Depois de o New York Times ter feito duas retratações em menos de uma semana – uma admitindo o erro no texto da crítica de TV Alessandra Stanley sobre o repórter da Fox News Geraldo Rivera e outra desculpando-se por uma matéria na qual havia divulgado uma informação errada sobre o presidente da Suprema Corte americana, John Roberts – Gail Collins, editora da página de opinião do jornal, escreveu um editorial falando sobre as retratações do jornalão [The New York Times, 2/10/05].
Segundo ela, a idéia dos leitores sobre o fato dos jornalistas não gostarem de fazer correções é, em parte, equivocada. Gail alega que, se um artigo de opinião ou um editorial informam que James Madison morreu em 1835 e um leitor aponta que foi em 1836, o jornal irá publicar uma correção com certa satisfação – ‘o mesmo sentimento de que você tem quando diz ao caixa de um supermercado que seu troco de 53 centavos pode ser doado à caixinha da campanha contra diabetes’.
Os jornalistas ficam surpresos algumas vezes com algumas observações de leitores que se sentem orgulhosos ao informar, por exemplo, que em um editorial sobre eventos de 1955 que se referiu ao Serviço Postal dos EUA errou, pois na época ele era chamado de Departamento dos Correios e Telégrafos dos EUA. Mas correções de erros sobre fatos de menor importância são, infelizmente, apenas uma das categorias de correções. Há, além deles, os erros estúpidos considerados medianos – ‘o tipo de erro que faz com que o autor bata sua cabeça na mesa e considere mudar para o ramo em crescimento de conserto de ar-condicionado’. A editora admite que uma vez escreveu um editorial sobre o senador da Flórida Bill Nelson, no qual se referiu a ele como Ben Nelson, de Nebraska. Um outro editorial sobre o serviço de metrô de Manhattan confundiu certa vez o metrô da Second Avenue com a linha número 2, que funciona do outro lado da ilha – embora seja a linha usada pela maioria dos jornalistas da redação diariamente.
Gail reconhece que o jornal corrige todos os tipos de erros porque o Times deve manter seriamente sua reputação pela exatidão das informações. Além disto, ela considera as correções importantes para disciplinar os jornalistas: ‘nós queremos cultivar o reflexo de corrigir automaticamente cada erro, sem lamentações. Mas correções de erros graves são mais urgentes do que as de erros sem tanta importância e devem ser feitas rapidamente, para que os leitores que tenham lido o artigo com o erro sejam informados o mais rápido possível’.
Um dos motivos para se corrigir erros minoritários é o registro histórico. Tudo o que é publicado no jornal fica armazenado não apenas no arquivo do Times e nos arquivos de matérias que são vendidas, como também no arquivo de sítios de buscas. ‘Não queremos que um universitário, em 2050, fique com a informação errada sobre o ano da morte de James Madison por causa do nosso erro – especialmente quando não temos como corrigir estes registros’. O jornal publica este tipo de correções numa seção separada, em uma lista de correções chamada de ‘For the Record’, nas páginas de notícias. Publicar numa lista separada pode ser uma boa idéia para que os leitores percebam as correções de nomes e datas. As correções de erros mais graves, entretanto, não deveriam ficar perdidas entre as correções minoritárias.
Correções longas
Por isso, a partir de agora, o jornal decidiu usar um sistema similar para as correções mais graves. Uma coluna ‘For the Record’ de erratas será publicada na pagina de editoriais sempre que for considerado apropriado. A primeira delas foi publicada no domingo (2/10), corrigindo vários mal-entendidos. Um deles refere-se às informações publicadas sobre quando Joe Allbaugh, ex-diretor da Agência Federal de Controle de Emergências americana (FEMA, sigla em inglês), conheceu seu sucessor, Michael Brown – posteriormente afastado do cargo pelas críticas à ajuda demorada e caótica às vítimas do furacão Katrina. Embora tenham tido numerosas referências na mídia aos dois como sendo ex-colegas de quarto na universidade, eles na verdade freqüentaram universidades diferentes. Um porta-voz de Allbaugh afirmou que eles foram amigos íntimos por um longo tempo, mas se conheceram depois de formados. ‘Obviamente, se estamos debatendo o sério assunto de amizades íntimas na FEMA, um amigo é um amigo, mesmo se a amizade não se iniciou nos tempos de universidade. Trata-se de um assunto que se encaixa na seção ‘For the Record’’, explica Gail.
Há outros tipos de correções que precisam de uma explicação maior e geralmente são publicadas na coluna intitulada ‘Editor´s Note’ (Nota do Editor). Algumas vezes, são erros sérios que merecem um diálogo mais sério e completo com os leitores. Outras vezes são erros não tão importantes, mas tão complicados que o esclarecimento do fato requer uma explicação muito longa. Os colunistas dos artigos de opinião, a maioria deles limitados a escrever 700 palavras duas vezes por semana, têm um problema com correções longas, já que elas tomam muito espaço. ‘No entanto, nos quatro anos em que editei estas páginas, nunca encontrei um colunista que se recusasse a fazer alguma correção’, revela Gail.
Profusão de correções
Um clássico caso de correção polêmica envolveu uma coluna escrita por Paul Krugman no dia 19/8 sobre a recontagem dos votos na Flórida em 2000, na qual ele teria afirmado que dois grupos de mídia diferentes revisaram as cédulas e concluíram que ‘uma recontagem manual teria dado a vitória a Al Gore’. Esta informação estava incorreta. Krugman tentou esclarecer as informações na sua coluna seguinte, mas o ombudsman do jornal, Byron Calame, alegou que se a segunda coluna não trazia a informação de que se tratava de uma correção, o erro original ainda sobreviveria no arquivo permanente.
O colunista publicou então uma correção na sua coluna seguinte. Infelizmente, a correção estava baseada na informação publicada no jornal The Miami Herald, que estava errada e nunca havia sido oficialmente corrigida. Krugman fez uma nova correção na versão online de sua coluna e pediu para se abster de revisar o assunto na versão impressa. Gail concordou, achando que as correções repetitivas iriam ser cansativas para os leitores. ‘Mas eu estava errada. A correção deveria ter sido publicada na versão impressa, onde foram publicadas as informações erradas’, disse Gail, que decidiu publicar novamente o erro no editorial do domingo (2/10).