Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Editorial da Folha acusa Universal de má-fé

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Intimidação e má-fé


‘BISPOS da Igreja Universal do Reino de Deus desencadeiam, contra os jornais ‘Extra’, ‘O Globo’, ‘A Tarde’ e esta Folha, uma campanha movida pelo sectarismo, pela má-fé e por claro intuito de intimidação.


Em dezembro, a Folha publicou reportagem da jornalista Elvira Lobato descrevendo as milionárias atividades do bispo Edir Macedo. Logo surgiram, nos mais diversos lugares do país, ações judiciais movidas por adeptos da Igreja Universal que se diziam ofendidos pelo teor da reportagem.


Na maioria das petições à Justiça, a mesma terminologia, os mesmos argumentos e situações se repetiam numa ladainha postiça. O movimento tinha tudo de orquestrado a partir da cúpula da igreja, inspirando-se mais nos interesses econômicos do seu líder do que no direito legítimo dos fiéis a serem respeitados em suas crenças.


Magistrados notaram rapidamente o primarismo dessa milagrosa multiplicação das petições, condenando a Igreja Universal por litigância de má-fé. Prosseguem, entretanto, as investidas da organização.


Não contentes em submeter a repórter Elvira Lobato a uma impraticável seqüência de depoimentos nos mais inacessíveis recantos do país, os bispos se valeram da rede de televisão que possuem para expor a pessoa da jornalista, no afã de criar constrangimentos ao exercício de sua atividade profissional.


É ponto de honra desta Folha sempre ter repelido o preconceito religioso. A liberdade para todo tipo de crença é um patrimônio da cultura nacional e um direito consagrado na Constituição. A pretexto de exercê-lo, porém, os tartufos que comandam essa facção religiosa mal disfarçam o fundamentalismo comercial que os move. Trata-se de enriquecimento rápido e suspeito -e de impedir que a opinião pública saiba mais sobre os fatos.


Não é a liberdade para esta ou aquela fé religiosa que está sob ataque, mas a liberdade de expressão e o direito dos cidadãos à verdade.’


 


Universal quer intimidar, dizem entidades


‘Juristas, magistrados e entidades de classe e da sociedade civil criticam a iniciativa da Igreja Universal do Reino de Deus de incentivar fiéis a moverem ações de indenização em juizados especiais, nas mais distantes cidades do país, contra jornais e jornalistas. Eles dizem que a estratégia revela uma tentativa de intimidação da imprensa e atenta contra a liberdade de expressão.


‘O Poder Judiciário deve dar uma resposta urgente, firme e direta contra esse expediente. O processo é absolutamente ilegal. O juiz tem o dever de evitar [o processo] até em um despacho inicial’, diz René Ariel Dotti, professor e vice-presidente da Associação Internacional de Direito Penal.


‘Esse é um expediente antiético. É um novo modelo de intimidação à imprensa. Isso é um gravíssimo atentado à liberdade de imprensa, que não deve prosperar’, diz Dotti. Segundo o jurista, o juiz tem o dever de manter o equilíbrio entre as partes. ‘Não é possível que o processo sirva para o triunfo de uma parte em opressão da outra como ocorre nesse caso.’


No total, há 56 ações de fiéis da Iurd contra a repórter Elvira Lobato e a Folha. Cinco delas já foram extintas. Houve dois casos em que, além de extinguir o processo, os juízes ainda condenaram os fiéis por usar o Poder Judiciário de forma indevida (litigância de má-fé). Eles terão de pagar custas e despesas processuais, além de multa. Cabe recurso.


Das seis audiências marcadas para ontem dos processos em nome de fiéis da Universal contra a Folha e a jornalista, três foram remarcadas: em Santa Luzia (PB), Irecê (BA) e São Benedito (CE). As três audiências que ocorreram não tiveram decisão final. Elas foram realizadas em Lago da Pedra (MA), Carapebus (RJ) e Cruzeiro do Sul (AC).


A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) anunciou que pedirá ao Itamaraty uma posição em órgãos internacionais contra censuras prévias e intimidações à imprensa.


Em movimento paralelo, a Article 19 -ONG que defende a liberdade de imprensa com escritórios em vários países-, vai levar o caso à Corte Interamericana dos Direitos Humanos, junto com a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e o Centro pela Justiça e Direito Internacional. A comissão, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), pode recomendar ao Brasil mudanças na legislação caso considere que há ameaça à liberdade de expressão.


A coordenadora da Article 19 no Brasil, Paula Martins, diz que ‘há uma clara tentativa de intimidação’. Em nota divulgada ontem, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) afirma ser evidente que há ‘um cérebro no comando a centralizar a instauração dessas ações judiciais’ e ‘a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa e do contraditório’.


Ato de coragem


A cientista política Maria Tereza Sadek, que pesquisa o Judiciário, diz que os juízes têm que ter ‘um ato de coragem para condenar os autores por litigância de má-fé’. Para ela, o Judiciário ‘tem que cortar pela raiz, [os processos] não poderiam proliferar dessa maneira’.


Taís Gasparian, advogada da Folha, afirma que ‘impressiona o fato de que as petições dessa demanda sejam praticamente idênticas e que muitas delas tenham sido distribuídas em cidades nas quais a Folha de S. Paulo nem mesmo circula’.


Para o juiz Jayme Martins de Oliveira Neto, da 13ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, o juizado especial foi montado para ajudar o cidadão comum no acesso à Justiça. ‘Quando se verifica que o sistema passa a ser utilizado de maneira que foge a esses padrões, ou por ma-fé ou porque os argumentos são repetitivos, idênticos em pontos distantes do país, o sistema passa a ser desvirtuado com evidente prejuízo para a defesa’, diz Neto, que atuou durante anos em juizados especiais.


Em editorial publicado ontem sob o título ‘Empresário quer intimidar a imprensa’, o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ afirma que, ‘felizmente, os magistrados encarregados de julgar esses processos já perceberam a má-fé dos reclamantes’.


