ELEIÇÕES 2006
Os fins justificam ou não os meios?, 30/08/06
‘Wagner Tiso, Luiz Carlos Barreto, Paulo Betti, Marilena Chauí e outros importantes intelectuais ligados ao PT acabaram se enroscando nas explicações para o mensalão, os sanguessugas e outras travessuras éticas cometidas pelo partido; com a mesma argumentação ideológica, o mesmo fervor revolucionário de Robespierre na Revolução Francesa, dos bolchevistas durante os 80 anos de poder na União Soviética, e até de Moisés, na liderança de seu povo em busca da liberdade.
Nicolau Maquiavel, no Renascimento, explicitou de maneira supersimples essa argumentação em sua obra prima – ‘O Príncipe’ – sobre a arte de conquistar e preservar o poder político: ‘Os fins justificam os meios’.
O interessante é que, tomados por fervor de igual intensidade , Leandro Konder, Plínio de Arruda Sampaio, Carlos Nelson Coutinho, Chico Alencar e outros importantes intelectuais de esquerda deixaram o PT por rejeitarem a argumentação e as travessuras dos companheiros. Ligaram-se ao PSOL, porque, segundo eles, a ética deve predominar sobre a política, sob o princípio de que ‘fins justos exigem meios justos’.
A discussão do princípio, tão sucintamente definido por Maquiavel, vai além de uma ocasional dissidência partidária. Ela é a base de vários e atuais dilemas da sociedade humana: guerra ao terrorismo, uso da tortura, pena de morte, utilização de células-embriões na pesquisa científica, regime carcerário e – pasmem! – até na nossa velha discussão profissional sobre como e por que escrevemos coisas com as quais não
concordamos.
Gastei muita saliva explicando matérias que escrevi e assinei (assinadas ou não) durante a ditadura e mesmo depois dela. Como cultivo a lógica dialética de Hegel, ponho em discussão duas opiniões:
1. sou contra a pena de morte, mas a justifico contra indivíduos que não respeitem o direito à vida dos outros;
2. transmitir informações corretas e circular idéias – por mais retrógradas e equivocadas que elas possam me parecer – sempre contribuem para a civilização, a liberdade de expressão e uma correta relação com a empresa que as divulga.
(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’
GOVERNO LULA & MÍDIA
Nos incentivos, a tentação do controle, 01/09/06
‘O XIS DA QUESTÃO – Independência jornalística é outra coisa, bem diferente do que estão pensando os filósofos e ideólogos palacianos, obstinados inventores de mecanismos de controle. E teremos de construí-la por caminhos bem distantes dos incentivos oficiais.
1. Idéia maluca
Senti-me desafiado, na capacidade cognitiva, pela idéia maluca de se criar um projeto governamental de ‘incentivos oficiais à criação de jornais independentes’. A maluquice, dizem as notícias, saiu das entranhas palacianas do Planalto, como parte de uma proposta de democratização dos meios de comunicação, posta a circular como documento de campanha do candidato Lula.
O documento, no seu todo, pode até ter lá seus méritos, em especial no que se refere à necessidade de uma boa mexida nas normas que regem ou deixam de reger a concessão de rádios e TVs. Mas a simples hipótese de admitir, como coisa possível, que a concessão de incentivos oficiais pode gerar independência jornalística, é coisa de mente tacanha. Ou de gente mais interessada em controlar do que em democratizar. Porque a concessão de incentivos oficiais pode funcionar, sim, mas a favor da dependência, não da independência de jornais e jornalistas.
Aliás, o Brasil tem longa e lamentável história, nas malas-artes de controlar jornais e jornalistas por meio da artimanha de incentivos e favores oficiais. Com incentivos e favores, cria-se a ilusão de que se beneficia a imprensa, quando, na verdade, são formas de proteger e beneficiar interesses de quem está no poder.
Quem duvidar, pode dar-se ao trabalho de ler Gaiola Aberta, o livro em que o escritor Autran Dourado relata a sua experiência de assessor de imprensa de Juscelino Kubitschek. As tramas e tramóias que organizavam as relações do governo com os jornais sempre envolviam ajudas oficiais, que eram concedidas ou recusadas em confrontos de chantagem, dos dois lados. Entravam nos confrontos, principalmente, o acesso a créditos e a outros tipos de ajuda, em bancos oficiais. Por exemplo, o perdão de dívidas.
Isso, no que tocava às relações com as empresas e as instâncias de comando dos jornais. Quanto aos jornalistas, os ‘agrados’ eram outros, tinham formas diferentes, mas envolviam igualmente vantagens financeiras. Entre elas, a isenção no imposto de renda e as generosas possibilidades de empregos públicos.
Por essas e outras, o assessor de imprensa Autran Dourado pôde atender o pedido de dona Sarah Kubitschek, escondendo do noticiário o infarto sofrido pelo presidente. Durante um mês, o Brasil foi enganado por falsas fotografias em que o próprio Autran Dourado, a distância conveniente, se ‘oferecia aos fotógrafos’ na representação de JK embarcando em helicópteros vestido roupas e assumindo gestuais do presidente hospitalizado.
Alguém acredita que os jornalistas credenciados no Palácio, todos profissionais vividos, ignoravam a farsa ou se deixaram enganar por ela?
Eles simplesmente participaram da enganação. Porque não eram nem podiam ser independentes.
2. Independência é outra coisa
É urgentemente necessário que alguém diga ao presidente-candidato que a independência jornalística, como valor cultural e como pré-condição ética para um jornalismo que sirva à sociedade e não aos governos, tem de ser atributo das redações, não das empresas jornalísticas. As empresas, sob o balizamento da lei, devem cuidar do negócio, para que seja lucrativo; às redações cabe cuidar do noticiário da atualidade, para que seja confiável.
Os Estatutos Editoriais, que na Europa regulam, em grandes jornais, as relações de poder entre as empresas e as redações, são, na verdade, acordos formais entre as duas partes, para que os respectivos interesses e objetivos sejam preservados.
Na base desses acordos estão valores publicamente assumidos pelos jornais, valores que se tornam compromissos perante a sociedade. São esses valores que delimitam e ajustam as divisões de poder entre redações e empresas – porque disso se trata.
No El País, por exemplo, esta é a carta de valores sobre a qual foi selado o acordo do Estatuto Editorial – e a transcrição serve apenas de exemplo, sem traduzir qualquer intenção de apresentar o ideário do EL País como modelo ideal:
1) EL PAÍS é um periódico independente, nacional, de informação geral, com uma clara vocação européia, defensor da democracia pluralista, segundo os princípios liberais e sociais, e que se compromete a a guardar a ordem democrática e legal estabelecida na Constituição. Nesta moldura, acolhe todas as tendências, exceto as que propugnam a violência para o cumprimento dos seus fins.
2) EL PAÍS se esforça para apresentar diariamente uma informação veraz, o mais completa possível, interessante, atual e de alta qualidade, de maneira que ajude o leitor a entender a realidade e a formar seu próprio critério.
3) EL PAÍS rechaçará qualquer pressão de pessoas, partidos políticos, grupos econômicos, religiosos ou ideológicos que tratem de pôr a informação a serviço de seus interesses. Esta independência e a não manipulação das notícias são uma garantia para os direitos dos leitores, cuja salvaguarda é a razão última do trabalho redacional.
E mais adiante, no artigo 5º:
A mudança substancial da linha ideológica do EL PAÍS (…) será motivo para que o membro da redação que se considere afetado em sua liberdade, honra ou independência profissional possa, sem pré-aviso, invocar cláusula de consciência e, em seu caso, dar por rompida ou extinguida a sua relação de trabalho. (…) Quando o afetado invoca a cláusula de consciência ante os tribunais de justiça, se estes julgarem procedente o rompimento do contrato, em virtude da dita cláusula, o interessado terá direito, no mínimo, a indenização que corresponda ao devido por dispensa improcedente.
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Daí, o xis da questão: independência jornalística é outra coisa, bem diferente do que estão pensando os filósofos e ideólogos palacianos, obstinados inventores de mecanismos de controle. E teremos de construí-la por caminhos bem distantes dos incentivos oficiais.
