Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Deficientes estarão excluídos?

Sou deficiente visual (enxerguei pouco até os 10 anos e sou cego desde então). Acabo de formar-me em Jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul e, paralelamente a atividades profissionais e acadêmicas, participo de mobilizações no que diz respeito aos direitos das pessoas portadoras de deficiência (não só visual). As demandas para esse setor são imensas, porque ainda não vivemos numa organização social que leve em consideração a diversidade e respeite as diferenças individuais.

Uma dessas demandas, atualmente, tem sido a questão do acesso à informação por parte dos portadores de deficiência. Atuamos em várias ‘frentes’: acesso ao livro, à educação escolar e, mais recentemente, aos meios de comunicação.

Por outro lado, estamos em plena discussão a respeito da implantação da televisão digital em nosso país. Achamos que esse é um momento crucial para discutirmos o acesso das pessoas portadoras de deficiência aos meios de comunicação, notadamente, à televisão. Ocorre que, como meio naturalmente audiovisual, a televisão exclui de sua audiência cegos e surdos, que são desprovidos dos sentidos exigidos pelo meio. A discussão, entretanto, deve ir além da natureza do meio em questão: os cegos e surdos, assim como os analfabetos e qualquer cidadão brasileiro, são merecedores do acesso às informações divulgadas pela televisão.

Debate relevante

No momento em que se discute a regulamentação da TV digital, que certamente agregará a possibilidade de vários canais de distribuição e melhoria das tecnologias utilizadas, cobra-se também a regulamentação de uma lei que traga acesso aos portadores de surdez ou cegueira. Para esses, a necessidade de descrições para conteúdos totalmente visuais (por exemplo: número de telefones que só aparecem na tela sem que sejam falados, impossibilitando a audição); para aqueles, o uso de legendas e traduções por língua de sinais dos conteúdos que estão sendo falados. Recursos que, tecnicamente, são facilmente implementados, ainda mais dentro da gama de possibilidades que trará a TV digital.

A pergunta central é: os portadores de deficiência, diante do processo de digitalização da televisão, ficarão excluídos do processo? Não poderão usufruir dos benefícios do novo sistema?

Este é um debate relevante. Portadores de deficiência que sejam ‘peritos’ no assunto acessibilidade e autoridades que estejam tomando conta do processo de regulamentação da TV digital devem estabelecer uma discussão, apresentar propostas e tomar medidas para que, desta vez, os portadores de deficiência possam ter seus direitos de cidadãos brasileiros garantidos. Há vários portadores de deficiência habilitados para um excelente debate a respeito. Pode-se, dessa forma, produzir um fórum rico e socialmente muito significativo.

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Jornalista