A mídia tem sido pródiga em divulgar a ação de governantes latino-americanos democraticamente eleitos, espremidos entre a necessidade de solução de problemas históricos e a dificuldade de adotar medidas cujos resultados só podem ser sentidos no longo prazo. Tais posicionamentos têm sido apressadamente acusados de populistas pelos grandes veículos comunicacionais, os quais, no entanto, não dizem que, na sociedade do conhecimento, a ação midiática tem seqüelas que podem ser comparadas às ditaduras, quando omitem dados e constroem realidades a partir de seus próprios interesses.
Para compreender a América Latina é fundamental reter-se que se trata de uma sociedade desigual, marcada por um verdadeiro fosso entre a população mais rica e a mais pobre, sendo difícil falar em igualdade de direitos onde parte do povo é miserável, uma minoria é privilegiada e a maioria tenta sobreviver. Esse é um diferencial que repercute sobre a adoção de políticas públicas, definição de prioridades, compromisso midiático e articulação de interesses em geral, invertendo pautas com relação aos países ricos.
De outro lado, uma ditadura mais silenciosa segue a afligir o mundo, mas camuflada e à espreita: a dos grandes meios. Não lavam mentes, mas conhecem seus públicos e sabem como atrair audiência, movimentando substanciais somas de capitais, o que permite o estrangulamento das pequenas instituições concorrentes. Esse mercado, que remete a um jogo que muitos perdem e alguns ganham, também tem sua história e seus fundamentos. Assim como os ditadores governamentais, os midiáticos também calam as vozes dissonantes, abafando-as.
Qualidade e direitos
São muitos os exemplos da complexidade do problema midiático, mas alguns ficam mais à vista por sua atualidade. Enquanto (ainda) se discute o fechamento da RCTV na Venezuela, movimentando protestos (e reações da grande indústria cultural mundial), recebe um foco aquém de sua conseqüência o desmantelamento, na prática, da TV Guaíba (RS) como espaço de produção audiovisual terceirizada e local – portanto desatrelada das redes televisivas –, ao passar a transmitir a programação da Rede Record, sua nova proprietária desde os primeiros meses de 2007.
No plano internacional, a controvérsia sobre o Estado retomar uma concessão com prazo de validade vencido, havendo a substituição de uma voz (a emissora privada que saiu do ar) por outra (o canal público que a substituiu). No plano interno, os programas independentes e os pequenos e médios estabelecimentos comerciais e culturais perdem um canal regional no Rio Grande do Sul, uma das poucas alternativas para tentarem alcançar a televisão aberta e a interlocução nesta arena de sentidos.
Essas dinâmicas repercutem diretamente sobre as opções dos telespectadores. De qualquer forma, permanece a ausência de garantia ao direito à comunicação, não sendo assegurada aos diversos grupamentos sociais a prerrogativa de expressão de suas demandas, identidades e posições. Reduzidas as iniciativas comunicacionais comerciais de pequeno e médio portes, assim como as públicas e alternativas, a população vê-se refém de vontades dos grandes, os quais se digladiam em busca do poder.
Fala-se em qualidade e direitos de expressão, mas pouco se faz para sua real manifestação. Um medo unido à acomodação, efeito das ditaduras que calam.xos pelo que vêm, ou pelo que nerpeclosperplexidade do estado em queros se deliciam a base de caviar.
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Respectivamente, professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA; acadêmico de História da UFRGS