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’
JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonca
A ponto de perder o juízo, 28/08/06
‘A gente lê que os bancos ganharam uma fortuna e que a expansão de crédito foi determinante. Entende-se que se passou a emprestar dinheiro para um universo maior de pessoas. Mas a inadimplência está subindo espetacularmente. O que ninguém explica é que quando há maior volume de crédito os bancos são obrigados a emprestar para pessoas para as quais não emprestavam antes. Como são fatias da população classificadas como maior risco para efeito de recebimento, eles ampliam o spread, o custo do dinheiro. Assim, como a maioria paga, acaba ajudando a fazer os lucros espetaculares.
Mas a parcela que não paga tem crescido muito e isso pode significar a morte da galinha dos ovos de ouro. Mas falta sempre alertar as pessoas sobre os custos do dinheiro. Há linhas que dependendo da renda passam a ser impagáveis. Acontece que todos os bancos lançaram-se no mercado quase a laçar as pessoas nas ruas para empurrar empréstimos. Como sabem que vão tratar com um novo público, quase sem acesso às agências bancárias, todos os bancos se escudaram em nomes de menor conhecimento, em financeiras populares.
O resultado é esse que está aí: o crescimento da inadimplência que não só impede a expansão continuada do sistema bancário como também afeta a política de crescimento, já que os financiamentos desse tipo são demasiadamente caros para permitir às pessoas irem pagando e assumindo novos empréstimos.
Para que a economia cresça ou se tem linhas compatíveis ou se tem renda. Como para se ter renda é preciso ter primeiro o emprego… Então fica combinado que esse passa a ser um grande problema para todo mundo. A pessoa que está sem pagar certamente vai se ver em meio a uma bola de neve sem freio. Quem emprestou corre o risco grande de jamais ver a cor do dinheiro (isso ele já compensou), mas matou uma fonte importante, quem sabe um futuro cliente. Para o governo, bem, para o governo ficam as estatísticas e mais um fator de inibição de crescimento.
Tudo isso poderia ser evitado com uma taxa de juro condizente com o risco do Brasil, com sua capacidade de ter bons fundamentos na economia, de gerenciar sua dívida, de mostrar-se interessante sem precisar de taxas tão elevadas. Se tivéssemos taxas moderadas e compatíveis certamente teríamos menos recursos apenas girando no mercado financeiro, teríamos uma economia maior e mais emprego e renda. Isso geraria capacidade de pagamento, condições mais lúcidas em operações de financiamento e não teríamos tantas pessoas desesperadas, penduradas, a ponto de perder a razão.
(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.’
JORNALISMO ESPORTIVO
A volta do velho Galvão, 29/08/06
‘Olá, amigos. O Grande Prêmio da Turquia de F-1 do último domingo, além de lembrar as velhas corridas, com ultrapassagens arrojadas, inúmeros acidentes e muita emoção, trouxe de volta algo que já não se via há muito tempo: a velha narração de Galvão Bueno.
Pode-se dizer o que for de Galvão, mas o fato é que ele tem uma marca registrada ao menos: dar emoção às corridas que, na voz de outros locutores, podem tornar-se tediosas e cansativas. O que os telespectadores da TV Globo puderam ver no último domingo foi a volta de um estilo único de narrar corridas, que estava de certa forma esquecido. Não que as narrações das provas anteriores fossem ruins, mas estavam aquém da que foi feita no GP da Turquia, e que era algo comum nos tempos de Senna e Piquet.
Pode-se, claro, creditar o fato à vitória de um brasileiro, Felipe Massa, que não acontecia há algum tempo. Mas mesmo nas vitórias de Barrichello pela Ferrari, Galvão Bueno não parecia estar com a mesma garra que demonstrou na corrida.
Pode-se também explicar que o GP da Turquia foi um dos melhores não deste ano, mas dos últimos anos, e certamente empolgou o narrador a ponto de fazê-lo voltar a dar a antiga emoção à transmissão.
Seja a razão qual for, o fato é que foi muito gratificante assistir a uma corrida narrada pelo velho Galvão Bueno. Tomara que outras venham pela frente.
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Esta semana comecei a cobertura do Mundial Feminino de Basquete, que acontece em setembro, em São Paulo. Incrível quanto possa parecer, nos dois primeiros dias (segunda e terça-feira), só havia eu e mais dois repórteres nos treinos da seleção brasileira.
O telefone do assessor de imprensa da CBB não pára de tocar com pedidos de informação sobre as jogadoras, credenciamento (que acabou no dia 01 de
julho) e o torneio. Se é assim que o Brasil e a imprensa brasileira dão importância a um dos times mais vitoriosos do nosso esporte olímpico nos últimos tempos, é bom que não se venha depois dizer que o apoio ao financeiro esporte só acontece a cada quatro anos, às vésperas da Olimpíada.
A atenção da imprensa, parece, também.
Em tempo: quando se anunciou que Leão, técnico do Corinthians, daria uma palestra às jogadoras, a imprensa compareceu em peso ao local marcado.
(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’
José Paulo Lanyi
Mulheres, futebol e artesanato, 29/08/06
‘O jornal O Estado de S.Paulo publicou esta semana uma reportagem curiosa, assinada por Marcos Rogério Lopes. Das linhas emergia a sua estrela maior: Emerson Leão, técnico do Corinthians. Ao trecho que nos interessa:
‘A IMPRENSA
Emerson Leão chegou cedo ao Parque São Jorge, às 7h15, mas a reportagem já estava lá. ‘Qual exatamente é o intuito de sua matéria?’, perguntou à queima roupa. A idéia era mostrar a relação do treinador com o jornal O Estado de S. Paulo, publicação que ele, como assinante, citou em algumas entrevistas coletivas. ‘Já liguei várias vezes para lá para cancelar minha assinatura’, contou, estreando a série de tentativas de desestabilizar o entrevistador.
De acordo com o treinador, ‘o jornalismo caiu de qualidade’ nas últimas décadas. ‘Hoje, dou entrevista para estudante do 2º ano de faculdade!’ Estatísticas de Leão: ‘Atualmente, 90% dos repórteres não sabem nada de futebol, 8% acham que sabem e os 2% que conhecem alguma coisa, não vêm aos treinos, pois viraram chefes.’ Por fim, derrapou ao comentar a cada vez mais comum participação feminina na imprensa. ‘E, aqui entre nós, não dá para falar com mulher sobre futebol.’
Leão parece ter pelos repórteres o mesmo apreço que dedica aos argentinos. Vira e mexe, envolve-se em brigas e discussões. Outro dia, em uma zapeada, flagrei-o em uma coletiva, em meio ao seu sarcasmo sobre o peso corporal de um jornalista que, ao que parece, caiu em desgraça com o humor felino do treinador.
Do alto da sua experiência, Leão tem estatura para fazer análises como a que fez sobre o trabalho dos repórteres esportivos. Ele tem uma parcela de razão: a coisa tá feia nas Redações. Mas isso não deveria isentá-lo da cobrança por comentários preconceituosos contra as repórteres esportivas.
Decidi conversar com uma jovem jornalista de São Paulo, numa espécie de ‘trabalho de amostragem’. Fernanda Poli, 23 anos, não cobre futebol, mas é apaixonada por esse esporte, cada vez mais, como diria a minha avó, ‘unisex’. Corintiana, vai aos jogos sempre que possível. ‘Quando alguém conhecido não pode me acompanhar, vou sozinha mesmo’.
Fernanda formou-se pela Universidade São Judas Tadeu, em dezembro de 2004. Foi repórter da Gazeta do Ipiranga, trabalhou na assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública e hoje faz rádio-escuta, redação e locução na Agência Rádio 2.
Repito: é jornalista, é mulher, adora futebol mas não é repórter esportiva.
Link SP – O que você achou da afirmação de que ‘não dá para falar com mulher sobre futebol’?
Fernanda Poli – Preconceituosa demais! Acho que futebol é um assunto como outro qualquer e qualquer pessoa pode gostar, entender e saber discuti-lo. Já passamos do tempo em que mulher só podia se interessar, no máximo, por artesanato.
Link SP – O que você, mulher jornalista, tem a dizer ao Leão?
