Recorro a este espaço jornalístico para fazer uma denúncia sobre o cerceamento a que fui submetido, enquanto documentarista, pelos responsáveis pela organização do Fórum Cultural Mundial, mais especificamente, a intitulada Convenção Global, realizada no Centro de Convenções Anhembi – São Paulo. Sou sociólogo, professor e documentarista, e encaminhei via e-mail meu pedido e intenções de realizar um documentário sobre o referido evento.
Obtive o devido credenciamento como mídia independente. Do dia 30/6, início da Convenção, até o dia 2/7, durante a sexta conferência, realizei tranqüilamente meu trabalho. Mas, no exato momento em que o sociólogo Emir Sader fazia seu pronunciamento fui intimado a comparecer à secretaria organizadora do evento para dar explicações sobre o que eu estava fazendo ali com minha câmera de vídeo e se eu tinha as autorizações dos conferencistas de utilizar suas respectivas imagens em meu trabalho.
Como um ladrão
Além do mais, me repreenderam dizendo que eu só deveria gravar três minutos de cada atividade e, mesmo assim, eu estando acompanhado por um segurança com o objetivo de assegurar que eu cumprisse as determinações exigidas por eles. E, caso eu quisesse permanecer no recinto, quando não estivesse trabalhando, deveria deixar meus equipamentos sob a guarda deles. Segundo o chefe geral, eles tinham contratado uma empresa para fazer a cobertura do evento, e mais ninguém poderia fazer este trabalho.
Fiquei estarrecido. Aleguei que aquele evento era patrocinado pelo poder público – federal-estadual-municipal – e as pessoas que deles participavam também ocupavam cargos públicos em seus respectivos países e/ou estavam a serviço do interesse público, bem como todas estavam sendo custeadas pelo poder público, se não pelo contribuinte brasileiro, pelo menos pelos cidadãos de seus respectivos países.
A secretaria organizadora do Fórum Cultural Mundial me tratou como uma pessoa que tivesse cometido um delito, como se eu estivesse roubando algo que era deles. Eu deveria seguir aqueles ditames acima referidos e ponto final. Fui tratado como um criminoso. Imaginem o tratamento verbal usado no interrogatório e nas ordens a serem seguidas…
Os contrastes
Colocaram um segurança em meu calcanhar, um ‘leão-de-chácara’, do tamanho de uma porta, que a todo momento me intimidava dizendo que eu andasse logo porque ele tinha outras coisas a fazer. Eu precisava ainda fazer entrevistas com o público presente, colher suas opiniões sobre o evento, saber de quais atividades participaram, colher críticas, sugestões, registrar ainda mais dois debates na mesma tarde do fatídico golpe de censura que recebi e, para terminar meu trabalho no evento, fazer a cobertura do Encerramento das Convenções Globais, no dia seguinte, 3/7. Tal convenção terminou com a apresentação de um grupo de jovens de Itabira, os ‘Drumonnzinhos’, recitando nosso maior poeta, Carlos Drumonnd de Andrade.
E agora, José? Há uma pedra no meio do caminho! E a festa acabou. O que fazer? O que fazer quando os interesses públicos são apropriados pelos interesses privados? Incrível o contraste que há entre o que tem sido realizado pelo Fórum Social Mundial, que já vai para a quinta edição, e este evento. Num, todas as pessoas que trabalharam em sua execução o fizeram gratuitamente, e ao público foi cobrado preços simbólicos (no primeiro, R$ 1, no segundo, R$ 2, e no terceiro, R$ 3. E o número de participantes foi de 20 mil, 50 mil e 100 mil pessoas, respectivamente. Os trabalhos de tradução simultânea foram também realizados por voluntários e, pelo que sei, não houve problemas como o ocorrido no Fórum Cultural Mundial. Neste, o cidadão, só para participar da Convenção Global e dos Debates, tinha que desembolsar R$ 50, e o bandejão de comida, regado a suco Tang, mais R$ 14 por refeição.
Bem, quanto ao número de atividades e de participação do público, o contraste entre ambos eventos nem ouso fazer. Quem sabe não seja pertinente uma matéria jornalística sobre estes dois eventos e seus contrastes.
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Documentarista, Porto Alegre