Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas. ************
Quinta-feira, 13 de setembro de 2007
INTERNET
Internet rápida cresce 35,9%
‘A banda larga cresce fortemente no Brasil, mas o acesso ao serviço ainda é bastante restrito. No fim do segundo trimestre, havia 6,54 milhões de assinantes, um crescimento de 35,9% sobre o mesmo período do ano passado e de 8% sobre o trimestre anterior, segundo o estudo ‘Barômetro Cisco de Banda Larga’. O número não inclui os 233 mil acessos de internet rápida de banda larga por telefonia móvel que existiam no País, que só começaram a ser medidos no último trimestre pelo estudo.
Apesar do crescimento importante, a densidade da banda larga no País ainda é muito baixa. Existem cerca de 3 conexões por 100 habitantes, o que faz o Brasil ficar atrás de outros países da América Latina, como o Chile (7%) e a Argentina (4%). Na Coréia do Sul, a densidade estava em 26% no fim do ano passado e, em Hong Kong, em 25%. Os EUA têm 19 conexões por 100 habitantes.
Há quase três anos, quando a Cisco e a consultoria IDC começaram a fazer o estudo, traçaram uma meta de 10 milhões de acessos para 2010. ‘Não era uma previsão, mas uma meta’, afirmou Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil. ‘As empresas de pesquisa projetavam cerca de 6,5 milhões para 2010. Na próxima edição do estudo, vamos revisar a meta para 12 milhões ou 13 milhões.’
O objetivo é incentivar a iniciativa privada e o governo a tomarem medidas para ampliar o acesso. O estudo apontou uma redução de preços de 30,3% nas conexões com velocidades de 1 megabit por segundo (Mbps) a 2 Mbps. O preço do acesso de velocidade menor caiu cerca de 12%. ‘A tendência é que as empresas ofereçam mais velocidade pelo mesmo preço’, apontou Mauro Peres, diretor de Pesquisas da IDC Brasil.
Entre os obstáculos à expansão da banda larga estão a falta de cobertura, a competição limitada e os impostos altos. Segundo Ripper, existem entre 2 milhões e 3 milhões de brasileiros que poderiam pagar pela banda larga, mas não compram porque o serviço não está disponível em sua cidade. Mais de 3 mil municípios não têm nenhuma opção de internet rápida. Os equipamentos usados no acesso chegam ao País com um preço duas vezes e meia maior, por causa de impostos de importação, e a carga tributária sobre os serviços ultrapassa 40%.’
RADIALISTA INDENIZADO
O Estado de S. Paulo
União é condenada a indenizar radialista
‘A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região condenou a União a pagar R$ 300 mil a José Salomoni, ex-diretor da Rádio Guarathan, de Santa Maria (RS). Ele foi preso, em 1964, sob a acusação de ter permitido que políticos se manifestassem, na rádio, pela permanência de João Goulart na Presidência da República. Cabe recurso. Salomoni afirmou ter sido torturado e obrigado a vender a emissora por preço abaixo do de mercado por falta de anunciantes.’
MERCADO EDITORIAL
Campeão de vendas passeia no internato
‘Os Jogos Pan-Americanos, disputados em julho, inspiram a 13ª Bienal Internacional do Livro que começa hoje, no Rio. Boa parte dos 21 escritores estrangeiros convidados vem das Américas e aqui se encontrarão com cerca de 300 autores brasileiros, em atividades diversas que vão ocupar o Riocentro até o dia 23. O primeiro a chegar, e um dos mais aguardados, foi Markus Zusak, australiano de 32 anos que já ostenta o título de campeão de vendas. Ele fez questão de conhecer um projeto social carioca: ontem, de manhã, autografou livros para menores infratores do Educandário Santo Expedito.
Seu livro A Menina Que Roubava Livros (Intrínseca) já ultrapassou a marca de 180 mil exemplares vendidos no País, cifra espantosa até para ele. Tão fabulosa que a editora vai aproveitar sua presença para promover seu mais recente romance publicado aqui, Eu Sou o Mensageiro, suspense incomum – conta a história de Ed Kennedy, notório perdedor de 19 anos cuja companhia constante se resume a um cachorro fedorento e um punhado de amigos frustrados.
Até o dia em que ele teve a coragem de impedir um assalto a banco. Curiosamente, dias depois, Ed começa a receber cartas anônimas em que o conteúdo se resume a uma carta de baralho e um ou mais endereços. Ao criar coragem para visitar esses lugares, ele não apenas descobrirá novas pessoas como se autoconhecerá melhor.
Como surgiu a idéia do livro?
Eu estava sentado em um parque, comendo peixe com batatas fritas. Do outro lado da rua, havia um banco. E, na frente, um local de estacionamento com limite de 15 minutos de permanência. Então pensei: ‘Quinze minutos? Não é tempo suficiente para estacionar seu carro e fazer tudo o que se precisa fazer no banco. Há sempre uma fila enorme e alguém sem fazer nada do outro lado do balcão. Há crianças sentadas nas mesas, brincando ou mexendo nas gavetas de depósito.’ Meu pensamento seguinte foi: ‘E se o banco em que você está for roubado e seu carro estiver do lado de fora, na zona de 15 minutos? Como fazer para sair, tirar o carro e evitar uma multa?’ Essas pequenas questões levaram à idéia geral do livro.
O cachorro de Ed desempenha um enorme papel em sua vida. A companhia de um cão pode oferecer algo que uma relação humana não pode?
Realmente não sei. Sempre amei cães e gosto de gatos também. Todos os livros que já escrevi tinham um cão proeminente – exceto A Menina Que Roubava Livros. O livro que estou tentando escrever agora tem um macaco como um personagem de destaque. Acho que há algo nos animais que dá uma dimensão diferente a qualquer livro. Talvez seja porque o amor que eles dão sempre está ali, à espera de se provar.
Em que medida Ed é diferente de você?
Acho que me sentia como Ed quando tinha 19 anos. Não que eu não tivesse metas, mas me lembro de me sentir como se estivesse em uma espécie de vácuo. Estava me tornando algo, mas o resultado final ainda estava muito distante. Gosto da idéia do Ed estar largado no mundo, mas também que ele esteja se tornando algo. Eu, aos 19 anos, estava lutando para escrever. Foi o começo de um período de três anos no qual não conseguia terminar nada. Sentia-me um fracasso. Mas agora percebo como esses fracassos foram importantes… Foram minhas tentativas de encontrar meu estilo próprio de escrever.
Eu Sou o Mensageiro precisou da violência para manter a história balanceada. Você concorda?
Queria que Ed fosse como um super-herói, mas um super-herói com um grande problema – ele não teria superpoderes. Ele precisaria procurar dentro de si uma maneira de ajudar as outras pessoas e parte disso era superar a violência ou mesmo encontrá-la dentro de si. Queria que Ed tivesse uma espécie de extra-humanidade e, dessa maneira, seus esforços teriam maior significado – fazer coisas miraculosas, mas sem qualidades sobre-humanas mostraria grande coragem.
