Leia abaixo as reportagens de terça-feira da seção Entre Aspas. ************
Terça-feira, 28 de agosto de 2007
STF / SIGILO VIOLADO
Juristas criticam divulgação de e-mails de ministros
‘Os juristas Celso Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari, Fábio Konder Comparato, José Afonso da Silva e Paulo Bonavides divulgaram nota condenando a publicação, pelo GLOBO, da troca de e-mails entre dois ministros do STF.
Para grupo, houve ‘abuso da liberdade de informação’ na publicação de e-mails de ministros do STF
BRASÍLIA. Cinco juristas e professores de direito constitucional divulgaram ontem nota criticando a divulgação, pelo GLOBO, de mensagens trocadas entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski durante o julgamento da denúncia do mensalão, semana passada. Os advogados classificaram a publicação dos e-mails de ‘abuso da liberdade de informação’.
Na nota, Celso Antonio Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari, Fábio Konder Comparato, José Afonso da Silva e Paulo Bonavides dizem que ‘a captação clandestina, por meio de (lente fotográfica) teleobjetiva, de mensagens particulares trocadas por ministros do Supremo Tribunal Federal, durante uma sessão de julgamento, constitui forma aviltante de jornalismo, que ofende os princípios éticos e jurídicos da comunicação social’.
Eles prosseguem: ‘Todos os agentes públicos, inclusive os magistrados, mesmo em meio ao exercício de suas funções, têm o direito fundamental de manter inviolada a sua esfera de intimidade e comunicação privada (…) A condescendência com tais atos condenáveis conduzirá em breve à generalização de escutas clandestinas e outros procedimentos de sistemática invasão da privacidade’.
‘Os órgãos de imprensa, que não hesitam em tachar de censura toda tentativa de regulação de suas atividades, deveriam ser mais rigorosos no repúdio aos abusos da liberdade de informação’, diz outro trecho da nota dos advogados.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 28 de agosto de 2007
LIBERDADE DE IMPRENSA
OEA defende o direito à informação
‘Os Estados devem mostrar um maior compromisso em criar, quando não as tenham, ‘leis que assegurem o acesso à informação como um direito humano, para ajudar a consolidar as democracias nas Américas’. Essa é a recomendação mais importante do Estudo Especial sobre o Direito de Acesso à Informação – um documento de 53 páginas divulgado ontem pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos(CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA).
O texto pede que os governos ‘adotem as medidas legislativas e práticas necessárias’ para garantir esse direito e ‘forneçam os recursos para implementá-las’.
Dividido em cinco grandes capítulos, o trabalho da CIDH foi concebido para analisar o impacto de uma importante sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, na qual se decidiu – em 19 de setembro do ano passado – que o governo do Chile estava obrigado a fornecer informações solicitadas por um grupo de cidadãos (caso ‘Claude Reyes y otros’). Foi a primeira vez que um tribunal internacional estabeleceu que o direito à informação é um direito humano e faz parte do direito à liberdade de expressão.
Preparado por uma Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão, o documento, assinado pelo relator Ignacio J. Álvarez, traz uma lista de 169 recomendações. Também informa que o órgão fará, ainda este ano, um estudo sobre ‘a situação atual dos direitos internos dos Estados no que se refere a leis ou projetos de lei de acesso à informação’.
Esse trabalho vai incluir a avaliação de práticas no marco de políticas de transparência e da luta contra a corrupção. As fontes serão consultas aos Estados-membros da CIDH, a organizações não-governamentais (ONGs) e instituições dedicadas ao estudo da matéria.
‘O acesso à informação constitui uma ferramenta essencial para combater a corrupção, transformar em realidade o princípio da transparência na gestão pública e melhorar a qualidade das nossas democracias’, destaca o documento. Essas democracias, prossegue, são ‘marcadas por uma cultura de secretismo’ e por organismos públicos ‘cujas políticas e práticas de manejo físico da informação não estão orientadas para facilitar o acesso das pessoas a essas informações’.
EM 65 PAÍSES
O texto lembra que bom número de países já reconhece aos cidadãos o direito de acesso às informações em poder do Estado. Segundo estudo publicado pela ONG de Defesa dos Direitos Humanos Open Society Justice Initiative (Iniciativa da Justiça pela Sociedade Aberta), mais de 65 países já aprovaram leis a esse respeito. ‘Essa é uma tendência que vem crescendo nos últimos seis anos, visto que pelo menos 28 desses textos legais foram aprovados depois do ano 2000’, informa. Esses princípios já estão incorporados nas Constituições de 40 nações.
