Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 5 de março de 2009
TELEVISÃO
Daniel Castro
Calor adia recuperação da Globo no Ibope
‘O fim do horário de verão e a passagem do Carnaval não trouxeram aumento de audiência para os programas da Globo, ao contrário do que previa a emissora. O vilão agora é o calor, que estaria afastando o telespectador da frente da TV.
Anteontem, a novela das oito, ‘Caminho das Índias’, em capítulo em que o mocinho abandonou a mocinha, foi vista em 36% dos domicílios da Grande São Paulo. É um número melhor do que o recente desempenho da produção, mas muito aquém do desejado e do histórico do horário. O ‘Jornal Nacional’, sem o impulso de uma boa novela das sete, teve a audiência de 27% das residências da Grande SP. E a sessão ‘Vale a Pena Ver de Novo’, agora com ‘Senhora do Destino’, está dando mais ibope do que ‘Malhação’ e ‘Negócio da China’.
Executivos da Globo têm tentado disfarçar a preocupação com a queda da audiência -de 17% no horário nobre em fevereiro, em relação ao mesmo mês de 2008. Usam como argumento os fatos de haver menos gente vendo TV aberta e a ampla vantagem que a emissora mantém sobre a Record.
Nos últimos verões, o número de televisores ligados caiu dois pontos percentuais por ano. Em janeiro e fevereiro (até dia 15) de 2007, 62% das TVs da Grande SP ficavam ligadas na média das 18h às 24h. Esse número caiu para 60% no mesmo período do ano passado e para 58% neste início de 2009.
MEXICANA
Nascida no México, Gisele Ithiê deverá ser a protagonista da versão brasileira de ‘Betty, a Feia’, da Record. Fez testes e agradou. Na Globo, Gisele tem fama de pé-frio. A emissora tentou emplacá-la como protagonista, mas não vingou.
CRISE?
Embora anuncie crescimento de faturamento de 17%, a Record já dá sinais de cortes de custos. No RecNov, central de estúdios no Rio, estão reduzindo até bebedouros. E atrizes estão levando cosméticos de casa. Os da emissora são inferiores.
DESEMPREGO
Apesar da estreia de um novo (e caro) quadro que dá emprego, o ‘Programa da Tarde’ está marcando cinco pontos, mesma audiência de quando reprisava atrações da Record.
VIRADA
A produção de ‘Big Brother Brasil 9’ detectou nos últimos dias crescimento de popularidade de Ana e Naná. Quando foi aberto o paredão de anteontem, Ana tinha 65% dos votos para sair. Encerrou a votação com ‘apenas’ 36% de rejeição.
FALTAM PROVAS
Causou mal-estar na cúpula da Globo a entrevista que Pedro Bial deu a Mauricio Stycer, no portal iG. Incomodou principalmente as declarações de que Ralf e Milena, de ‘BBB 9’, faziam sexo regularmente.
PÚLPITO
Com a saída de Márcio Antonucci, diretor musical, e Eduardo Zebini, de esportes, só dois membros da cúpula da Record não são da Igreja Universal: Walter Zagari (comercial) e Hilton Madeira (marketing).’
Folha de S. Paulo
Programa mostra ‘Saia Justa’ da TV árabe
‘Uma egípcia, uma libanesa, uma árabe-saudita e uma palestina dividem a mesma mesa para discutir questões femininas em um talk-show transmitido pela TV árabe. A descrição acima é a de um dos programas de maior sucesso no Oriente Médio, ‘Kalam Nawaem’ (algo como conversa doce ou conversa de mulher), retratado pelo documentário ‘Rainhas da TV Árabe’, que faz sua estreia nesta noite no canal pago GNT.
Como mostra o filme, o debate entre as apresentadoras começa ainda nos bastidores, quando o diretor propõe, como um dos temas a ser discutido, a notícia de que 60% dos homens árabes se consideram infelizes em seus casamentos. Em seguida, a produção nos leva à casa de algumas telespectadoras que, com menos entusiasmo que as apresentadoras, também discutem a notícia, numa tentativa de mostrar a popularidade do programa.
Apesar de não ir além disso, ‘Rainhas da TV Árabe’ tem no próprio tema seu maior trunfo, com muçulmanas de diferentes nacionalidades discutindo abertamente assuntos polêmicos como homossexualidade, terrorismo e masturbação.