Muitos de seus livro envolvem crimes – Eu Sou o Mensageiro, por exemplo, começa com um roubo a banco. Por quê?
Acho que a maioria das histórias precisa de luz e escuridão para manter o sentimento balanceado. Talvez momentos de beleza em um livro ganhem maior significado quando precisam encontrar o caminho em meio à escuridão. Daí vêm os conflitos de meus livros. Por outro lado, sempre achei a luta uma grande coisa. Não apenas vencê-la, mas enfrentá-la no momento em que você se julga incapaz de vencê-la. Essa idéia é evidente no boxe. Entendo quando as pessoas dizem achar o boxe detestável, mas há muita coragem ali. Quando você perde feio em outros esportes, sai de fininho, mas, no boxe, a perda pode ser mais devastadora. Talvez meu interesse tenha surgido aí.
Seus personagens e suas conversações são despretensiosos, bem concebidos e apropriadamente rasos.
Não sou um escritor talentoso. Trabalho e falho, todos os dias… Escrevo muitas páginas de lixo e apenas mantenho as pequenas gemas ali escondidas e a partir daí construo meus livros. Não é uma parte natural do meu estilo de escrita, pode acreditar. Começo a escrever e lentamente vou reunindo mais e mais daquilo que espero ser o tipo de livro que pretendo.
Você disse que escrever A Menina Que Roubava Livros foi um desafio. E como foi a experiência de Eu Sou o Mensageiro?
É aqui que preciso ser honesto com qualquer leitor brasileiro que queira comprar Eu Sou o Mensageiro: ele não é tão bom quanto A Menina Que Roubava Livros. Ele foi escrito muito antes (em 2001) e foi uma pedra formadora de A Menina Que Roubava Livros. Sinto que na época estava aprendendo muitas coisas e, em minha defesa, tenho orgulho de ter corrido alguns riscos. Arrisquei um final que eu era incapaz de acertar. Arrisquei uma estrutura diferente, e com ela estou satisfeito. Alguns dos riscos funcionaram, outros nem tanto. Mas, enfim, o que quero dizer é que sem Eu Sou o Mensageiro não teria escrito A Menina Que Roubava Livros.
Seu trabalho é bastante aclamado no Brasil. Você arriscaria uma explicação para isso?
Ainda estou chocado. No caso de A Menina Que Roubava Livros, brinco com quem vem me dizer que o recomendou para os amigos. Eu digo: ‘Sinto muito, porque imagino o amigo perguntando sobre o que é o livro e você respondendo: ‘Bem, ele se passa na Alemanha Nazista, é narrado pela Morte, quase todo mundo morre… Ah, e ele tem 500 páginas, você vai amar!’
Trecho
O assaltante é um mané. Eu sei disso. Ele sabe disso. O banco inteiro sabe disso. Até meu parceirão Marvin, que é mais mané do que o assaltante, sabe disso. O pior de tudo é que o carro do Marv está estacionado lá fora, e o parquímetro, correndo. Estamos todos deitados aqui no chão de cara pra baixo, e os 15 minutos de estacionamento estão quase acabando. ‘Por que esse cara não anda logo com isso?’, falo bem baixinho.
‘Pois é’, Marvin responde. ‘Que absurdo’, o som da voz dele bate no chão e faz aquela vibração seca. ‘Vou levar uma multa por causa desse otário. Outra multa não dá, Ed. Não tô podendo.’
‘E esse carro aí nem vale a dor de cabeça.’ ‘Como é que é?’ Marv olha para mim. Dá pra sacar que ele está ficando puto. Ofendido. Se tem um lance que o Marv não admite, é que alguém fale mal de seu carro. Ele pergunta de novo. ‘O que você disse mesmo, Ed?’
Respondo baixinho: ‘Eu disse que esse carro não vale a dor de cabeça, Marvin. ‘Olha só, eu engulo qualquer desaforo, Ed, mas…’’
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A dimensão humana das guerras
‘Em dezembro de 1989, um incêndio destruiu a casa de Andrew Carroll, em Georgetown, nos Estados Unidos. Não houve feridos, mas toda sua memória afetiva (livros, fotos e cartas de família) virou cinza. A perda irrecuperável inspirou-o a comandar um projeto importante e original: resgatar e preservar documentos cujo valor histórico não era reconhecido por seus portadores. Especialmente cartas escritas por soldados durante as diversas guerras. Para isso, colocou um anúncio no jornal solicitando esse tipo de correspondência. Dias depois, recebeu um telefonema do correio. ‘Eles me pediam para buscar o material enviado e recomendavam que eu fosse com um carro grande’, diverte-se Carroll, ao lembrar do início do Projeto Legacy, fundado para preservar a memória dos conflitos.
Carroll conversou com o Estado ainda em território norte-americano, antes de vir para a Bienal do Rio. Seu entusiasmo é tamanho que ele organizou o volume Cartas do Front (Jorge Zahar Editor, 440 páginas, R$ 59), cujo lançamento ele vem acompanhar pessoalmente. Trata-se da correspondência de soldados e civis que participaram de vários conflitos na história mundial, desde mensagens manuscritas da Guerra de Independência norte-americana aos e-mails enviados do Afeganistão. ‘Recebemos cerca de 80 mil correspondências, quase todas trazendo relatos assinados por testemunhas oculares das guerras, que traduzem o calor do conflito e oferecem um documento histórico inestimável.’
No material, de fato, há momentos cruciais, como a descrição feita por um soldado que estava na base de Pearl Harbor quando houve o ataque japonês, obrigando os americanos a entrarem na 2ª Guerra Mundial. Desse conflito, aliás, há um capítulo exclusivo com cartas trocadas por pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutaram na Itália, selecionadas por Arthur Ituassu, que enviou cópias traduzidas para Carroll. ‘Fiquei extremamente feliz com esse trabalho’, disse o autor. ‘Espero conseguir olhar pessoalmente esse material enquanto estiver no Brasil.’
O material do livro é variado. Há, por exemplo, uma descrição detalhada do ataque terrorista a Nova York, em 11 de setembro de 2001, feita por um sobrevivente. Também e-mails e cartas de civis iraquianos sobre os bombardeios a Bagdá na guerra contra o Iraque em 1991, bem como sobre os ataques terroristas mais recentes, após a deposição de Saddam Hussein em 2003.
Muitos relatos são comoventes. Como o de um menino polonês chamado Chaim – em um campo de concentração alemão – aos seus pais: ‘Toda noite, soldados bêbados vêm e nos batem com pedaços de pau. Meu corpo está coberto de escoriações como madeira queimada… Outro dia, dois rapazes escaparam, então nos alinharam e cada quinta pessoa da fila foi morta. Eu não ocupava a quinta posição, mas sei que não sairei vivo daqui.’
