Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Crítica diária

17/05/07

Conflito na USP

Faltam tantas informações importantes na cobertura sobre o conflito na Universidade de São Paulo que, se fosse para listar todas, esta crítica ficaria longa demais. Relaciono algumas.

A reportagem ‘Funcionários da USP param contra menor autonomia’ (pág. C9) tem problema já no título: ao não empregar aspas para ‘menor autonomia’, a Folha assume como sua a análise sobre a qual há divergência entre o governo e os manifestantes. É saudável o jornal ter e expor suas opiniões, mas não no espaço reservado às notícias.

A reportagem diz que ‘os alunos decidiram ontem, em assembléia, aderir à greve [dos funcionários] a partir de hoje’. O leitor não é informado sobre quantos estudantes estiveram na assembléia e qual é o total do corpo discente da USP.

A reportagem conta que os estudantes decidiram manter a ocupação, a despeito de um mandado de reintegração de posse. Os leitores não são informados sobre as conseqüências legais para os alunos que tomaram o prédio da reitoria e se recusaram a acatar ordem judicial. Nem sobre quais são as opções da Justiça para assegurar que sua determinação seja cumprida. Nem o que poderia ocorrer com os menores de idade que participam da ocupação.

Por emissoras de TV e outros jornais, sabe-se que os alunos se recusaram a receber o mandado. A informação não consta da edição da Folha. Qual foi o procedimento, então, do(s) representante(s) da Justiça? O jornal também não diz.

Idem sobre quem pediu a reintegração de posse.

A reportagem afirma que o Sindicato dos Trabalhadores da USP ‘é filiado à Conlutas (central sindical ligada ao PSTU)’. Não é também ao PSOL? Faz diferença: o PSOL tem representação no Congresso e mais expressão política que o PSTU. Qual a posição dos petistas da USP? E a da CUT?

A reportagem diz que os docentes não pararam as atividades. Não informa por quê. O que eles pensam sobre a mobilização e as reivindicações?

Além das dezenas de milhares de estudantes, professores e funcionários da USP, muitas outras pessoas que vivem em torno delas querem acompanhar os acontecimentos na universidade. Bem como o leitor-contribuinte que sustenta a instituição e outros que pensam em estudar lá.

Sopa de letrinhas 1

A nota ‘Pré-temporada’ (pág. A4) diz que o ex-governador Rigotto (RS) ‘assume hoje uma vaga no CDES’.

O que é CDES? O leitor não é obrigado a saber.

Sopa de letrinhas 2

A nota ‘Não é ‘thriller’’ (pág. A6) fala de um economista ‘célebre por ter criado o acrônimo Bric’.

O que é Bric? De novo, o leitor não é obrigado a saber.

Tradução

O texto ‘Gordon Brown expressa apoio a pais de menina desaparecida’ (pág. A10) diz que um suspeito no caso da criança desaparecida em Portugal ‘foi ouvido segunda-feira, mas a polícia o soltou por falta de evidências’.

Em bom português, o suspeito foi solto por ‘falta de provas’.

‘Evidence’ também se traduz por evidência, mas, nesse caso, a palavra mais correta é ‘prova’.

Colômbia

É boa a cobertura da Folha sobre a crise na Colômbia. Poderia ficar melhor se o jornal enviasse um repórter para acompanhar a situação no local.

Kassab, NY

Ontem a Folha não publicou nenhuma declaração do prefeito Gilberto Kassab, que estava em Nova Iorque para evento sobre clima. Hoje o ‘Estado’ publica com destaque a palestra que o prefeito fez ontem nos EUA (‘Kassab promete ‘medidas amargas’ para reduzir poluição do ar em 30%’). Transformou a declaração em pauta ampla sobre a poluição em São Paulo. Não vi na Folha as afirmações do prefeito.

Infográfico versus entrevista

Parece boa a cobertura sobre roubos e furtos nos Jardins. Há uma contradição entre o infográfico e o texto. A arte da pág. C4 informa que os assaltantes ‘não usam máscaras’. Mas, em entrevista, um dos assaltados narra que um dos ladrões usava máscara.

Faltou, penso, a comparação com os números de violência de outras regiões da cidade.