A cena está longe do estereótipo generalizado das mulheres árabes, segundo o qual quando não oprimidas são apenas coadjuvantes.
RAINHAS DA TV ÁRABE
Quando: estreia hoje, às 21h
Onde: no GNT
Classificação indicativa: não informada’
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Propaganda na TV estimula consumo imediato
‘Pesquisa da Universidade de Radboud, na Holanda, aponta que as pessoas tendem a consumir álcool quando veem personagens bebendo em filmes ou em comerciais enquanto assistem à TV. Os pesquisadores monitoraram o comportamento de 80 jovens, com idades entre 18 e 29 anos, enquanto eles assistiam à televisão e descobriram que os que viam mais referências a bebidas alcoólicas bebiam duas vezes mais do que os que não as viam. A pesquisa foi publicada na revista ‘Alcohol and Alcoholism’.’
TODA MÍDIA
O ferro e o petróleo
‘Na manchete do UOL, à noite, ‘Bolsa salta, ações da Vale disparam’. Na Folha Online, foi a ‘expectativa pelo pacote chinês’. Na Reuters Brasil, foi a ‘esperança’. Na Bloomberg, foi a ‘especulação sobre plano chinês’. Expectativa, esperança ou especulação, até o ‘China Daily’ destacou que ‘a mídia do mundo está de olho’ em Pequim, ‘nas medidas adicionais de estímulo à demanda interna’.
E o ‘Financial Times’ deu que Vale e outras ‘esperam para ver’ antes de fechar novos preços do minério de ferro com a chinesa Baosteel.
Mas a alta na Bovespa não se restringe ao ferro. Segundo a manchete do Terra, à noite, ela foi ‘puxada por Vale e Petrobras’.
E o ‘Wall Street Journal’ postou que analistas já veem ‘sinais de rebote da economia’, o que, junto ao corte na produção da Opep, leva a ‘preços mais altos’. E ‘o único ponto de luz fora da Opep é o Brasil’, do qual se espera maior produção.
VALE DEMITE
Não é só no Brasil. O canadense ‘Globe and Mail’ e outros noticiam as 423 demissões anunciadas pela brasileira no país. ‘A Vale prometeu que não cortaria por três anos.’ A diferença é que por lá ‘o governo vai examinar se a mineradora está honrando suas promessas’.
BANCO NÃO EMPRESTA
O ‘New York Times’ deu longa reportagem sobre os esforços de países como Japão para financiar seu comércio. E concentrou a atenção no Brasil, onde se acham compradores, mas ‘os bancos locais cobram tanto que inviabilizam negócio’. Daí o crédito nos exportadores.
ELLE VOLTOU
No enunciado da Veja.com, ‘Elle voltou’. No enunciado da Reuters Brasil, ‘Collor derrota PT’ e agora ‘por ele passarão todos os projetos relacionados ao PAC’ de Lula.
No destaque do site de ‘O Estado de S. Paulo’, ‘o PMDB e o DEM se juntaram ao PTB de Collor para derrotar o PT’. E, ‘apesar do voto declarado do líder Artur Virgílio, o tucano Marconi Perillo não compareceu à votação’.
Na manchete do ‘Jornal da Band’, ‘PMDB dá a Collor o comando de comissão que aprova grandes obras’. Já o ‘Jornal Nacional’ escondeu Collor e só citou na escalada o ‘Senado em pé de guerra na disputa de comissões’.
A CAMPANHA
A rede NBC, que iniciou a campanha em 11 de fevereiro com um especial no ‘Dateline’, foi entrevistar a secretária de Estado, Hillary Clinton, e só perguntou do pai americano que busca recuperar o filho -que morava no Rio com a mãe brasileira, hoje morta. Hillary comparou ao caso do cubano Elian, dizendo que também agora defende que Sean volte ao pai. Mas ela resistiu à pressão da NBC e afirmou que, no Brasil, ‘eles têm Judiciário independente como nós’. Prometeu se esforçar junto ao Executivo e só. E a NBC agora quer entrevistar Lula.