Outras cartas provocam gargalhadas – como a escrita por uma mulher alemã ao comandante de seu marido na 1ª Guerra Mundial: ‘Eu, abaixo assinada, tenho um pedido a lhe fazer. Embora meu marido esteja em serviço há apenas quatro meses, gostaria de solicitar que lhe fosse concedida uma licença, devido à nossa relação sexual.’
Há, ainda, a revelação de verdadeiras traições, como no caso de um casal que se conheceu antes da 2ª Guerra. Quando ele partiu, prometeram escrever sempre que possível, mas, com o tempo, a mulher desconfiou que não era amada, pois o soldado não lhe escrevia. Na verdade, a irmã da moça, possuída pelo ciúme, interceptava as cartas.
‘É por isso que adoro todo tipo de correspondência’, conta Carroll. ‘Infelizmente, as tropas americanas participaram de quase todos os últimos conflitos ocorridos no planeta, por isso, nossos soldados conseguem trazer relatos vibrantes muitas vezes sem saber, pois estão apenas reproduzindo o que estão vivenciando.’
Carroll lembra que boa parte do material não sofreu censura do governo, mesmo em conflitos duramente criticados, como as Guerras do Vietnã e da Coréia. ‘Nem durante a Guerra Civil houve qualquer tipo de problema’, conta. ‘Na verdade, o veto era mais comum durante as Guerras Mundiais.’ Segundo o escritor, os soldados acabaram criando códigos particulares para conseguir contar o que realmente estava acontecendo nos campos de batalha.
Como o desentendimento entre os homens parece eterno, Carroll sabe que seu trabalho parece não ter fim. Mesmo assim, ele garante que vai comandar o Projeto Legacy durante muito tempo. E viagens como a que fará ao Brasil servem para alertar outras comunidades sobre a importância desse trabalho.’
Roberta Pennafort
Bienal cresce para melhor receber o público
‘Mais de 300 autores, 21 deles estrangeiros que assinam best-sellers planetários, mil e tantos lançamentos, 950 expositores, 55 mil m2, 133 sessões literárias, expectativa de 600 mil visitantes. Tudo tem dimensões gigantescas na Bienal Internacional do Livro carioca, que começa hoje, no Riocentro, e vai até o dia 23. Em sua 13ª edição, a feira, que bate seu recorde de escritores participantes (em 2005 foram em torno de 200), tem novos espaços, para maior participação do público.
Quem já disputou assento nos bate-papos com escritores e debates de temas caros à literatura poderá agora discorrer sobre filosofia (no Botequim Filosófico, com curadoria da escritora Guiomar de Grammont) e emitir opiniões sobre questões da ordem do dia (na Esquina do Leitor). No Botequim, gente das letras, das artes e do jornalismo discutirá assuntos como a (suposta) morte da arte, o fim do mundo e o lugar do amor nesse mundo.
Já na Esquina, todos terão chance de exprimir o que pensam sobre temas controversos: aborto, Deus, drogas. ‘Partimos do pressuposto que opinião se discute, sim’, explica Rosa Maria Araújo, responsável pela programação cultural da bienal desde 1999. A votação é eletrônica, uma idéia tirada de uma livraria londrina.
E as estrelas da bienal? Há para leitores de todos os gostos. Do fenômeno Markus Zusak, australiano que escreveu A Menina Que Roubava Livros e conquistou público de todo o mundo (mais de 150 mil volumes no País), ao americano Andrew Carroll, de Cartas do Front, que reúne relatos dramáticos de guerras diversas.
Hoje, uma presença que deve atrair todas as atenções: o afegão Shah Muhammad Rais, o Sultan Khan de O Livreiro de Cabul, que vem desmentir cada palavra que a norueguesa Asne Seierstad digitou sobre ele e sua família – e, claro, divulgar seu livro Eu Sou o Livreiro de Cabul (será às 18h).
Sobre o Afeganistão, também falará Yasmina Khadra, argelino autor de As Andorinhas de Cabul. Ele lançará seu novo romance, As Sirenes de Bagdá (hoje, 15 h), e a cabeleireira norte-americana Deborah Rodriguez, que apresenta O Salão de Beleza de Cabul (amanhã, 16 h).
Dos EUA chega Daniel Alarcón, de origem peruana e autor de Rádio Cidade Perdida, sobre amor e violência na América do Sul; da Colômbia, o jornalista Daniel Samper Pizano, de Impávido Colosso, ambientado no Brasil da ditadura militar. Alarcón fala da violência na literatura (dia 22, 19 h); Pizano participará do debate América Latina: Combates e Conquistas (hoje, 19h30): a bienal deste ano de Jogos Pan-Americanos homenageia a América.
Ariano Suassuna (que deverá dar aula-espetáculo) e Gabriel García Márquez (ausência a ser muito sentida), octagenários este ano e em 2008, respectivamente, também receberão tributo.
Entre os 280 literatos brasileiros que transitarão pelo Riocentro, estão presenças constantes (e esperadas), como Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura e João Ubaldo Ribeiro; jovens promessas, como Mayra Dias Gomes (filha de Dias Gomes) e Daniel Galera (gaúcho da editora Livros do Mal). A feira não deixa de lado a poesia: 40 poetas marcarão presença no Jirau de Poesia.
Rosa Maria Araújo acredita que a interação autor-leitor seja um dos motivos para que o público da bienal se amplie. ‘Aumentamos o número de autores, que era de apenas 60 em 99 e agora são 300, porque as sessões lotam mesmo. As pessoas querem ver os autores, que são quase popstars. O adolescente quer mais, quer dar um beijo’, conta.
Por falar no público teen, haverá mais uma vez um espaço só para temas da juventude. Point da bienal, a Arena Jovem, organizada pela escritora Suzana Vargas, reunirá figuras como o cantor Tico Santa Cruz e a atriz Pérola Faria para debater questões como maioridade penal e distúrbios alimentares. ‘O jovem brasileiro lê pouco. Se tentássemos chamá-lo apenas com o livro, talvez não fosse uma grande atração’, justifica Suzana. ‘Percebemos que muitos anotam os nomes dos livros para depois comprar.’
Os números mostram que a estratégia vem dando certo. Em 2005, foi registrado aumento no número de pessoas entre 15 e 24 anos, que passaram a responder a quase metade do público total (45%). Cerca de 170 mil alunos de escolas deverão passear entre os livros. A bienal é realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livro e pela Fagga Eventos.