Uma das providências a tomar, segundo o documento, é que, ‘para a existência de um regime de exceção próprio de uma sociedade democrática’, a possibilidade de o Estado classificar e declarar confidencial uma informação ‘deve estabelecer um limite temporal ou condicionado à desaparição de sua causa’. As restrições ‘têm de estar claramente estabelecidas por lei e seus fins devem ser legítimos, de acordo com a Convenção Americana’. E, para que uma negativa seja legítima, os governos devem ‘responder por escrito a quem houver feito o pedido e devem especificar os motivos e fundamentos legais’ para tal restrição.
TRECHOS DO ESTUDO
‘O acesso à informação constitui ferramenta essencial para combater a corrupção, transformar em realidade o princípio da transparência na gestão pública e melhorar a qualidade de nossas democracias’
‘Mais de 65 países no mundo sancionaram leis que estabelecem mecanismos para que o público possa ter acesso à informação, uma tendência que cresceu nos últimos seis anos’’
CHINA & ALEMANHA
‘Spiegel’: China invadiu computador de Merkel
‘A China invadiu computadores da sede do governo alemão e de três ministérios numa ação de espionagem econômica descoberta em maio, afirmou ‘Der Spiegel’. Em visita a Pequim, a chanceler Angela Merkel advertiu ontem sobre o caso: ‘Para que nossas relações avancem, é preciso respeitar as regras.’ Pequim negou envolvimento e prometeu combater invasões.’
TELEVISÃO
Acidente fere técnico
‘Em gravação de Caminhos do Coração
Caminhos do Coração estréia hoje e os seus efeitos especiais já tiveram conseqüências trágicas. No sábado, durante a gravação da explosão de um carro no Brooklin, em São Paulo, um pedaço de madeira que segurava o veículo estilhaçou a perna de um funcionário encarregado pelos efeitos especiais.
Na cena, que deve ir ao ar no capítulo de hoje, uma equipe da Polícia Federal tenta capturar um grupo de traficantes e, para isso, arma a explosão de um carro. Na hora do acidente, os presentes ficaram muito assustados.
O ferido, Roberto Campinho, funcionário terceirizado, foi socorrido pela equipe da Record e atendido no Hospital São Luiz, onde permanece internado, com todas as despesas pagas pela emissora.
Apesar de a Record informar que tudo já foi resolvido, no hospital, a informação é de que o rapaz sofreu duas fraturas graves e que passará por uma cirurgia delicada.
Esse tipo de acidente acontece com mais freqüência do que se pensa nas gravações de novelas, mas raramente a informação extrapola os bastidores. Mesmo assim, Caminhos do Coração deve abusar de efeitos especiais.
Casal que dá ibope
Que Gianecchini que nada. Casal que tem bombado a audiência em Sete Pecados é feito por Ary Fontoura e Nicette Bruno, par já visto em Bebê a Bordo, Sítio do Picapau-Amarelo e no filme A Guerra dos Rocha. Agora, ele a pede em casamento na novela das 7.
Entre- linhas
*Entre os projetos da Record para 2008 está o de uma atração-solo para Ana Hickmann, ligada ao mundo fashion. Por enquanto é só projeto e não deve tirar a loira do trio do Hoje em Dia.
*Tom Cavalcante, na Record, venceu novamente o Domingo Legal anteontem no horário. O Show do Tom alcançou 11 pontos de média ante 8 pontos do SBT.
*O Fantástico realmente está atirando para todos os lados. Atrás de audiência, voltou a falar no domingo sobre o desaparecimento de Priscila Belfort. Na reportagem, nenhuma novidade.
*O autor João Emanuel Carneiro está preparando sua primeira novela das 9. A trama entrará após Duas Caras, de Aguinaldo Silva.
*O People + Arts estréia amanhã, às 21 horas, O Desafiante: Duelo de Campeões, produto do reality de boxe The Contender. Desta vez, lutadores americanos e britânicos enfrentam-se no ringue.
*Silvio de Abreu será o convidado do programa da CBN Fim de Expediente na sexta-feira. A atração, apresentada pelo ator Dan Stulbach, será transmitida da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, às 18 horas. A entrada é aberta ao público.
*Depois da emissora boliviana Red Pat comprar a novela Prova de Amor, da Record, jornalistas daquele país foram ao Rio para conhecer a RecNov.’