Sob o título ‘Conspiração’, editorial de ‘O Globo’ na última sexta-feira diz que o caso ‘representa, na verdade, uma ação arquitetada, usando métodos espúrios, contra a liberdade de expressão e de imprensa’.


O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, ministro interino da Justiça no governo Sarney, diz que há ‘um movimento conduzido pela própria igreja, um instrumento de pressão para desestimular outros meios de comunicação’ [a tratar dos negócios da Igreja Universal].


A Folha procurou o departamento jurídico da Record e os advogados da Universal, mas eles não se pronunciaram até o fechamento desta edição.’


 


ABI vê armação em ações e dano à democracia


‘Leia a íntegra da nota divulgada ontem pela ABI e assinada pelo presidente da entidade, Mauricio Azêdo.


‘Como a mais antiga associação de imprensa do país e devotada desde a sua fundação, em 7 de abril de 1908, à defesa da liberdade de informação e de expressão, a Associação Brasileira de Imprensa acompanha com extremada preocupação o conjunto de ações judiciais ajuizadas contra os jornais Folha de S.Paulo e ‘A Tarde’, de Salvador, e contra a jornalista Elvira Lobato, repórter da Folha, por pastores e fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que desencadearam contra esses órgãos e contra essa jornalista uma campanha de intimidação e coerção sem precedentes na história da comunicação no Brasil.


Ao longo de sua existência, o país conheceu a fúria repressiva do poder do Estado contra a liberdade de imprensa, como se deu sob o Estado Novo e sob a ditadura militar que nos infelicitou entre 1964 e 1985, mas jamais assistira a uma investida partida da própria sociedade civil contra a liberdade de informação com a abrangência e o conteúdo desta que se materializa nas ações judiciais armadas contra esses jornais e contra essa jornalista. Através desse procedimento, buscam os autores de tais ações obter a cobertura do Poder Judiciário para cercear e condicionar o exercício do direito de informação.


Numa evidência de que há um cérebro e um comando a centralizar a instauração dessas ações judiciais, seus autores estão espalhados por quase 20 Estados da Federação, no caso da Folha de S. Paulo, e ajuizaram esses feitos em municípios longínquos, numa clara demonstração de que a ação assim coordenada tem por objetivo dificultar a defesa da parte adversa. Há a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa e do contraditório assegurado pela Constituição, em face da disposição da lei processual de que o alegado na inicial será tido como procedente se não houver contestação, ainda que se ressalve, nesta hipótese, a formulação de convicção própria pelo juiz.


A existência de um comando na ação liberticida fica patente também em outros aspectos desse conjunto de ações, que repetem a mesma redação em quase todas as petições, à exceção de umas poucas, fazendo a mesma descrição, exibindo os mesmos argumentos e formulando as mesmas postulações, entre as quais a concessão do benefício da justiça gratuita, para livrar os autores dos ônus materiais de sua iniciativa. Salvo um ou outro caso, em que se reclama o pagamento de indenizações por danos morais que variam de R$ 10.000,00 a 12.000,00, os demandantes fixam o valor do pleiteado em R$ 1.000,00, para diminuir o montante de seu desembolso na hipótese de negação do pedido de beneficio da justiça gratuita pelo juiz da causa.


Subscritas por pastores mobilizados pela Igreja Universal como um encargo de seu ofício religioso ou por fiéis convocados para tal missão, essas ações constituem em seu conjunto intolerável agressão à ordem democrática, pelo empenho em substituir o exercício de direitos consagrados pela legislação, especialmente o direito de resposta, por alternativa que, embora aparentemente abrigada pelas leis do país, subtrai o direito de ampla defesa estabelecido pela Constituição. É grave e preocupante que tal se faça sob o pálio de uma confissão religiosa, que se porá acima do olhar dissonante dos que não a professam e da visão crítica com que estes a encarem.


A ABI dirige-se aos magistrados responsáveis pelo julgamento dessas ações para alertá-los acerca dos danos que o deferimento do pleiteado pode causar à democracia no país, objeto de um processo de construção ainda não encerrado e que deixou ao longo da recente história do Brasil não poucas vítimas e não poucos mártires.


Apela também a ABI aos cidadãos comuns e às instituições representativas dos diferentes segmentos da sociedade para que manifestem a esses magistrados a sua preocupação com a decisão que deverão tomar em cada causa, que não afeta apenas a Folha de S.Paulo, ‘A Tarde’ e a jornalista Elvira Lobato, mas principalmente a integridade da democracia no país. Com esse fim, a ABI divulgará proximamente em seu site (www.abi.org.br) os nomes desses juízes e os endereços desses juizados, para viabilizar a manifestação dos cidadãos ofendidos por essa ação antidemocrática.


Por fim apela a ABI à Anistia Internacional para que desencadeie um movimento mundial de solidariedade com os jornais e a jornalista ora ameaçados.’’


 


Juizado especial não pode servir como sistema de coerção, afirma advogado


‘Autor do projeto de lei que deu origem aos Juizados de Pequenas Causas, embrião dos Juizados Especiais atuais, o advogado João Geraldo Piquet Carneiro afirmou que as 56 ações de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra a Folha configuram ‘uma típica situação de uso abusivo dos recursos do Judiciário’. Ele foi presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República de 1999 a 2004 e hoje é presidente do Instituto Hélio Beltrão e sócio do escritório de advocacia Veirano & Piquet Carneiro.


FOLHA – Qual a sua opinião a respeito das 56 ações de fiéis da Igreja Universal contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato?


JOÃO GERALDO PIQUET CARNEIRO – A situação é típica do uso abusivo de recursos judiciais. Nunca tinha visto o uso do Juizado Especial para uma finalidade obviamente estranha a ele. É para matérias cíveis de pequena monta, mas não para se tornar sistema de coerção sobre a imprensa, numa ação obviamente articulada. Ninguém propõe 56 ações espalhadas pelos mais distante locais de boa-fé.