NÚMEROS
950 expositores estarão na Bienal
320 autores participam da feira, entre nacionais e estrangeiros
100 sessões literárias estão confirmadas’
Antonio Gonçalves Filho
Toscana, a voz rebelde do México
‘David Toscana é a voz do México contemporâneo, atordoado com o descompasso entre o avanço da literatura e o atraso dos políticos. Convidado da 13ª Bienal Internacional do Livro, Toscana lança, na terça-feira, sua última provocação, O Exército Iluminado, surrealista epopéia de um exército de crianças excepcionais que tenta resgatar o Texas, perdido para os EUA em 1848. Sobre o livro, Toscana falou ao Estado.
Em O Exército Iluminado, garotos mexicanos buscam recuperar o Texas. Essa sua história surrealista seria uma resposta ao muro que os EUA constroem? Como surgiu essa sua obsessão pela fronteira?
A obsessão é antiga. Vem de minha infância, pois vivi a alguns passos do lugar onde se deu em Monterrey a batalha que perdemos contra os gringos. Esse lugar, El Obispado, conserva ainda as marcas das balas disparadas em 1846. Quando criança, gostava de ir ali, pensar que participava da batalha e que dessa vez iríamos ganhar. O muro que agora levantam os gringos causa indignação, mas o presente não está em minha escritura. Creio que é melhor escrever sobre o passado e que esse se torne metáfora do presente.
O Exército Iluminado surgiu em Berlim, onde você viveu em frente de um instituto que atendia crianças com problemas mentais. Os garotos, ao largo da novela, dão substância ao termo iluminado. Você acredita serem os deficientes iluminados?
Minha idéia de iluminado é simples: é possível ser um se a luz cai sobre ele, não importa se um erudito ou um tonto. Esses garotos iluminados ajudaram muito minha imaginação. Cada vez mais diminui o número de mentes brilhantes porque há menos diversidade; os sistemas pelo qual nos educamos tendem à uniformidade, a matar a individualidade. Assim, é impossível ter outro Mozart.
Você parece questionar em seu livro o estado de um país sem líderes. Os loucos seriam alternativas para um país como o México, mais surrealista que o seu exército iluminado?
Sim, a crise de meu país e a de outros é a falta de líderes. O povo desconhece a história e por isso ninguém tem interesse de passar a ela. Há alguns anos, Vicente Fox preferiu ficar sentado em seu trono presidencial sem fazer nada ou passear pelo país contando piadas. Nosso presidente atual é absolutamente neutro. Os loucos vão a extremos, mas ao menos não são medíocres. Diz-se que a prudência é um valor, mas ela vale pouco.
Críticos dizem que você é um filho literário de Cervantes. Que influência tem Don Quixote na construção de sua narrativa?
Os mundos imaginários são mais ricos que os reais. Por meio de sua imaginação, Quixote não apenas transforma a visão do mundo como dá absoluta liberdade à palavra; por isso a novela de Cervantes é grande, porque pensamento e palavras são livres.
A literatura contemporânea não pode abrir mão de suas referências literárias e dispensar a metaficção?
Pode sim, claro, mas não é uma obrigação, embora esse não seja um procedimento contemporâneo. Se voltamos a falar de Don Quixote, é por ser sua segunda parte uma obra-prima da metaficção.
A literatura prolifera em épocas de crise, segundo alguns escritores. O que pretende a literatura do Norte do México? Ser uma resposta política aos EUA?
Não gosto de pensar na literatura como um ato de consciência, de respostas deliberadas, políticas ou sociais. Vejo a novela como um espaço íntimo, humano, individual, um espaço de dúvida; e só por analogia chega-se aos grandes temas. O escritor fala de intimidades de sua consciência e o leitor pode convertê-las no que quiser.’
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A lógica divertida do herói que vai à forra
‘Os tipos que circulam pelas novelas do escritor mexicano David Toscana bem poderiam ter saído do imaginário de Tod Browning (1880-1962), o célebre diretor de Drácula (1931) e Freaks (1932), clássico sobre as bizarrices do mundo do circo ao qual Toscana presta involuntária homenagem em Santa Maria do Circo, um de seus sucessos junto aos leitores brasileiros ao lado de O Último Leitor, os dois publicados pela Casa da Palavra. Em O Exército Iluminado, que a mesma editora lança agora na Bienal, a bizarrice começa no personagem principal, o professor Ignacio Matus, que forma um exército com cinco alunos para invadir os EUA e retomar o território conquistado ao México em 1848.
Se, em Santa Maria do Circo, uma trupe circense funda uma cidade no deserto mexicano em busca da redenção, delegando uns aos outros bizarros papéis, em O Exército Iluminado, esses papéis são de antemão assumidos pela condição excepcional do exército de cinco garotos mentalmente prejudicados – ou retardados, como se dizia no passado. Em todo caso, trata-se de um gesto fundador, tanto no primeiro como no último livro.
Cria-se um mundo imaginário tão forte como o concreto, mesmo que, no primeiro caso, a cidade no deserto seja fantasma ou, no segundo, o rio Bravo enfrentado pelo exército para reconquistar as terras mexicanas seja um desprezível e quixotesco riachinho. Este é o maior trunfo de Toscana: escrever novelas com a ironia que se escreve a história real, ainda que contada segundo a ótica dos perdedores, heróis fracassados de suas ontológicas parábolas.
Em O Exército Iluminado, Toscana inverte magistralmente a idéia do Manifest Destiny – ou seja, a crença que os Estados Unidos tinham, em 1848, de serem, por direito divino, expansionistas e abocanhar metade do território mexicano. Conta para isso com a ajuda de um nacionalista ferrenho, o maratonista Matus, que se considera igualmente um predestinado. Duplo perdedor, o obcecado professor quer vingar a honra do mexicanos e também a pessoal, convencido de ter sido passado para trás por um concorrente americano numa competição olímpica, anos antes de partir para arrebatar o Texas das mãos dos gringos. Toscana brinca com a lógica militar e conclui que este mundo é mesmo dos loucos. O jeito é rir. Com Toscana, o que é melhor.’
TELEVISÃO
Anticristo dá piti
‘Estrela internacional dá trabalho. A MTV que o diga. A emissora está suando a camisa para atender a todas as exigências de sua maior atração do VMB, premiação de videoclipes realizada pelo canal: Marlyn Manson.
Convidado para cantar no máximo duas músicas no evento, o Anticristo superstar – como gosta de ser chamado – fez exigências absurdas para a produção da MTV. ‘Ele quer oito geladeiras, carpetes não sei de onde no camarim, cortinas, trazer o técnico de som dele, milhares de pessoas da equipe…’, reclama a diretora artística da emissora Ana Butler. ‘Estou quase desistindo do Marlyn Manson. O VMB tem oito camarins e ele quer quatro para ele. Onde coloco o restante dos artistas?’, continua. ‘Por isso estamos negociando com outra atração internacional, só que é surpresa.’