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Folha de S. Paulo
Terça-feira, 28 de agosto de 2007
STF / SIGILO VIOLADO
Réquiem para o indivíduo
‘RIO DE JANEIRO – Descobriram com cívico entusiasmo que a Constituição garante a liberdade de expressão que legaliza e justifica a liberdade de informação. Acontece que a mesmíssima Constituição garante a privacidade de cada um, fazendo de cada cidadão o guarda insubstituível de sua moral e imagem.
Volta e meia a dualidade constitucional, de aparente contradição, volta a ser discutida, com os entendidos dando palpites que geralmente colocam a liberdade de expressão como valor absoluto, cláusula pétrea a qual todos os demais direitos estão subordinados.
O dever de informar é corolário de outro dever, o de defender o interesse público. Havendo interesse público (ou curiosidade pública), tudo é permitido. Não há direito particular que se sobreponha ao da sociedade de estar informada.
O raciocínio está sendo brandido a propósito de mensagens eletrônicas de dois ministros do STF, fotografadas durante uma sessão daquela corte de justiça. A predominância de um direito sobre outro vem sendo, através dos tempos, o argumento básico de todas as ditaduras que esmagam o direito individual em nome da sociedade, representada, no caso, pelo Estado. Para dar um exemplo: no fascismo e no nazismo, era proibido ter vida pessoal. Tudo se subordinava ao interesse da ‘sociedade’.
Não faz muito, um homem público enfrentava um câncer terminal que dera metástase em seu circuito urinário. Publicaram-se desenhos dando à sociedade detalhes e tamanhos dos órgãos comprometidos. O interesse público foi saciado com relevante informação sobre as partes afetadas.
Nenhum valor individual poderia limitar o direito da sociedade de tudo saber. Uma sociedade perfeita que, para ser mais perfeita, precisa ser informada do tamanho de um pênis avariado.’
Joaquim Falcão
Privacidade do STF ou liberdade de imprensa
‘AS OPINIÕES se dividiram: a reportagem de ‘O Globo’ sobre os laptops dos ministros do Supremo Tribunal Federal foi legal? Foi constitucional?
Alguns juízes e advogados acreditam ter havido invasão de privacidade e até crime de violação de correspondência. Já outros juízes, advogados e jornalistas acreditam que foi legítimo exercício da liberdade de imprensa. O leitor precisaria ser informado da realidade das instituições. Inclusive do lado humano dos ministros. Às vezes, demasiadamente humano. Liberdade x privacidade, o conflito mais previsível deste século 21. A sociedade se divide. Há saída para essa divergência fundamental? Tem que haver.
Se o foco da pergunta mudar da constitucionalidade ou não da reportagem para o aperfeiçoamento institucional do STF, a divergência tende a desaparecer. Se a questão for: ‘O atual processo decisório do Supremo protege sua necessária privacidade, sem a qual inexiste independência do julgar, garantia fundamental dos cidadãos?’, novos caminhos se abrem.
Hoje, o plenário do STF decide assim: o processo judicial entra e é distribuído aleatoriamente a um ministro chamado ‘relator’, que o estuda e trabalha sozinho com sua equipe elaborando o voto. Nenhum mecanismo, costumeiro ou formal, de troca de informações e idéias entre os ministros é previsto. Nelson Jobim estimulou essa prática, mas não a formalizou. Quando pronto o voto, pede-se à presidência que o processo vá à sessão.
Somente então os demais ministros tomam conhecimento. O voto do relator muita vez chega à sessão como mistério a ser desvendado na hora e publicamente. Salvo por informações fragmentadas entre os gabinetes e, eventualmente, pela coerência com a jurisprudência, o voto de um é novidade para o outro. Com a TV gravando a eventual surpresa. O resultado é claro: a natural incerteza judicial acaba aumentando a indesejável insegurança jurídica. Se aquela é estruturadora da democracia, esta é sua patologia.
Parece óbvio que há a necessidade de um momento coletivo no processo decisório do Supremo, com toda privacidade possível, em que o livre debate entre seus membros possa ocorrer. Uma saudável troca de idéias e doutrinas. Discordâncias e busca de consensos. Tentativas de conciliação.
Discussões político-jurídicas. Cara a cara. Um momento de solidões francas e convergentes. Sem a presença de ninguém. Sem público, jornalistas ou assessores. No caso, o direito à privacidade não é direito à solidão. É direito à institucionalização de um processo decisório coletivo, sem nenhuma interferência, a não ser a participação igualitária dos julgadores.
