Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica diária

22/11/07

Jornalismo insensível

A Folha mantém a cobertura por telefone sobre o episódio da garota que ficou durante semanas detida em uma cela com cerca de 20 homens em Abaetetuba, Pará.

O pouco caso com essa tragédia expressa insensibilidade humana, social e especialmente jornalística.

Com tanto drama para contar, o relato privilegia o que é oficial, ‘Delegados são afastados por deixar presa com homens’ (pág. C10). A sub-retranca mantém o tom, ‘Secretaria da Mulher vai acompanhar caso’.

O ‘Estado’ manteve o seu colaborador fixo em Belém e enviou um repórter para o interior paraense. Sua cobertura é muito superior à da Folha.

O concorrente local também ouviu, no Rio de Janeiro, a governadora Ana Júlia (PA). A Folha praticamente a ignora (a não ser em um declaratório de políticos em Brasília).

Em 1996, o então governador Almir Gabriel foi cobrado, com razão, pelo massacre de Eldorado do Carajás. Ana Júlia no mínimo deve ser instada pela Folha a se pronunciar, em vez de ser esquecida.

Entre os numerosos detalhes que a Folha não traz, o ‘Estado’ conta que a jovem de idade controversa foi obrigada a cortar os cabelos para não dar bandeira de que havia uma mulher presa com homens, escravizada sexualmente em troca de comida.

O ‘Jornal da Globo’ mostrou outro episódio de mulher presa com homens no Pará.

Para quem se habituou a ver na Folha atenção sobre os brasileiros mais desgraçados, dá uma tristeza do tamanho do Pará constatar o pouco caso com uma história dessas.

Há poucos dias, o jornal já menosprezara o heroísmo –e espetacular evento jornalístico– do menino-aranha.

Volto a me perguntar: se uma violência assim contra a garota não comove a Folha, o que vai comover?

A regra do jogo

O Painel do Leitor acolhe mais uma mensagem de ‘outro lado’, assinada pelo secretário municipal de Educação de São Paulo.

Não reeditarei meus argumentos.

Quero apenas registrar que o pouco caso que a Folha faz das manifestações dos leitores contra o desvirtuamento da seção de cartas não lhes passa despercebido.

Caso Cisco

A reportagem ‘PF investigará doação de laranjas ao PT’ (pág. A6) tem problemas.

Diz a ‘lupa’: ‘[…] Os supostos sócios não teriam condições de doar cada um R$ 250 mil’.

As doações ao PT foram feitas por empresas, não por pessoas físicas. Logo, nenhum sócio doou nada, ao contrário do que afirma a ‘lupa’.

Outra questão é se as empresas teriam condições de doar. Mas pessoa jurídica é uma coisa; física, outra.

O jornal atribui a policiais a suspeita de que os R$ 500 mil tenham sido doados em troca de facilidades em leilão da CEF. Não esclarece, contudo, que o item do edital mudado não permitiu a vitória da Damovo, cliente da Cisco. A Damovo foi derrotada.

O quadro ‘O Esquema da Cisco’ afirma: ‘Favorecimento – Pregão da Caixa de R$ 9 milhões foi vencido pela Damovo. Segundo interpretação de policiais, o edital foi alterado para a empresa vencer a disputa. A Damovo forneceria produtos da Cisco ao banco, diz a PF’.

Mais uma vez: a PF não diz nada, oficialmente cala sobre as investigações.

Se o jornal publica afirmação em off sobre alteração de edital, tem que dizer o que apurou. E a Folha não descobriu alteração que tenha favorecido a Damovo.

O arredondamento de R$ 9,9 milhões é R$ 10 milhões, não R$ 9 milhões.

Mais uma repetição: a Folha está prejudicando a cobertura de um caso importante, revelado pelo jornal, com falta de rigor na informação.

O jornal segue sem corrigir a informação da segunda-feira que não se confirmou, sobre a mudança no edital.

Jornal Marley

Hoje o animal da primeira página é um escorpião (desenhado).