Fernanda Poli – Eu acho que ele precisa buscar mais consistência no que fala. Falar pra ser polêmico não vale a pena. Dá sim para falar com mulher jornalista sobre futebol! É claro que tem gente que não entende de futebol, assim como tem gente que não entende de xadrez, de natação. Só não dá para separar em grupos quem entende ou não de determinado assunto…
Link SP – Será que o Leão acha que futebol é coisa só de macho?
Fernanda Poli – Deve achar que mulher não entende de futebol e que nestes tempos ainda só se interessa pelos afazeres domésticos…
Link SP – O que você pensa sobre as críticas dele aos repórteres esportivos em geral?
Fernanda Poli – Discordo. Acho que uns sabem muito, outros menos e sempre tem alguém que sabe pouco, mas discursa bem. Agora, definitivamente, essa proporção citada pelo Leão não é real.
Link SP – Leão costuma tratar os jornalistas com arrogância e agressividade. Ele tem as suas razões ou não tem esse direito?
Fernanda Poli – Talvez ele não perceba que o cidadão jornalista está exercendo sua profissão. Acho que é preciso educação. Não há razão para ser assim… Talvez aquele monte de jornalistas falando todos os dias irrite. Mas não custa nada ser educado.
Link SP – Você costuma ter problemas com os homens e profissionais em geral, por ser apaixonada por futebol?
Fernanda Poli – Geralmente! Dos 16 aos 18 anos de idade eu ia pelo menos duas vezes por semana ao Parque São Jorge assistir aos treinos do Corinthians. Isso simplesmente porque sou apaixonada pelo meu time e porque aprecio futebol. Mas diversas vezes tive que ouvir que eu era maria-chuteira! Eu passava e só ouvia o povo resmungando (risos). Outra: todos os dias, de manhã, eu comprava o jornal Lance!. Um dia eu fui mais tarde e o jornaleiro disse pra eu avisar meu pai que já tinha acabado… Ai ai ai, viu!
* * *
Ô, Leão! Vê se pega leve…
(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’
JORNAL DA IMPRENÇA
Crime hediondo, 31/08/06
‘Descanso minha cabeça no teu ventre
em paz comigo e o mundo
(Talis Andrade in Relvapúbis)
Crime hediondo
Por sugestão do considerado Orlando Petzayn, de São José dos Pinhais (PR), Janistraquis foi dar uma olhada no site do Apucarana Notícias e, de repente, exclamou em medonho esgar:
‘Horror! Horror, considerado! O redator da primeira página é um DJ!!!’
Acorri e verifiquei, com meus próprios olhos, a dura verdade. Lá estava, abaixo do título Greve de Fome no Minipresídio de Apucarana:
Mais uma vez o Minipresídio de Apucarana bombou. Agora os detentos resolveram voltar com a famosa greve de fome para que as autoridades competentes olhem com outros olhos para eles.
Meu secretário permaneceu horas abraçado ao desalento; depois, perorou:
‘O desprezível ‘verbo’ bombar denuncia, sem dúvida, a presença de um DJ a serviço do jornal, contratado, evidentemente, para cometer crimes hediondos contra o nosso cada vez mais desprotegido idioma.’
Brasileiro
Do considerado Sérgio Cavalcânti, do Rio de Janeiro, a recordar o turismo orbital do coronel Marcos Pontes, conhecido como nosso ‘primeiro astronauta’:
‘Foi só um brasileiro ir pro espaço e já sumiu um planeta…’
Bomba atômica
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, não tem o inútil costume de consultar astrólogos para conhecer o futuro, o próprio ou o deste desventurado país. Seu interesse surgiu depois da humilhante rasteira que Plutão levou dos cientistas e durou pouco, somente o tempo de ler esta notícia na seção Mundo, do Correio Braziliense:
UM PLANETA A MENOS — OS EFEITOS DA REFORMA. Astrologia: nada muda.
Plutão rege o signo de Escorpião e foi incorporado à astrologia após anos de estudo, já que seu movimento tinha relação aos (sic) acontecimentos na Terra. O primeiro avistamento do astro coincidiu com a explosão da primeira bomba atômica, em 1930. (…)
Mestre Roldão ficou momentâneamente paralisado pela perplexidade:
A astrologia é mesmo fantástica: constatou a primeira explosão atômica com quinze anos de antecedência!!!
Sandro Vaia
‘Há carência de talentos para exercer o jornalismo literário’, disse o considerado Sandro Vaia, diretor de Redação do Estadão, ao repórter Gustavo Abdel Massih. Leia a excelente entrevista no Observatório da Imprensa.
Vetores
O considerado José Truda Júnior adora as enquetes perpetradas por grandes portais e pequenos sítios da internet, sondagens que, segundo ele, ‘podem medir até o humor dos usuários em determinados momentos’. Como esta do Globo Online, que pergunta e oferece duas opções de resposta:
Você toma precauções contra o dengue também durante o inverno?
* Sim, me preocupo com focos de água em casa parada durante todo o ano
* Não, só me lembro do problema durante as campanhas de verão
Truda correu ao telefone:
Imediatamente liguei para o pessoal do controle de vetores da prefeitura. Segundo eles, mesmo em residências que se movem é preciso ter cuidado porque o mosquito e a água se movem junto.
Indispensável
No seu excelente blog Código Aberto, hospedado no Observatório da Imprensa, o considerado Carlos Castilho escreve artigo que todos os profissionais de verdade precisam ler. O título é Jornais correm em busca do tempo perdido. Confira aqui.
Por baixo
Depois de assistir, durante três semanas, ao mais insosso horário político de toda a história da TV brasileira, Janistraquis bocejou:
‘Considerado, estamos vendo a reedição daqueles programas nascidos da Lei Falcão; a diferença é que, antes, tínhamos fotos com o partido e o número do candidato; hoje, é a mesma coisa com, digamos, alguma ‘animação’. Nunca a democracia pareceu tanto com a ditadura, né mesmo?’
É verdade. A burrice costuma nivelar tudo por baixo.
Preto e branco
Curioso Erramos da Folha de S. Paulo:
COTIDIANO (12.JUL, PÁG. C3)
Diferentemente do publicado no texto ‘SP define lista dos presos que quer isolar’, o apelido do preso Osmar Giglioli Pena é Tico Branco, e não Tico Preto.
Janistraquis acha que o pessoal da FSP agiu com excesso de zelo:
‘Ora, considerado, num país ainda livre de cotas raciais na bandidagem, tanto faz o Tico ser branco quanto ser preto. E, vamos e venhamos, chamar o Osmar de ‘Tico Afro-descendente’ seria o absurdo dos absurdos!’
Sertões do Mestre
Leia no Blogstraquis o poema cujo excerto epigrafa esta coluna. Integra o livro Sertões de Dentro e de Fora e pertence à generosa lavra de Talis Andrade.
Viva o calote!
A leitora Maria Elisa Couto, de Porto Alegre, envia matéria publicada no Boletim do Consumidor RS, na qual aprende-se a dar o cano nos hotéis e ainda levar uma boa grana de indenização. Janistraquis garantiu que vai experimentar, depois que analisou o texto abrigado sob o título Retenção de bagagem gera indenização a hóspede:
Hóspede cujo acesso ao quarto foi negado por não pagamento de diárias receberá R$ 8 mil por danos morais. O estabelecimento vetou a entrada do cliente e sua família ao quarto em que estavam hospedados, retendo suas malas até quitar a dívida. A decisão é da 9ª Câmara Cível do TJRS que, por unanimidade, deu provimento à ação de indenização por danos morais contra Excelsior S. A. Hotéis de Turismo.
Viviane, que não é dona deste nem de qualquer hotel, acha que a Justiça protege o caloteiro. É verdade. Neste país de m… só leva a pior quem paga as contas em dia. (Leia íntegra no Blogstraquis).
Verdade
‘Para ser bom, basta não cometer maldade alguma.’
(Reflexão atribuída ao insigne pensador e teólogo Janistraquis de Azevedo Varejão, em palestra na Sorbonne, na manhã de sábado, 3 de julho de 1982.)
Esculhambação
A considerada leitora Beatriz Almeida, de Petrópolis, envia excerto de matéria publicada na Folha Online, na qual se lia, abaixo do título Adesivo de bicheiro dá ‘imunidade’ no Rio:
O adesivo de um haras de propriedade de um bicheiro colado no vidro traseiro do carro é usado por moradores da zona norte do Rio como salvo-conduto para evitar blitze da polícia e assaltos a automóveis.
