Em setembro, o reality show Big Brother completou 10 anos de existência. Seu criador, o holandês John de Mol, nunca duvidou do sucesso do programa, que acredita ter mudado a TV para sempre. ‘Disse à minha equipe, antes mesmo de o primeiro episódio ir ao ar: virá um tempo no qual as pessoas irão falar da era da TV antes do Big Brother e depois do Big Brother. Eles pensaram que eu estava maluco’, lembra.
O programa já foi produzido em mais de 60 países, nas Américas do Norte e do Sul, Europa, África, Ásia e no mundo árabe. Atualmente, o reality show está no ar em 36 países. Seus participantes são vigiados durante 24 horas por câmeras, enquanto permanecem trancados em uma casa por cerca de 100 dias, com o objetivo de ganhar um prêmio em dinheiro – no Brasil, o valor é de R$ 1 milhão. As cenas que atraem maior audiência são as de banho e as ocasionais relações sexuais entre participantes. ‘Há um pouco de voyeur em cada um de nós’, explica De Mol, co-fundador da Endemol, que também produz outros realities shows. ‘Quando você anda na rua à noite e há uma sala com as cortinas abertas, você irá olhar para dentro. Todo mundo tem isto. Chame de voyeurismo ou curiosidade’.
Segundo De Mol, a ideia do programa surgiu em uma noite em 1997, após uma sessão de brainstorming improdutiva para um novo programa da rádio pública católica. Para desenvolver o formato do Big Brother, ele criou um grupo de trabalho que deveria manter as informações em sigilo. ‘Fiquei com medo de vazar’, conta. Levou um ano para que o projeto ficasse pronto e outro para achar uma emissora que concordasse em exibi-lo. ‘Era muito caro e poucos se atreveriam a gastar. Era algo muito polêmico e havia muita publicidade negativa: pessoas dizendo que não se poderia prender pessoas por 100 dias e colocar câmeras nos banheiros’.
Livro
Apesar das críticas, mais de 100 mil pessoas se inscreveram para participar do primeiro programa, que foi ao ar na Holanda em 1999. De Mol defende o formato e rebate as críticas ao Big Brother. ‘Acho que você aprende mais sobre a vida ao ver um Big Brother que ao ler um livro. Para participar do programa e ganhar, você precisa construir uma inteligência social, um modo especial de interagir com as pessoas’, afirma ele, que deixou a Endemol para começar uma nova empresa, a Talpa Media. É o que também pensa Jaap Kooijman, acadêmico de mídia da Universidade de Amsterdã. ‘Críticos podem levantar questões éticas, ou ainda falar da degradação dos valores da sociedade. Mas há tanta diversidade na TV que é difícil argumentar que um gênero específico abaixa o padrão’, defende.
Nos programas exibidos, já houve uma participante dando à luz e uma ameaçando outro com uma faca. Ironicamente, De Mol disse ser tímido e, por isso, nunca se sujeitaria a participar do reality show. Segundo a revista Forbes, o programa o ajudou a se tornar o 334º homem mais rico do mundo em 2009, com uma fortuna estimada em US$ 2 bilhões. ‘Se você me perguntar do que eu tenho orgulho, diria que é de ter criado o gênero reality show‘, diz. Informações da AFP [1/10/09].