Ontem foi uma baleia.

Domingo, uma ‘abelha’ (era o comediante Seinfeld).

Sábado, uma borboleta e um tal de tamanduaí.

Difícil ser mais previsível.

Anistia

O Painel informa na nota ‘Conjunto vazio’: ‘Que ninguém se deixe enganar por uma ou outra declaração de efeito. Não existe hoje no Senado uma única alma trabalhando para cassar Renan’.

Não me surpreende.

O que surpreende é que a Folha, aparentemente, decidiu parar de investigar, em Alagoas e outras paragens, os negócios do senador.

Eufemismo

Lula perguntou a um senador que apresenta deficiência física há oito anos se ele se machucou no futebol.

A Folha diz que houve ‘indiscrição’ do presidente.

O que houve foi mesmo gafe, uma gigantesca gafe.

Venezuela

A Folha faz a melhor cobertura do dia sobre os eventos na Venezuela.

Dois reparos.

A notícia mais importante ficou no pé da reportagem ‘Governo Chávez usa recursos oficiais em manifestação’ (pág. A16): a decisão das lideranças estudantis oposicionistas de chamar o voto ‘não’ no referendo –havia a possibilidade de boicotar a votação.

É importante mostrar o apoio do aparato estatal às manifestações, mas, como sabemos pela Folha, isso não é novidade. É sempre assim.

Outro problema foi que, depois de ver na TV as bordoadas da deputada no apresentador, eu queria saber o que a irritou. A Folha, como os outros jornais, se limitou a dizer que, de acordo com ela, o jornalista insultou a memória de seu filho morto.

Insultou como? O que ele disse ou escreveu?

É o tipo de informação que faz a diferença do jornalismo impresso.

Ou deveria fazer.

E permite aos leitores julgar o gesto da mãe.

Jornalismo poliana

Com o mercado financeiro mundial agitado, a Folha conseguiu identificar o ‘lado bom’ da queda na Bovespa: ‘‘Correção’ na Bolsa pode garantir expansão em 2008’ (pág. B3).

Poder tudo pode.

Então, se houver um crash, a ‘recuperação’ será ainda maior…

É por isso que se vai torcer por um crash?

21/11/07

Erros em série

Está errada a manchete da edição Nacional de ontem, ‘Negros morrem mais de homicídio; brancos, de doença’.

Como informa a reportagem ‘Violência é a maior causa de mortes entre homens negros’ (pág. C5), as principais causas da mortalidade nesse grupo são externas (homicídios, acidentes de trânsito, acidentes de trabalho etc.). Elas representam 25% dos óbitos, contra 24,7% das doenças do aparelho circulatório. Os homicídios sozinhos não superam as doenças do aparelho circulatório.

O jornal fez bem em mudar a manchete da edição São Paulo/DF para ‘Negros morrem mais por violência; brancos, de doença’.

Faltou, contudo, publicar um Erramos na edição Nacional de hoje.

Outros Erramos devem ser providenciados para ambas as edições, corrigindo a chamada da manchete de ontem.

A primeira página afirmou que desde 1999 as taxas de mortes por homicídios ‘caíram em ambos os grupos’. Errado. Como se lê em Cotidiano, elas cresceram entre os homens negros.

A primeira página disse que a taxa de morte por HIV também caiu ‘em ambos os grupos’. Errado: ela aumentou para os homens negros (somando pretos e pardos), para as mulheres negras e para as mulheres brancas, como a reportagem esclarece.

Caso Cisco 1

Foi confirmada pelos fatos a manchete da Folha de 24 de outubro, ‘PF vai investigar ligação entre PT e Cisco’.

A reportagem informou que gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização judicial indicavam doação de R$ 500 mil ao Partido dos Trabalhadores por empresas de informática de algum modo associadas à Cisco no Brasil.

A PF passou mesmo a investigar.

E o que era suspeita com base em grampo virou prova com dois recibos somando R$ 500 mil, como a Folha revelou domingo passado.