Tiroteio

Fez bem o jornal em repercutir o gesto do governador José Serra de empunhar uma arma e apontá-la (para quem?; de novo, a Folha não conta). Uma das informações que continuam faltando: o fuzil estava carregado?

Dúvida: se tratava mesmo de um FAL (fuzil automático leve), como o jornal afirmou ontem, mas não hoje?

Colunista

É uma pena a saída do colunista José Roberto Torero, anunciada por ele hoje na Folha (pág. D3).

Resposta ao ombudsman

Recebi do editor de Ciência, Claudio Angelo, a mensagem abaixo, sobre a nota ‘Kassab, o esquecido’, da crítica diária de ontem.

A reportagem ouviu, sim, o prefeito Gilberto Kassab em Nova York. Mas, efetivamente, suas declarações tinham pouco a acrescentar ao debate sobre o clima; ele citou o controle de metano em aterros sanitários e a lei do outdoor. Incapaz de entender como tirar outdoors da cidade impacta o clima (e não convencido da justificativa de Kassab, segundo o qual isso ‘aumenta a confiança da população para combater outros tipos de poluição’), o editor optou por excluir a frase do prefeito em favor de declarações mais relacionadas ao tema do evento.

Comentário do ombudsman

Agradeço a mensagem e a comento: é uma pena que os leitores da Folha tenham sido privados de uma rica amostra dos conhecimentos do prefeito Gilberto Kassab sobre a questão ambiental. Nem sempre os critérios jornalísticos devem privilegiar ‘declarações’ que ‘tenham algo a acrescentar aos debates’. Às vezes, declarações que nada ou pouco ‘acrescentam’ têm imenso valor, ao jogar luz sobre pessoas e instituições objeto de interesse público. A formulação sobre o impacto da retirada de outdoors no clima merecia publicação.

Forfait

Amanhã participarei em São Paulo de uma mesa redonda sobre a cobertura dos Jogos Pan-Americanos, no congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Na semana que vem, na Universidade Harvard (EUA), estarei presente na conferência da ONO (Organização dos Ombudsmans de Notícias).

Por esses motivos, a crítica diária voltará a circular no dia 29. A coluna dominical não sofrerá interrupção.

16/05/07

Sem resposta aos leitores

O Painel do Leitor publica carta do deputado Dr. Rosinha com declarações que deveriam constar das páginas de Brasil, e não do espaço de manifestação dos leitores. Esse é um vício que se tornou tão corriqueiro como as reclamações contra ele feitas por sucessivos ombudsmans.

Outro problema é ausência de resposta da Redação ao missivista, atitude que deixa os leitores sem saber quem tem razão.

O deputado diz que, ‘diferentemente do que afirmou o texto ‘Brasil perde em 1ª votação do Parlamento’ (Brasil, 9/5), todas as decisões tomadas nas duas primeiras sessões do Parlamento do Mercosul, ocorridas na semana passada em Montevidéu, foram unânimes’.

Ou seja: em votação unânime, pode haver perdedor subjetivo, mas não perdedor no sentido mais usual, matemático e jornalístico da palavra.

A carta não recebeu resposta da Redação. Era o caso de reafirmar a reportagem ou corrigir a informação.

O que se constata, revisitando a edição de 9 de maio, é que o texto não ampara o título sobre ‘votação’. O texto afirma que ‘prevaleceu’ posição rejeitada pelo Brasil, mas não relata ter havido votação com o país em minoria.

A não ser que divergências tenham ido a voto o que a reportagem não informou , o jornal deveria, creio, corrigir o título em Erramos.

Lula, o pauteiro

É boa a edição da entrevista coletiva do presidente, mas merece reflexão o efeito obtido por Lula com sua rejeição a entrevistas dessa natureza: ele levou os jornais a concederem um espaço enorme a declarações que, se fossem mais freqüentes as coletivas, não ocupariam tanto espaço. De certo modo, o jornalismo virou presa da agenda e da estratégia de comunicação e marketing do Planalto, o que é ruim (como seria em relação a qualquer outro governo). Com sinceridade, não sei se poderia ser muito diferente.

Faltam grevistas

A cobertura se limita a citar como a primeira página a greve no Ibama. Mas há outros funcionários públicos parados, como no Banco Central e no Ministério da Cultura.

