‘26/11/07
O desequilíbrio mudou de lado
Manchete da Folha na sexta-feira, em duas linhas e cinco colunas: ´Procurador denuncia esquema de corrupção tucano; Mares Guia cai´.
Manchete da Folha em 12 de abril de 2006, também em cinco colunas e duas linhas: ´Procuradoria acusa petistas de formar organização criminosa´.
No ano passado, a cobertura da denúncia do mensalão pelo procurador-geral da República motivou três (3) títulos de alto de página, sob a rubrica ´Escândalo do mensalão/Hora das conclusões´.
Na sexta-feira, foram 10 (isso mesmo, uma dezena) os títulos encobertos pelo chapéu ´Valerioduto tucano´.
A acusação no esquema de corrupção do PSDB atingiu 15 pessoas, destacadamente um senador (ex-governador) e um ministro, que se demitiu.
A acusação no mensalão alvejou 40, entre os quais dez deputados e três ex-ministros.
O dinheiro movimentado, de acordo com o Ministério Público Federal, foi maior no mensalão, que durou mais tempo.
Minha impressão é de que a edição de três dias atrás, se comparada à de 2006, foi exagerada, em prejuízo dos tucanos.
Nesses sete meses como ombudsman, por diversas vezes cobrei o jornal por dar pouco destaque ou mesmo calar sobre o valerioduto do PSDB. Enfim, apontei negligência.
A edição da sexta virou a gangorra para o outro lado.
Talvez fosse intenção ´compensar` a pouca atenção aos acontecimentos de Minas.
Mas uma cobertura desequilibrada não é compensada por outra desequilibrada.
A soma das duas não é zero, mas dois (desequilíbrios).
Não está em questão hierarquizar o que é eticamente mais grave: armações brasilienses ou mineiras, mas de contextualizar na história o alcance das jogadas.
Não custa dizer que foi correto, evidentemente, dar manchete para as duas notícias.
E está claro que a denúncia da semana passada teve implicações imediatas no governo (a substituição de Mares Guia) que a de 2006 não teve. Mesmo assim, 10 a 3 é um exagero.
Virou de novo
Não é função do ombudsman polemizar com as opiniões do jornal.
Gostaria, no entanto, de registrar o contraste: enquanto na cobertura da sexta-feira houve um esforço para equilibrar o tratamento entre os dois esquemas (valerioduto tucano x mensalão petista; valerioduto mineiro x mensalão nacional), o editorial ´Exemplo de cima` voltou a opor ´mensalão mineiro` a ´mensalão petista´.
Como já escrevi, se um é petista, o outro é tucano. Se um é mineiro, o outro é nacional.
Confusão
O leitor deve se guiar pela cobertura que não emprega a expressão ´mensalão` para as armações em Minas ou nos editoriais, que tratam a maracutaia como ´mensalão mineiro´?
Sorbonne
Na cobertura de sábado sobre as declarações de FHC a respeito da educação de Lula, a Folha deixou de citar uma limitação do ex-presidente: ele não consegue dizer ´próprio` ´apropriado` e palavras aparentadas.
Fernando Henrique pronuncia ´própio´, ´apropiado´.
Disputa tucana
Talvez eu não tenha notado, mas senti falta de informações sobre o balanço de Serra sobre a denúncia do valerioduto tucano: o governador considera que perde, com o desgaste do PSDB, ou que ganha, com o concorrente interno Aécio chamuscado?
A fonte sumiu
A chamada da manchete dominical (´Empresas de capital aberto têm lucros recordes em 2007´) dá a entender que foi da Folha o levantamento que resultou na informação.
Como se lê em Dinheiro, quem o produziu foi uma empresa de consultas econômicas, a Economática.
Barbárie
A boa reportagem dominical sobre a adolescente que ficou presa na mesma cela com homens no Pará confirma o óbvio: quanto mais perto do seu objeto, mais chances uma reportagem tem de render.
De longe, as informações tendem ser menos precisas. No sábado, a partir de apuração à distância, o jornal afirmou que a garota ficou detida ´com 20 homens´. No domingo, com base em investigação no Pará, mudou-se para ´com mais de 30 homens´.
Hoje, texto da Reportagem Local (´Presas são vítimas de abuso em 5 Estados, diz relatório´, capa de Cotidiano) voltou a falar em ´cela com 20 homens´.
No domingo, chamou atenção a contradição entre a primeira página e Cotidiano. A reportagem interna afirmou que a jovem ficou presa ´durante pelo menos 20 dias´.
Já a capa do jornal fixou o período em 15 dias.
Em que informação o leitor deve acreditar?