O Haras Escafura, de cavalos de corrida, pertence ao bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, 78. Seu Zé, como é respeitosamente chamado pelos moradores, é ‘dono’ da contravenção em mais de dez bairros da zona norte do Rio e já chegou a ser preso no início da década de 1990, com a cúpula do jogo –hoje, está solto.
Beatriz ficou indignada:
‘Será que para nos livrarmos da violência vamos ser obrigados a pedir proteção a bicheiros?!?!?!’
Boa pergunta, boa pergunta…
Felicidade
A considerada leitora Anelise Velloso Barreto, de São Paulo, envia notinha extraída da coluna de Claudio Humberto:
Estudo da Universidade de Leicester, Grã-Bretanha, colocou o Brasil em 81º lugar em matéria de felicidade, atrás da Argentina. A Dinamarca seria o país mais feliz do mundo. E olha que lá havia algo de podre no reino…
Duplipensar
O considerado Angelo de Souza, jornalista carioca, leu no nonagenário Monitor Mercantil, do Rio de Janeiro, esta ‘pérola do duplipensar orwelliano’, como ele mesmo define:
Otimismo dos empresários é o pior desde 1999.
Então, Angelo duplipensou:
Qual teria sido o índice no melhor momento do ‘piorismo’ empresarial brasileiro? Ou será que estou sendo pouco flexível, totalmente binário, excluindo as nuances possíveis da lógica do mundo dos negócios ?
Assaltado pela certeza de que o redator do jornal anda a automedicar-se com Pioral (não confundir com Melhoral), Janistraquis, apaixonado pela Novilíngua (êpa!), aproveitou para iniciar releitura de 1984, a obra-prima de George Orwell, cujo Big Brother também não deve ser engodilhado com o programa da Rede Globo.
Nota dez
Eleito pela maioria absoluta dos leitores/colaboradores desta coluna, abriga-se no Blogstraquis o texto do considerado Otavio Frias Filho, intitulado Anistia para Lula e cujo primeiro parágrafo é este:
CERTOS OU errados, nove entre dez colunistas políticos prevêem vitória de Lula no primeiro turno da eleição. O próprio presidente se esbalda no ‘já ganhei’, chegando ao cúmulo de marcar compromissos para 2008. A 37 dias da votação, seu favoritismo segue impávido nas pesquisas.
Errei, sim!
‘BOA RIMA – Título da Folha da Tarde, de São Paulo: Samba e nudez podem dar boa rima. Janistraquis, que anda mais ‘ligado’ que funcionário do primeiro escalão, cantarolou estes versinhos, com a música do samba-enredo da Portela: No majestoso cenário desta vida severina/é mais fácil o doutor Ulysses dar a volta por cima/do que samba e nudez darem boa rima… O sambinha fez o maior sucesso entre os empregados aqui do nosso prédio.’ (fevereiro de 1990).
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).
(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’
WEBJORNALISMO
Um adeus feliz
Mario Lima Cavalcanti, 30/08/06
‘Na última semana, recebi a notícia de que o Comunique-se passaria por uma mudança e que, por isso, as colunas seriam interrompidas. Na hora, é óbvio, fiquei triste, mesmo entendendo os motivos. Aliás, foram quase cinco anos. E colunista que se preza cuida com carinho da sua coluna, trata-a como uma cria. Por esse motivo, a tristeza bateu. Mas a felicidade prevaleceu.
Quantas coisas aconteceram durante esse tempo. E quantas coisas prometem acontecer em bem menos tempo que as outras aconteceram. Às vezes eu navegava pelo arquivo da coluna e me pegava surpreso: ‘não acredito que já escrevi sobre isso. Eu nem lembrava!’. São tantas informações que só o amor explica a dedicação pela área. É assim que segue o meio online, hoje quase que regendo o meio offline.
Ainda são frescas as palavras do falecido e eterno amigo Fernando Villela, o Fervil, que no início de 2002 me disse: ‘acho que seu primeiro artigo no Comunique-se deve ser sobre RSS. Você vai começar com chave de ouro!’. Visionário como sempre, ele estava certo. O RSS e o Atom hoje ‘bombam’ e são indispensáveis pra quem precisa acompanhar informações a cada momento.
Confesso que lamento pelo fato de, a partir de agora, não mais ter no meu ‘cartão de visita’ a linha de ‘colunista de jornalismo online do portal Comunique-se’. No entanto, existe uma que emoldurarei com prazer e carregarei para sempre, a de ‘ex-colunista de jornalismo online do portal Comunique-se’, um espaço que contribuiu para que eu me aproximasse cada vez mais do jornalismo digital.
Mudanças não são sinônimos de tristeza. Mudanças muitas vezes são sadias e necessárias. Quem aqui nunca deu aquela renovada no visual? Com o meio online também é assim. É preciso renovar, inovar, buscar novos horizontes, dar vez a novos rostos e novas mentes. Grandes diários fizeram isso recentemente. E guardar com carinho o que passou e contribuiu para tal fortalecimento.
Aos outros colunistas do Comunique-se, é engraçado ver como o campo do jornalismo se desdobra em diversos outros. É bom ‘assistir’ de perto outros especialistas. Foi bom ter como ‘vizinhos’ amigos como Antonio Brasil e conhecer um pouco mais de cada um de vocês.
Aos leitores, que começaram nessa história de Internet fazendo papel de meros usuários e hoje são grandes emissores de informação – um viva à Blogosfera -, fica aqui uma palavra: é com a voz ativa dos leitores que a mídia vai evoluir. Continuem expondo suas vozes. O universo online está aí para isso. Vocês são as sementes do novo poder que nasceu para coexistir com o quarto poder.
Ao Comunique-se, o agradecimento pelo reconhecimento e por me presentear com a primeira coluna brasileira dedicada ao jornalismo online. Vocês sabem que nossas empresas são irmãs por afinidade e que poderão contar sempre comigo. Estarei por perto. Desejo boa sorte com os novos anéis que vão compor os dedos desse maravilhoso portal, que cresceu lucidamente, na velocidade da vida.
O título do artigo pode remeter a uma eterna despedida, mas na verdade não é um adeus. É só um tchau. Feliz. 😉
Parabéns a todos!
(*) Trabalha com conteúdo online desde 1996 e já passou por empresas de renome na Internet. Foi editor do AQUI!, extinta revista virtual do Cadê?, editor do canal Digital do portal StarMedia e coordenador de operações do Prêmio iBest. Realizou seminários e ministrou diversas palestras sobre jornalismo digital. Em fevereiro de 2000, criou o site Jornalistas da Web (JW), primeira publicação virtual brasileira sobre jornalismo online e cibercultura. Em 2005, criou e implantou a Biblioteca de Comunicação Digital e Cibercultura (BCCD) no campus 3 das Faculdades Integradas Hélio Alonso – FACHA, no Rio de Janeiro. Atualmente, Cavalcanti é pesquisador de mídias digitais e editor de conteúdo do JW.’
MERCADO EDITORIAL
Vaivém no Grupo Estado prossegue, 30/08/06
‘Várias mudanças continuaram a movimentar as redações do Grupo Estado nos últimos dias, algumas delas dentro do Programa de Demissão Incentivada que a empresa criou e colocou em prática recentemente. O objetivo desse programa é reduzir a folha de pagamento e, simultaneamente, abrir caminho para uma renovação da equipe.
No Estadão, fizeram acordo com o jornal dois dos mais experientes e antigos profissionais: o repórter especial José Maria Mayrink, 26 anos de casa em duas passagens, que deixa de ser funcionário e passa a atuar como colaborador na sua maior especialidade, a cobertura de assuntos religiosos; e o editor de Esportes Adalbe Negrão, que efetivamente deixa a empresa após 22 anos de casa (antes registrou passagens por Folha de S.Paulo e Popular da Tarde). Há ainda algumas outras mudanças que deverão ser consolidadas pela empresa nos próximos dias.