A Suprema Corte americana assim já procede. Decidido que o processo será julgado, os advogados enviam por escrito suas razões. Todos os ministros recebem informações ao mesmo tempo. No Brasil, o relator é privilegiado. Sabe tudo antes. Lá, a primeira sessão pública é uma argüição, pelos ministros, dos advogados que fazem sustentação oral. Pode até haver alguma discussão entre eles. Mas o objetivo principal é a uniformização pública de informações, para posterior reflexão privada. Depois, se recolhem, trocam memorandos internos, fixam posições, tentam convencer os colegas. Reúnem-se privadamente.
Ninguém tem acesso a essas conferências privadas. Só os ministros. Aí decidem posições e votam. Voltam a público para comunicar a decisão: um relator para o voto do grupo vencedor e relatores para os votos divergentes.
Nas sessões públicas, os ministros se colocam mais alto, num estrado, em que a imprensa, mesmo com as tecnologias de hoje, dificilmente os alcança. A não ser de maneira predeterminada: de frente e de baixo.
A sala do Supremo brasileiro foi feita décadas atrás, quando as atuais e legítimas tecnologias de captura de informações inexistiam. Ficou vulnerável. Tem forma de arena de debatedores, e não de ‘locus’ para o alinhamento de julgadores supremos.
Antes, pois, de consumir o país em discussão fratricida, opondo a indispensável privacidade dos membros do STF à também indispensável liberdade de imprensa, talvez seja o momento de aperfeiçoar o próprio processo decisório do tribunal. Trocar um monólogo de solidões potencialmente conflitantes pelo diálogo incansável de busca de consensos.
Quanto mais não seja, por simples motivo. Se perguntarmos aos juízes, advogados e jornalistas que hoje debatem entre si se preferem a independência e a privacidade do Supremo ou a liberdade de imprensa, a resposta é clara: os dois. Devemos ser, pois, pragmáticos. Há meios gerenciais de ambos conciliar. O momento é este. Judiciário ágil e legítimo e imprensa livre e responsável são faces da mesma moeda. A moeda da democracia.
JOAQUIM FALCÃO , 63, mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA) e doutor em educação pela Universidade de Genebra (Suíça), é professor de direito constitucional e diretor da Escola de Direito da FGV-RJ e membro do Conselho Nacional de Justiça.’
MÍDIA & POLÍTICA
Photoshop na política
‘MORREU NO último sábado, aos 83 anos, o ex-primeiro-ministro francês Raymond Barre, que descrevia a si mesmo como ‘um espírito quadrado em um corpo roliço’. Já o atual presidente, Nicolas Sarkozy, 52, do mesmo campo político da direita, teve uma foto sua retocada pela revista ‘Paris Match’ para eliminar uns ‘pneuzinhos’.
Entre a corpulência de Barre e o Photoshop de Sarkozy, muita coisa mudou na política francesa. A começar por uma mudança geracional. Sarkozy insiste em quebrar um a um todos os rituais estabelecidos há pelo menos 50 anos. Decidiu promover políticos muito jovens a posições centrais no governo.
Também cooptou quadros políticos da esquerda e do centro. Encabeçou vários lances diplomáticos sensacionalistas desde a posse, em maio. Mesmo se seu primeiro discurso de política externa de ontem tem indicações de continuidade com a tradição diplomática francesa do pós-Guerra, projeta também um alinhamento com os EUA que é novo.
É o primeiro presidente francês realmente midiático: sabe dizer uma coisa e seu contrário em uma mesma frase e pensa todos os seus passos em termos da cobertura jornalística que vai alcançar. Ganhou as eleições mesmo chamando os jovens que protestavam na periferia de Paris de ‘escumalha’ e se dizendo inclinado a pensar que ‘se nasce pedófilo’.
Essa transformação do panorama geral da política francesa começou nas eleições de 2002, quando o candidato socialista, Lionel Jospin, não conseguiu ir para o segundo turno. Naquela oportunidade, quase todas as forças de direita se reuniram em torno da União por um Movimento Popular (UMP) para enfrentar o candidato ultradireitista Jean-Marie Le Pen.
Os resultados eleitorais desfavoráveis de 2002 e de 2007 abriram uma crise no Partido Socialista francês que tem muito a ver com essas mudanças. O relativo fracasso da candidata Ségolène Royal nas eleições presidenciais deste ano mostrou que também os políticos socialistas acima de 55 anos não têm mais lugar.