Outra história

É de alto nível jornalístico a análise ‘Lula canta êxito econômico cem anos atrasado’ (pág. A6). Pena que o jornal não tenha conseguido fazer o mesmo em relação a outras passagens da entrevista presidencial.

Lula afirmou que queriam ‘linchar’ Oswaldo Cruz quando o cientista ‘criou o remédio para combater a febre amarela’. Como se sabe, a Revolta da Vacina se opôs à vacinação obrigatória contra a varíola.

Também era recomendável publicar declarações do presidente, em outras quadras históricas, sobre as paralisações de servidores públicos. Ajudaria a contextualizar sua mudança de posição.

Critérios

Sei que a informação foi publicada ontem, mas o jornal deveria, na ampla cobertura da entrevista de Lula, informar hoje o critério para a escolha dos veículos que puderam fazer perguntas.

Juridiquês

A reportagem ‘Delegado da PF acusa pilotos e controle de tráfego em CPI’ (pág. A7) fala em ‘crime culposo’, ‘atentado culposo’ e ‘homicídio culposo’ (esta expressão consta também da linha-fina).

O leitor não é obrigado a saber o que é ‘culposo’. A ausência da informação involuntária, não-proposital, sem dolo prejudica a compreensão da matéria.

Dorothy Stang

A boa cobertura sobre o julgamento de mais um acusado pela morte de Dorothy Stang estimula a curiosidade para saber como estão os conflitos agrários na área onde a missionária atuava. Vale reportagem.

Polícias

É boa a cobertura da crise na Colômbia, mas há ausência de informação que prejudica o entendimento: o que são, naquele país, a Polícia Nacional e a Polícia Judicial? Quais são suas funções? Quais são suas equivalentes no Brasil?

O leitor não é obrigado a saber.

Kassab, o esquecido

A reportagem ‘Metrópoles querem agir antes no clima’ (pág. A12) relata uma reunião de prefeitos de todo o mundo realizada em Nova York. Registra declarações dos prefeitos de Nova York, Londres, Rio de Janeiro e Curitiba. Mas não ouve o prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, cidade onde a Folha é editada. Kassab, como o texto informa e também se lê em Cotidiano, compareceu ao evento. Ele não tinha nada a dizer?

Barreira psicológica

Trecho da reportagem ‘Dólar cai abaixo de R$ 2 pela 1ª vez em seis anos’ (pág. B1): ‘Como acontece nos dias de rompimento de barreiras psicológicas, houve até boatos de quebra de bancos e corretoras […]’.

Trecho da coluna de opinião ‘Bolsa Miami, real forte’ (pág. B4): ‘Chegou o dia da ‘barreira psicológica’, do ‘teste da taxa de câmbio defendida pelo Banco Central’ e outras cascatas’.

Jornal é para o leitor

Faltam informações fundamentais, mesmo que não conclusivas, no texto ‘Petrobras despeja poluentes no canal de São Sebastião’.

Os relatórios sobre qualidade ambiental de SP foram noticiados sem esclarecer aos leitores quais são as conseqüências práticas para as suas vidas.

O lançamento de resíduos de amônia e boro no canal de São Sebastião implica recomendar mudança de hábitos a banhistas, pescadores e consumidores de peixes e frutos do mar?

A Cetesb diz que a amônia é tóxico ‘bastante restritivo à vida dos peixes’. A Petrobras ‘afasta a possibilidade de contaminação de organismos marinhos por amônia ou boro’.

O jornal deixa de prestar um serviço aos leitores ao se contentar com as duas posições. Deveria ouvir cientistas (inclusive médicos) não alinhados às duas instituições para orientar os leitores sobre eventuais perigos.

Química

Como lembra um leitor, o boro é um elemento químico não-metálico. No alto da pág. C3 se lê que se trata de ‘metal pesado’.

Serra, o pauteiro

Rendeu amplo espaço nos jornais o gesto do governador José Serra de segurar e fazer mira com uma arma da Polícia Militar.

Na Folha, foi a fotografia de maior destaque na primeira página. Na pág. C7, com mais uma foto, a atitude rendeu título (‘Serra empunha fuzil em evento de homenagem a PMs’).

Na minha opinião, a informação principal eram a liberação de verba e a homenagem ao grupo de elite da PM, não o factóide imagético produzido pelo governador.

