Como muitos leitores escreveram para a ombudsman do Washington Post para dizer que ela teria sido muito benevolente com o jornalista Bob Woodward e com o próprio jornal na coluna da semana passada (20/11), Deborah Howell decidiu dedicar o espaço deste domingo [27/11/05] a dar explicações a estes comentários.
Um dos leitores que entrou em contato com a ombudsman foi o próprio Woodward, que considerou algumas críticas a ele injustas. ‘Por 34 anos de trabalho no Post e 13 livros campeões de vendas, eu tentei focar o leitor e fornecer relatórios detalhados, confiáveis e imparciais sobre a presidência americana’, afirmou o jornalista.
Herói em queda
Muitos dos leitores começaram seus e-mails escrevendo sobre o herói que Woodward havia sido para eles quando denunciou o escândalo Watergate e como eles apreciaram seu trabalho durante muitos anos. No entanto, o envolvimento do jornalista no caso Valerie Plame levou o público a questionar seus métodos de reportagem. ‘Woodward comentou que seu ‘trabalho número 1’ era proteger suas fontes. Todos estes anos eu venho assinando o Post, assumindo que o ‘trabalho número 1’ era manter os leitores informados. Woodward também havia dito que ‘tinha o costume de manter segredos’. Não parece uma atitude estranha para um repórter? Por que ter o trabalho de obter uma informação se você vai mantê-la em segredo?’, questionou o leitor Craig Fisher.
A maior parte do trabalho de Woodward é feito com fontes confidenciais, as quais ele protege mesmo sob intensas críticas, porque acredita que esta é a única maneira de se obter determinadas informações, responde Deborah. Quando crê que tem uma matéria completa a partir de entrevistas e documentos, Woodward geralmente escreve sem identificar as fontes. O funcionário que contou a ele sobre a agente da CIA Valerie Plame é uma fonte confidencial que estará no livro que o jornalista está escrevendo sobre o segundo mandato do presidente George W. Bush.
Relação questionada
Outro leitor escreveu para reclamar da relação íntima dos jornalistas com funcionários da Casa Branca. Deborah alega que repórteres e fontes têm de confiar uns nos outros e defende Woodward nesta questão, afirmando que ele não tem a reputação de ser tendencioso, além de deixar claro que o acesso do jornalista à Casa Branca foi construído por ele em mais de 30 anos de trabalho.
Woodward diz que muitas pessoas lhe perguntam por que não trata Bush da mesma maneira como tratou Richard Nixon. ‘Não estou trabalhando para tirar um presidente do poder ou ergue-lo. Eu faço as perguntas mais duras. Eu quero estabelecer os fatos da forma mais direta que eu puder’, respondeu. Outras questões se referem ao seu cargo e salário no Post. Deborah esclarece que Woodward, assim como a maior parte dos empregados do Post, não tem um contrato. Seu salário é confidencial e ele detém o cargo de editor assistente.
Pedido de desculpas
Uma outra questão que apareceu em diversos e-mails é sobre a necessidade, ou não, de o jornalista se desculpar com os leitores. ‘Woodward já se desculpou ao editor. Quando ele e o Post vão se desculpar aos leitores?’, pergunta Leo Rennert. Woodward afirma que ele considera suas desculpas ao jornal como uma desculpa aos leitores também.
O leitor Michael Doheny pergunta qual o princípio jornalístico de Woodward ao revelar a identidade da fonte apenas para o investigador Patrick Fitzgerald. Deborah responde que a fonte pediu a Woodward para falar apenas com Fitzgerald, proibindo-o de revelar sua identidade publicamente.
Entre tantas perguntas, a ombusdman espera que, assim que o caso Valerie Plame acabar, tanto Woodward quanto o Post possam esclarecer todas as dúvidas dos leitores sobre a relação do jornal e seus jornalistas com o governo americano.