O PT reconheceu os recibos e as doações, a Cisco afastou funcionários.

Até agora, inexiste comprovação ou mesmo indícios documentados de que a contribuição tenha tido como contrapartida o favorecimento em contrato com a CEF _suspeita de policiais federais relatada pela Folha.

Não se sabe por que duas firmas ligadas à Cisco presentearam o PT com meio milhão de reais.

Em meio a uma investigação da PF e da Receita que descobriu o que parece ser um esquema de sonegação da Cisco, a Folha veiculou informação de interesse público: os R$ 500 mil ao PT.

É um mérito, que não deve, entretanto, ‘absolver’ o jornal pelos erros na cobertura.

Caso Cisco 2

A Folha precisa avaliar se as duas empresas doadoras são laranjas da Cisco.

A edição de ontem traz três relatos diferentes (todos na pág. A8).

No texto ‘PF investigará vazamento de informações’: ‘[…] A Cisco usou empresas de laranja para doar R$ 500 mil ao PT’.

Em ‘Alteração não favoreceu Damovo, diz Caixa’: ‘[…] Empresas que seriam laranjas’.

Em ‘Doações de empresários ao PT em 2007 destoam do padrão dos anos sem eleições’: ‘[…] Suspeitas de serem ‘laranjas’’.

O falta de padrão para aspear ‘laranjas’ deve ser superada, mas é o de menos.

Que o jornal padronize: as empresas ‘são’ ou ‘seriam’ laranjas?

Caso Cisco 3

A Folha fez bem em publicar ontem as notas da CEF e da empresa Damovo, que trabalha com produtos da Cisco.

O problema é que, ao reproduzir os comunicados em letras menores que o padrão, o jornal impôs tratamento editorial desequilibrado.

Não basta abrir espaço ao outro lado. É preciso dar a ele exposição equivalente à conferida às afirmações que motivaram as respostas.

(E não custa lembrar que muitos leitores idosos reclamam do tamanho das letras regulares; para eles, as de corpo menor podem ser ilegíveis.)

Caso Cisco 4

As informações disponíveis até a edição de hoje indicam que houve um erro grave na edição de segunda-feira da Folha.

Naquele dia, a reportagem ‘Caixa alterou edital de concorrência que diz não ter mudado’ (pág. A13) afirmou: ‘Na ‘retificação’ foram retiradas do edital características técnicas dos equipamentos _e foi graças à sua proposta técnica, e não ao preço menor, que a Damovo venceu o pregão’.

O jornal claramente associou a mudança no edital à vitória da Damovo no pregão eletrônico da CEF.

Como se soube ontem, a alteração dizia respeito a um leilão que a Damovo perdeu.

A Folha deve uma correção.

Caso Cisco 5

Aqui, a acusação é direta (quadro ‘A doação da Cisco ao PT’, pág. A13 de ontem): ‘[…] Em troca a Caixa Econômica alterou edital para que a Damovo, distribuidora da Cisco, vencesse um leilão’.

Na disputa com alteração, a Damovo perdeu.

Pelo que se sabe hoje, a Folha está errada.

Deve Erramos.

Caso Cisco 6

Mais afirmação sem prova, agora na edição de ontem, em ‘PF investigará vazamento de informações’ (pág. A8): ‘Em troca de doação, a integradora de sistema[s] eletrônicos, que trabalha com produtos da Cisco, a Damovo, venceu leilão eletrônico da Caixa Econômica Federal de R$ 9,9 milhões’.

De novo, não há fatos a fundamentar o relato.

Caso Cisco 7

Afirma hoje a reportagem ‘Doadoras do PT eram laranjas, diz auditoria’ (pág. A7): ‘Segundo a PF, a Cisco usou empresas de laranjas para doar R$ 500 mil ao PT’.

A Polícia Federal é uma instituição. Como tal, ela diz que a investigação corre em sigilo e nega a autoria dessa versão sobre a conexão Cisco-PT.