Como a Folha considerou a imagem mais forte, deveria ter informado com mais riqueza. Os leitores ficaram sem saber: se o fuzil estava carregado; se, estando carregado, estava travado (se é que há trava em fuzil); se, descarregada, a arma estava preparada para a performance; para quem o governador apontou (o ‘Estado’ diz que foi para uma fotógrafa do jornal). Mais: penso que a Folha deveria repercutir o gesto do governador de brincar com arma de fogo.

Os pilotos

A reportagem ‘Bimotor cai, mata dois e interdita a Dutra por 2h’ (pág. C8) não informa se o empresário-piloto era experiente, quantas horas tinha de vôo e anos de licença para voar, o tempo de fabricação do avião, se a manutenção tinha registros em dia.

Diz que, ‘se [os dois tripulantes] tivessem tentado aterrissar, o choque seria mais leve, e os estragos menores’. O jornal não deveria ser tão assertivo: os pilotos podem ter tentado aterrissar, sem sucesso, com o avião em pane e descontrolado.

Repeteco

Repito o assumido clichê empregado pelo repórter: é ‘saborosa’ a entrevista na capa da Ilustrada sobre o repórter que foi parar na cozinha .

Só amanhã

O título principal da cobertura sobre o Festival de Cannes é ‘Brasil começa sua participação lateral em Cannes’ (pág. E3). No texto, descobre-se que começa amanhã.

Detalhe: a retranca ‘Quatro curtas nacionais disputam prêmios no festival’, na mesma página, tem a remissão ‘leia à esquerda’. O correto seria ‘leia à direita’.

Por pouco

Título de ontem da capa da Ilustrada: ‘Cannes, 60’.

Título de hoje da capa do ‘Caderno 2’, do ‘Estado’: ‘Cannes 60’.

A diferença: uma vírgula.

15/05/07

O superleitor

É absolutamente legítima a reivindicação do secretário de Ensino Superior (SP) José Aristodemo Pinotti de querer se manifestar no Painel do Leitor.

O errado é que a Folha aceite tirar dos seus leitores um espaço que deveria ser deles, para que o secretário se pronuncie sobre questões tratadas em Cotidiano. É nesta editoria que deveriam ser publicadas suas declarações.

Na verdade, estão publicadas, como se lê em reportagem de alto de página (o espaço mais destacado) ímpar (mais nobre que página par), ‘Governo agora diz que universidade só terá nova regra em 2008’ (pág. C7).

Nesse texto (e também na carta), Pinotti trata da entrevista publicada ontem na Folha (‘Desculpe se me expressei mal […]’). Por que não divulgar os termos de sua carta na reportagem, e sim no Painel do Leitor?

Na edição de ontem, as opiniões de Pinotti foram contempladas na capa de Cotidiano, junto com as de quem diverge dele. Na pág. 3, saiu um longo pingue-pongue, sem outros lados.

A Folha faz muito bem em lhe dar atenção, pois a cobertura do ensino superior deve ser cara ao jornal.

Mas há limites: Pinotti escreve na seção Tendências/Debates, no Painel do Leitor, dá entrevista em Cotidiano, aborda a entrevista em Cotidiano e no Painel do Leitor.

Reafirmo: a Folha faz bem em fiscalizar o ensino superior, inclusive gastos cujo controle as universidades rejeitam. Mas não pode punir os leitores lhes subtraindo ainda mais espaço no Painel do Leitor.

O papa que não é pop

Nas págs. 2 e 3, há três (bons) artigos com visões críticas a respeito de Bento 16. Muitos leitores reclamaram ontem do que consideram cobertura anti-católica feita pela Folha. Creio que o jornal deveria contemplar mais visões pró-papa, vitaminando o pluralismo editorial.

Os sem voz

A reportagem ‘Juiz obriga grevistas do Ibama a não sustar licenciamentos’ (pág. A4) traz a palavra do presidente interino do Ibama, do juiz que tomou decisões contrárias aos interesses dos funcionários em greve, do secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e de Lula (este na retranca ‘Greve é injustiça com ministra, diz presidente’).

Nenhum representante dos servidores é ouvido. A cobertura prejudicou a formação de juízo pelos leitores.

Notícia escondida

É discutível a opção do ‘Globo’ de manchetar ‘Governo não fará projeto sobre aborto, afirma Lula’.