FOLHA – As ações são muito parecidas em seu texto.


PIQUET CARNEIRO – É muito difícil deixar de plagiar. Isso às vezes acontece em ações populares em que aparece um laranja da empresa funcionando como autor da ação. Esse caso é lamentável. Não sei se os juízes poderão fazer alguma coisa para impedir isso.


FOLHA – A Folha pediu para reunir todas as ações no mesmo foro, onde foi a primeira ação.


PIQUET CARNEIRO – Talvez a saída seja política, dirigir-se ao Conselho Nacional de Justiça, [dizendo que] está havendo abuso do sistema do juizado…


FOLHA – O sr. acha que há abuso?


PIQUET CARNEIRO – Claramente. Abuso na forma. Você vai se defender porque se sentiu pessoalmente ofendido. É evidente um abuso da forma, do recurso judiciário que tem uma grande nobreza, que é servir ao pobre e não servir como escudo para atacar o jornal porque os autores ou dono não tem coragem de entrar com a ação. Do ponto de vista jurídico, há duas observações: o direito de recorrer ao Judiciário é absoluto, garantido pela Constituição, e o direito à liberdade de imprensa também é um direito constitucional. Um caso como este, mesmo começando no Juizado Especial, pode acabar no STF, por conciliação de normas constitucionais. A Folha está sujeita a ter 5.000 ações. Não consigo pensar em como impedir que isso aconteça.


FOLHA – Os fiéis dizem que passaram a ser alvo de escárnio a partir das acusações contra a igreja.


PIQUET CARNEIRO – [A ofensa] pode ser à igreja, aos diretores, ao bispo chefe, mas onde está a legitimidade ativa dos fiéis? Dentro dessa teoria, se amanhã o jornal criticar a conduta moral do papa, todos os católicos vão fazer o mesmo. Isso não gera o direito. Precisa ser pessoal.’


 


Laura Mattos


Record exibe reportagem de 14 minutos


‘A Record, do bispo Edir Macedo, exibiu anteontem, no ‘Domingo Espetacular’, reportagem sobre as ações movidas por fiéis da Igreja Universal contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato. As ações contestam textos sobre os negócios da instituição, publicados pelo jornal em dezembro.


A reportagem foi uma das mais longas do programa (mais de 14 minutos de duração). Antes de entrar no ar, recebeu dos âncoras Paulo Henrique Amorim e Janine Borba oito chamadas. Só no terceiro bloco, no qual foi exibida, teve quatro chamadas. O texto falava em ‘evangélicos que descobrem na Justiça uma arma contra o preconceito religioso’.


A Record ouviu advogados de fiéis e pastores que processam a Folha e Lobato, além de um advogado favorável aos evangélicos.


Afirmou que o jornal tentou reunir em um único processo todas as ações ‘para facilitar a defesa’, mas que o pedido foi negado pela Justiça, o que ‘repercutiu na imprensa gaúcha e ganhou manchetes’. Mostrou página da edição da última sexta, do ‘Correio do Povo’, com título ‘Justiça impõe derrota à Folha de S.Paulo em ações de fiéis da Igreja Universal’, mas omitiu o fato de o ‘Correio do Povo’, de Porto Alegre, pertencer à própria Record, emissora da Universal. Também não informou que a Folha já obteve vitória em 5 das 56 ações.


Foram entrevistados fiéis que prometeram processar o diário ‘O Globo’ por reportagem a respeito da ação contra a Folha na qual a Universal foi chamada de ‘seita’. O ‘Domingo Espetacular’ teve audiência média de 14 pontos, contra 22 da Globo no horário (dados prévios do Ibope da Grande São Paulo). A reportagem foi reprisada ontem no ‘Hoje em Dia’ e no ‘Jornal da Record’.’


 


Juíza consegue indenização de jornalista de SC


‘Uma juíza do interior de Santa Catarina ganhou na Justiça uma indenização de R$ 14 mil de um radialista que criticou o que considerou um ato de ‘abuso de poder’ dela. Um recurso contra a decisão está sendo julgado.


Em 2006, a juíza Cinthia da Silva Bittencourt, de Rio do Sul (SC), pediu ajuda a bombeiros para limpar a piscina da casa dela, atingida por uma enchente. Como não foi atendida, ameaçou reclamar com a corporação.


O radialista Edison de Andrade, da Amanda FM e da Super Rádio Difusora, criticou a conduta da juíza, que avaliou como ‘tráfico de influência’. Ela considerou as críticas ‘mentirosas’ e pediu indenização. A juíza diz que não houve irregularidade em sua atitude e vem sendo perseguida pelo radialista. Edison de Andrade diz que não criticou mais a juíza e que sua liberdade de expressão foi cerceada: ‘O que eu fiz foi uma crítica’.’


 


CARTÕES DO GOVERNO
Eliane Cantanhêde


Erraram o alvo


‘BRASÍLIA – Um dado deveras interessante da pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem é sobre a reação dos entrevistados aos cartões corporativos do governo: dos 64,1% que sabem do que se trata, 83,1% desaprovam o seu uso.


Em outras palavras: se ministros, assessores e reitores de universidades federais se esbaldam com os cartões, punam-se… os cartões!


A discussão resvala para o viés do atraso. Se há tentativas de fraudes, clonagem, desvio, surge logo uma grita para voltar atrás na urna eletrônica, nos caixas automáticos, no cartão corporativo. O problema, porém, não está nos instrumentos, está em quem usa e em quem regula e fiscaliza os instrumentos.


Se a Matilde se deslumbra com o cargo, se o reitor da UnB é chique, se um ministro leva família, babá e cachorrinho para hotéis de luxo no fim de semana no Rio, tudo isso é culpa deles próprios e do governo, que deixa correr solto. O coitado do cartão corporativo não tem culpa nenhuma, ao contrário do que a maioria dos entrevistados acha.


Os cartões são fáceis de usar, desburocratizados, registram todos os gastos tintim por tintim -até na tapiocaria- e vieram para ficar.


