Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Crise hídrica e a encruzilhada do clima

Diante da natureza o homem ou se deslumbra ou se assusta, mas qualquer que seja sua visão ele sempre a considerou inesgotável. Ilimitada, perene, infinita. Principalmente, generosa.

Castigados pela implacável estiagem que atormenta grande parte do país, pela primeira vez nos 514 anos de nossa história começamos a perceber que a natureza funciona como um espelho, um espelho daqueles que a utilizam: se cuidamos, ela retribui. Mas se a castigamos com nossa volúpia predatória, ela se zanga.

Nos últimos trinta anos, o conceito de sustentabilidade era coisa de marginais, consciência ambiental era uma seita mística e ecologia, uma ciência diabólica que negava a existência de Deus. Esquerda e direita abominavam com igual intensidade a pregação em defesa da mãe terra.

E, de repente, para espanto dos céticos e negacionistas, os presidentes dos Estados Unidos e da República Popular da China, Barack Obama e Xi Jinping, antípodas em geografia e ideologia, mas sumamente realistas, decidiram pactuar um inédito acordo climático para reduzir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa até 2030.

Uma destas estufas está parada na atmosfera da região Sudeste do Brasil, impedindo que as frentes frias vindas da Patagônia cheguem até o coração do país. O agressivo desmatamento da Amazônia está diminuindo a umidade que deveria produzir chuva no Centro Oeste.

Esta edição do Observatório pretende lembrar que diante de eventos extremos a humanidade não pode continuar dividida, desagregada, desatenta e desnorteada.

Se vai chover ou não vai chover é uma questão que deixou a esfera de São Pedro e entrou definitivamente na agenda das políticas públicas. (Alberto Dines)

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O tamanho do desastre – Júlio Ottoboni

 

 

A mídia na semana

>> A Fifa não obedece ao padrão Fifa, principalmente quando se trata de ética. A entidade máxima do futebol mundial não vive sem escândalos, mesmo quando resolve limpar a sua imagem maculada com as denúncias de compra de votos para favorecer a Rússia e o Catar como sedes das copas de 2018 e 2022. Na quinta-feira (13/11), o ex-promotor do Ministério Público americano Michael Garcia, contratado para verificar a lisura das duas votações, denunciou a direção da entidade por divulgar uma versão muito reduzida e errada da sua investigação. Segundo esta versão, a investigação teria encontrado apenas malfeitorias de “alcance limitado” que não comprometeriam as escolhas. Garcia esperneou: quer a divulgação integral das cerca de 350 páginas do seu relatório. A mídia independente mundial o apoia já que foi a responsável pelas primeiras denúncias. A mídia brasileira acompanha de perto o caso, mas sem o vigor da imprensa britânica. Se a imprensa não vai fundo na investigação, o maior evento global ficará desmoralizado. Com Copas desacreditadas a imprensa perde uma boca rica.

>> Confirmado: juiz está longe de ser Deus, é o mais falível dos seres humanos e o corporativismo togado é ainda pior do que o corporativismo dos políticos. Ao confirmar em decisão unânime a multa de cerca de seis mil reais imposta à agente do trânsito Luciana Tamburini, que puniu um juiz que dirigia um carro sem placa e sem documentos, os desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio mostraram seu total despreparo para a função. A corajosa funcionária Luciana Tamburini agora vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal cujo presidente, Ricardo Lewandovski, já declarou que concorda com ela: juiz não é Deus por isso deve curvar-se perante a Constituição.

>> A ombudsman/ouvidora da Folha, Vera Guimarães Martins, afinal teve a oportunidade de se manifestar sobre a demissão dos colunistas políticos que se revezavam na Página Dois do jornal, Eliane Cantanhêde e Fernando Rodrigues. Veteranos colaboradores com 17 e 27 anos de casa, o afastamento dos respeitados profissionais causou uma grande comoção junto aos leitores e anunciantes. Ainda mais chocante foi a maneira de anunciar a demissão: a notícia saiu primeiro nas redes sociais e só dois dias depois no jornal, sem destaque e qualquer explicação sobre os motivos que produziram tão surpreendente decisão. A manifestação da ombudsman-ouvidora não poderia ter sido diferente: reprovou com veemência a dupla demissão. Mas não comentou a supressão da sua coluna na edição do domingo anterior. O caso não está encerrado, vai render, precisa render. Em algum momento os punidos terão que falar. Jornalista tem compromissos com o seu público e a imprensa que pede transparência, deve dar exemplos de transparência. Quem cala, consente, e quem consente se compromete.