O que pareceu mesmo um erro foi a Folha esconder a notícia na parte final de um texto e não fazer referência a ela em título (‘Presidente vê pluralismo em Bento 16 e crítica quem o chamou de conservador’, pág. A8).

Depois de manchetes e reportagens de destaque sobre aborto, a Folha não julgou que a palavra do presidente valesse nem título de nota. Os leitores que procuraram o assunto nos títulos pensaram que o jornal não trouxe a notícia. Trazer, trouxe. Mas a escondeu.

Fraude no IPVA

Os leitores não receberam informações fundamentais na cobertura sobre a operação contra o esquema de fraudes no IPVA. A reportagem ‘Fraude no IPVA tira R$ 1 bi de SP em 3 anos’ (pág. B1) diz que há 326 locadoras de veículos acusadas de fraude. Mas não cita nenhuma delas.

Há 7.500 carros de 26 locadoras sem documentos, porém o leitor não é informado sobre quais são elas. A informação é importante especialmente para quem aluga carro.

A retranca ‘Pessoas físicas serão próximo alvo da Fazenda paulista’ (pág. B3) diz que, ‘entre as empresas identificadas na operação, quatro são franqueadas de grandes locadoras do país’. Quais são as ‘grandes locadoras’?

Existe outro problema: por que não há outro lado? Nem das empresas nem das pessoas presas.

O jornal divulga como seus alguns dados de outras fontes, como o R$ 1,1 bilhão que as 326 empresas teriam deixado de recolher aos cofres públicos. Pode ser verdade, mas é preciso apontar que instituição faz tal afirmação.

Não há um só advogado que defenda o direito de empresas e pessoas físicas emplacar os carros no Paraná e outros Estados? Não que a prática seja legal, mas opiniões diferentes tornariam a matéria mais plural e menos ‘oficial’.

Quem é quem

A reportagem ‘Infraero investiga Infraero por falta de obra’, na capa de Cotidiano, tem declaração entre aspas cujo autor não é identificado, bem como o personagem-alvo: ‘‘A leniência foi dele [quem?], que estava na empresa há um ano e três meses e deixou para fazer a obra de Congonhas agora. E, antes de ser presidente da empresa, foi diretor de operações durante dez meses’, afirmou’ [quem?].

Publicidade

A boa reportagem ‘Sob Lula, gasto da Infraero com publicidade sobe 184%’ (pág. C3) é um diferencial da Folha em relação às coberturas feitas apenas com declarações oficiais e observação dos problemas em Congonhas.

Só um lado

Como se sabe, a notícia tem vários lados, e o jornalismo se enriquece quando não se restringe a um deles. A reportagem principal de Esporte, ‘Lei do Torcedor, 4, ainda não pegou’ (pág. D1) tem olhar unilateral. Só vê aspectos ruins, desprezando avanços.

O jornal está certo em exercer o espírito vigilante e crítico, mas não informa corretamente ao ignorar os progressos talvez pequenos, mas existentes proporcionados pelo Estatuto do Torcedor.

Outra pasta

O texto citado acima afirma que José Luiz Portella é ‘secretário de Transporte de SP’. Não é. O titular da pasta de Transportes do governo estadual é Mauro Arce.

Portella é secretário dos Transportes Metropolitanos.

Ouvidoria

O texto ‘Pan cumpre só alguns pontos do estatuto’ (pág. D1) informa que o comitê organizador da competição ‘ontem anunciou o ouvidor geral do evento’.

Quem é ele? Como vai trabalhar? Que garantias tem para exercer a função com independência? Como o público pode encontrá-lo?

Sem caderno

Leitores reclamam da falta do tradicional caderno de apresentação do Campeonato Brasileiro. Os concorrentes já publicaram.

Os leitores estão certos. A edição de suplemento sobre a mais importante competição do futebol nacional foi instituída e consagrada pela Folha. É um serviço importante para o leitor.

Cannes, 60

É muito boa a apresentação da 60ª edição do Festival de Cannes, com destaque para entrevista do diretor-artístico do evento.

Palavrão

Está no caderno dedicado aos vestibulandos a palavra mais anti-jornalística de todos os títulos da edição de hoje: ‘Multipotencialidade dificulta escolha’ (pág. 4 do Fovest).