Do Jornal da Tarde saíram, de uma só vez, quatro dos seus mais antigos funcionários, dois deles praticamente fundadores do veículo, Castilho de Andrade, do Esporte, cuja trajetória profissional praticamente se confunde com a do próprio JT, ele que ali chegou em 1969, e o diagramador José Bigati, do mesmo período. Castilho, que começou a se notabilizar pela cobertura da Fórmula 1 nos tempos de Émerson Fittipaldi e Nélson Piquet, andou uns tempos também por Variedades, ‘mas 90% foi no Esporte’. Ali ganhou, com Odyr Cunha, um Esso pela cobertura do Pan de 1979. Agora, diz, ‘vou ficar seis meses fazendo tudo o que tenho direito, menos planos’. Também se despede da empresa a editora-assistente Denise Mirás, outra da editoria de Esportes, que ingressou no jornal em 1980, vinda do Diário do Grande ABC. Sua passagem no JT foi marcada pela cobertura de seis Olimpíadas, façanha que ela acredita ser única entre as repórteres brasileiras. De viagem marcada para o próximo domingo (‘As férias que não tirei no período da Copa’), ela afirma que só na volta, prevista para meados de setembro, terá condições para pensar nos próximos passos. ‘Pode ser um blog, uma revista para o Pan, tenho mil idéias, mas estou aberta a sugestões e convites.’ Quem também saiu do jornal foi a diagramadora Helena Trindade Albuquerque, formada em Jornalismo pela PUC-Campinas e que contabilizava 17 anos de casa. Helena, vale o registro, é pedestrianista amadora.
Na Agência Estado as novidades nada têm a ver com o Programa de Demissões Incentivadas. Ao contrário, a empresa recompôs seu staff. A principal novidade por lá foi a nomeação de Josué Leonel como diretor de Informação da Agência Estado, cargo que vinha sendo acumulado pela diretora-executiva da Agência, Rosa Dalcin. Josué está na AE desde 1992 e havia dois anos comandava o AE News, o serviço de notícias em tempo real do Broadcast. Para o lugar dele, foi promovida Marisa Castellani, que está no Grupo Estado desde 1986, aonde chegou após período de quatro anos na redação de O Globo, no Rio, com passagens por diversas editorias. No Grupo Estado, trabalhou na sucursal do Rio e, a partir de 1992, na redação do Estadão e na Agência Estado, em São Paulo. Trabalha no AE Broadcast desde a criação do produto, primeiro como coordenadora regional (no Rio) e em seguida como editora-assistente e editora-adjunta.
No Sul, RBS amplia seus domínios
Um dos mais tradicionais veículos de Santa Catarina, A Notícia, de Joinville, passará a integrar o Grupo RBS a partir do próximo dia 21/9, tornando-se o oitavo título da rede sulina. Fundada em 1923, A Notícia vende cerca de 32 mil exemplares por dia em 260 municípios catarinenses. O grupo gaúcho não fez qualquer outro comentário sobre a transação, que o blog de Paulo Alceu (que atuou na RBS por mais de 12 anos e hoje é apresentador na Rede SC/SBT, em Santa Catarina) estima ter alcançado a cifra de R$ 50 milhões. O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina publica em seu site (www.sjsc.org.br) artigo em que afirma desconhecer problemas financeiros graves no diário (‘Pelo contrário, há indícios de que a saúde financeira do jornal joinvillense estava equilibrada.’), denuncia os ‘riscos de monopolização da informação’ em Santa Catarina e demonstra ‘preocupação com o destino dos mais de 100 jornalistas de A Notícia’, já que deverá haver sobreposição de estruturas com os outros veículos da RBS no Estado, o Diário Catarinense e o Jornal de Santa Catarina. Embora não tenha se pronunciado sobre a posição do sindicato, já em diversas oportunidades o diretor-presidente da RBS, Nelson Sirotsky, que foi reeleito nesta terça-feira presidente da ANJ – Associação Nacional de Jornais para o biênio 2006/2007, tem rebatido acusações como essas sob os argumentos de que o grupo emprega mais de mil jornalistas, sempre agiu dentro da lei e que não se pode confundir liderança, que é o que a RBS tem, segundo ele, com monopólio. Ele diz ser ridículo falar em monopólio num mercado como o de Porto Alegre, por exemplo, onde há 30 emissoras de rádio, cinco jornais diários, seis emissoras de televisão aberta, sem contar os canais por assinatura.
Outra novidade local da RBS, e também em Santa Catarina, é a chegada do popular Hora de Santa Catarina, nas 1,4 mil bancas de nove municípios da Grande Florianópolis, ao preço de R$ 0,25, com circulação auditada pelo IVC. A primeira edição, publicada nesta segunda-feira, saiu com 40 páginas, mas o padrão será de 24 páginas, sendo 20 coloridas.
Na contramão dessa história, chega do Rio Grande do Sul, conforme já noticiou este Comunique-se, a notícia de que quase metade da redação do jornal A Razão, de Santa Maria, está em greve há dez dias por causa de férias, 13º e salários atrasados, além de falta de depósitos de FGTS e de pagamentos de horas-extras. Fundado em 1934 e hoje com seis edições semanais circulando em quarenta municípios do Centro-Oeste gaúcho, e equipe de produção de cerca de 20 profissionais, A Razão já pertenceu ao grupo Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, e por muitos anos reinou soberana na cidade, como seu único diário. Conforme relato de Svendla Chaves publicado aqui no portal, o jornal vem enfrentando dificuldades desde 2002, coincidentemente o ano em que a RBS começou a editar lá o seu Diário de Santa Maria.
Realmente é grande a tentação de se acusar a RBS de monopolista tal o grau de concentração de veículos, de liderança e de penetração que ela alcançou nos dois estados do extremo Sul do Brasil. Mas também sobram argumentos para relativar essas acusações, ao se averiguar o que hoje representa essa empresa para o mercado jornalístico regional e mesmo brasileiro.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
Svendla Chaves
Equipe do jornal A Razão volta ao trabalho, 01/09/06
‘Os oito jornalistas que deflagaram greve no dia 20/08 no jornal A Razão, de Santa Maria (RS), retornaram ao trabalho nesta sexta-feira (01/09), após audiência de conciliação realizada na quinta-feira (31/08). Entre os motivos da greve (atraso de salários, férias, não-pagamento de horas-extras e não-depósito de FGTS), um foi resolvido ainda em agosto: a empresa parcelou junto à Caixa Econômica Federal o débito dos Fundos de Garantia.
O jornal também fez nesta sexta-feira ajustes financeiros das remunerações que estavam atrasadas e se comprometeu a verificar, em até 10 dias, se ainda há outras pendências, quitando-as em no máximo um mês.’
Svendla Chaves
Jornalistas de A Razão protestam contra atrasos salariais e outros problemas, 29/8/06
‘A situação enfrentada pelo jornal A Razão, de Santa Maria (RS), exemplifica as dificuldades enfrentadas em muitos jornais do interior do país
Uma greve que já dura nove dias envolvendo quase metade da redação do jornal A Razão vem trazendo à tona as dificuldades financeiras enfrentadas por um dos veículos mais tradicionais do Rio Grande do Sul. Com circulação regional, seis edições semanais e abrangendo quatro dezenas de municípios do centro-oeste gaúcho, o veículo tem equipe de produção formada por 20 profissionais, entre redatores, fotógrafos, diagramadores e profissionais de apoio. Agora, sete repórteres-redatores e um repórter-fotográfico reivindicam os direitos trabalhistas do corpo funcional.
‘A empresa vem enfrentando dificuldades há aproximadamente três anos’, conta o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SJPRS), José Carlos Torves. Férias, 13º e salários atrasados, ausência de depósito de FGTS e de pagamento de horas-extras são as principais reclamações da redação. Segundo a repórter-redatora Elisa Pereira, eleita representante sindical no dia 10/8, a situação não é uniforme entre os profissionais: ‘Alguns ainda não receberam a remuneração das férias do ano passado, a outros não foi pago totalmente o salário de abril. Hora-extra ninguém recebe, e mesmo a compensação em folgas é difícil, pois a equipe é pequena’. A real condição financeira do jornal não é exposta, mas fica evidente na defasagem tecnológica e na falta de alguns recursos: apenas um carro dá conta de todas as demandas da redação.