Repito: a Folha deve dar crédito a policiais federais, a policiais que participam da investigação ou têm acesso a ela, mas não pode falar pela instituição.

É por isso que estava errada a manchete dominical ‘Cisco usou laranja para doar R$ 500 mil ao PT, afirma PF’.

A PF não afirmou nada.

O que não impede que investigadores façam afirmações em off.

Caso Cisco 8

A boa reportagem ‘Doadoras do PT eram laranjas, diz auditoria’ omite informações importantes: quando foi encomendada e quando foi concluída a auditoria na Mude, ‘a maior distribuidora de produtos da Cisco no Brasil’.

Pelo que eu entendi, foi antes da Operação Persona, o que ressalta o valor da auditoria que já apontava para o risco de multas (a serem aplicadas pela Secretaria da Fazenda de SP e a Receita) de mais de R$ 1 bilhão à Mude.

Caso Cisco 9

Em resumo.

Investigações oficiais apontam para a existência de um esquema de importação com valores subfaturados de equipamentos da Cisco, ‘uma das maiores empresas mundiais de redes para computadores’.

Grampos indicaram o pagamento de R$ 500 mil ao PT em troca de favores na Caixa.

Dois recibos encontrados mostram que empresas menores ligadas à Cisco doaram R$ 500 mil ao PT em 2007.

O partido reconheceu as doações e afirma que elas são legais e serão declaradas.

A mudança em edital da CEF, pelo que se conhece até agora, não favoreceu a Damovo, empresa ligada à Cisco.

Não se sabe o que fez as duas empresas, a Nacional Distribuidora e a ABC Industrial, ajudarem o PT.

A Folha e seus leitores só teriam a ganhar se: o jornal mantivesse a disposição para apurar os fatos; e impusesse mais sobriedade ao noticiário e rigor na checagem de informações.

Não descarto que se venha a descobrir irregularidades em contratos, mas afirmações categóricas nesse sentido só podem ocorrer com base em fatos, não em suspeitas difusas.

Por fim, o jornal deve ficar atento a pressões políticas que busquem frear a investigação sobre a conexão da Cisco com o PT ou qualquer outro partido.

A dança das manchetes

O assunto da manchete de hoje da Folha, ‘Ciência faz célula-tronco sem embrião’, foi o mesmo das manchetes do ‘New York Times’, do ‘Washington Post’ e do ‘El País’.

O Estado deu chamada abaixo da dobra da primeira página.

O Globo não deu chamada na capa e publicou a novidade na parte inferior de página interna.

Pelo telefone

Em mais um dia, infelizmente, ficam claros os prejuízos jornalísticos da ausência de correspondente da Folha em um Estado importante como o Pará.

Agora é a vez do episódio em que a polícia jogou uma jovem presa em cela ocupada por homens e lá a deixou por vários dias.

Há muitas histórias para apurar e contar sobre o caso. Pelo telefone, fica difícil.

Com repórter em Belém, o Estado se saiu melhor que a Folha, embora a prisão tenha ocorrido no interior.

Xará

É saboroso o diz-que-diz sobre foto de Mário de Andrade, na coluna Mônica Bergamo de hoje.

19/11/07

Conexão Cisco-PT

Em domingo de feriadão, a Folha logrou uma manchete forte: ‘Cisco usou laranja para doar R$ 500 mil ao PT, afirma PF’.

É mais uma novidade sobre a relação, tornada pública pela Folha, da Cisco com o Partido dos Trabalhadores.

Os indícios apurados no inquérito policial e resumidos pelo jornal têm interesse público e merecem ser conhecidos.

Os fatos contradizem versões oficiais, como mostrou hoje a reportagem ‘Caixa alterou edital de concorrência que diz não ter mudado’ (pág. A13).

O PT reconheceu ter recebido as doações –aparentemente legais– de duas firmas.

A Cisco afastou funcionários.

O bom trabalho jornalístico tem, contudo, problemas.

