Em surdina, o rádio no Brasil fez 90 anos. A 7 de setembro de 1922, alto-falantes instalados na Exposição do Centenário, na esplanada do Castelo, no Rio, transmitiram o hino nacional, o discurso do presidente Epitácio Pessoa e a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes. Tudo emanado do Theatro Municipal. O som era execrável, mas o povo vibrou. A façanha coube a Edgard Roquette-Pinto, hífen e tudo, que, um ano depois, poria no ar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.
Quase todos os textos que contam essa história dão um salto de 30 anos e vão direto para a Rádio Nacional nos anos 50, com o Repórter Esso, a novela O Direito de Nascer, o humorístico Balança, Mas Não Cai, o musical Um Milhão de Melodias e as batalhas entre as fãs de Marlene e Emilinha. Como se só a Nacional tivesse existido. Mas a história é outra. De 1932 a 1942, foi na Rádio Mayrink Veiga, também do Rio, que surgiram os programas humorísticos, o radioteatro – precursor das novelas –, os debates e as transmissões feitas da rua, inclusive esportivas. Foi também a primeira emissora a ficar 24 horas no ar, a transmitir de outro país (a Argentina) e, através de antenas especiais, a se fazer ouvir no Nordeste, pelo menos à noite.
Um dos responsáveis por tudo isso foi seu diretor artístico, o paulista Cesar Ladeira, que chamou Carmen Miranda de “A pequena notável” e Francisco Alves, de “O rei da voz”, entre os grandes cartazes que contratou para a Mayrink. Somente nos anos 40, com o dinheiro do governo federal, é que a Nacional conseguiu desbancá-la, contratando inclusive Cesar Ladeira. Dez anos depois, a Mayrink também foi comprada pelo governo e, a 1º de abril de 1964, destruída fisicamente por adeptos dos militares, que jogaram seu equipamento na rua.
Faz falta uma história da Rádio Mayrink Veiga.
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[Ruy Castro é jornalista, escritor e colunista da Folha de S.Paulo]