O Brasil não está muito longe dessas mudanças. Com exceção de um ou outro nome, a velha guarda de políticos está dando lugar a uma nova geração que se orgulha de seu pragmatismo e da ausência de referenciais ideológicos.
Sarkozy tem o sólido apoio do empresariado e de um conservadorismo unificado. Mas seus lances midiáticos são por vezes tão arriscados e personalistas que é de pensar se ele ainda não vai acabar isolado um dia desses. Com uma outra aliança e uma outra correlação de forças, é exatamente o risco que corre Lula todos os dias. Um risco que Photoshop nenhum consegue eliminar.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.’
ECOS DA DITADURA
Livro que acusa a ditadura por torturas irrita militares
‘Os militares reagiram com irritação ao livro ‘Direito à Memória e à Verdade’, documento oficial do governo acusando o regime militar por torturas e mortes de opositores. Avaliam, segundo a Folha apurou, que o livro é extemporâneo e não tem nenhuma novidade em relação a tudo o que há anos vem sendo publicado sobre os chamados ‘anos de chumbo’.
Os militares consideram incompreensível a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de patrocinar o livro, assumi-lo como documento oficial e ainda fazer cerimônia no Palácio do Planalto, amanhã, para divulgá-lo.
Eles acham, ainda, que a história foi contada apenas por uma das partes envolvidas, já que o seu principal responsável é o secretário de Direitos Humanos da Presidência, Paulo Vannuchi. Ele foi militante da ALN (Aliança Libertadora Nacional), principal organização da luta armada no final da década de 1960 e no início da de 1970. Foi preso durante cinco anos e torturado pelos órgãos de repressão na prisão.
Para os autores, o capítulo da Lei da Anistia, de 1979, que estendeu o benefício aos agentes da repressão, é ainda hoje questionado por setores jurídicos do país. Eles também defendem a decisão de 2004 que estendeu as indenizações devidas às famílias de mortos e desaparecidos também às dos torturados que depois se suicidaram, como Maria Auxiliadora Lara Barcellos e Massafumi Yoshinaga.
Do outro lado, os militares acusam o trabalho de ter como objetivo aumentar ainda mais o que eles chamam de ‘indústria da indenização de criminosos políticos’.
O Planalto não convidou até ontem à noite nenhum dos três comandantes militares para o lançamento do livro, mas, se convidar, o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, não irá nem enviará representante. Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, estarão presentes.
Oficialmente, o general justifica que estará em Buenos Aires para uma reunião bilateral com comandos militares da Argentina. Ele viajou ontem e só volta na quinta-feira de manhã. A verdade, porém, é que o livro, com carimbo de documento do governo federal, contrariou as Forças Armadas.
A ordem do comandante é para que nenhuma declaração nem nota seja distribuída à imprensa, dentro dos princípios da disciplina e da hierarquia e da submissão ao poder político.
O Centro de Comunicação Social do Exército disse que ‘não se pronunciará a respeito antes do lançamento oficial’.
O livro está sendo lançado num momento de ajuste do Ministério da Defesa, agora sob comando de Nelson Jobim. Os militares elogiam o estilo de Jobim, que consideram de poucas palavras, mas afirmativo e de resultados.
REPERCUSSÃO: TORTURA NUNCA MAIS ELOGIA LIVRO COM RESSALVAS
Para a presidente do grupo Tortura Nunca Mais do Rio, Cecília Coimbra, o livro ‘Direito à Memória e à Verdade’ é um passo ainda pequeno para a elucidação de fatos ocorridos no regime militar, mas é importante. ‘É uma atitude muito limitada do governo, que ainda não aceitou a abertura dos arquivos militares. E nada do que está no livro é novo, mas claro que é importante por ser oficial.’ A presidente do Tortura Nunca Mais de São Paulo, Rose Nogueira, diz ser louvável o livro. ‘Considero qualquer passo uma coisa boa. Mas precisava levar tantos anos? Acho que não.’’
TODA MÍDIA
Supremo ‘superstar’
‘Abrindo a escalada do ‘Jornal Nacional’, pela voz ainda oficial de William Bonner, ‘O Supremo aceita a denúncia contra José Dirceu por corrupção ativa’. Ele e outros réus, como Roberto Jefferson e Delúbio Soares, tomaram as manchetes on-line pouco antes.
