Parabéns à autora pela brilhante análise de conteúdo das matérias da Veja. A revista, cuja qualidade é inquestionável, pauta-se no tripé saúde-religião-política para suas capas, o que mostra que a saúde vende. Um alerta feito pela Anvisa durante a VI Conferência Brasileira de Comunicação em Saúde, realizada na Umesp no ano passado, é para a presença de publirreportagens na revista – difícil de provar –, mas que podem travestir em jornalismo aquilo que é apenas propaganda. Cabe aos leitores ficarem alertas e não comprar gato por lebre.
Arquimedes Pessoni, jornalista, São Bernardo do Campo, SP
Aqui tudo dá
Os médicos de cabeceira já não existem, se for feita uma pesquisa com as pessoas de baixa renda as coisas nos deixarão de boca aberta. O que é que alimenta mais, a ganância da medicina ou fazer uma pausa para analisar prós e contras e prestar atenção na mãozinha que papai do céu nos dá? A imprensa mundial apregoa que somos desnutridos, ora… que contra-senso, desnutridos gordos? A Austrália alimenta seus cavalos com farinha de mandioca. Em cada região o homem foi feito produto do meio: enquanto fazemos caras retorcidas na televisão ante o nordestino comendo palma, que no Nordeste em seca forte resiste ao meio (esse é um dos produtos de papai do céu), o nordestino tira seus nutrientes da melhor forma possível e resiste ao tempo alcançando seus 90 e tantos e até os 100. Acho que temos que voltar a visão enrugada da saúde para a ‘visão enrugada da educação do povo’
Solange Ferraz, dona-de-casa bem-humorada, Salvador
Quem enruga é a ética
Meus parabéns a Roxana Tabakman por sua ‘Visão enrugada da saúde’, focada nas leituras da Veja. Não deveria ser um médico a apoiar, pela lógica, um artigo desse teor mas, além de compartilhar totalmente com sua visão, claro que a questão não se restringe apenas à Veja – apesar de sua vendagem. As coisas são muito mais amplas. Na nossa profissão nos pautamos por um código de ética auto-aplicável, que felizmente faz com que a maioria dos profissionais trilhe por ele. Para os que escorregam, há o CRM, a Justiça etc. No caso da imprensa, porém, por mais que tentemos ser respeitosos aos princípios deontológicos, e também concordemos em que a mídia carrega informações que apenas a categoria e as instituições públicas não conseguem disseminar, várias vezes nos sentimos mais que vendidos – para usar o sugestivo título do artigo –, enrugados. Em mais de 20 anos de medicina já tive inúmeras experiências com as mais variadas formas de mídia. Algumas delas de arrepiar. Veja já me procurou algumas vezes, na maior parte delas para falar sobre um dos assuntos mais recorrentes e de interesse da população, que são as cefaléias crônicas.
Além de mim, outros colegas de grande respeitabilidade foram ouvidos, e resultou um texto claro, informativo, em que tudo estaria bem se não fosse um detalhe: na página principal, logo no meio, aparecia ‘por acaso’ uma embalagem e um frasco de um novo medicamento para combate às crises de enxaqueca, aprovado na Europa, em breve nos EUA e logo no Brasil… O tal medicamento realmente era o must da época, revolucionou uma série de conceitos e já estamos na terceira geração desse remédio inicial. Mas nenhum de nós, entrevistados, a ele se referiu, muito menos a seu nome comercial com direito a foto e tudo o mais. Em resumo, eu me senti garoto-propaganda não-remunerado daquela droga – a matéria, em sua base séria, apenas usara nomes conhecidos na área para dar credibilidade ao citado medicamento – isso é ou não publicidade? (…)
A questão do colesterol levantada no artigo do OI é muito interessante: entre meus objetos de interesse e estudo justamente estão os fatores de risco para doenças vasculares cerebrais (que ao fim são os mesmos das cardíacas). Há alguns meses saíram dois artigos: um que lançava como medida preventiva o uso de uma combinação de medicamentos, no British Medical Journal, e entrei na polêmica na seção de cartas online. Outro artigo, mais ou menos na mesma linha, saiu no Canadian Medical Association Journal, e mandei carta ao editor com minhas opiniões: para minha surpresa, eles não apenas se interessaram, como trocaram e-mails para que a carta fosse publicada da forma mais inteligível possível e da maneira que eu pensava: finalmente me confirmaram que deverá sair numa das edições de abril (é semanal). Isso não é seriedade? Tudo bem, é publicação científica, mas via de regra o Hemisfério Norte ignora nossos artigos e cartas. (…)
Resolvi acrescentar esse depoimento em reforço ao artigo, que mostra que quem mais se enruga é a ética, seja no jornalismo, seja na medicina, na política, na cerveja, na fazenda-modelo de Duda Mendonça, no festival de gravações e grampos… E Hipócrates ainda continua tendo razão em quase tudo!
Celio Levyman, médico, São Paulo