O Valor, jornal do qual mais se poderia esperar em informação e análise sobre a punição às teles, anunciada ao longo da quarta-feira (18/7), não foi o que deu noticiário mais rico. Informações importantes estão no Estado de S. Paulo e na Folha de S. Paulo. Na Folha, análise do repórter Júlio Wiziack mostra que teles e governo são solidários nas deficiências que provocaram uma enxurrada de reclamações.
Sigamos a receita do Barão de Itararé: “de onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada”. A ação da Anatel foi uma resposta às queixas dos cidadãos. A esmagadora maioria das empresas vê nos brasileiros, na melhor das hipóteses, consumidores, não cidadãos. E essa percepção é um equívoco. Talvez o governo esteja descobrindo isso, como decorrência de tudo o que se desdobrou no país desde a promulgação da Constituição de 1988.
Recomenda-se, nessa como em muitas outras coberturas jornalísticas, evitar confusão entre política pública e politicagem eleitoral. Nos marcos atuais da política brasileira, é impossível evitar manipulações marqueteiras de políticas e medidas governamentais. Mas isso não deve levar à subestimação de programas de governo, sejam federais, estaduais ou municipais. Por duas razões. Primeira, isso equivaleria a considerar o eleitor um bobo – alegre ou triste. Segunda, porque as políticas de governo têm uma importância decisiva na vida do país.
Mas é uma verdade incontornável que no Brasil as coisas são feitas aos trancos e barrancos. Como notava o grande economista Ignácio Rangel, a primeira turma de engenheiros automobilistas foi formada depois que a indústria de veículos já estava instalada.
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Antônio Carlos Peixoto
O corpo do professor e cientista político Antônio Carlos Peixoto, que colaborou no Observatório da Imprensa com uma série de entrevistas sobre a história de países sul-americanos (ver “As muitas Américas do Sul”), será cremado no próximo sábado, 21, às 11 horas, no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.