Quem já arrancou os cabelos com prestações de conta em três moedas diferentes sabe como o cartão é muito mais eficiente e confortável para todos os lados. Desde que, claro, haja dignidade e bom uso. Aliás, é muito mais fácil desviar dinheiro para tapiocarias e afins com notas fajutas do que com cartão.


Em vez de prestigiar o cartão, o Portal da Transparência e a vigilância da imprensa, há os que querem justamente o contrário: destruir o cartão e voltar à bagunça das notas e diárias sem controle, esconder o Portal, acabar com a transparência e punir os jornalistas por divulgarem as falcatruas.


Sim ao cartão, não à farra com dinheiro público, seja ela com cartões, notas frias, notas quentes ou qualquer coisa do gênero.’


 


Carlos Heitor Cony


CPI natimorta


‘RIO DE JANEIRO – O que se pode esperar de uma comissão que vai apurar mais de 11 mil casos de uso indevido dos cartões corporativos? A mídia deitará e rolará em cima do novo escândalo. Está treinada em investigar as irregularidades do poder, cumpre o seu papel com entusiasmo, acreditando que colabora para a formação de um Estado ideal e de uma sociedade perfeita.


É evidente que os gastos corporativos revelam uma frouxidão moral e um abuso funcional de tantas autoridades em diversos escalões. Tivemos CPIs bem mais importantes, como a do mensalão, que só chegará a resultados em 2009 ou 2011, quando alguns dos crimes estarão prescritos. Isso sem falar na CPI que não houve para apurar a compra dos votos que deram o segundo mandato a FHC.


Como já acentuei em crônica anterior, se houver mesmo uma CPI para os cartões corporativos, ela será uma natimorta. Dependerá de documentos, pareceres e processos do próprio governo. De nada adiantará o recibo do botequim que vendeu uma empada de camarão ao segurança de um ministro e foi paga com o cartão corporativo. Para explicar a compra da empada, o ministério em causa citará um cipoal de decretos e portarias que dão condição legal ao mata-fome de seu servidor.


Um cronista de outros tempos diria que esse exemplo é ‘mofino’. Afinal, as despesas com os cartões não ficaram em botequins. Somam alguns milhares de reais, nem todas tiveram a nobre função de matar a fome de um segurança da nação.


Seis anos atrás, parei num posto de gasolina na estrada que vai de Paris a Lyon. Uma Mercedes suntuosa também se abastecia, estava a serviço da mulher de um ministro do nosso governo. Sabendo que eu era brasileiro, ela se ofereceu para pagar a minha despesa com o seu cartão corporativo.’


 


Marcos Nobre


Política de WO


‘O EPISÓDIO dos cartões foi uma das maiores arapucas em que a imprensa e os analistas políticos já se meteram nos últimos tempos. O primeiro a dar o alarme foi Marcelo Coelho na sua coluna ‘Macarthismo das miudezas’, seguido por Maria Cristina Fernandes no ‘Valor Econômico’: ‘Histeria descontrolada’.


A história dos cartões já tinha tomado ares de novo mensalão. As análises davam pontos para governo e oposição. Foi só aí que a ficha caiu: a cobertura era inteiramente desproporcional aos fatos. E a contabilidade de quem ganha ou perde não tinha nada a ver com o público interessado na apuração dos fatos, mas unicamente com o interesse dos partidos em disputa.


Ficou subitamente claro que há uma proposta tributária em discussão, que uma nova lei de licitações pode fazer uma diferença de bilhões de reais, que toda uma reforma no direito processual penal está em curso. E que a compra de tapioca com cartão deveria ter um espaço correspondente à sua real importância.


O que atrapalha o raciocínio claro nessas horas é a geléia geral política em que estamos. Não é que não haja governo e oposição: é que os dois lados não se comportam como os analistas esperam.


Depois da derrota da CPMF, o governo já nem mais finge que pretende tomar alguma decisão estratégica. Toca o dia-a-dia de maneira a atrapalhar o menos possível os negócios e as finanças. Quer levar o barco até 2010 sem sobressaltos.


A oposição acha que não tem com o que se preocupar: mesmo com quase três anos de mandato ainda pela frente, Lula não tem sucessor, e o governo está politicamente encurralado. Ou seja, a oposição já não precisa mais se preocupar em fazer oposição.


Toda a energia dos partidos de oposição está direcionada para o posicionamento de cada um no arranjo de forças de 2008 e 2010. As disputas são todas internas, voltadas para o embate entre Aécio e Serra no PSDB e suas conseqüências para o entorno político.


A oposição só se lembra de fazer oposição nas horas vagas e com o menor dispêndio de energia possível. Como nos momentos em que o governo ameaça ter mais recursos para investir. Ou quando vê alguma possibilidade de tirar casquinha.


O episódio dos cartões não passou de uma casquinha que a oposição acha que tirou do governo. Já o governo acha que deu um contragolpe de mestre na oposição. A tática atual, tanto do governo como da oposição, é ganhar o jogo sem entrar em campo. No caso dos cartões, os dois times declararam vitória por WO. Marcelo Coelho lembrou que o verdadeiro jogo está acontecendo nos vestiários.’


 


POLÍTICA
Eduardo Graeff


Irritando José Dirceu


‘NA FAMOSA reportagem sobre a nova carreira de consultor de empresas de José Dirceu, a revista ‘Piauí’ conta que ele ‘não guarda ressentimentos de Lula’ depois que saiu do governo e perdeu o mandato de deputado. Mas ‘também se lembrou de situações em que sentiu ‘pouca interlocução’ com o presidente. Uma delas foi quando chegou à imprensa a notícia de que a Telemar injetara R$ 5,2 milhões na Gamecorp -empresa de joguinhos de computador cujo dono é Fábio Luiz da Silva, filho de Lula. Ele recordou uma reportagem na qual Lulinha inventara frases suas e contava que estivera em reuniões das quais nunca participou…


‘Para o Lulinha, não importa a verdade’, prosseguiu […] ‘Ele quer melhorar a história, ele fabula’ […] Na ocasião, Dirceu disse ter procurado o presidente, que respondeu: ‘Você vai ficar enchendo meu saco por causa do Lulinha, Zé Dirceu?’.