Recaída: hoje, segunda-feira, a Folha retoma a cobertura por telefone.
Dinheiro público
No domingo, o governo do Pará publicou nota, inclusive na Folha, sobre a barbárie nas prisões.
O jornal deveria informar aos leitores quanto o Estado desembolsou, com recursos públicos, para veicular a nota. E que melhorias poderiam ser feitas em pelo menos uma delegacia com aquela verba.
Capricho
A fotografia da vestibulanda que saiu na primeira página de ontem parece ser a mesma da pág. C27.
Antártida
O domingo tinha uma rodada quentíssima do Campeonato Brasileiro, também para o Palmeiras e o Santos, clubes do Estado onde a Folha é editada.
A capa de Esporte, porém, trouxe um texto geladérrimo, ´Na seleção, Dunga repete caminho de Luxemburgo´, com números e estatísticas sem maior graça.
Tragédia na Bahia
A Folha manchetou hoje a tragédia na Fonte Nova, ´Arquibancada cai e mata sete na Bahia´. Foi uma espécie de co-manchete, com ´Presa sofre abuso sexual em 5 Estados, diz relatório´.
O jornal deu ao acidente muito mais espaço na primeira página do que ´Estado` e ´Globo´. Fez bem.
No domingo, a capa contradisse a reportagem no caso da adolescente do Pará. Hoje, a legenda da foto maior no alto contradiz a chamada ao lado. A legenda fala em dois feridos graves. A chamada, em quatro. Qual informação vale?
A chamada se refere ao ´estádio Fonte Nova´. Está errada. O estádio Octavio Mangabeira é conhecido como estádio ´da` Fonte Nova. Assim como não existe ´estádio Maracanã´, mas ´do` Maracanã. Variações: a Fonte Nova ou o Maracanã.
O quadro ´Mortes na Fonte Nova` (pág. D4) afirma que o endereço da arena é ´Ladeira das Fontes das Pedras, s/nº´.
Que eu saiba, só havia uma Fonte das Pedras em Salvador. Por isso, o plural está incorreto.
Deixo para o fim o mais importante: a Folha fez uma boa cobertura, superior à da concorrência; quem foram os funcionários públicos (o estádio é estadual) que ignoraram as iniciativas, inclusive legais, para interditar a Fonte Nova?; o governador conhecia as restrições?
Bolívia
Está muito boa a cobertura da crise na Bolívia, com enviada especial, a melhor de hoje entre os jornais.
Sugiro que as reportagens, e não somente os quadros, esclareçam o que significa ´departamento´.
E que se empregue português claro para se referir às ´sessões` da Constituinte (saiu ´funções` em ´Aprovação de texto da Carta mergulha Sucre no caos´, pág. A12).
´Linchado até a morte´, na mesma retranca, é redundância. Se foi linchado, morreu.
Não há outra palavra a usar que não ‘concertação` (no pingue-pongue com governista)?
Não há dúvida de que a cobertura ganharia com a ida da enviada de La Paz para Sucre, onde a Constituinte se reúne. Mas a viagem só deveria ser feita com garantias de segurança que não sei se existem.
Sem clima
Já o texto ´Rússia reprime protestos anti-Putin` (pág. A14 de hoje), assinado por enviado a Moscou, trata de eventos em São Petersburgo e poderia ter sido escrito em São Paulo, a partir das agências.
Não fecha
O texto ´Que guerra é essa?` (pág. A2 de hoje) fala em ´queda de mais de 400%´.
A queda máxima, creio, é de 100%.
Na mesma
Ao conceder um quarto do Painel do Leitor de hoje a um ´outro lado´, a Folha frustrou quem esperava um debate maior entre os leitores sobre a barbárie no Pará. Cartas não faltavam para isso. Mas o jornal preferiu manter a política de descaracterização da seção de cartas.
Sem limites
O Folhateen dá hoje capa e três páginas em tom promocional à luta livre. O jornal publica chamada na primeira página.
No pé de um texto, a informação previsível: a repórter viajou a convite a Miami.
A revista do ´Globo` saiu ontem com a mesma pauta, também com viagem a convite.
Ambição jornalística
O ´Estado` lançou ontem a revista ´Grandes Reportagens´, com uma extensa cobertura sobre a Amazônia.
Reportagem de capa da Veja tratou dos militares brasileiros e de suas opiniões sobre os grandes temas nacionais.
Forfait
Minha presença em uma série de eventos, entre os quais um debate quinta-feira na regional Campinas do Sindicato dos Jornalistas, impedirá que a crítica diária volte a circular nesta semana.
O atendimento aos leitores não será afetado.’