Dentre as metas a serem atingidas na carreira de um jornalista, há duas que se sobressaem: ganhar um prêmio e fazer o governo voltar atrás em uma ação de censura, opina Noam Cohen, em artigo no New York Times [25/2/08]. Na semana passada, Joshua Micah Marshall conseguiu alcançar estes dois objetivos. Um detalhe: ele é blogueiro.
Marshall venceu o prêmio George Polk, na categoria ‘Reportagem Jurídica’, pela cobertura da demissão de oito procuradores americanos que, segundo críticos, ocorreu devido a circunstâncias políticas. Através da ajuda de internautas, o blogueiro notou que, no fim de 2006, procuradores públicos estavam sendo demitidos nos EUA e deu início a uma investigação sobre o assunto. Ele descobriu que todos os demitidos tinham em comum terem aberto processos contra políticos republicanos locais. ‘A reportagem investigativa tenaz gerou interesse da mídia tradicional e levou à renúncia do procurador-geral Alberto Gonzales’, declarou a organização responsável pelo prêmio. Poucos dias depois do anúncio, Marshall voltou a fazer parte do mailing de imprensa do Departamento de Justiça americano, do qual tinha sido excluído no ano passado.
Pioneiro
O Talking Points Memo é o primeiro blog a receber o Polk, um dos mais cobiçados prêmios do jornalismo americano. Reconhecido por um estilo de reportagem que vai além da definição de ‘blogar’, ele é um dos blogs políticos mais influentes nos EUA. Marshall tem um escritório em Manhattan onde trabalham sete repórteres. Em Washington, mais dois repórteres escrevem para o blog. ‘Gosto de pensar que somos jornalistas e o meio onde trabalhamos é um blog’, define. ‘Não temos um modelo de artigo com início e fim. Há um fluxo de idéias’. Além disso, ele e sua equipe fazem uma síntese de artigos da mídia e fornecem links e dicas de leitura sobre o tema.
Marshall se tornou blogueiro há sete anos. Ele era, então, candidato a PhD de História Americana na Universidade Brown e editor da revista liberal The American Prospect em Washington, e havia criado o blog para poder divulgar suas idéias e monitorar a disputa presidencial na Flórida. ‘Se eu tivesse ido parar na [revista] New Yorker, provavelmente eu não teria feito isso’, conta, sobre sua migração em tempo integral para o jornalismo online.
Pouco a pouco
Na medida em que a audiência de seu blog foi aumentando, Marshall passou a aceitar anunciantes e a pedir doações a internautas. Assim que o dinheiro começou a entrar, ele passou a contratar repórteres. ‘Tinha dias com auge de 60 mil page views, o que era incrível’, diz, lembrando de meados de 2003, quando os internautas começaram a focar na discussão sobre as armas de destruição de massa no Iraque – motivo alegado pelo presidente George Bush para invadir aquele país. ‘Os anúncios vieram e comecei a ter uma renda decente’. Pouco tempo depois, passou a receber doações que serviram para custear a cobertura das primárias de New Hampshire em 2004 – foram US$ 6 mil em 24 horas. Em 2005, Marshall arrecadou dinheiro para dois novos projetos: a criação do TPM Café, um fórum sobre política; e o TPMMuckraker, sítio que foi excluído da lista de mailing do Departamento de Justiça.
Segundo o blogueiro, ao longo dos últimos 18 meses, os três sítios tiveram média de 400 mil page views por dia. Por mês, são 750 mil visitantes únicos. Ele não revela seu salário, mas diz que ganha mais do que no período em que era freelancer e o equivalente ao que um jornalista político de sucesso deve receber.