Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Votação emperrada

Os novos presidentes da Câmara e Senado terão que lidar, de cara, com a pressão pela votação do Marco Civil da Internet, emperrada há meses no Plenário. É o que prometeu o relator do texto, o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ), durante palestra na Campus Party em São Paulo nesta sexta-feira, 1º. “Segunda-feira, às 10h, já vou pedir uma audiência com o novo presidente da Câmara”, afirmou. A ideia é tentar convencer da importância de colocar novamente o projeto em pauta, mas Molon sabe que é preciso mais do que isso: ele admite que há riscos de não haver aprovação na Câmara.

Segundo ele, o Marco Civil pode não ser aprovado devido ao lobby que as empresas de telecomunicações fazem contra os pontos de neutralidade e privacidade na rede. “Corre o risco de não ser aprovado, mas acredito que será”, espera, colocando ainda que “o Congresso vai ter que escolher um lado e não acho que seja o de interesse das empresas”. Para ele, é preciso relevar algumas discordâncias para o bem da aprovação e mobilizar a sociedade para cobrar dos parlamentares uma posição a favor do texto. “Precisamos de unidade, não podemos nos dividir nesta reta final por questões menores”, afirma.

Um dos pontos principais defendido pelas teles é a de que a neutralidade da rede não pode impedir o desenvolvimento de novos modelos de negócio, impedindo mais investimentos, mas o deputado critica essa postura. “A Internet brasileira é cara e deixa a desejar. Não é razoável falar sobre lucro porque [as telecomunicações] estão entre os segmentos mais lucrativos do País, mas prestam um dos piores serviços e cobram muito caro.” Para Molon, a preocupação dos provedores de conexão não deveria ser comercial, mas de melhorar a prestação de serviço. “Eles estão devendo ao País”. As operadoras, por sua vez, argumentam que a rentabilidade do setor é das menores e que os oinvestimentos necessários às redes de banda larga são pesados.

Prioridades

Mas o deputado explica que há questões no texto que tratam de forma desigual pontos sensíveis, mas não de forma injusta. “Claro que sabemos que neutralidade absoluta não é possível, há casos de emergência que teriam prioridade de tráfego. Mas não pode ser por interesse comercial ou em benefício de setor privado”, conta, exemplificando com o envio da declaração de imposto de renda, que poderia ter privilégio no tráfego nos últimos dias do prazo.

Dirigindo-se à plateia no evento, o deputado ainda tentou conclamar os participantes a cobrar dos políticos posicionamentos na questão, mostrando a importância que o Marco Civil tem para a sociedade civil, inclusive na questão de proteção de dados além da Internet e no modelo aberto e colaborativo com o qual o texto foi escrito de 2011 a 2012. “Quero pedir o apoio de vocês para uma mobilização. Não será fácil, mas é possível”, declarou.

Molon: participação brasileira em Dubai foi “aquém do desejado”

Relator do Marco Civil da Internet, o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) afirmou que não ficou satisfeito com a atuação da delegação brasileira em Dubai no ano passado, durante a Conferência Mundial de Telecomunicações Internacionais (WCIT-12). Durante conversa com jornalistas após palestra na Campus Party nesta sexta-feira, 1º, em São Paulo, Molon afirmou que o Brasil teria conseguido melhores resultados se tivesse levado o texto do Marco Civil já aprovado, mostrando uma posição definida em relação a assuntos como neutralidade e privacidade na Internet.

“Eu lamento porque acho que a participação brasileira poderia ter sido muito melhor, por isso lutei tanto pela aprovação antes de Dubai”, diz. Apesar de revelar que o desempenho foi “aquém do desejado”, o deputado preferiu não comentar as propostas apresentadas pela delegação brasileira ou as alterações nas Regulações Internacionais de Telecomunicações (ITRs). Ainda assim, disse que o País ainda pode reverter a posição de coadjuvante nessa discussão. “Ainda que não tenha ocorrido antes do evento, acho que aprovar o Marco Civil agora coloca o Brasil em outro patamar: o de liderança e protagonismo neste segmento”, acredita.

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[Bruno do Amaral, do Teletime]