A revista GQ, da editora Condé Nast, publicou um artigo crítico ao presidente Vladimir Putin em sua edição de setembro vendida nos EUA. A peça, assinada pelo repórter Scott Anderson, especialista em guerras, levantava dúvidas sobre a versão russa de uma série de explosões em Moscou, em 1999, que levou à morte de centenas de civis. A argumentação central do artigo – de que serviços de segurança russos estavam por trás dos ataques, em vez de terroristas chechenos – já havia sido levantada em outras ocasiões, em especial pelo ex-agente do serviço secreto russo Alexander Litvinenko, morto em Londres em 2006. Críticos argumentam que Putin usou os episódios como uma desculpa para começar uma nova guerra na Chechênia e que o conflito o conduziu à presidência. A principal fonte de Anderson foi Michael Trepashkin, um agente do serviço secreto que investigou os bombardeios e acabou preso por vários anos.
Autocensura
O problema é que a Condé Nast não publicou o artigo na edição russa da GQ. Blogueiros na Rússia e nos EUA acusaram a editora de autocensura. O site Gawker foi mais longe, afirmando que se tratou de um ato ‘de covardia editorial’. A página ainda postou a versão americana do artigo, convidando internautas russos a traduzirem o texto. Anderson mostrou-se surpreso com a medida.
O editor da versão russa da GQ, Nikolai Uskov, negou que tenha havido motivação política. Segundo ele, o artigo não foi publicado porque não havia nenhuma informação nova sobre o caso. Uskov lembrou ainda que Litvinenko havia concedido uma entrevista com conteúdo semelhante para a revista em 2005. ‘Se eu quiser, posso publicar. É outra história se o artigo contém algo que não havia aparecido na mídia muitas vezes no passado’, afirmou o editor.
A Condé Nast é proprietária da Vanity Fair e da GQ nos EUA, além das edições russas da GQ, Tatler, Glamour e Vogue. A edição russa da GQ vende 100 mil cópias por mês. A maior parte dos diários russos e a TV estatal são em geral relutantes em criticar as autoridades do país. Informações de Luke Harding [The Guardian, 8/9/09].