Além do popstar exigente, o VMB, agendado para o dia 27, terá apresentações de Sandy & Junior e Pitty. Daniella Cicarelli comandará a festa, que ainda contará com um grande karaokê, aberto para bandas e músicos participantes darem sua palinha do que bem entenderem. Tudo sem ensaio, garante a MTV.
Entre- linhas
Em menos de uma semana, mais de 27 mil pessoas já criaram seus perfis no site do BBB 8 (www.globo.com/bbb), reunindo 105 mil fotos e mais de 1,5 mil vídeos.
O Atualíssima, da Band, alcançou o segundo lugar em audiência na tarde de terça-feira por 20 minutos, registrando pico de 4 pontos. No horário, exibia a festa regada a famosos de Wolf Maya.
E dá-lhe merchandising em Paraíso Tropical. Na terça-feira foi a vez de Ivete Sangalo fazer ponta na novela em ação milionária de uma marca de tintura de cabelo.
Por falar em Paraíso, uma das versões que correm sobre o assassinato de Thaís beira o absurdo: quem morreu teria sido Paula, e não a gêmea má.
E mais: apesar da torcida, o capítulo de anteontem de Paraíso Tropical, com a reconciliação de Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura), registrou média de 44 pontos de audiência, nada excepcional.
Dando seguimento ao plano de levar a atual miss Brasil Nathalia Guimarães às suas novelas, a Globo encaminhará a moça para uma temporada na Oficina de Atores da casa.
Outra novidade do VMB é uma rádio voltada para a premiação, que ficará no ar até o dia 27 pela 107,3 FM. A iniciativa é o primeiro passo da MTV para ter uma rádio definitiva, plano que tenta colocar em prática há algum tempo.
Dança do Siri, só com as mãos
Eles preferem manter o suspense, dá mais ibope, mas é fato que Galvão Bueno finalmente se rendeu à Dança do Siri, do Pânico. Foi quase um mês de perseguição até que Vesgo e Silvio conseguissem pegar o narrador em Monza. A coreografia, feita por Galvão só com as mãos, deve ir ao neste domingo.’
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 13 de setembro de 2007
CASO RENAN
Senadores voltam a mentir ao declarar voto em enquete
‘Alguns senadores mentiram ao anunciar a decisão que tomaram no processo contra Renan Calheiros, presidente da Casa. É o que mostra a enquete realizada ontem pela Folha logo após a votação secreta no plenário. Ao ouvir 75 senadores -5 não foram localizados-, a reportagem obteve de 43 deles que a opção tinha sido pela cassação do mandato. No plenário, no entanto, essa decisão teve o apoio de apenas 35 parlamentares, oito a menos do que o ouvido pela Folha.
O mesmo aconteceu na véspera da votação, quando 41 anteciparam que o voto seria pela perda do mandato. Ao que parece, 6 senadores mudaram de idéia de um dia para o outro -ou mentiram também.
Tanto antes como depois da votação, se o testemunho dos senadores tivesse sido confirmado pelos votos que realmente deram, Renan estaria cassado, já que eram necessários 41 votos para isso.
Metade dos votos dos petistas na Casa continua desconhecida do público. De uma bancada de 12 senadores, 8 haviam omitido, na véspera da votação, a decisão que tomariam. Ontem, o número caiu para 6, já que Aloizio Mercadante (SP) afirmou ter optado por abster-se e Eduardo Suplicy disse ter votado pela cassação. O PT foi apontado como detentor de votos decisivos, assim como as ‘traições’ da oposição, que fechou questão pela cassação.
‘Não tem nem o que comentar [sobre o resultado]. O PT trabalhou [pela Renan] e entrou pesado’, disse Heráclito Fortes (DEM-PI), que não havia declarado o voto na véspera, mas que afirmou ter decidido pela cassação.
Entre os demais senadores ouvidos ontem, 9 disseram ter apoiado a continuidade de Renan na Casa -1 a menos do que na véspera-, 21 não declararam seus votos, 5 não foram localizados e 2 afirmaram que se abstiveram.
‘Não cabe ao Senado julgar um crime tributário’, disse Francisco Dornelles (PP-RJ), que afirmou ter sido contra a perda do mandato de Renan.
Decisão
Dos 29 senadores que não haviam declarado seus votos antes da reunião secreta no plenário, 11 relevaram ontem como supostamente se manifestaram no processo sobre o presidente da Casa -6 disseram que votaram pela cassação, 3 contra e 2 se abstiveram. Outros 16 continuaram sem dizer a decisão -6 petistas- e 2 não foram localizados.
Entre os apoiadores públicos de Renan, 6 disseram tanto antes como depois da votação que a decisão era pela manutenção do mandato. Está nesse grupo a família Sarney, representada por José Sarney (PMDB-AP) e Roseana (PMDB-MA). Com exceção de Gim Argello (PTB-DF), os demais são peemedebistas, como Renan.’
TV DIGITAL
Sem proteção, a TV digital não é viável
‘O GOVERNO brasileiro pesquisou vários anos para determinar o padrão adequado de tecnologia para sua TV digital. Feita a opção pelo sistema japonês, discute-se agora implantar ou não controles que impeçam a redistribuição indiscriminada de conteúdo.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, declarou-se favorável a um sistema de proteção. Já a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, divulgou nota defendendo o contrário.
Uma entidade de defesa do consumidor mostrou-se oposta à instalação de um mecanismo de proteção por considerá-lo, incorretamente, violação dos direitos do consumidor. O que está em jogo nessa discussão? Os oposicionistas alegam um motivo nobre: o direito de escolha do consumidor. Cabe, porém, a quem vivencia o setor esclarecer que, na prática, o interesse do cidadão está na proteção do direito autoral. A aplicação de um sistema de proteção pode parecer burocrática, mas possibilita que o telespectador tenha acesso a mais opções de entretenimento de alto valor agregado, o que só é possível em um ambiente digital sano, no qual a proteção ao conteúdo é o principal pilar.
A produção e a distribuição de filmes e programas de TV têm grande potencial de crescimento, com cada vez mais qualidade e variedade. O sistema digital abre um leque de possibilidades para produtores de todos os portes, independentes ou não, e para distribuidores de conteúdo. O pré-requisito para isso é a preservação da propriedade intelectual -único estímulo efetivo à criação e ao investimento em canais de distribuição. Proteger conteúdos não significa cercear a liberdade do telespectador de gravar programas e assisti-los quando desejar. Será possível gravar cópias para uso pessoal -como no tempo dos aparelhos de VHS. O que não deve ser permitido é a comercialização e a redistribuição indiscriminada desses programas na internet.
A proteção é para que a TV digital não tenha seu sentido desvirtuado. Sem bloqueio, gravações podem ser redistribuídas livremente, inclusive em outros mercados, reduzindo valor de comercialização do conteúdo.