Ao contrário do que informou a manchete de domingo, a Polícia Federal não fez afirmação alguma. O que há é ‘interpretação de policiais’, como se leu na pág. A4 de ontem (‘Cisco utilizou laranjas para doar R$ 500 mil ao PT, diz PF’; ‘dizer’ a PF não disse).

Se a Folha está segura de que a Caixa alterou o edital, não deveria ter veiculado a reportagem de hoje só na pág. A13, e sim na A4, a mais nobre da editoria Brasil. A capa do jornal deveria dar mais destaque à informação.

Também hoje, é estranho o relato de que ‘a reportagem telefonou ao menos três vezes ontem para a assessoria de imprensa da Caixa’. Por que ‘ao menos’? Como comentou um leitor, o jornal não sabe fazer conta tão simples?

O quadro ‘Como funcionava o esquema’ (pág. A8 de domingo) segue incompreensível. Pelo menos para mim, conforme afirmei dias atrás.

Há muitas informações ignoradas. Uma delas é sobre como a mudança no edital poderia favorecer um concorrente. Outra é a identidade do suposto petista que teria oferecido facilidades na Caixa em troca de agrados ao partido.

Jornalismo previsível

Chamada dominical no alto da primeira página: ‘Brasil vai a Lima enfrentar Peru abaixo do nível do mar’.

Essa informação já era conhecida há meses. Até os alienados do futebol a ouviram à exaustão nos anúncios televisivos durante a semana, convocando a audiência para a partida na capital peruana.

A Folha repete erro do domingo 14 de outubro, quando também no alto da capa alardeou notícia velha: ‘Seleção estréia a 2.600 m nas eliminatórias’.

Apontei, então, o equívoco editorial de sublinhar o que se sabia meses antes.

Pena que o jornal insista com a fórmula ultraprevisível.

Irrelevância

Na mesma primeira página dominical, a Folha imprime foto e título para o jogador Fernando. Tudo porque uma estatística desimportante diz que ele joga pouco pela seleção.

É a anti-notícia, mesmo que seja contraponto ao ‘onipresente’ Robinho.

A estatística deve ser empregada para valorizar a cobertura esportiva, não para impor, até sobre a manchete, como ontem, personagens e informações sem valor e encanto.

Nem o tal Fernando deve ter acreditado que emplacou a capa da Folha.

Não diga

Lide da nota ‘Time assume vice-liderança com goleada’ (pág. D2 de ontem): ‘Liderados pelo atacante paraguaio Roque Santa Cruz, do Blackburn (ING), os paraguaios foram dormir como segundos melhores das eliminatórias…’.

É isso mesmo: a seleção do Paraguai foi liderada por um… paraguaio.

Furo

No feriado de 15 de Novembro, o jornal publicou um ótimo furo, de grande repercussão. No título sóbrio da primeira página, ‘Economistas que criticam política econômica são afastados do Ipea’.

É uma fórmula bem melhor do que a da capa de Dinheiro, ‘Ipea ‘expurga’ economistas divergentes’.

O emprego do verbo expurgar editorializa a notícia em espaço impróprio.

O jornal se comportou bem, abrindo suas páginas para manifestações divergentes sobre o afastamento dos quatro pesquisadores.

Sem creche

A manchete da sexta-feira foi ‘SP lidera invasões de sem-terra’.

No pé da primeira página, saiu o título ‘Maiores de 3 anos perdem espaço em creches de SP’, boa reportagem em Cotidiano.

Há mais impacto na notícia do pé que na do alto da capa. Os sem-creche eram mais notícia, penso, do que os sem-terra.

Publicidade

Nos últimos dez dias, o que mais incomodou os leitores que me procuraram não foi nem o Painel do Leitor com cartas de ‘outro lado’ nem a reportagem de domingo retrasado sobre os professores faltosos na rede estadual.

As reclamações se referem ao volume e à disposição da publicidade nas edições de fim de semana.