Mas até lá foi um longo dia atrás de sinais, na cena dos ministros, ao vivo por TV Justiça, UOL e outros. O conflito de Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, com vantagem para o primeiro, mostrou que se podia afinal atingir o ex-ministro, apostou logo a blogosfera.
Passando tempo, elogios blogueiros à performance de Joaquim Barbosa, ‘sem abrir mão de seu papel de protagonista, está distinto, caprichando nos ternos’, e de Ellen Gracie, ‘serena, bonita, elegante frente às câmeras’. Enfim, ‘a onda superstar das instituições em tempos midiáticos chegou ao Supremo’, ontem.
PAPEL
Ao vivo por sites, canais fechados e nos intervalos da Globo, o dia todo, Joaquim Barbosa, o ‘protagonista’
OS PILOTOS SUMIRAM
De Fátima Bernardes, ‘os dois pilotos do jato Legacy que se chocou com o Boeing da Gol faltaram à audiência da Justiça… 154 morreram’. Foi manchete no Terra etc.
E o ‘Newsday’ e outros tablóides de Nova York, onde os dois vivem, seguem na cobertura. Bem como Joe Sharkey, jornalista que viajava no Legacy e apóia os pilotos. Ontem, postou que ‘entende inteiramente’ sua ausência, pois o Brasil não é ‘confiável’ no caso, com ‘polícia, os militares e os tribunais’ exibindo ‘má fé’. Por outro lado, ‘a mídia brasileira voltou atrás de suas acusações aos americanos’.
SARKOZY E O MUNDO
Ecoou o discurso de política externa do presidente francês Nicholas Sarkozy. Em sites como ‘Le Figaro’ e ‘Financial Times’, destaque ao desejo de fazer da Europa ‘ator global’ aliado aos ‘EUA, a aliança atlântica e a União Africana’.
Lá pelo meio nos jornais europeus, mas destaque aqui até no ‘JN’, a necessidade, nas palavras de Sarkozy, ‘de integrar na nova ordem global os gigantes emergentes que são a China, a Índia e o Brasil’. Para a Rússia, só críticas.
Na avaliação no ‘Monde’, ele segue as tradições da diplomacia francesa, só com maior ‘marca’ européia e pró-EUA. Já o ‘FT’ aponta uma ‘mudança significativa’.
ÁFRICA EM DISPUTA
A atenção da França -e também dos EUA e China- à África tem concorrente aqui. Segundo o blog de Ancelmo Góis, ‘Lula prepara novo giro pela África’, em países como Congo, Angola, África do Sul.
MAIS BEREZOVSKY
A agência Novosti deu que o procurador-geral da Rússia quer o ‘magnata fugitivo’ Boris Berezovsky extraditado ‘ao Brasil’. Quer convencer a Grã-Bretanha, onde vive hoje Berezovsky -que tem pedido de prisão expedido aqui, pelo escândalo MSI/Corinthians.
Ouvido, ele diz que nada tem a ver com a compra de Tevez pelo Chelsea. ‘Afinal, eu sou fã do Arsenal’, ironiza.
ESCRAVOS NO PIAUÍ
Nos sites de ‘New York Times’, ‘Washington Post’ e outros, ontem, uma reportagem da Reuters destacando que o ‘trabalho escravo persiste na Amazônia’, segundo a organização ‘watchdog’, vigilante, ICC. Até se elogiou o ‘grande avanço feito’, com o fechamento de centenas de carvoarias e a suspensão pela Vale da compra de ferro de certas mineradoras, mas seguem ‘condições desumanas que caracterizam trabalho escravo’ no Pará, no Piauí etc.
CHOQUE TODO DIA
Dias depois de o ‘SP Record’ mostrar a tropa de choque dentro da São Francisco, o ‘SPTV’ saudou que ‘a tropa de choque teve que agir’ e encerrar um dos protestos que prejudicam ‘o trânsito’’
INTERNET
Novo site desmascara alterações na Wikipedia
‘Que os artigos da enciclopédia on-line Wikipedia (www.wikipedia.com) eram passíveis de alterações desinformativas, já se sabia. Agora, graças à invenção de um estudante norte-americano, é possível saber quem modificou o quê -e os resultados têm causado um frenesi mundial.
Tal reação -da imprensa, de governos, empresas e, é claro, usuários da rede- era exatamente o que Virgil Griffith, 24, esperava ao criar o WikiScanner (wikiscanner.virgil.gr), segundo disse em entrevista à Folha, por e-mail.