A proteção ao conteúdo tem como objetivo impedir que os telespectadores se tornem um ‘retransmissor’ da programação, inviabilizando, por exemplo, a manutenção da audiência das emissoras e a valorização do espaço publicitário. A comercialização da programação em mercados externos também ficaria difícil.
O potencial destrutivo existe também na evasão de conteúdo pela web -mesmo uma cópia feita por um fã e colocada na rede como homenagem.
A difusão anônima, não autorizada e descontrolada concorre de forma desleal com os canais de distribuição: conteúdos obtidos de graça e a qualquer tempo têm valor que tende a zero. Por que investir em sua produção e difusão se o valor de mercado pode desaparecer? No médio prazo, a cópia sem freios e a pirataria podem esvaziar a própria TV digital.
Nesse sentido, a TV aberta digital é altamente vulnerável, pois tem concessão para operar em um determinado território. Já a internet permite distribuição global e irrestrita.
Atentos a esse risco, distribuidores têm dado preferência aos mercados em que há proteção, direcionando os melhores produtos para plataformas codificadas mais seguras -TV a cabo e via satélite-, de acesso fechado.
Assim, consumidores da TV aberta, dependentes dos índices de audiência e de receitas publicitárias, ficariam excluídos das vantagens da difusão digital. Ou seja, os prejudicados seriam aqueles que mais se quer defender: os telespectadores.
Proteger a propriedade intelectual é vital tanto para o governo como para o telespectador. O interesse da indústria audiovisual é oferecer produtos novos ao maior número de pessoas. O da população é ter acesso ao conteúdo de alta qualidade. Quando o negócio se torna economicamente viável, todos ganham. E, para que a TV digital seja economicamente viável, é necessário prevenir sua propagação ilegal.
A decisão sobre o sistema de proteção de conteúdo cabe ao Comitê de Desenvolvimento da TV Digital.
Desde o início das discussões sobre a TV digital brasileira, a Motion Picture Association procurou alertar a opinião pública sobre essa questão.
Agora, o governo federal e o Congresso Nacional, que já demonstraram firmeza no combate à comercialização não autorizada do conteúdo criativo com a CPI da Pirataria e o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual (CNCP), têm mais uma oportunidade para demonstrar essa liderança no setor audiovisual.
STEVE SOLOT, 55, mestre em economia pela Universidade de Boston (EUA), é vice-presidente sênior para a América Latina da Motion Picture Association.’
TODA MÍDIA
Escapou
‘‘Olá’, apareceu Fátima Bernardes, no intervalo, ‘o senador Renan Calheiros foi absolvido da acusação de quebra de decoro, na sessão que terminou agora’. Depois, na manchete do ‘Jornal Nacional’, ‘Sessão secreta no Senado, e pedido de cassação é rejeitado’.
Já no G1, das Globos, ‘Renan se livra da cassação’. Na Veja On-line, ‘Senado livra Renan da cassação’. Na Folha Online e no UOL, ‘escapa da cassação’.
Mal terminou a sessão e a Globo News ouviu dos agora serenos José Agripino Maia e Álvaro Dias, da oposição, que Renan devia se licenciar. Do governo, Aloizio Mercadante falou o mesmo à Folha Online.
Renan confraterniza com líderes do governo e da oposição
É SÓ LIGAR
No dizer do blog de Jorge Bastos Moreno, no Globo Online, foi uma ‘sessão não muito secreta’. Na Veja On-line, Lauro Jardim ouviu de um senador, minutos antes de entrar, ‘é só ligar’. E ele ligou.
Na expressão de Helena Chagas, no Blog dos Blogs, foi ‘sessão secreta midiática’, com relatos seguidos de Luciana Genro, Walter Pinheiro.
MINUTO A MINUTO
O ‘vazamento’ virou até manchete do UOL, citando Ivan Valente e Barbosa Neto, e do Terra, que abriu o enunciado para o ‘minuto a minuto’ da sessão -com Cristóvam Buarque, Raul Jungmann, Vanderlei Macris etc.
POWN! AI!
As cenas de confronto antes da sessão, reprisadas sem parar, levaram Josias de Souza, na Folha Online, a vislumbrar até ‘ares de boca de fumo disputada por gangues rivais: reclama daqui, empurra dali (pown! ai!), soca d’acolá’.
E o blog de Tutty Vasques no site de ‘O Estado de S. Paulo’ fez piada do soco ‘sem querer’ de Fernando Gabeira em Tião Viana, que levou a ‘beijinho’ -e à repreensão do ‘movimento Calma, boneca!’.
MORNA
A sessão em si, pelos relatos vazados para Jardim, Chagas e os demais, foi ‘morna’. Ou melhor, ‘chata, chatíssima, tem gente quase dormindo’.
‘Insatisfeita com ensaio, Mônica Veloso vai tirar mais fotos para a ‘Playboy’
A página ‘+ lida’ ontem na FOLHA ONLINE, imediatamente acima de ‘Renan Calheiros escapa de cassação’.
ROYAL DUTCH VALE
Nas agências Thompson Financial e Reuters, nos sites Market Watch e do ‘Wall Street Journal’, ecoou ontem a notícia de que a ‘brasileira Vale vai explorar gás com a Shell Brasil’, esta uma ‘subsidiária da Royal Dutch Shell’, anglo-holandesa. Os dois grupos ‘podem’ disputar ‘novos blocos de exploração’ a serem licitados, proximamente.
E a agência Dow Jones repercutiu a notícia de um blog, da consultoria Schlumberger, de que a Shell ‘procura parceiro’ para explorar bloco em Campos -de petróleo.
CADA VEZ MAIS CARO
Na manchete do site do ‘Financial Times’, ‘Preço do petróleo salta para recorde’ -o que talvez explique o salto no noticiário sobre a licitação de novos campos no Brasil. A razão do recorde seriam as reservas em queda nos EUA, com demanda global em alta.
OS NOVOS CAMPOS
E o site do ‘WSJ’ noticiou que a Agência Nacional de Petróleo decide, na semana que vem, sobre um recurso da Petrobras para que um dos blocos que a ANP tomou de volta, em Campos, não vá a nova licitação, mês que vem.
NOBEL VS. ETANOL
Enquanto Lula vende etanol na Suécia, na Espanha o ‘El País’ deu longa entrevista com um Nobel de química, ‘Emissões de carbono não caem com biocombustíveis’. Seu alvo foi a decisão européia de exigir 5,75% de álcool na gasolina, mas sobrou para o etanol -e a soja- do Brasil.
OUTRA HISTÓRIA
Ecoou amplamente a alta no PIB. No site da ‘Forbes’, longa análise diz que o Brasil, uma história de commodities, agora ‘está mudando para uma história de crescimento’. A explicação: juros menores.’