Assim fica fácil

Na semana em que Renan Calheiros pode (ou deve) ser julgado no processo que lhe é alegadamente mais difícil, a Folha não trouxe no domingo uma só reportagem sobre ele, suas articulações, seus negócios.

No sábado, a manchete do ‘Estado’ foi ‘Planalto firma pacto com Renan pela CPMF’.

Supremo

A sigla STF significa ‘Supremo Tribunal Federal’, e não ‘Superior Tribunal Federal’, como se lê em ‘Aluno terá de indenizar professor por invasão’ (pág. C9 de domingo).

Tradução

Título da primeira página dominical: ‘Amazônia está sufocando, diz secretário da ONU’.

Pelo que entendi, o coreano afirmou que a Amazônia está sendo sufocada, como publicaram ‘Globo’ e ‘Estado’.

Jornalismo de imprecisão

Na quinta-feira, pág. A2: ‘Porqué no te callas?’.

Quinta, também na pág. A2: ‘Porque no te callas?’.

Quinta, pág. A9 e pág. A15: ‘Por que não te calas?’.

Terça, pág. A2: ‘Por que não se cala?’.

Essas foram algumas variantes do chega-pra-lá do rei Juan Carlos em Hugo Chávez, em páginas da Folha nos últimos dias.

Gastando sola

Foi boa a iniciativa de acompanhar um radialista anti-Chávez em uma favela de Caracas (‘Ainda firme, base chavista vive incipiente desencanto’, pág. A32 de domingo).

O problema é que só se publicaram declarações de moradores críticas ao governo. Nenhuma a favor. Como entender, então, a tal base chavista ‘ainda firme’?

Em busca do equilíbrio

Está boa a entrevista de hoje com o general Raúl Isaías Baduel, um dos protagonistas da cena política venezuelana.

As edições dos últimos dias reforçam a importância de o jornal manter um correspondente em Caracas.

A Folha deveria buscar, agora, entrevistar, se não o próprio presidente, um aliado de peso de Hugo Chávez.

No espaço noticioso, o jornal não deve tomar partido sobre o referendo do mês que vem.

Promessa frustrada

Ao ler a primeira página de domingo com a chamada do Mais! (‘Livro traz autos do julgamento do assassino de Euclydes da Cunha’), imaginei se tratar de uma reportagem de fôlego.

Não era reportagem, mas (boa) resenha.

E havia pelo menos três temas com mais destaque no caderno, que não investiu como deveria no assunto do livro resenhado.

Estraga-prazeres

Frase da crítica de sábado (pág. E9) sobre o filme ‘Crimes de Autor’: ‘Tudo acaba num beijo, é verdade’.

Para que contar?

Lugar-comum

A íntegra do parágrafo de abertura da reportagem ‘Sol aparece e enche praias no litoral paulista’ (pág. C4 de hoje): ‘O feriadão começou micado, mas teve seu final de semana de glória. Pelo menos sábado e ontem serviram para tirar o mofo de quem se aventurou em encarar uma praia no litoral de São Paulo. Sábado e domingo foram dias de sol, calor e praias cheias. Uma brisa forte e constante ajudava a amenizar a temperatura que, ontem, chegou à marca de 28 graus C na região de São Sebastião’.

É clichê demais num lide só.

Pau no vestibular

Como comprovam as críticas diárias, não tenho vocação para bedel da escolinha do professor Raimundo, apontando erros pontuais de português.

Registro, no entanto, que falta uma crase já na primeira frase de um texto sobre vestibular (‘Para docentes e alunos, tema facilitou a 1ª fase da Unicamp’, pág. C5 de hoje).

A linha-fina diz que ‘saúde’ ‘foi cobrado’.

Emprega-se o verbo ‘explicar’ após declaração, contrariando reiterada orientação do jornal.

A reportagem contempla opiniões de professores e vestibulandos, mas omite quais foram os temas sugeridos para a Redação –esse foi seu equívoco mais notável.

Forfait

Esta crítica volta a circular depois de amanhã, quarta-feira.’