Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As fotos da dor dos amish

Em sua coluna de domingo [15/10/06], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, tratou da cobertura do incidente ocorrido no dia 2/10 em uma escola da seita cristã amish no estado da Pensilvânia, no qual um homem matou cinco meninas e se suicidou em seguida. O fato trouxe à tona o conflito entre o valor jornalístico de levar as informações ao público e o valor humano de conceder privacidade aos que estão em luto. Neste caso em especial, a seita amish tem restrições sobre fotografias. Segundo Deborah, todos estes fatores foram levados em consideração por Michael Williamson, Linda Davidson e Katherine Frey, fotógrafos do Post responsáveis pela cobertura.

De acordo com a ombudsman, diversos leitores sentiram-se ofendidos pelas fotos, especialmente uma do cemitério. ‘A comunidade amish sofreu uma perda inestimável. As fotos violam as crenças religiosas do povo amish’, opinou a leitora Mary Ann Kirkpatrick. Uma galeria de fotos, nem todas tiradas por fotógrafos do Post, está disponível no sítio do jornal.

Respeito em meio à dor

A maior parte das fotos do Post foi tirada em lugares públicos – estradas e calçadas – com lentes de longo alcance, com ‘respeito e dignidade’, afirmou Joe Elbert, editor-assistente de fotografia. O fotógrafo Williamson contou que os habitantes locais, na tentativa de proteger os amish, deram dicas para os fotógrafos: não cheguem e saiam tirando fotos, mantenham distância, tentem não ser vistos e fotografem os amish de costas ou de lado. A fotógrafa Katherine ainda pedia permissão quando tirava fotos de perto e relatou que recebeu ‘diversos graus’ de cooperação.

Deborah revela que é comum que fotógrafos peçam permissão em situações sensíveis. Katherine o fez quando tirou uma foto de Janice Ballenger, médica-legista do caso, quando ela se encontrava no altar de uma igreja metodista. Janice, que não é amish, consentiu com a foto. ‘Katherine foi muito legal, conversou comigo e até me ligou esta semana para saber como eu estava. Ela nem imagina como eu valorizei esta atitude’, contou Janice.

Relação complexa

No entanto, de acordo com David Weaver-Zercher, especialista na seita amish e professor de história da religião nos EUA, a relação dos amish com a fotografia é mais complexa do que parece. ‘Tenho certeza de que eles ficaram incomodados com o assédio da imprensa’, disse. ‘Embora a comunidade amish que vive perto de Lancaster esteja acostumada a ser fotografada por turistas, há níveis diferentes de resistência entre eles. Eles não tiram fotos uns dos outros porque as imagens representam vaidade. Os amish não posam para fotos’, observou. ‘Muitos deles sentem-se incomodados quando lhes pedem permissão para serem fotografados. Alguns preferem que ninguém lhes pergunte, para não ficarem em uma situação difícil’.

Segundo a ombudsman, a fotografia que mais recebeu reclamações foi uma tirada de helicóptero, que mostrava pessoas ao lado de um túmulo com um pequeno caixão. ‘Na minha opinião, e na opinião dos amish, um enterro merece um grau maior de sensibilidade’, opinou Weaver-Zercher. Linda tirou a foto de um helicóptero que sobrevoou por duas vezes a área próxima ao cemitério. O piloto Steve Bussmann contou que não voou por cima do cemitério nem pairou sobre o local. ‘Tentamos sobrevoar de longe, no menor período de tempo possível (oito minutos), e não incomodar as pessoas’, relatou. ‘Particularmente, me incomodou fotografar os amish. Mas a história tinha uma magnitude que merecia a cobertura e o registro fotográfico’, completou Linda.