Resumi esse trecho da reportagem num artigo que publiquei aqui em 24 de janeiro (‘Vão-se os sonhos, ficam os anéis’). Se Lula perdeu as estribeiras com Dirceu, conjeturei, mais irritado ficará ao ser questionado por beneficiar a empresa que beneficiou seu filho, se, como anunciam, mudar a lei para chancelar a compra da Brasil Telecom pela Telemar.


Passado mesmo ficou Dirceu com meu artigo. Numa réplica publicada aqui em 13 de fevereiro (‘Os sonhos estão mais vivos do que nunca’), chamou-me de mentiroso, por me valer de um relato desmentido por ele, e de hipócrita, por criticar seu envolvimento e o de Lula em negócios privados, esquecendo os crimes supostamente praticados pelo governo FHC.


Ante o rebuliço causado por suas declarações à ‘Piauí’, Dirceu fez desmentido curioso. Não deu o dito pelo não-dito, mas alegou erro de pessoa.


O Lulinha a que se referiu não seria o filho do presidente, mas o jornalista Luís Costa Pinto, que teria ‘publicado reportagem com declarações minhas, fabricadas, sem ter me ouvido’.


Não levei isso em conta por uma razão: a revista desmentiu o desmentido e reafirmou o teor da reportagem. ‘Os fatos publicados pela revista correspondem ao que foi relatado pelo ex-ministro à reportagem. No contexto em que foram mencionados, não poderia haver espaço para ambigüidades.’ De fato, não dá para entender a súbita aparição de Costa Pinto no meio de um depoimento sobre a relação de Dirceu com Lula.


No artigo na Folha, Dirceu repetiu o desmentido numa versão ligeiramente alterada -e mais capenga. ‘Erroneamente é associada ao filho do presidente da República […] crítica minha a um jornalista por conta do acompanhamento estapafúrdio que fazia sobre o governo em seu trabalho jornalístico.’


Acontece que Luís Costa Pinto não trabalha em jornais e revistas desde 2002. Abriu uma empresa de consultoria de comunicação, por meio da qual, aliás, prestou serviços ao então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, do PT, em 2003 e 2004. O que e onde ele teria escrito sobre o governo Lula para merecer a paulada que Dirceu diz que quis lhe dar nas páginas de ‘Piauí’? Estapafúrdia parece a história da troca de Lulinhas.


A bronca de Lula, a desconversa de Dirceu têm graça, mas pouco importam. Ruim para o Brasil é o retrocesso que eles estão trazendo às relações governo-empresas, com sua versão requentada dos ‘anéis burocráticos’ da ditadura. A política e a economia do lulo-petismo andam parelhas nessa marcha a ré. As duas desencavam do baú da história, para apresentá-las como grandes novidades, velhas práticas do Estado patrimonial luso-brasileiro e de seu capitalismo politicamente orientado. Primeiro escolhem-se a dedo os parceiros e compõem-se os interesses privados.


Depois o poder público (?) aplica sobre o negócio feito o selo da legalidade. Costumes puídos, sim. Mas cheios das lantejoulas ideológicas da ‘moral socialista’, da ‘soberania nacional’, da ‘libertação popular’. Ah, e tudo para desmontar a suposta herança maldita de FHC. Não pode haver cinismo maior do que invocar essa desculpa no setor de telecomunicações.


Graças às privatizações bem-feitas e à regulação bem concebida e implantada, o Brasil de Lula herdou serviços de telefonia em expansão acelerada, com competição saudável e tecnologicamente atualizados para apoiar a entrada na era da internet.


Preparem o bolso, porque Lula, Dirceu e companhia vêm aí para nos salvar dessa maldição. Sem perguntar aos usuários da telefonia e da internet se precisam ser salvos. Mas de ouvidos e coração muito abertos ao canto de sereia monopolista dos amigos empresários.


EDUARDO GRAEFF , 58, é cientista político. Foi secretário-geral da Presidência da República no governo FHC.’


 


TV PÚBLICA
Ranier Bragon e Maria Clara Cabral


MP da TV pública deve ser votada hoje com emenda julgada polêmica


‘Sem consenso, a medida provisória que criou a TV Brasil será colocada para votação hoje na Câmara com alteração considerada polêmica até pelo governo. Em seu parecer, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA) incluiu a exigência de que a TV privada que fechar contrato de exclusividade em torno de um evento esportivo, e resolver não transmiti-lo, fica obrigada a ceder a transmissão para a TV pública caso haja participação de ‘equipes, times, seleções e atletas brasileiros representando oficialmente o Brasil’.


A oposição quer retardar a votação ou derrubar a MP.


‘O setor entende essa medida como muito prejudicial. Entende que isso contraria qualquer contrato formal entre a emissora e a entidade esportiva e representa uma apropriação indébita’, disse o presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Daniel Pimentel Slaviero. A Central Globo de Comunicação disse ter a mesma posição.


‘É iniciativa polêmica, mas usual em outros países, como a Argentina’, disse Tereza Cruvinel, da direção da TV Brasil.


Pinheiro alega que cidadãos não podem ser privados de assistir a jogos de seu país. Ontem, deputados aliados participaram de ato com entidades favoráveis à TV Brasil.


Outra alteração feita por Pinheiro é a que prevê uma nova fonte de receita para a TV Brasil -10% da taxa de fiscalização de funcionamento paga pelas empresas de telecomunicação e radiodifusão, o que eqüivale a cerca de R$ 150 milhões ano ano, segundo Pinheiro-, além dos R$ 350 milhões já previstos no Orçamento para este ano.