O grupo de jornalistas já sustenta a situação há mais de um ano, reconhecendo a importância de manter vivo o jornal mais antigo da cidade. A compreensão, no entanto, tem limites. ‘Descobri há pouco tempo que, nos quase três anos que trabalho no jornal, em apenas cinco meses foi depositado o meu Fundo de Garantia’, reclama Elisa. ‘Recebemos, dentro de um mês, o salário parcelado em cinco vezes!’ A jornalista explica que uma das reivindicações manifestada no início de agosto era de que os recursos disponíveis fossem divididos entre todos os profissionais que trabalham na redação, para que ninguém ficasse sem receber, mesmo que pouco. Segundo ela, no entanto, a condição não é interessante para a empresa, que precisa apresentar pelo menos alguns contra-cheques quitados para o Ministério do Trabalho para não pagar multas tão altas. Duas ações referentes a horas-extras e pagamento de salários estão em andamento na Justiça do Trabalho.
Fundado em 1934, A Razão já integrou o grupo Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, e foi, durante muitos anos, o único diário da cidade. Em 2002, para concorrer com o veículo, a RBS criou o Diário de Santa Maria. ‘Sabemos que é importante a diversidade e a concorrência, por isso seguramos por tanto tempo a situação do jornal, mas não podemos mais sustentá-lo’, defende Elisa. Torves acredita que a implantação do veículo da RBS não causou, mas ajudou a expor, as dificuldades financeiras já encontrados pel’A Razão.
‘Os nossos principais problemas são dois: primeiro, a situação econômica da região, afetada pela questão produtiva; segundo, a concorrência do Diário de Santa Maria, que oferece condições e ofertas comerciais que não podemos equiparar’, explica o assessor da direção d´A Razão, Gaspar Miotto. Nos momentos difíceis, é Miotto quem dialoga com a equipe. Funcionário da Universidade Federal de Santa Maria durante 22 anos, o jornalista chegou a ser professor de profissionais que hoje atuam no veículo.
De acordo com Miotto, a intenção da empresa é pagar os funcionários respeitando as possibilidades. ‘Com a greve, a qualidade editorial do jornal fica comprometida, o que também nos prejudica’, alega. Quanto ao depósito do FGTS, o assessor conta que os débitos foram negociados e parcelados com a Caixa Econômica Federal recentemente. ‘Sempre que algum funcionário sai da empresa, depositamos todo o seu Fundo’, ressalta. Sobre o boato de que A Razão poderia ser comprada pelo grupo Gazeta do Sul, de Santa Cruz (RS), Miotto diz que não há nenhuma proposta, apenas trabalhos realizados em parceria: ‘Da RBS sim, já recebemos propostas mais de uma vez’.
A falta de diálogo entre as partes também pode estar prejudicando o processo. Uma reunião de mediação com o Ministério Público do Trabalho e a Delegacia Regional do Trabalho está marcada para a próxima quinta-feira (31/08). Porém, desde o início da paralisação, nenhum contato foi feito entre a direção e os grevistas. ‘Foram tentadas várias formas de comunicação, mas não encontramos ninguém’, afirma Elisa. ‘O Sindicato não nos procurou. Se a equipe estivesse trabalhando, já estaríamos em dia’, diz Miotto.’
INTERNET
Escrever e blogar é só começar, 31/08/06
‘Escrever um diário, encarnar um personagem ou simplesmente redigir suas primeiras matérias. Em plena era digital, ser jornalista e não ser blogueiro é quase como ser brasileiro e não curtir futebol. Logo, você percebe que está em número cada vez menor. Atraídos pelas facilidades em se fazer um blog, vários profissionais da mídia aderem ao veículo. Alguns minutos para efetuar um cadastro e está lá: seu texto, imagem ou o que for está visível para o mundo inteiro.
E hoje é o seu dia, caro blogueiro, o Dia Mundial do Blog! A comunidade blogueira mundial lançou um blog que promoveu a data. O motivo de ser hoje é porque 3108 é o número que mais se aproxima do termo ‘blog’.
Há três anos, o Comunique-se lançou o Blog-se, o blog dos jornalistas e usuários do portal. Focas, repórteres da velha guarda e todos os tipos de profissionais da área escrevem nesse meio. No mês passado, o cartunista e jornalista Miguel Paiva se tornou o mais novo usuário da ferramenta.
‘Tenho esse senso de observação e de reflexão muito forte por causa do meu trabalho. E, por isso mesmo, sinto uma imensa necessidade de me comunicar de outras formas. Quando o blog surgiu e foi todo esse sucesso, comecei a querer usar essa ferramenta’, afirmou Paiva ao Comunique-se quando seu blog foi lançado. O artista mostrou uma faceta menos conhecida de suas habilidades: as crônicas que dividem espaço com tiras e comentários dos personagens Radical Chic e Gatão de Meia Idade.
Comentários de personagens? Essa é apenas mais uma das liberdades que o Blog permite. Se muitos repórteres usam para extravasar aquela oculta verve literária, outros usam para trabalhar ainda mais.
‘Não consigo ver um blog como um diário, sem conteúdo noticioso ou informativo’, afirma a jornalista Cristina Dissat. A blogueira criou o Fim de Jogo em 2004, um blog-se que cobre o que acontece depois dos finais de jogos no Maracanã. ‘Brinco de trabalhar e faço isso com a maior satisfação. Sinto que estou prestando um serviço. Fico angustiada quando estou fora a trabalho e não consigo acompanhar algum jogo, mas isso é inevitável’. A repórter já estuda alguma parceria para resolver a rotina intensa de trabalho.
‘Os blogueiros são também excelentes leitores. A blogosfera, aí esta o nome da coisa, é muito útil para quem atua em Comunicação Social. E os blogs em linguagem jornalística são muito capazes. Já têm muita influência’, afirma Thomaz Magalhães, dono do Trem Azul, o blog mais acessado do Comunique-se.
E para você que ainda não tem um blog, basta se cadastrar e acessar a seção Blog-se. Encerrando a homenagem aos blogs segue uma lista dos cinco blogs mais acessados do Comunique-se:
1- Trem Azul: Blog com opiniões sobre cultura e política – ‘Bastante política’, afirma seu blogueiro – do jornalista Thomaz Magalhães. ‘Vou deixar de ser jornalista para ser só blogueiro e escritor’, afirma.
2- Papo de Mídia: Eduardo César é criador do site Papo de Bola e quis criar uma seção que falasse da imprensa esportiva. Em 2004, lançou o Papo de Mídia no Blog-se. O blogueiro ainda não fez a faculdade de jornalismo, mas isso, segundo ele, é questão de tempo. ‘Para muita gente, já sou jornalista, mas a verdade é que ainda não o sou. Ainda não comecei a faculdade de Jornalismo, mas quero fazê-la sim, para entrar no mercado pela porta da frente’.
3- São Paulo 451 Anos: Do jornalista Gaspar Bissolotti Neto. Essa semana, o blogueiro publicou vários posts para denunciar uma mobilização que incomodou sua rua, a ‘Manifesta Vila Mariana’. ‘Os moradores da redondeza passaram a tarde toda reclamando. Esperamos que isso não volte a acontecer’, publicou.
4- Patolino: Sem grasnar, mas com muita objetividade, Eduardo Sander escreve notas com até três linhas com sua opinião sobre política e outros assuntos. O jornalista graduado pela Facha também dá espaço para falar de filmes e outros assuntos culturais. ‘Estou fora de uma Redação desde 2001, e não queria perder ‘visibilidade’ frente aos colegas que estão no mercado’.
5- Tudo Sobre Ivy: ‘A partir da necessidade de querer compartilhar minhas idiossincrasias para descobrir pessoas que se identificassem ou simplesmente se divertissem com as minhas observações’, revela a redatora publicitária Ivy Dias de Campos. Ela considera seu trabalho e sua atividade blogueira como ‘referências recíprocas’ e descreve seu blog como uma válvula de escape.’
TELEVISÃO
Troféu Brasil 2006 – Os piores e ‘menos piores’ programas da TV, 28/08/06
‘Para alguns, Agosto pode ser o mês do desgosto. Mas aqui, neste espaço, Agosto é o mês do tradicional Troféu Brasil, o Oscar alternativo para os piores e os melhores programas da TV brasileira. Infelizmente, este ano, não há premiação para os ‘melhores’ programas. Creio que, assim como o país, a nossa televisão chegou ao fundo poço. E se a TV é a cara do país, não há motivos para surpresa. O que era ‘esperança’ virou uma mistura de apatia, conformismo e muito, muito cinismo. O que já era muito ruim conseguiu ficar ainda pior.