Lançado há duas semanas, o site permite vasculhar os arquivos da Wikipedia em inglês (e, mais recentemente, em alemão e japonês) em busca dos computadores de onde saíram modificações feitas em artigos.
Rapidamente os usuários descobriram que, dos sistemas de diversos governos (EUA, Austrália, Portugal, Vaticano) e organizações (Microsoft, Apple, PepsiCo etc.), partiram alterações que apagavam críticas e dados negativos em textos (veja quadro ao lado).
‘Tive a idéia após ouvir sobre os congressistas [dos EUA] que foram pegos limpando suas páginas na Wikipedia’, disse Griffith à Folha.
‘Meu objetivo era criar vários desastres de relações públicas para os envolvidos.’
Dourando a pílula
Para quem vivia protegido pelo anonimato que a Wikipedia permite (seus artigos são escritos por colaboradores anônimos e podem ser modificados livremente), o WikiScanner é uma ferramenta que traz revelações embaraçosa.
Ele permite descobrir, por exemplo, que a Pepsi alterou menções sobre os malefícios do consumo excessivo de refrigerante (a Coca-Cola fez o mesmo), que o FBI alterou o artigo sobre a prisão de Guantánamo e que a Anistia Internacional removeu críticas.
O site de Griffith não permite afirmar incontestavelmente que as modificações são decisões corporativas ou ordens vindas das chefias. Ele apenas indica os computadores (por meio de sua ‘identidade’, o IP, internet protocol) de onde saíram as alterações.
O método do WikiScanner lembra as ferramentas de busca mais comuns -o usuário pode procurar pelos nomes que fizeram alterações, pelos locais de onde as mudanças foram feitas, pelo IP dos computadores e ainda por artigos modificados.
Colocando ‘Banco do Brasil’, por exemplo, na pesquisa, o usuário descobre 334 alterações em artigos da Wikipedia em inglês feitas a partir de computadores da instituição.
Há acréscimos (o nome do banco entrou na lista de organizações conhecidas como BB, por exemplo), alterações em artigos de história (veja abaixo) e diversos pitacos em textos sobre temas diversos como futebol, Carnaval e artistas.
Por enquanto, a ferramenta não deve causar maior apreensão no Brasil, já que Griffith não planeja fazer uma versão em português. Mas ele deixa um caminho aberto.
‘Vou liberar o código-fonte do programa e qualquer um poderá fazer uma versão brasileira do WikiScanner’, anuncia.’
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QUEM MEXEU NA WIKIPEDIA
‘Algumas mudanças feitas a partir de computadores de empresas e governos
Governo dos EUA
Partes inteiras da biografia do presidente George W. Bush, que falavam sobre seu excessivo consumo de álcool, foram apagadas
Exemplo de trecho apagado:
‘Quando seu pai, George H. W. Bush, o reprimiu por seu comportamento e por ter exposto seu irmão caçula a risco, George W., ainda sob influência [do álcool], retrucou nervosamente, ‘[…] Você quer brigar mano a mano aqui?’
Vaticano
De um computador da Santa Sé saiu a modificação no artigo sobre o líder católico irlandês Gerry Adams, apagando as referências (inclusive links para artigos de jornais britânicos) a uma suspeita de participação em crime
Trecho apagado:
‘Em outubro de 2006, foi alegado que as impressões digitais de Adams foram encontradas em um carro usado durante um duplo assassinato em 1971. Nenhuma conexão entre Adams e os assassinatos foi demonstrada, entretanto’
Outras mudanças já encontradas:
– A Apple editou artigos sobre a Microsoft, acrescentando comentários negativos sobre a rival; a empresa de Bill Gates, por sua vez, fez a mesma coisa nos textos referentes à Apple
– A Exxon Mobil alterou o artigo sobre derramamento de óleo na parte relativa à destruição do ecosistema
– O FBI editou o artigo sobre Guantanamo Bay, removendo diversas fotos da prisão militar
– A Scientologia apagou críticas e referências negativas feitas no artigo sobre a religião
– De computador do Banco do Brasil foi inserido um trecho na parte do governo do general Figueiredo (1979-1984), na página sobre história do Brasil, acrescentando a célebre frase do ‘prendo e arrebento’, dita pelo presidente contra eventuais adversários da abertura
*trechos originalmente em inglês’
Yahoo! terá e- mail para telefone móvel
‘DA BLOOMBERG – O Yahoo!, o site mais visitado dos EUA, fará o upgrade de seu serviço de e-mail baseado na internet para que os usuários possam enviar mensagens gratuitas diretamente para telefones celulares.