O valor gerou insatisfação entre os oposicionistas. ‘Temos que fazer nosso papel, de mostrar para a sociedade que no mesmo momento em que faltam remédios nos hospitais, o governo gasta milhões para se promover’, disse o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).


O relator acrescentou ainda emenda que prevê mais dois integrantes ao Conselho Curador da TV, ambos indicados pelo Congresso.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Volta ao mundo


‘Apareceu domingo na Reuters, de Pequim, ‘Nippon Steel aceita 65% de aumento nos preços do ferro’, comprado da Vale. A fonte era um site chinês do setor.


A notícia ecoou por incontáveis posts de ‘Financial Times’ e ‘Wall Street Journal’. Outras metalúrgicas clientes da Vale, japonesas, alemãs etc., concordaram, em meio a títulos de ‘preocupação’ com a capacidade de suportarem o preço. Porém, fim do dia no ‘FT’ e ‘investidores têm alívio no fato de que não foi maior’, daí a alta nas ações da Nippon Steel. Aqui, na Reuters Brasil, ‘Bolsa fecha em alta impulsionada pela Vale’.


A Bovespa retornou aos níveis da entrada de 2008.


NA CHINA


Até a Vale fixar o preço com as metalúrgicas japonesas, ontem, metalúrgicas chinesas procuravam comprar outras mineradoras, como a Xstrata desejada pela Vale, diz o ‘FT’.


E ontem o privado ‘South China Morning Post’ deu os acordos, mas o estatal ‘Diário do Povo’ destacou que com a China não tem nada fechado.


NA AUSTRÁLIA


O site australiano ABC até destacou que o acordo da Vale também ‘poderia levar lucros maiores às mineradoras’ do país, BHP Billiton e Rio Tinto.


Mas logo as agências, como Thompson, diziam que desta vez as duas concorrentes da Vale não aceitariam o valor, ‘visto como determinante do preço global’ do minério.


HIPÓTESES


Na Folha Online, ‘Governo fala em ‘fragilidade’ no transporte de dados da Petrobras’. Já no portal Terra, ‘Hipótese de furto comum é a mais improvável’ (sic). De outro lado, na ‘Gazeta Mercantil’, ‘casas de funcionários teriam sido furtadas’ também, atrás de ‘informações’.


No exterior, AP e outras se concentraram na declaração de Lula, de que o furto teria relação com os novos poços.


REFINARIA 1


Destaque na página inicial dos argentinos ‘La Nación’ e ‘Clarín’, ontem, a ‘explosão’ na refinaria da Petrobras no país repercutiu por agências internacionais e por Terra, G1 e outros sites no Brasil -sem arriscar hipóteses, até a noite, sobre suas causas.


REFINARIA 2


Ontem também, com maior atenção nos EUA, uma outra explosão atingiu refinaria (acima) no Texas, também sem mortes. A empresa Alon USA ‘não sabe o que causou a explosão’, que fechou rodovia e levou até à suspensão das aulas de uma pequena cidade.


POLITICO.COM


Sites novos como o Politico, que seguem pautas diversas da cobertura eleitoral nos EUA, já ameaçam ditar o ritmo. Ontem, após surgir no YouTube um vídeo com o discurso de Barack Obama que repetia o discurso de um aliado seu sem citar o nome, o Politico.com foi entrevistar o diretor de mídia de Hillary Clinton, que logo apontou ‘plágio’. O próprio Obama precisou responder, horas depois, no site.


Fim do dia e chegou à home page do ‘New York Times’.


‘TWISTER’


Os ‘tornados’ de dois dias antes -em Tubarão, Santa Catarina-resultaram em inúmeras seqüências de imagens e retornaram ontem à escalada dos telejornais, inclusive ‘Jornal Nacional’’


 


PRÊMIO FOLHA
Folha de S. Paulo


Folha premia relato sobre trabalho ilegal em confecções de SP


‘O repórter-fotográfico Antônio Gaudério ganhou o Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2007 por revelar as condições degradantes em que vivem os bolivianos aliciados para trabalhar em confecções paulistas.


Levando um telefone celular com câmera fotográfica, Gaudério chegou à Bolívia em 16 de novembro passado e, fazendo-se passar por um dos milhares de migrantes ilegais que viajam ao Brasil para fugir da miséria, regressou a São Paulo para trabalhar 17 horas por dia costurando peças de roupa em troca de casa e comida. Conseguiu fugir em 8 de dezembro. A reportagem ‘O preço de um vestido’ foi publicada oito dias depois.


Na Folha desde 1989, Antônio Gaudério já conquistou os prêmios Ayrton Senna de Fotografia e Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Publicou ‘Viagem ao País do Futebol’, em co-autoria com Mário Magalhães, ombudsman do jornal.


Outros prêmios


Criado em 1993, o Prêmio Folha é entregue anualmente aos melhores trabalhos produzidos por profissionais da Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha, o ‘Agora’ e o site Folha Online. Há premiações bimestrais e uma seleção final, na qual são anunciados, além do Grande Prêmio, os vencedores de seis categorias. Em 2007 concorreram 437 trabalhos.


Vera Magalhães, do ‘Painel’, ganhou o prêmio na categoria Reportagem ao revelar, em agosto, os bastidores da decisão do Supremo Tribunal Federal de abrir ação penal contra os 40 denunciados pelo mensalão. Em um diálogo telefônico testemunhado pela jornalista, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, reclamou de interferência da imprensa no julgamento -’a imprensa acuou o Supremo’- e afirmou que a tendência do tribunal era ‘amaciar para o [José] Dirceu’.


Denise Chiarato (editora-adjunta de Cotidiano), Toni Pires (editor de Fotografia) e Fabio Marra (editor de Arte) venceram na categoria Edição com a série ‘Tragédia em Congonhas’, sobre o acidente com o avião da TAM, em julho.


Na categoria Serviço, os ganhadores foram os jornalistas Vinicius Konchinski e Fabiana Rewald, do jornal ‘Agora’, com o caderno especial ‘Guia do IR’, publicado em março.


