pascoal da Conceição. Até mesmo quem só viu o autor de Macunaíma por meio de fotos fica impressionado com a incrível semelhança física. Mas esse é apenas um aspecto, o mais superficial, de sua brilhante atuação. No olhar, nos gestos, em nuances vocais, o ator revela tanto o vigor intelectual quanto a delicadeza de alma de seu personagem.
Para Pascoal, a preparação desse personagem começa muito, muito antes do convite para atuar na minissérie. Antes de mais nada, ele faz questão de falar de sua filiação artística – o Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa. ‘Há quem pergunte se sou ex-ator do Oficina. Alguém por acaso se diz ex-filho ou ex-irmão? Sempre serei ator do Oficina.’
Atores de teatro que vão para a TV costumam ouvir observações do tipo ‘está teatral’, faça ‘menor’, ‘mais baixo’. ‘Pois eu, logo na primeira cena, vivi algo incrível. Tinha de falar uma poesia, no palco do Municipal. A Globo colocou mil figurantes na platéia. E eles deviam ser hostis. Imagine o que é para um ator de teatro estar sozinho, naquele palco imenso, e diante de uma platéia hostil. O diretor falou: se solta aí. Fiz a festa. Foi maravilhoso’, diz Pascoal em entrevista ao Estado, por telefone, do Rio.
‘Aprendi que um ator deve sempre se plugar nas ações de seu personagem. Em sua pesquisa, deve alimentar-se dessas ações. Mário tinha um projeto para o Brasil. Sonhou uma Nação digna desse nome, sem trabalho escravo, sem miséria. Se eu me ligar ao Mário pelo ego, pelos aspectos exteriores, o trabalho sairá fraco.’
Ao ser chamado para atuar na minissérie, antes de mais nada foi ler a obra de Mário de Andrade. ‘Até por conta do Oficina, eu era muito mais ligado ao Oswald’, conta. Já a semelhança física com o escritor, ele descobriu há muitos anos. ‘Soube que era parecido com ele há muitos anos quando saiu a nota de 500 mil cruzeiros e o porteiro do meu prédio disse que eu estava nela.’ Algum tempo depois, Pascoal atuou numa propaganda institucional, sobre Imposto de Renda, na qual, num truque de edição, Mário de Andrade saía da nota para falar com o telespectador.
Ele lista ainda uma série de coincidências entre ele e seu personagem. A primeira delas: ambos nasceram num dia 9 de outubro. Mário, em 1893.
Pascoal, em 1953. E outra: para viver o escritor na TV, ele decidiu tomar umas aulas de piano. ‘Passei a mão no catálogo e liguei para um número, ao acaso. Acabei tendo aulas com a professora de piano Jacinta Karelinsky. Ao me ver, ela disse: ‘Nossa, como você parece com o professor Mário.’ Descobri então que ela havia sido aluna de Mário. Não é incrível?’’
TV / FIM DE FÉRIAS
Keila Jimenez
‘Fim das reprises: TV começa a voltar de férias este mês’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/02/04
‘A TV começa este mês a voltar de férias. Sim, as intermináveis reprises, os melhores momentos – não tão bons assim – e os filmes para lá de repetidos voltam a dar lugar à programação ‘fresquinha’ e ao vivo.
No SBT, a moleza acabou no domingo. Gugu voltou ao vivo com o seu Domingo Legal e conseguiu recuperar um pouco da audiência do programa, que estava gravado desde o Natal e vinha levando surras em ibope de seu concorrente, o Domingão do Faustão, da Globo.
No embate direto com o Domingão, o Domingo Legal ao vivo anteontem registrou média de 16 pontos, ante 19 pontos do Faustão, da Globo. Na semana anterior, Gugu tinha registrado apenas 9 pontos de ibope.
Ratinho, Hebe e todo o resto da trupe do SBT voltaram ontem ao batente, com seus programas ao vivo.
Na Record, as atrações que ganharam edições especiais, ou férias, começam a voltar ao ar ao vivo na próxima semana. Somente o É Show, de Adriane Galisteu, voltará somente em março, juntamente com a nova programação da emissora.
Na Rede TV!, as atrações só voltam da praia no final de fevereiro – os programas estão sendo gravados na Praia da Enseada, no Guarujá. Pelo menos até o dia 23, o Superpop, o Late Show e o TV Fama não devem voltar ao estúdios em São Paulo.
Na Band, o Band Verão – programação especial de férias da emissora – termina no dia 20. O que não é garantia de que tudo voltará à rotina na grade de programação da emissora, já que a rede pretende fazer uma programação especial para o Carnaval. A Band fará uma ampla cobertura do carnaval em Salvador.
Na Globo, quem volta primeiro de férias é Ana Maria Braga, no dia 16. Já Serginho Groisman, volta a gravar em março, e Jô Soares, em abril.’
CARLOS NASCIMENTO NA BAND
O Estado de S. Paulo
‘Nascimento deixa a Globo e vai para o ‘Jornal da Band’’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/02/04
‘O jornalismo da Band e da Globo sofreram algumas mudanças no final da semana passada. Tudo porque o jornalista Carlos Nascimento, âncora do Jornal Hoje, resolveu deixar a Rede Globo para assumir um novo desafio: o Jornal da Band.
O contrato de Nascimento com a Globo, que vencia este mês, não foi renovado.
O jornalista, que já estava na mira da Band há algum tempo, está negociando com a rede dos Saad os últimos detalhes de seu contrato. Nascimento entrará no lugar de Marcos Hummel no Jornal da Band. O Jornal Hoje, por sua vez, já foi apresentado ontem por Evaristo Costa e Sandra Annemberg. Ao que tudo indica, a saída de Nascimento da Globo foi amistosa.’