Representantes do governo, da sociedade civil, das universidades, e dos radiodifusores, integtrantes do Conselho Consultivo do Rádio Digital, reuniram-se com o ministro das Comunicações Hélio Costa. Participaram do encontro Nélia del Bianco, pesquisadora da Universidade Federal de Brasília e José Guilherme Castro, dirigente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), que analisam criticamente os rumos do rádio digital no Brasil.
Convidado a participar em nome da Abraço, José Guilherme Castro, que também é secretário-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), reivindicou a participação de entidades de trabalhadores do setor, como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert) e Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) nas reuniões do grupo. ‘É preciso ter participação dos movimentos sociais nesse Conselho.’ O ideal, observa, seria a realização de uma Conferência Nacional de Comunicações para debater a digitalização, entre outros temas. ‘Apesar do governo federal incentivar a participação pública, isso não ocorreu na área da comunicação.’
‘A pressão das grandes emissoras comerciais é pela implantação do IBOC, uma tecnologia robusta que ocupa grande parte do espectro eletromagnético disponível para a rádio’, afirma Nélia del Bianco, professora da Universidade Federal de Brasília, que esteve presente no encontro. A pesquisadora participou dos estudos do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), agora chamado de ISDTV e acompanha estudos sobre os testes de rádio digital no Brasil.
O ministro declarou, contraditoriamente, que não tem preferência por nenhum padrão, embora tenha declarado sua preferência pelo IBOC, após encontrar-se com membros da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), no ano passado (leia matéria). Nélia reiterou que é necessário analisar as particularidades de cada modelo em relação à qualidade de som, possibilidade de acesso gratuito, tecnologia que possa ser convergente num futuro próximo e cuja migração e manutenção sejam viáveis economicamente. ‘Cerca de 70% das emissoras de rádio são pequenas e médias e utilizam transmissor valvular, que não permite transmitir analógica e digitalmente ao mesmo tempo, o que só o transmissor modular faz.’ Esse último equipamento custa em torno de R$200 mil, segundo a professora.
Sem grandes novidades
Para José Guilherme Castro, o motivo político da reunião foi o temor da maioria das rádios comerciais, associadas à Associação Brasileira de Radiodifusores (ABRA) e ABERT, frente à operação no sistema digital desenhado até o momento. ‘As rádios estão desesperadas com a falta de investimento, envelhecimento e falta de renovação do público ouvinte. Por outro lado, faltam pesquisas para fundamentar o estudo da implantação do sistema digital de rádio no país’, complementa Nélia. Vale lembrar que a condução do processo sobre o rádio digital já surgiu de forma contestada, sempre favorecendo a escolha do padrão americano pelos radiodifusores (leia mais).
Na opinião de José Guilherme, o encontro não muda em nada as perspectivas em relação à definição da tecnologia a ser adotada. ‘Estamos tendo, ao final do processo, um espaço de discussão mínimo, que permite diminuir os erros.’ É preciso, de acordo com o representante da Abraço, assegurar a participação da indústria brasileira. ‘Além da tecnologia não ser nacional, ela tem um único proprietário, que pode cobrar qualquer valor por seu uso.’
Fomento para comunitárias
O início das operações da nova tecnologia no Brasil deverá ocorrer em 2008, segundo Costa. ‘É essencial que as rádios comunitárias sejam incluídas em todo o processo. Esse é um dos fatores para analisar a transferência tecnológica e o desenvolvimento de pesquisas no Brasil. Dessa forma poderemos produzir aqui equipamentos com custos viáveis para as rádios comunitárias’, afirmou o ministro. Seria criado um financiamento do Governo Federal para processo de digitalização do sistema dessas emissoras.
Discussão míope
A professora da UnB observa que muitos participantes da reunião estavam fazendo uma discussão secundária sobre a tecnologia, enxergando somente um uso do rádio da população mais elitizada. ‘Muito estavam discutindo sobre o rádio digital em carros, mas é necessário lembrar que a maior parte da audiência no brasil é domiciliar.’ Há problemas ainda fora do debate, além da questão financeira, como a fraca portabilidade do sistema IBOC (leia matéria).
******
Da Redação FNDC