TV digital
O primeiro Troféu Brasil 2006 na categoria ‘falcatrua televisiva’ vai para escolha do sistema de TV digital brasileira. Um dia ainda vamos nos lembrar dessa ‘arapuca’ com muita tristeza. Os nossos radiodifusores, liderados pelo Ministro Hélio Costa da Globo, estão satisfeitos. Conseguiram ignorar a sociedade e impor um sistema polêmico e ‘experimental’ que até esta data não foi totalmente implantado em nenhum país. Nem mesmo no país de origem, o Japão. Em meio a uma crise política, o governo conseguiu garantir a neutralidade da cobertura jornalística na TV e uma reeleição sem maiores dificuldades. Troféu Brasil 2006 para a escolha do pior e sistema de TV digital do mundo.
Na tradicional categoria de telejornal ‘menos ruim’, o Troféu Brasil 2006 vai para o Jornal do Boechat. Apesar dos olhares da mídia terem se concentrado quase que exclusivamente nas promessas do jornal da Ana Paula Padrão, no SBT, foi na velha Bandeirantes que vimos um bom exemplo de telejornalismo. Ricardo Boechat, Joelmir Betting e sua equipe de forma modesta e realista estão superando as dificuldades e produzindo um jornal competente. Troféu Brasil 2006 para o Jornal da Band. A destacar a cobertura da Copa do Mundo e a parceria com a BBC Brasil que nos garantiu bons momentos, principalmente, no conflito do Líbano.
Seguindo a mesma linha, o Troféu Brasil 2006 para correspondentes internacionais vai para o Paulo Cabral, da parceria BBC Brasil e Band. Ao contrário dos correspondentes da emissora líder que novamente chegaram atrasados em mais uma guerra, Paulo Cabral fez uma cobertura ágil e competente. Seu excelente trabalho no Líbano evitou o desequilíbrio de uma cobertura concentrada no conforto e na segurança de Jerusalém.
Insisto. Em uma cobertura de guerra, se não podemos ter pelo menos dois correspondentes com as mesmas facilidades técnicas cobrindo os lados opostos do conflito, é melhor não mostrar nada. É o famigerado efeito Denorex. Parece, mas não é. Pior do que jornalismo tendencioso e desequilibrado é um jornalismo que parece neutro e objetivo.
Humor na TV
Ainda na categoria Telejornal, a menção honrosa vai para a turma do Casseta & Planeta. Com toda a sua irreverência, eles ainda conseguem dizer o que os nossos telejornais deveriam dizer, mas não dizem. Em tempos de eleição, apesar da ‘censura’ e da cobertura jornalística apática, a turma do Casseta mostra com humor o momento ridículo que vivemos. Um troféu Brasil 2006 especial na categoria Saudade para o ‘grande’ Bussunda. Sentimos sua falta no programa. Mas a turma do Casseta é garantia de humor inteligente.
E já que falamos de programas humorísticos, o Troféu Brasil 2006 da categoria vai para… o inescapável e caríssimo horário eleitoral. Ninguém merece tanto desperdício e tanta bobagem. Mas temos que reconhecer que os ‘artistas’ eleitorais são bem engraçados! É um programa imperdível para conhecermos e avaliarmos o nosso futuro.
Não falta candidato no estilo ‘Seu Creysson’ no horário eleitoral obrigatório. Insistem na importância da educação, não acertam uma concordância e só dizem asneiras. Parece o Zorra Total. O horário eleitoral é Troféu Brasil 2006 para o pior programa humorístico da nossa TV.
TV ‘analógica’
Na categoria TV Educativa, programas para jovens, o Troféu Brasil deste ano vai para o Ponto P, com Penélope, da MTV.
Outro dia, meio de surpresa, comecei a assistir ao programa e fiquei chocado. A apresentadora dava conselhos sobre sexo para uma jovem telespectadora. Em determinado momento – sem nenhuma sutileza – ela perguntou se o namorado da jovem já tinha… como posso dizer… se ele já tinha feito… sexo anal com a telespectadora. Obviamente ela não usou esses termos. Sem qualquer cerimônia, perguntou se o namorado já tinha… Deixa pra lá! Não consigo repetir a pergunta. Ainda mais chocado e surpreso, mudei de canal.
Ainda bem que os nossos jovens podem ver programas mais instrutivos na nossa TV por assinatura com o Sexytime ou o inacreditável ‘Dicas de Sexo para Meninas’, exibido aos domingos pelo GNT. Pelo jeito, não faltam péssimos programas para jovens na nossa televisão. A destacar, o Malhação, Troféu Brasil para o pior programa para jovens em 2005, e o Programa do Incrível Hulk. Quem sabe, no próximo ano. Não faltam bobagens para velhos e jovens na nossa TV.
Troféu Revelação
Na categoria pior programa feminino, nada supera o Saia Justa. Já deveria ter saído do ar. As mulheres não merecem tantas asneiras. No começo, o programa tentava imitar o Manhattan Connection. Desistiu. Vive trocando as participantes, mas não consegue definir uma proposta mais clara, um objetivo, uma identidade. Já deveriam ter percebido que o formato, simplesmente, não decola, não funciona. Troféu Brasil 2006 para o pior programa feminino.
Mas nem tudo está perdido. Aproveito para conceder uma premiação especial na categoria Revelação ou ‘Sinergia de meios’ para o Saca-Rolhas, do sempre talentoso Marcelo Tas, o polêmico Lobão e a Mariana Weickert. O programa é um exemplo de convergência de mídias. É transmitido pela rádio BandNews FM e pela Play TV na Internet. Imperdível! O Saca-Rolha é um programa jovem que esbanja bom-humor e inteligência. Não tem medo de ser polêmico, vai ao âmago das questões com muito sarcasmo.
Deveria ser exibido na TV aberta no lugar do – tchan, tchan, tchan, tchan – No lugar do Troféu Brasil para o pior entre os piores programas da televisão brasileira em 2006.
Senhoras e senhores, temos o desprazer de anunciar que – para surpresa de muitos – o pior programa da televisão brasileira ‘não’ é o Domingão do Faustão. Não há mais nada a criticar ou dizer sobre a atração dos domingos na Globo. Está cada vez pior. Um dia, simplesmente, não vai mais ao ar. Será substituído pela transmissão ao vivo de partidas do campeonato brasileiro de futebol Totó. Uma exclusividade da emissora líder.
Mera questão de tempo.
O pior, o mais decadente programa da televisão brasileira em 2006, o Troféu Brasil vai para… o Programa do Jô.
Não sei se vocês têm assistido. Mas, assim como o nosso país, a atração dos finais de noite da Globo também chegou ao fundo do poço. Não consigo entender como ainda tiraram o programa do ar. O tédio do apresentador só é superado pelo tédio dos músicos que participam do programa e pela total inexpressividade dos convidados. O Programa do Jô virou um festival de convidados desconhecidos, pessoas desinteressantes que fizeram coisas ainda mais desinteressantes. Nem mesmo o talento inequívoco de um dos nossos melhores artistas consegue superar o desgaste da fórmula e salvar o programa. Chegou num ponto sem retorno. Já deveria ter acabado.
Sessão Coruja
Televisão é um meio muito dinâmico e cruel. Não há lugar para acomodação ou mesmice. Ainda mais agora, com a competição das TVs a cabo e da Internet. O horário noturno da TV é assistido por um público exigente. Por outro lado, a programação televisiva é construída em um sistema de rede. Um programa transfere audiência para o programa seguinte.
E não há atração que resista à lentidão e marasmo do Jornal da Globo. Mudou, mas continua o mesmo. Muito, muito chato. Dá sono. Nem mesmo um Jô Soares motivado e muito engraçado conseguiria fazer milagres. O programa simplesmente envelheceu.
A comparação com o Saca-Rolha é inevitável. Ambos exploram o talento dos entrevistadores, o potencial dos convidados e a sinergia de meios – o Programa do Jô também é transmitido pela rádio CBN. Mas é óbvio que o Jô Soares cansou de fazer o mesmo programa de sempre. Ele se dedica a experiências mais gratificantes e com muito mais sucesso, no teatro, por exemplo. Ainda não teve coragem ou disposição para com um programa que não faz mais sentido. O fim é inevitável.