Resposta ao ombudsman

Recebi do repórter Rafael Cariello (via Secretaria de Redação) a mensagem abaixo, pela qual agradeço.

A respeito da nota ‘Minoria gigantesca’, da coluna diária de ontem:

O ombudsman tem razão, houve problema de clareza no texto publicado. Gostaria de esclarecer apenas que, além da manifesta ‘opção preferencial pelos pobres’, que por óbvio não são ‘minoria’ se considerados em conjunto, a Igreja Católica na América Latina tem pastorais e organismos específicos de defesa dos direitos de índios, encarcerados e sem-terra, entre outros grupos, que, caso a caso, podem ser tratados como ‘minorias’. Vale aí um dos sentidos que o dicionário Aurélio dá à palavra (‘4. Antrop. Sociol. Subgrupo que, dentro de uma sociedade, considera-se e/ou é considerado diferente do grupo maior e dominante, em razão de características étnicas, religiosas, ou de língua, costumes, nacionalidade, etc., e que em razão dessas diferenças não participa integralmente, em igualdade de condições, da vida social.’).

14/05/07

Será que avisou?

Com título em três linhas e três colunas, no alto de página ímpar (A17), a Folha anunciou na edição do sábado (12 de maio): ‘Lula afirma que já avisou o papa de que TV pública será laica’.

Não é o que parece dizer a reportagem, que cita declaração do presidente: ‘‘Eu já disse pro papa [Bento 16] ontem [anteontem] que o Brasil é um país laico. E a nossa televisão será laica. Ela respeitará tudo e todos’, disse’.

O que o texto dá a entender é que o presidente contou ter dito ao papa que ‘o Brasil é um país laico’.

E não que tratou da TV pública na conversa.

Se o título estiver errado, como aparenta, é preciso corrigir.

(Essa crítica trata das três últimas edições da Folha.)

Edição de sábado, 12 de maio

O nome do santo

O jornal não informa, pelo menos explicitamente, como deve ser chamado o primeiro santo nascido no Brasil.

Na pág. A8, diz que frei Galvão foi ‘canonizado como Santo Antônio de Sant’Anna Galvão’. A fórmula se repete na pág. A10. É assim que ele deve ser tratado?

Ou seria ‘Santo Frei Galvão’? Ou ‘São Frei Galvão’? Os fiéis podem escolher o tratamento que quiserem?

No ‘Globo’, o colunista Jorge Bastos Moreno escreve ‘São Galvão’.

João de Deus

A Folha noticia público no Campo de Marte inferior ao esperado pelos organizadores da visita do papa. Já reportara assistência de 10% da prevista do lado de fora do Pacaembu. Na segunda-feira, contaria ter ocorrido a mesma coisa na missa em Aparecida.

Nas vésperas da chegada de Bento 16, o jornal apostou na comparação com o impacto das viagens de João Paulo 2º ao Brasil. Faltou um balanço após o embarque de Bento 16 de volta para Roma.

‘Apenas’ milionário

O texto ‘Sarkozy quer socialista na chancelaria’ (pág. A28) afirma que o patrimônio declarado do presidente eleito da França é de ‘R$ 5.400 milhões’.

O correto é R$ 5,4 milhões.

Artigos

Para o leitor não-iniciado, faz pouca diferença. Mas aos mais atentos pode incomodar. O texto ‘Papa sobe tom, ataca mídia e exige obediência e castidade’ (pág. A4) trata a Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe como ‘o’ Celam (o correto é ‘a’).

Na linha-fina da capa de Dinheiro se lê ‘o Petros’, quando a reportagem emprega forma consagrada, ‘a’ Petros.

A batalha da praça da Sé

Fez bem o jornal em ouvir o secretário Carlos Augusto Calil sobre o quebra-quebra no domingo anterior, durante show dos Racionais. É melhor publicar tarde do que não publicar.

A reportagem, contudo, não esclarece o que de fato deu início à baderna na praça da Sé.

Hoje (segunda) a coordenação de imprensa da Secretaria da Segurança procurou o ombudsman para informar que tem à disposição do jornal um vídeo (distribuído na semana passada) mostrando cenas que ajudam a esclarecer o tumulto.

Edição de domingo, 13 de maio

Só deu ele

Folha, ‘Estado’ e ‘Globo’ publicam artigo ou entrevista com o teólogo Leonardo Boff.