O especial ‘Aquecimento global’, de fevereiro, rendeu ao editor de Ciência, Claudio Angelo, e aos infografistas Alexandre Argozino e Eduardo Asta o prêmio na categoria Arte.


Marlene Bergamo venceu na categoria Fotografia com a imagem da menina L. -que ficou detida numa cela com mais de 30 homens por 26 dias- amparada por sua mãe e por sua madrasta, em novembro.


Na categoria Especial, o prêmio ficou com o caderno Religião, produzido por uma equipe coordenada por Roberto Dias (editor-assistente de Brasil) e integrada por Márcio José (diagramador), Marcelo Pliger (infografista), Vanessa Alves e Mauricio Puls (redatores).


A Comissão Julgadora -Vaguinaldo Marinheiro (secretário de Redação da Folha), Mário Magalhães (ombudsman da Folha), Tereza Rangel (ombudsman do UOL), Soninha Francine (colunista da Folha) e Renato Mezan (articulista da Folha)- concedeu menções honrosas ao texto ‘Os segredos da caixa preta do Legacy’, de Eliane Cantanhêde, à edição ‘Resenhas inéditas de grandes obras fictícias’, de Marcos Flamínio Peres, e à foto ‘King Kong’, de Antônio Gaudério.’


 


Pauta surgiu após blitz contra o trabalho clandestino na cidade


‘A idéia de se infiltrar entre os imigrantes ilegais que trabalham em confecções paulista nas começou a surgir em 27 de setembro, quando Antônio Gaudério foi pautado para ilustrar uma reportagem de Dinheiro sobre uma blitz de procuradores que flagrou bolivianos em condições degradantes.


O editor de Fotografia, Toni Pires, liberou Gaudério de algumas tarefas para que ele pudesse preparar uma cobertura mais aprofundada. Ele passou a freqüentar a feira na praça Kantuta, no Pari, onde se reúnem os bolivianos da capital, para fazer contatos e recolher anúncios de trabalho, e começou a estudar corte e costura.


De posse dessas informações, Gaudério propôs à editoria o plano de refazer todo o percurso dos bolivianos para documentar a condição dos trabalhadores clandestinos que, com medo de serem deportados, aceitam trabalhar praticamente confinados, dormindo e se alimentando nas próprias oficinas. A Secretaria de Redação aprovou a idéia.


Diversos cuidados foram tomados. Gaudério não utilizou nomes ou documentos falsos. Para evitar prejuízos a terceiros, todos os nomes dos personagens foram alterados, nenhum endereço foi citado e as fotos escolhidas não permitem a identificação das pessoas.


Após a publicação da reportagem, uma força-tarefa de procuradores intensificou o combate à exploração do trabalho de estrangeiros. Na estimativa do Centro de Apoio ao Migrante, vivem no Estado de São Paulo 100 mil bolivianos irregulares e 60 mil em situação legal. Desde o acordo bilateral Brasil-Bolívia de 2005, 42 mil bolivianos já se regularizaram.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


TV Brasil terá R$ 60 mi para série e desenho


‘Nova TV pública federal, a TV Brasil terá em 2009 uma programação de R$ 60 milhões em seriados, telefilmes e desenhos animados nacionais. Com esse dinheiro, dá para produzir cerca de 300 capítulos de novela das oito da Globo, o equivalente a uma novela e meia.


Os recursos virão da Ancine (Agência Nacional do Cinema), pelo programa de fomento ‘Imagens do Brasil’, a ser lançado em breve. Segundo Leopoldo Nunes, diretor de programação da TV Brasil, os seriados terão de cinco a dez episódios. Todos os programas serão produções independentes e regionais, realizada em parcerias com as TVs públicas locais.


Inaugurada às pressas em dezembro, a rede pública federal ainda não tem sinal em importantes cidades, como São Paulo. Sua programação é uma mistura da grade das antigas TVE, do Rio, com TV Nacional, de Brasília. Nem a marca é definitiva.


De acordo com Nunes, só ao longo deste primeiro semestre a TV Brasil começará a ter ‘uma cara’. A mudança, prevista para março, não ocorrerá. ‘Nenhuma emissora pode marcar uma data e revolucionar toda a programação’, diz.


Em março, a TV terá programação voltada para a mulher. Programas de linha, como o ‘Sem Censura’, discutirão a situação da mulher. Serão exibidos filmes feitos por mulheres e com temática feminina, como ‘Amélia’ (Ana Carolina) e ‘Meninas’ (Sandra Werneck).


FORA DA SÉ 1 O quadro ‘Rádio Canabrava’, do ‘Show do Tom’, não será mais gravado na praça da Sé. A Subprefeitura da Sé negou autorização para gravações na praça a partir desta semana. Diz que recebeu inúmeras reclamações, principalmente de escritórios de advocacia da vizinhança, por causa do barulho.


FORA DA SÉ 2 O quadro será agora gravado no parque construído sobre a Casa de Detenção. Do ponto de vista cenográfico, não fará a menor diferença. Na Sé, o programa quase não mostrava a Catedral da Sé. Só raramente.


ELE VOLTOU É grande a expectativa no SBT. Silvio Santos já voltou das férias, mas só aparecerá na emissora amanhã, quando grava. Aguardam-se mudanças.


HOMENS DE PRETO 1 Marcelo Tas será o principal nome do ‘CQC’ (‘Custe o Que Custar’), a versão da Band para o argentino ‘Caiga Quien Caiga’, no ar a partir de março.


HOMENS DE PRETO 2 Tas irá comandar a bancada do ‘CQC’ ao lado de Rafinha Bastos (do Clube da Comédia) e Marco Luque (da peça ‘Terça Insana’). Também estão no elenco Danilo Gentili (Clube da Comédia), Rafael Cortez e Felipe Andreoli (repórter de esportes da Band). Falta ainda definir um sétimo componente.