BIKINI
O ‘International Herald Tribune’ publicou, em longa reportagem, e o ‘Los Angeles Times’ repercutiu depois que ‘o barão da mídia Nizan Guanaes’ e outros estão investindo para transformar o Rio em ‘capital da roupa de banho do mundo’, como meio para vencer a crise
JORNALISMO EXPLÍCITO
Âncora do ‘Big Brother Brasil’, atração do Jornalismo da Globo, Pedro Bial deu uma longa entrevista a Maurício Stycer, do iG, e passou informações como ‘Ralf e Milena fazem sexo com regularidade’ e comentários como ‘eles são bons atores, têm momentos de Sarah Bernhardt’. Por outro lado, ‘o que eu sou? Jornalista, apresentador de telejornal? Ou do entretenimento? Eu sou as duas coisas… O Big Brother me libertou’.’
HISTÓRIA
SP vai colocar na internet memória de imigrantes europeus dos séculos 19 e 20
‘Cerca de 40 mil páginas de passaportes, certidões de nascimento, contratos de terras, fotografias e outros documentos relativos a imigrantes que viveram no interior do Estado de São Paulo do fim do século 19 ao início do século 20 estarão disponíveis na internet a partir de novembro.
Inicialmente, serão divulgados documentos de italianos, alemães, russos e outros que viveram em três núcleos coloniais na região de Campinas, de 1886 a 1922 -Nova Odessa, Nova Veneza e Campos Salles. Eles serão disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado, com financiamento do BNDES.
‘Ao longo do próximo ano, vamos incluir dados de outras regiões que tiveram colônias de imigrantes, como Ribeirão Preto, Marília e Mogi das Cruzes’, afirma Carlos Bacellar, coordenador do arquivo.
O projeto prevê a criação de uma página na internet, onde a consulta poderá ser feita pelo nome do imigrante.
‘Existe uma demanda não só de pesquisadores acadêmicos mas também de pessoas que querem conhecer mais sobre os antepassados, tanto para buscar dupla cidadania quanto para fazer a árvore genealógica da família’, diz.
A maior parte dos documentos foi coletada pela Secretaria da Agricultura, que concedia os lotes de terras.’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 5 de março de 2009
CRISE
TIM cancela patrocínio a festival de música
‘O TIM Festival, o maior festival de música pop da América do Sul, foi desativado pelo seu patrocinador, a operadora de telefonia móvel TIM. Também foi cancelado o Prêmio TIM de Música, que teve seis versões no Rio de Janeiro. É, até agora, o maior reflexo da crise econômica no mundo do show biz brasileiro, que parecia imune à turbulência.
Consultada pelo Estado, a assessoria de imprensa da TIM Brasil divulgou ontem à tarde a seguinte nota oficial: ‘Confirmamos que a TIM está em negociações com a Dueto para descontinuar o TIM Festival. As partes comentarão o assunto somente após a conclusão das negociações. A partir deste ano estamos descontinuando a realização do Prêmio TIM de Música. Os recursos até então destinados ao projeto serão utilizados em outras alternativas de comunicação para a marca da empresa. A TIM agradece ao produtor e parceiro José Mauricio Machline (produtor do Prêmio TIM) pelo profissionalismo dedicado às seis edições do evento.’
A organização do festival foi pega de surpresa pela notícia. ‘A gente ainda tinha esperanças’, disse ontem Monique Gardenberg, dona da Dueto Produções, produtora do festival. Monique ainda esperava convencer a empresa a reconsiderar. Ela acredita que não há mais tempo hábil para realizar o festival com um outro parceiro, mudando de nome. O festival costuma ser realizado em finais de outubro.
A TIM Brasil confirmou a manutenção do patrocínio ao Auditório Ibirapuera, em São Paulo. A empresa ajudou na construção da sala, com R$ 25 milhões. A decisão da TIM causou apreensão no setor, que possui muitos eventos e casas de shows batizados com nomes de patrocinadores – caso do Citibank Hall, o HSBC Hall e Credicard Hall, entre outros.
O cancelamento do TIM Festival, cuja edição anual tinha um custo estimado em cerca de R$ 4 milhões, traz sobretudo um grande prejuízo à diversificada agenda cultural de São Paulo e Rio (o evento também tinha edições menores em Vitória e Curitiba). Em 2007, mobilizou cerca de 70 mil espectadores. Além de estimular o turismo cultural, criava empregos, espalhava tendências e já integrava o calendário de festivais do gênero no mundo – chegou a ser considerado um dos três melhores em seu setor.