Frade, não frei

A reportagem ‘Traficantes vão ter que se explicar a Deus, diz Bento 16’ (pág. A4) volta a cometer erro corrigido por Erramos na semana passada. Refere-se ao ‘frei alemão Hans Stapel’, quando o certo é ‘frade alemão’.

Minoria gigantesca

Há uma informação estranha no texto e na linha-fina da reportagem ‘Igrejas do papa e da América Latina se opõem em encontro’. Afirma-se que a igreja Católica da região intervém ‘no debate público em defesa principalmente das minorias’.

As tais minorias, pelo que se lê, são os pobres. Tudo bem que os estatísticos conseguem fabricar qualquer verdade, mas, que eu saiba, os pobres na América Latina não são o que se pode qualificar de ‘minoria’, muito pelo contrário.

Números

Acertadamente, a reportagem única da pág. A9 deixou para o meio do texto a informação sobre o número de presentes. O título, contudo, elegeu o dado secundário: ‘37 mil acompanham oração em Aparecida’.

Crédito

O crédito de foto na pág. A25 é ‘Marcelo Carnaval/Reuters’. Pelo menos até poucos dias atrás, quando teve declarações publicadas pela Folha, Carnaval era repórter fotográfico do ‘Globo’.

Edição de segunda, 14 de maio

Enviada especial

A Folha traz o melhor bastidor do duelo Massa x Alonso no GP da Espanha de Fórmula 1. Não foi um evento qualquer: o brasileiro encostou nos líderes do campeonato, e o inglês Hamilton bateu novos recordes. Mais: como salientou a cobertura, os espectadores que assistiam à corrida pela TV Globo não puderam acompanhar ao vivo sua parte final porque a emissora interrompeu a transmissão para exibir a missa do papa em Aparecida (como a Folha já alertara que iria ocorrer).

Figurinhas

Folha e ‘Estado’ dão a mesma foto de Massa na primeira página.

3 a 0

Com três artigos críticos ao papa na pág. A2, a Folha dá a impressão, que se estendeu por outras páginas, de ser mais dura em relação à pregação de Bento 16 do que aparentou nos dias anteriores.

Mensagem cifrada

A reportagem ‘Papa expõe ‘preocupação’ com governos latinos’ (pág. A4) afirma: ‘Disse o papa, sem citar nomes ou países: ‘Há motivos de preocupação diante de formas de governo autoritárias ou sujeitas a certas ideologias que se acreditavam superadas [na América Latina e no Caribe]’’.

Por que o jornal não informou a que países Bento 16 se referiu, mesmo sem explicitar? Não significa subscrever as opiniões do papa, mas de prestar um serviço aos leitores. Seria exagero falar de Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba ou pelo menos de um ou dois desses países?

Em forma

O ‘Estado’ publica reportagem interessante, ‘O segredo da boa forma de Bento’.

Nem tanto

Está errada informação do infográfico da pág. A12 sobre a presença de fiéis na cerimônia com o papa no Pacaembu. Diz que eram esperadas 150 mil pessoas, mas só compareceram 15 mil. Pelo que li na Folha, esses números dizem respeito ao lado de fora do estádio. Dentro dele, dezenas de milhares de jovens estiveram com o chefe da Igreja Católica.

Sem equilíbrio

O texto da capa de Cotidiano, ‘Universidade só pode mudar gastos com decreto de Serra’ (C1) traz informação relevante e é equilibrado, ouvindo partes antagônicas.

Ocorre que a pág. C3 desequilibra a cobertura, com uma grande entrevista do secretário do Ensino Superior de SP, José Aristodemo Pinotti.

Faltou um pingue-pongue com alguém que pense diferente de Pinotti.

Também faltou o outro lado com, pelo menos, os estudantes da USP que ocupam a reitoria. Eles são criticados pelo secretário.

Aula de checagem

Na boa capa da Ilustrada, o escritor Paulo Coelho contou o que ocorreu entre a apuração e a edição de reportagem da revista The New Yorker de checagem de tudo [das informações] demorou mais de duas semanas. Ligaram para todo mundo, me perguntavam detalhes de que nem me lembrava (‘É verdade que comeram penne al pesto no tal dia?’).’’