CASO MADDIE
Mídia se alia no caso Madeleine
‘Depois de semanas de disputas acaloradas entre jornais de Portugal e do Reino Unido sobre o desaparecimento da britânica Madeleine McCann, 4, as manchetes de ontem sugerem que a abordagem desconfiada dos lusos prevaleceu: também em solo inglês a mídia se concentra agora nos indícios da suposta responsabilidade dos pais da menina.
‘Polícia quer diários de Kate’ era o título de maior destaque nos dois países nesta quarta, com jornalistas de todas as nacionalidades citando fontes anônimas para apresentar as bases das suspeitas da polícia portuguesa contra os McCann.
‘Houve um grau considerável de preconceito dos britânicos contra os portugueses na cobertura inicial desse caso, ao lado de uma simpatia pelos McCann tão sem fundamentos quanto as acusações’, avaliou o historiador inglês Martin Farr, especialista em mídia inglesa da Universidade de Newcastle.
Segundo Farr, a mídia britânica começou questionando a competência da polícia e dos jornais portugueses por suspeitarem dos pais de Madeleine, vistos como vítimas. Mas novos indícios revelados pelos jornais -sangue e cabelo que podem ser de Madeleine em um carro alugado pelo casal- mudaram o cenário radicalmente.
Kate e Gerry McCann afirmam que Madeleine sumiu do quarto de hotel em que dormia na Praia da Luz, no sul de Portugal, enquanto eles jantavam em um restaurante próximo em 3 de maio. Após quatro meses de investigação, porém, a polícia portuguesa declarou os dois suspeitos pela suposta morte da filha, pouco depois de exames de DNA feitos no carro alugado pelo casal 25 dias depois do desaparecimento.
Jornal versus jornal
Nem os jornais escondem a guerra midiática em torno do desaparecimento da menina.
Ontem, o influente diário britânico ‘The Guardian’ alertou que ‘a mídia que acompanha o caso está dividida, com grupos pró e contra o casal, e alguns repórteres nem conversam mais com quem está no lado oposto’. A mudança foi evidente. O mesmo jornal afirmara, em 12 de agosto, que a indignação nacional foi justificada na mídia pela ‘aparente incompetência com a qual a polícia portuguesa investigou o caso’.
A troca de acusações também colocou britânicos contra britânicos: no último mês, as redes BBC e ITV criticaram publicamente a cobertura uma da outra sobre Madeleine. Enquanto o editor de notícias da BBC Peter Horrocks acusou a rival de ‘tratar rumores como se fossem material jornalístico’, o editor da ITV David Mannion disse que o adversário ‘dava desculpas por chegar tarde [na cobertura]’.
Para Manuel Pinto, coordenador do projeto português Mediascópio, da Universidade do Minho, os jornais do Reino Unido fingem ignorar que, no começo, ‘aderiram cegamente à campanha para encontrar Madeleine’. Ele lembra, porém, que tanto o Reino Unido quanto Portugal ‘se comportaram da mesma forma: exploraram ‘ad nauseum’ um caso sem fontes oficiais, sem fatos comprovados e cheios de interpretações duvidosas’.
O nacionalismo latente em ambos os países também influenciou a cobertura, segundo o especialista português em análise de mídia Vítor Reia, da Universidade do Algarve. ‘Em Portugal, além do espaço exagerado, houve certo preconceito contra os McCann. Foi como se dissessem: ‘esses turistas vêm pra cá e não sabem tomar conta dos seus filhos’.’ Ele cita o jornal ‘24 Horas’ e o ‘Correio da Manhã’ como exemplos de sensacionalismo entre os portugueses. ‘Já no Reino Unido, a ênfase inicial foi apenas à suposta incompetência da polícia portuguesa’, como foi visto no ‘Daily Mail’ e no ‘The Sun’.
A subeditora do jornal português ‘Diário de Notícias’ -um dos maiores do país-, Catarina Carvalho, admite que a falta de provas concretas e a recusa da polícia portuguesa em divulgar informações dificultam a cobertura. Ela nega, porém, que haja exagero no espaço dedicado ao caso. ‘Se o casal for realmente responsável, será algo inédito -uma mãe matar a filha, esconder o corpo e ao mesmo tempo fazer uma campanha midiática gigantesca para encontrar a menina. Talvez nunca saberemos o que aconteceu, é um mistério brutal.’
Segundo Carvalho, o ‘DN’ só publica informações dadas pela própria polícia portuguesa, ainda que extra-oficialmente, e sempre com mais de uma fonte de informação. ‘A dificuldade é que a polícia não tem provas suficientes. Se tivesse, nós já saberíamos.’
Procurados pela Folha, os tablóides britânicos ‘The Sun’, ‘Daily Telegraph’ e ‘Daily Mirror’ não quiseram comentar o caso. Os jornais ‘The Guardian’ e ‘The Independent’ não haviam respondido aos recados deixados até o fechamento desta edição.’
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Leia trechos de jornais de ontem sobre o caso Madeleine
‘‘Daily Mail’
‘Os McCann desafiaram a polícia portuguesa dizendo: ‘Encontre o corpo e prove que a matamos’. (…)Foi revelado hoje que promotores portugueses planejam usar o diário de Kate, que já está nas mãos da polícia, para ajudar a provar que ela matou Madeleine’
‘Telegraph’
‘A polícia portuguesa fez um pedido urgente pelo diário de Kate. O dossiê [da investigação] (…) se baseia fortemente em análises forenses que a polícia afirma provarem que o DNA de Madeleine foi encontrado no carro alugado’
‘The Sun’
‘A polícia quer analisar o diário de Kate (…) e o ursinho de pelúcia de Madeleine. (…) O dossiê policial inclui transcrições de telefonemas, depoimentos (…) e DNA. Mas especialistas britânicos criticam a forma como o DNA aparentemente foi coletado’
‘The Guardian’
‘Pais de Madeleine estudam encomendar testes forenses independentes no veículo em que a polícia portuguesa afirma ter encontrado traços do corpo da menina’
‘24 horas’
‘Madeleine McCann, gerada por inseminação artificial, pode não ter sido concebida com o sêmen de Gerry McCann. A Polícia Judiciária investiga a paternidade de Madeleine’
‘Diário de Notícias’
‘Polícia quer investigar novamente carro dos McCann. (…) O Ministério Público entendeu que, no relatório entregue pela Polícia Judiciária, existe matéria para haver acusação contra um ou mais argüidos’
‘Correio da Manhã’
‘Faro dos cães sinalizou morte perto da igreja: o rasto de morte marcado pelos cães ingleses começa no Ocean Club e termina na Praia da Luz’’
INTERNET
Cresce uso de internet rápida e preço deve parar de cair
‘O total de internautas que usam a banda larga -conexão que permite a troca de dados em alta velocidade pela internet- teve crescimento de 8% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006. No total, o país tem 6,54 milhões de assinantes. É o que revela pesquisa da Cisco e do IDC.