Maior mostra de música internacional do País, o festival começou em 1985 como uma versão tropical do Cool Jazz Festival americano. Foi criado pelas irmãs Monique e Sylvia Gardenberg (Sylvia morreu em 1998, e Monique levou o festival adiante).
Abrigado pela companhia de cigarros Souza Cruz, tornou-se um ano depois, em 1986, o Free Jazz Festival, realizado durante 18 anos, e que trouxe ao País artistas como Sonny Rollins, Max Roach, Sarah Vaughan, Art Blakey, Wayne Shorter, Brian Wilson, Little Richard, John Zorn, Philip Glass, Kraftwerk, Björk, Patti Smith e Strokes.
A partir do final dos anos 1990, o festival buscou incluir em sua programação a música eletrônica e correntes híbridas, como o acid jazz e o trip-hop. Com a proibição da propaganda de cigarros em eventos públicos, o festival mudou de patrocinador, tornando-se TIM Festival. O ‘padrinho’ da parceria era o publicitário Mario Cohen, que hoje é diretor do Auditório Ibirapuera.
CRISE
Os reflexos da crise financeira internacional já se fazem sentir também nos setores mais sólidos do show biz. A cantora Ivete Sangalo, por exemplo, prodígio empresarial da axé music, informou no mês passado que achou ‘por bem’ adiar em cerca de quatro meses a gravação de seu novo DVD ao vivo, que seria no Madison Square Garden, em Nova York.
‘Seria em novembro deste ano. Não será mais, não por conta da nossa situação, mas pela situação dos Estados Unidos’, contou, em uma coletiva de imprensa em Salvador, durante o Festival de Verão.
Por outro lado, a agenda internacional continua aquecida, pelo menos nesse primeiro semestre no Brasil. Estão de passagem marcada para o País os grupos Iron Maiden, Kiss, Keane, Kraftwerk, Radiohead, Motorhead; os cantores Julio Iglesias, Liza Minelli, Burt Bacharach; os músicos Ornette Coleman e John Hammond, entre outros.
MUDANÇAS
Nacionalização: Festival começou em 1985, como uma versão brasileira do americano Cool Jazz Festival
Cigarro: Um ano depois, sob o patrocínio da Souza Cruz, foi batizado de Free Jazz Festival, nome que durou 18 anos
Celular: No fim dos anos 90, passou a ser patrocinado pela TIM e passou a incluir na programação a música eletrônica’
CULTURA
A polêmica dos municipais cariocas
‘A criação de uma comissão julgadora para escolher peças a serem encenadas nos teatros da Prefeitura do Rio vem provocando grande discussão entre a classe artística e a nova secretária municipal de Cultura do Rio, Jandira Feghali. De um lado, os artistas bradam que a iniciativa vai burocratizar o processo de produção. E mais: ideologizá-lo, criando um ambiente propício à censura. Já Jandira sustenta que se trata de uma forma de democratizar o acesso dos proponentes aos teatros, além de permitir que a secretaria tenha uma visão global da rede, o que permitirá sua ocupação de modo mais eficiente.
Até então, quem quisesse montar uma peça num dos sete teatros da rede municipal entregava seu projeto ao diretor de um deles e cruzava os dedos para ser aceito. Com as mudanças anunciadas pela secretária, tudo mudou: as propostas têm de seguir diretamente à Secretaria, que criou a comissão para analisá-las. O diretor do teatro, agora chamado de diretor-residente, com mandato de apenas um ano, terá voz, mas será apenas uma das vozes.
Nas próximas semanas, a Secretaria espera pôr na rua os editais de seleção dos diretores-residentes. A discussão começou bem antes, no início da gestão de Jandira. A secretária deixou artistas em polvorosa ao dizer que os teatros eram tratados como ‘feudos’, em que cada diretor fazia o que bem quisesse. Agora, ela tem de lidar com as acusações de ‘dirigismo’ de parte da classe, que desconfia que a comissão poderá usar critérios ideológicos na hora de escolher as peças que serão apresentadas.
Jandira já se reuniu com representantes da classe, contemporizou e explicou que quem errou foi a gestão anterior, que deixou os teatros ao deus-dará, abrindo brechas para ‘decisões entre amigos’, expressão usada pelo subsecretário de Gestão, Randal Farah. Segundo Jandira, valia o ‘cada um por si’, o que, para ela, não pode continuar.