O novo serviço foi lançado ontem, disse em comunicado a empresa. Os usuários poderão enviar mensagens a telefones celulares dos EUA, do Canadá, da Índia e das Filipinas.
O novo programa de e-mail permite que os usuários enviem mensagens instantâneas a usuários do Yahoo! Messenger e do Windows Live Messenger, da Microsoft, informou a empresa. O Yahoo! disse que também tornou seu serviço de e-mail mais ágil.’
TV DIGITAL
Bloqueio de gravação na TV digital é criticado
‘DA FOLHA ONLINE – Pesquisadores e especialistas em direito do consumidor disputam com as emissoras de televisão e querem que o governo proíba o bloqueio de gravação na TV digital. Estudo produzido pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas defende que o bloqueio é inconstitucional e prejudica o consumidor.
O estudo, obtido pela reportagem, foi encaminhado ao Comitê de Desenvolvimento da TV Digital, formado por 11 ministros. A reportagem apurou que, como não há consenso, a decisão será do presidente Lula. Segundo o o coordenador do centro, Bruno Magrani, a lei permite cópias para fins privados.’
TELEVISÃO
Ator da Globo vai ao Emmy; Record fica fora
‘Um ator e uma atriz da Globo disputarão neste ano o Emmy Internacional, o Oscar B da televisão _os EUA têm um Emmy só para suas produções.
Os semifinalistas do Emmy foram divulgados na última sexta. Os quatro indicados que disputarão a final em novembro só serão conhecidos em outubro. Mas já é possível afirmar que a Globo terá um ator e uma atriz na festa de premiação.
Isso porque só atores da Globo estão entre os semifinalistas da América Latina, que indicará um de cada sexo à final.
Concorrem ao prêmio de melhor ator Marcos Caruso (‘Páginas da Vida’), Lázaro Ramos (‘Cobras & Lagartos’) e José Wilker (‘Amazônia’). Lilia Cabral (‘Páginas da Vida’) e Débora Bloch (‘Amazônia’) disputam a indicação da América Latina para melhor atriz.
A Record inscreveu quatro novelas e dez atores, mas nenhum passou pela semifinal.
A Globo já está na final em ‘noticiário’ (‘Jornal Nacional’) e ‘atualidades’ (‘Linha Direta’). Tem chances em ‘comédia’ (‘Os Amadores’ e ‘A Diarista’), ‘drama’ (‘Amazônia’), ‘programa sem roteiro’ (‘Lar Doce Lar’/’Caldeirão’) e ‘minissérie’ (‘Antônia’). ‘Mothern’ (GNT/ ‘drama’) e ‘Europa Paulistana’ (Mixer/ Eurochannel/’minisséries’) também são semifinalistas.
Ganhar um Emmy é prioridade para a Globo, que é co-patrocinadora da premiação e tem um executivo no júri.
COMITÊ 1A Record eliminou de seu organograma o cargo de diretor artístico, vago com a demissão de Hélio Vargas. No lugar, criou um ‘comitê artístico’, composto por quatro executivos (entre eles Hilton Madeira, do marketing) e os diretores de programas José Amâncio (de ‘O Aprendiz’) e Vildomar Batista (‘Hoje em Dia’).
COMITÊ 2O comitê artístico resolverá as questões do dia-a-dia da área na Record. E levará os principais assuntos para o bispo Honorilton Gonçalves, o todo-poderoso da emissora.
BESTIALNo último sábado, todos os links para a sala de imprensa do site da Record tinham o número 666, o da besta. Ontem, não havia links para ‘notícias’.
FRIA 1Fausto Silva enfiou Marília Gabriela, jurada do ‘Dança no Gelo’, numa tremenda saia justa. Perguntou quem era o entrevistado do dia no ‘Marília Gabriela Entrevista’, no GNT. Ela não sabia. Faustão brincou, afirmando que era um ‘entrevistado misterioso’. ‘Maldito, você me paga!’, rebateu Gabi.
FRIA 2O entrevistado de domingo fora o ator Daniel Boaventura. A entrevista estava gravada havia meses, esperando a peça ‘My Fair Lady’ voltar ao cartaz. Gabi grava três entrevistas por dia a cada duas semanas.
CHUTEJá o diretor Roberto Talma, também no ‘Domingão’, pegou pesado. Disse que a miss Brasil Natalia Guimarães é linda, mas não dança nada no gelo.’
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