Na minha opinião, o horário noturno deveria ser reservado para bons filmes. Talvez eles ainda existam na TV. Ou qualquer outra atração menos decadente ou sonífera. No momento, não há como resistir a uma sessão dupla de programas noturnos tão chatos para assistir aos filmes da Sessão Coruja. Eu bem que tento.
O Troféu Brasil 2006 de pior programa da TV brasileira para o Programa do Jô é, antes de tudo, um alerta contra a acomodação, a falta de criatividade e a mesmice do meio televisivo. O Programa do Jô não merecia seguir a decadência do excelente Perdidos na Noite da Record, mais conhecido hoje como péssimo Programa do Faustão.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’
VIDA DE JORNALISTA
No dia da folga, um atentado em Madri, 01/09/06
‘O metrô parou e um funcionário anunciou que, por um problema na estação Atocha, a paralisação seria de mais de uma hora. O repórter, que queria aproveitar o dia de folga para ir até Barcelona, tinha um mapa em mãos. Analisou e concluiu que daria para ir a pé até a estação Atocha.
Passo após passo, os sons de sirenes aumentavam proporcionalmente ao corre-corre das ruas. Após três quilômetros de caminhada, o jornalista parou em frente à Atocha. Primeiro, imaginou que fosse um acidente no metrô e tentou despistar um policial.
– Preciso embarcar nessa estação. Vou viajar.
– Como você quer viajar? Não tem trem saindo – respondeu o policial.
Luiz Carlos Ramos virou-se para o lado e viu a van de uma emissora. Aproximou-se para conseguir ouvir o som que vinha de um monitor de TV, dentro do veículo. O repórter informava que se tratava de um atentado a bomba. A data: 11 de março de 2004.
******
Luiz Carlos Ramos acordou cedo naquela quinta-feira. O material sobre Bilbao e Sevilla estava pronto para ser publicado no suplemento de Turismo de O Estado de S.Paulo. Ele foi de metrô ao aeroporto e lá guardou sua bagagem. Programou-se para embarcar para a Catalunha a partir da estação Atocha do metrô. Calculou que havia tempo suficiente para pegar um trem até Barcelona e andar pela cidade. Dormiria no trem expresso, na volta a Madri. Ele embarcaria para São Paulo no dia seguinte.
Explosão
Às 7h39, dez mochilas de Trinitrotolueno (TNT) explodiram em quatro comboios, cada qual em um ponto diferente do metrô madrilenho. Naquele momento, Luiz Carlos acabava de guardar suas malas no bagageiro do aeroporto.
Uma hora e quinze depois, estava em frente à estação Atocha. Eram 9 horas da manhã na Espanha e 4 da madrugada em São Paulo. Não seria preciso se preocupar em mandar material para a redação até o final da noite na Espanha. Telefonou para a esposa para dizer que estava bem. E começou a trabalhar. ‘Pensei em fazer a cobertura mais para o lado brasileiro. As coberturas das agências são focadas no âmbito internacional. Eu precisava dar o enfoque brasileiro’.
Eram pessoas desesperadas, chorando, ambulâncias de resgate bem parecidas com aquelas que existem no Brasil. Gente morta, gente ferida saindo do metrô. Os olhos do repórter mal piscavam. Ele havia se pautado para contar os detalhes de quem viu de perto as conseqüências da tragédia.
Correspondente
O telefone da redação, em São Paulo, tocou de manhã. Roberto Godói estava na pauta geral e atendeu. Era o colega Luiz Carlos oferecendo a cobertura.
– Estou aqui em Madri e tenho condições de cobrir o atentado.
– Eu nem sabia que você estava na Espanha. Que bom que você está aí!
– Vocês vão enviar o Reali [Júnior, correspondente em Paris para cá?
– Olha, você caiu do céu, Luiz. Você faz a cobertura aí hoje e o Reali faz um apanhado geral de Paris.
A cobertura teve oito páginas. Uma delas foi produzida por Luiz Carlos. Ele procurou comparar Madri a São Paulo, para ambientar o leitor paulistano. ‘Em 1997, o [Mário] Covas comprou trens espanhóis, que eram, portanto, iguais àqueles que explodiram’. O abre de página falava de homens e mulheres chorando na rua.
Não volte
Sexta-feira, 12 de março. Luiz Carlos voltara para o hotel e se preparava para ir embora para São Paulo. Imaginava que, a partir dali, os correspondentes e as agências tocariam a cobertura. Mas uma ligação da chefia de redação mudou tudo.
– Luiz, você fica aí mais uma semana, fazendo os desdobramentos e também a cobertura das eleições.
Ao desligar o telefone, foi ao Parque Juan Carlos I, onde acontecia um velório coletivo. Por ter estado muitas vezes na Espanha, ele levava uma vantagem: conhecia bem a cidade. Podia se deslocar a pé ou em transportes públicos. De qualquer lan house, conseguia enviar matérias ao preço de 5 euros por dia. Tinha a agilidade a seu favor.
Anhembi fúnebre
Mais uma vez, o jornalista usou a comparação de Madri com São Paulo para que o leitor conseguisse assimilar precisamente o que se passava na Espanha. Da dor coletiva à descrição de prédios, traçar paralelos era a forma mais eficaz de transportar o leitor às cenas cruéis do pós-atentado. Nessa linha, comparou o Parque Juan Carlos I ao Anhembi, um dos mais importantes centros de exposição de São Paulo. Um dos imensos pavilhões do Parque foi adaptado para o velório coletivo.
Mais tarde, 2,5 milhões de pessoas enfrentaram o frio de Madri para fazer uma passeata. Luiz Carlos cobriu tudo de perto. Conseguiu, ainda, conversar com jogadores de futebol, como Ronaldo e Roberto Carlos, do Real Madrid. O excesso de caminhadas pela cidade e a falta de tempo para almoçar o fizeram perder três quilos.
Eleições
Outro ponto alto da cobertura estava por vir. No domingo, 14 de março, eram as eleições. Nos olhos das pessoas, a indignação com a mentira pregada pelo presidente José María Aznar. Ele tentara ludibriar os eleitores, afirmando que se tratava de um atentado do ETA.
O governante não poderia, àquela altura, assumir que os autores eram membros da Al Qaeda, contra a qual Aznar entrou na briga para satisfação dos norte-americanos e insatisfação da maioria dos cidadãos espanhóis. Até hoje, não há uma certeza absoluta em relação aos autores. O fato é que José Luis Rodríguez Zapatero, da oposição, venceu as eleições.
Jornalista 24h
A cobertura se estendeu até 18 de março, uma quinta-feira, quando Luiz Carlos embarcou para São Paulo. O vôo seria via Nova York. ‘Consegui fazer uma boa matéria mostrando como era tensa a viagem de Madri, do atendado de 11 de março, até Nova York, dos atentados de 11 de setembro’.
Não fosse a compreensão de Luiz Carlos sobre o que é ser repórter, o Estadão teria perdido a cobertura especial. ‘Eu sou contra repórteres que saem às ruas com uma finalidade específica. Às vezes, acontece uma tragédia, um terremoto ou uma chacina, eles não chegam a cobrir porque dizem que são repórteres de Esportes, de Economia ou de Cultura’.
Na volta para casa, Luiz Carlos não conseguiu deixar de pensar que ele poderia estar entre as 192 pessoas mortas. ‘Nessas horas, pensamos no quanto somos pequenos diante de determinados fatos. Quem acredita em Deus pensa em Deus. Quem não acredita pensa na sorte. Para mim, tem muito a ver com o destino’.
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Luiz Carlos Ramos trabalhou durante 39 anos no Estadão. É professor da PUC há 17 anos e do curso preparatório do Estadão. Tem um programa na rádio Trianon e é diretor de Jornalismo da Radio Capital.
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(*) Cassio Politi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até 2004. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net. Ministra cursos de extensão há cinco anos e deu aulas em 24 estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. Atualmente, tem suas atenções voltadas para a área de Marketing. Ocupa o cargo de Diretor da Escola de Comunicação, a unidade de cursos e seminários do Comunique-se.’
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