Apesar dos panos quentes, o temor continua. ‘A impressão que eu tenho é que se quer complicar o processo, burocratizar, centralizar. Ninguém vai descobrir o ovo de colombo’, diz a atriz Soraya Ravenle, que já passou com suas peças por vários dos palcos da rede municipal.
A ‘complicação’ a que Soraya se refere é justamente a criação da comissão, formada por Ana Luisa Lima, coordenadora da rede de teatros; Claudia Zarvos, gerente de artes visuais; Celina Sodré, de artes cênicas; Samuel Araújo, de música, e mais dois consultores: Antonio Pedro (ator e diretor) e Carmen Luz (dança). Eles vão definir, junto com os diretores-residentes (ou companhias-residentes, outra possibilidade aberta pela secretaria), quais espetáculos serão financiados e, enfim, encenados.
Escolhido em concurso público, o diretor ou companhia residente poderá montar suas próprias peças ou de convidados, mas, para tanto, precisará chegar a um acordo com a comissão. É o fim da era em que os projetos sequer passavam pela Secretaria. A chegada dos novos gestores deve ocorrer a partir de maio – até lá, as propostas deverão ser mandadas à prefeitura para análise, e o que já estava programado segue em cartaz.
Domingos Oliveira desqualifica a comissão: ‘Eu tenho mais condições de falar de teatro do que qualquer comissão da prefeitura’, manifesta-se o ex-diretor do Teatro do Planetário, e com 55 anos de coxia em coxia, tendo lotado plateias com Todo Mundo tem Problemas Sexuais, Amores e Separações. ‘O que eu vejo é a Prefeitura querer mandar em coisas sobre as quais não entende. Se me pagarem para construir um edifício, eu construo, mas ele cai depois.’ O advento da comissão foi criticada também com veemência pela crítica de teatro do jornal O Globo e renomada tradutora de textos teatrais Barbara Heliodora. Ela publicou um artigo em que diz acreditar que as novas medidas visem ao ‘controle ideológico de toda atividade artística e cultural’, tal qual na União Soviética e na China comunistas. ‘A ingerência do Estado na criação artística e em qualquer atividade cultural é fatal: seu único objetivo é alimentar o público com chavões ideológicos e cortar qualquer possibilidade de obras imaginativas e/o realmente reflexivas’, escreveu.
Jandira – que concorreu à Prefeitura do Rio no ano passado pelo PCdoB – rebate; acha que está sendo mal interpretada. ‘O que nós vamos fazer é uma seleção pública, que não é para interferir em conteúdo, nem em criação e muito menos fazer censura, que não é nosso papel’, explicou. ‘Queremos dar oportunidade a todo mundo de apresentar seus projetos. Para garantir a diversidade, a pluralidade, nós queremos opinar sobre a programação da rede, por termos uma visão global, e não só de um teatro. A gente não pode permitir que todo mundo mame nas tetas públicas. Ninguém é dono do teatro: nem a Secretaria, nem o prefeito, nem o diretor.’
À exceção de Karen Acioly, mantida à frente do Centro de Referência do Teatro Infantil (antes simplesmente Teatro do Jockey), todos os diretores da gestão passada foram exonerados. Cláudio Botelho, o premiado realizador de musicais de sucesso (Company, Beatles num Céu de Diamantes, 7 – O Musical), soube de sua saída do Carlos Gomes, depois de oito anos, pelos jornais, ao fim de janeiro. ‘Teatro é lugar de artista, e não de burocrata. A comissão me parece um erro. Eu não acredito em pensamentos de grupo, e sim individuais. Agora vai cair tudo de novo na burocracia. Para comprar uma lâmpada vai ter de pedir autorização à secretaria.’ Botelho garante: ‘Em oito anos, não coloquei um amigo para fazer nada. Fiz o maior público do Carlos Gomes com Ópera do Malandro’.
‘Eu não culpo os diretores. O que existia era uma Secretaria extremamente omissa, com uma rede de teatros que não tinha qualquer diretriz. Não era uma rede, cada teatro funcionava de forma diferente’, diz Ana Luisa Lima, coordenadora da rede municipal de teatros e produtora com 17 anos de experiência. ‘Falar em dirigismo é um equívoco, vem de quem não conhece a equipe. Nenhum dos cinco gerentes tem histórico partidário, muito menos é ligado ao PCdoB. A gente quer dirigir os teatros, ganha dinheiro público para isso.’’
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