O Internet.org, projeto do Facebook que fomenta o acesso à Internet através de dispositivos móveis em países emergentes, não é uma obra de caridade. Embora consista na oferta de acesso gratuito a determinados conteúdos de relevância local em parceria com operadoras celulares, seu objetivo final é que a maioria das pessoas que experimentarem desta maneira uma primeiro acesso à Internet se tornem em seguida usuários pagos de acesso móvel à web. A mensagem foi deixada clara pelo vice-presidente de política de acesso global e móvel do Facebook e ex-chairman da FCC, Kevin Martin, que está no Brasil esta semana e participou nesta segunda-feira, 8, de um seminário internacional sobre neutralidade de rede na FGV do Rio de Janeiro. “Depois do almoço grátis vem o jantar pago”, ele disse, em resposta a uma pergunta da plateia sobre qual seria o modelo de negócios por trás do Internet.org.
Para explicar, Martin citou o caso da Índia, onde 90% do tráfego dos 800 mil usuários do Internet.org já acontece para sites de fora do projeto. Isso significa que uma parcela grande do público passou a pagar pelo acesso móvel. O executivo ressaltou que o Facebook não remunera as teles parceiras pelo acesso gratuito que essas oferecem ao Internet.org. Portanto, a conta só fecha se os beneficiados passarem a pagar pela Internet em algum momento. Caso contrário, as teles acabarão suspendendo a parceria.
Atualmente, o Internet.org está disponível em 12 países distribuídos entre América Latina, África e Ásia: Colômbia, Guatemala, Zâmbia, Tanzânia, Quênia, Gana, Malawi, Índia, Bangladesh, Paquistão, Filipinas e indonésia. Ao todo, 9 milhões de pessoas já experimentaram o Internet.org no mundo.
No Brasil, o Facebook prometeu oferecer acesso gratuito à Internet na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. Neste caso, será com uma rede montada pela própria companhia. Recentemente, o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, se encontrou com a presidente Dilma Rousseff para apresentar o Internet.org. Há expectativa de que o governo federal feche alguma parceria com o Facebook em torno do projeto, mas isso só aconteceria depois da regulamentação do Marco Civil da Internet. No momento, o governo trabalha internamente para formatar um projeto com o Facebook, mas não há nada desenhado de forma definitiva.
Críticas
Durante o seminário no Rio de Janeiro, Martin respondeu a uma série de críticas ao projeto. A principal delas é de que com o Internet.org o Facebook controlaria o conteúdo acessado pelo público, definindo quais sites e apps podem ser vistos de graça. O executivo afirmou que a empresa não tem a intenção de se tornar um “gate keeper” da web e que hoje o Internet.org aceita qualquer provedor de conteúdo, desde que as páginas atendam a determinados critérios técnicos, como serem leves para o acesso em redes de baixa velocidade. Mesmo concorrentes diretos do Facebook, como Twitter ou apps de mensagens instantâneas, poderiam entrar no Internet.org, garantiu Martin, em conversa com MOBILE TIME depois da palestra. Uma das críticas ao projeto é que o Facebook não permite, nesses critérios técnicos, ferramentas de privacidade, como criptografia das páginas.
Sobre privacidade, o executivo afirmou que no Internet.org não há nenhuma coleta de dados individuais dos usuários nem compartilhamento com outros sites. São apenas computadas informações coletivas de utilização do próprio serviço em cada mercado. E não há exploração de publicidade dentro do Internet.org.
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Fernando Paiva, do Teletime