Às vésperas do feriado da Semana Santa, enquanto o presidente Lula inaugurava a primeira usina brasileira de biodiesel em Cássia (MG), a ata do poderoso Conselho de Política Monetária (Copom) atribuía à alta do preço do petróleo e ao movimento dos juros americanos os motivos que teriam levado o Banco Central a manter o aperto monetário. E a mídia saiu a repercutir, como de hábito.
Aparentemente, alhos nada têm a ver com bugalhos. Seria ufanismo, para não dizer estupidez, insinuar que uma pequena usina de combustível produzido a partir de girassol e nabo forrageiro, perdida nos confins de Minas, possa simbolizar o fim da dependência brasileira por combustíveis fósseis como o petróleo. Vale lembrar que o Brasil importa hoje cerca de 2 bilhões de dólares por ano em petróleo.
Mas o presidente da República entusiasmou-se com o pequeno projeto de Cássia. ‘O mundo vai reconhecer que o Brasil é, incomparavelmente, o país que tem as melhores condições, porque aqui nós temos terra boa para a agricultura. Aqui nós temos o que a agricultura brasileira e o mundo precisam para plantar o biodiesel e fazer disso uma grande fonte de enriquecimento do nosso povo, do nosso país e, por que não dizer, de outros países’, disse Lula, com as manchetes de praxe.
A pequena usina vai produzir 12 milhões de litros do novo combustível por ano. Diz o presidente que o programa de incentivo à produção do biodiesel contará com o apoio logístico da Petrobras para garantir a distribuição do produto em território nacional.
Créditos de carbono
Faltou a imprensa dizer, noves fora a badalação, que se o biodiesel seguir os mesmos caminhos do álcool, o Brasil vai ser uma espécie de campeão mundial de energia limpa e renovável. Em maio, Lula visitará o Japão, levando na bagagem a nossa tecnologia de agricultura energética.
O interesse do mundo pelo álcool brasileiro cresce a cada ano. Em 2004, o Brasil exportou 2,4 bilhões de litros de etanol. Juntas, as exportações de açúcar e álcool renderam ao país algo como 3 bilhões de dólares.
No mercado interno, a demanda por álcool também cresce, impulsionada pelo sucesso dos veículos com motores bicombustível (flex fuel).
Álcool e biodiesel também estão alinhados às regras do Protocolo de Kyoto, que começou a vigorar em 16 de fevereiro último, após ser ratificado pelos países responsáveis por pouco mais da metade – 55% – da emissão de dióxido de carbono no planeta. A iniciativa é prova da crescente conscientização da necessidade de se preservar o ambiente para o benefício das futuras gerações. O protocolo, que envolve 194 países, se propõe a reduzir a emissão de gases poluentes em 5,2% entre 2008 e 2012, com base nos níveis registrados em 1990.
Há vários mecanismos para esta redução. O que mais interessa ao Brasil é o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite aos países desenvolvidos comprar reduções de emissões gases de países em desenvolvimento ou investir em projetos de diminuição nesses países.
O mercado mundial aumenta a comercialização dos créditos de carbono desde 1996. Em 2003, os projetos dentro das regras de Kyoto movimentaram 300 milhões de dólares. Ainda este ano, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) colocará em operação um mercado eletrônico de títulos de diminuição de lançamentos atmosféricos de carbono. Toda a movimentação do mercado de créditos de carbono gira em torno da redução de gases. O mercado estimado é de 13 bilhões de dólares, até 2007.
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Editor do AgroPauta (http://www.agropauta.com.br/) e da revista Agroanalysis