O estudo revela que, no mesmo período, os preços dos pacotes de banda larga caíram até 30%. ‘Há planos mensais de até R$ 50’, diz Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil. ‘Chegamos ao mínimo possível. A partir de agora, não teremos grandes quedas.’
O levantamento mostra que o aumento da procura por planos de banda larga ocorreu mais acentuadamente na velocidade superior a 1 Mbps, com 25,9% de participação, seguida pelas velocidades entre 128 Kpbs e 256 Kbps, com 13,5%.
No período entre abril e junho deste ano, os preços nesses segmentos caíram 30,3% e 12,4%, respectivamente, sobre igual período de 2006.
No Brasil, só 3,4% do total da população utiliza banda larga. O Estado de São Paulo continua a liderar o consumo, com cerca de 40% do total e penetração de 6,2%.’
POLÍTICA CULTURAL
Gil e os piratas
‘QUESTIONADO sobre o alegre e abrangente consumo de cópias piratas do filme ‘Tropa de Elite’, o ministro Gilberto Gil preferiu chamar a atenção para a complexidade do assunto -a seu ver ‘uma equação de muitos termos’. A realidade, segundo Gil, estaria ‘relativizando o tempo todo a questão da propriedade intelectual’ e o fenômeno da pirataria deveria ser analisado à luz das novas tecnologias e da existência de camadas da população com pouco dinheiro para adquirir bens culturais.
Não há dúvida de que o tema é cheio de complicações e o mero discurso legalista é insuficiente para enfrentá-las. Mas, ainda assim, não é possível deixar de ver na venda dessas cópias -e de tantas outras, a céu aberto, nas ruas de nossas cidades- a ocorrência de um roubo, que nada tem a ver com imaginários Robin Hoods culturais, a retirar arte dos ricos para distribuir aos pobres.
A pirataria não pode ser considerada uma espécie de Bolsa Família do entretenimento cultural. Organizada, ela é um comércio ilícito que beneficia poderes ilícitos, não se submete a nenhum código de direitos do consumidor, não paga impostos e usurpa o trabalho alheio.
Sintomaticamente, o artista Gilberto Gil está em plena temporada de um show puxado pela canção ‘Banda Larga’, que vem embalado no marketing do Creative Commons. É engraçado um compositor bem-sucedido como Gil tirar chinfra de ‘liberou geral’ na questão dos direitos autorais. Mas, na verdade, ele está abrindo mão de quê? Pelo que entendi, de nada: apenas de não ir à Justiça contra pessoas que façam gravações dos shows e as coloquem na internet -o que já ocorreria mesmo. Ou será que o compositor estaria realmente renunciando a direitos e nos autorizando a copiar sua obra e vendê-la a preços populares nos barracos da cidade?
Não é demais lembrar que o mesmo Gil preocupado com o acesso dos mais pobres a DVDs é o ministro à frente de um órgão que autoriza o uso de milhões e milhões de reais em projetos culturais de elite, por meio das leis de incentivo.
O assunto, obviamente, vai muito além dos problemas de maior ou menor poder aquisitivo para consumir cultura. Os novos meios de reprodução e difusão facilitam enormemente a circulação e o compartilhamento informal de produtos culturais. E isso tem produzido uma série de movimentos interessantes entre artistas e empresários, que procuram reinventar suas atividades em busca de novos modelos de negócios.
É nesse contexto que as declarações de Gil -e também de Orlando Senna, secretário do MinC- ganham mais sentido. Mas seria desejável que ambos apresentassem com mais clareza seus projetos. Às vezes tem-se a impressão que há uma política de intenções ousadas e transformadoras no ministério, mas café-com-leite. Não vale. Não chega à prática. Se o MinC, como diz Senna, acredita que é preciso ‘rever todos os conceitos e parâmetros’ relativos aos direitos autorais, que venha com uma proposta. Caso contrário, ficamos no reino da retórica e da ambigüidade política.’
TELEVISÃO
Lula vai decidir sobre cópia de TV digital
‘A decisão pela adoção ou não de um sistema que impede telespectadores de fazerem cópias de programas de TV digital de alta definição terá de ser tomada pelo presidente Lula.
Uma das mais importantes deliberações desde a definição pelo padrão japonês, o sistema anticópias de programas dividiu o comitê de desenvolvimento de TV digital, formado por dez ministros. Os ministros não chegaram a um consenso sobre o assunto, que será agora ‘desempatado’ pelo presidente da República. A polarização é maior entre Gilberto Gil, da Cultura, contra qualquer sistema de bloqueio de cópias, e Hélio Costa (Comunicações), defensor do mecanismo.
A adoção de um DRM (sigla em inglês para sistema de gerenciamento de direitos autorais, já usado pela indústria fonográfica) é defendida por todas as redes de TV. Trata-se de um sinal que as emissoras enviam para os receptores digitais informando quantas cópias podem ser feitas da programação.
No caso, as redes defendem a liberação de apenas uma cópia por televisor. Ou seja, o telespectador poderá gravar programas, mas não poderá fazer cópias em alta definição (apenas em definição standard).
O sistema visa dificultar a pirataria. As TVs argumentam que não limitar cópias em alta definição atrapalhará a venda de DVDs de programas e encarecerá os direitos de filmes e eventos internacionais.
BÔNUS A Globo enviará à festa da premiação de programas jornalísticos do Emmy Internacional, em Nova York, dia 24, os seis profissionais (entre eles dois técnicos e dois cinegrafistas) que viajaram pelo Brasil com Pedro Bial, em um ônibus, para a série ‘Caravana JN’, que concorre na categoria noticiário. Se ganhar, William Bonner e Pedro Bial subirão ao palco para receberem o prêmio.
OVER A Globo está exagerando nos merchandisings de ‘Paraíso Tropical’. Teve até ‘cross merchandising’: Lúcia (Glória Pires) comprou um carro com financiamento de um banco _que montou uma agência cenográfica. Anteontem, foi constrangedora a ‘participação’ de Ivete Sangalo para falar de uma tintura de cabelos.
EXTRA ‘Nunca a líder esteve tão próximo de virar vice’, dirá anúncio que a Record veiculará para comemorar o ‘segundo lugar isolado’ no Ibope nacional em agosto. Exagero. A Globo ainda tem quase três vezes a audiência nacional da Record.
FENÔMENO O SBT vive no Paraná uma realidade bem diferente da de São Paulo, onde está sendo ameaçado pela Band. As edições de ‘A Praça É Nossa’ da última quinta e do ‘Jornal do SBT’ de quinta e sexta foram líderes, batendo a Globo.
CAFÉ ‘Câmera Café’, esquetes de humor de cinco minutos que o SBT vem exibindo antes e depois de seus telejornais, estão ‘pegando’. Começaram com três pontos. Já deram sete.’
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