FAIXA PRETA A Globo mandou cobrir de plástico preto placas de publicidade do estádio do Marília, que anteontem venceu o São Paulo, em jogo transmitido pela emissora. Só permitiu placas de seus patrocinadores. Ficou feio.’


 


Cristina Fibe


Programa tenta salvar casais em crise


‘A fórmula é idêntica à dos reality shows que prometem salvar as famílias da bagunça das crianças ou dos cachorros, mas a crise a ser resolvida, agora, é entre casais americanos.


A ‘doutora’ Robi Ludwig, uma loira arrumada para destoar das esposas largadas, tem o desafio de melhorar matrimônios em crise em ‘Uma Semana para Salvar Seu Casamento’, exibido no Brasil a partir de hoje, pelo canal pago Discovery Home & Health.


Com câmeras instaladas por toda a casa, os casais largam trabalho e filhos por sete dias para se dedicarem à resolução de seus problemas, enquanto a ‘babá’ entra e sai de seus lares.


No primeiro episódio, que vai ao ar hoje, às 22h, jovens de 30 e 29 anos, juntos há quatro e com uma filha, tentam recuperar a paixão sufocada pelos quilos que a mulher ganhou e pelo autoritarismo que ele revelou.


Enquanto escancaram a relação, os dois cumprem tarefas que vão de reencenar o primeiro encontro a interromper transeuntes para dizer o que gostam um no outro.


O programa ouve ainda a opinião de amigos do casal e mostra fotos antigas para provar o quanto mudaram -ou o quanto o fato de a aparência dela ser outra afetou o amor. Este primeiro episódio deixa a sensação de que, dali, a mulher irá em busca de um reality para emagrecer.


UMA SEMANA PARA SALVAR SEU CASAMENTO


Quando: estréia hoje, às 22h


Onde: no Discovery Home & Health’


 


FOTOGRAFIA
Eduardo Simões


Mostra revela cenas raras da história


‘Um raro conjunto de fotografias da primeira metade do século 20, feitas pela família Ferrez, estará exposto a partir do dia 25 de fevereiro em todo o segundo andar do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. São 396 fotos inéditas de Júlio, Luciano e Gilberto, respectivamente filhos e neto de Marc Ferrez, pioneiro da atividade no Brasil. Não há previsão de a mostra vir a São Paulo.


As quase 400 imagens de ‘Família Ferrez: Novas Revelações’ vêm de um universo de 4.000 negativos, descobertos no fim de 2005, quando uma equipe de pesquisadores estava começando um projeto de organização do acervo documental da família Ferrez. Segundo a curadora Julia Peregrino, o material estava acondicionado em sacos ou álbuns, sem identificação, e era apenas para ‘consumo doméstico’.


‘Propusemos higienizá-los, digitalizá-los e catalogá-los, terminando o processo com a exposição e a edição de um catálogo. Tudo será incorporado ao acervo da família, que foi doado em 2006 ao Arquivo Nacional’, diz Peregrino, que vem tocando a seleção e identificação do material desde meados do ano passado.


Blocos


Cento e setenta imagens estarão expostas nas paredes do CCBB. As demais, em álbuns para o público folhear.


Feitas entre 1912 e 1958, as fotos foram divididas e exibidas em blocos temáticos. O ‘Nossa Terra’ traz imagens feitas pelos Ferrez em viagens pelo Brasil. Em ‘Outras Terras’, aparecem as viagens para o exterior. No bloco ‘Comentário Social’, os curadores apresentam personagens da própria família Ferrez ou pessoas que trabalhavam para eles, uma seção particularmente interessante pelo registro do vestuário de época, da pele de raposa à camisa esfarrapada de um operário.


‘Nesse período em que eles atuam ainda não se tem muita gente circulando pelo Brasil, fotografando. Nem mesmo a imprensa. A revista ‘O Cruzeiro’ começou apenas em meados dos anos 40’, afirma Pedro Karp Vasquez, também curador da exposição. ‘Muitas delas foram feitas em 1922, no centenário da Independência do Brasil, que ainda era um país jovem. Os Ferrez eram amadores, mas fotografavam como profissionais, por conta de seu entusiasmo pessoal pelo país.’


Rio


Dentro do bloco dedicado ao Brasil estão cenas raras da história do Rio de Janeiro, onde vivia a família, como o desmonte do Morro do Castelo (entre 1921 e 1922), uma ressaca no mar no bairro da Glória (1921), antes de o parque do Flamengo existir, e a abertura do largo da Carioca (também feita entre 1921 e 1922). Já São Paulo aparece em uma fotografia de 1931, do hotel Esplanada, no vale do Anhangabaú.


A mostra terá ainda uma sala com diários de viagens da família, correspondência e álbuns originais. Para Vasquez, a exposição faz um resumo do aperfeiçoamento das técnicas de fotografia em parte do século 20. Os Ferrez começaram com máquinas que exigiam a troca de chassi a cada registro, passaram para os negativos de seis por nove centímetros, até chegarem ao formato de 35 mm.


O curador também destaca as fotos tiradas nas viagens ao exterior. ‘Quando eles fazem registros em Londres, Paris ou Florença, são imagens raras também porque havia poucos brasileiros fotografando lá. Se viajar era reservado aos poucos, fotografar era aos pouquíssimos’, diz Vasquez.’


 


CINEMA
Cirilo Junior


Crítica foi ‘estúpida’, diz Padilha


‘O diretor de ‘Tropa de Elite’, José Padilha, rebateu ontem a avaliação do filme feita pela revista americana especializada ‘Variety’. Para ele, a crítica, que classificou o filme como fascista, foi ‘particularmente estúpida’. ‘Qualquer um que diga que ‘Tropa’ promove o fascismo não sabe do que se trata o fascismo’, afirmou no Rio, em entrevista coletiva.


‘Em momento nenhum, na Alemanha, tive a sensação de que o filme ia mal de crítica. A Der Spiegel [revista alemã] colocou o filme como um dos favoritos para ganhar o Urso.’


O diretor descartou, por enquanto, campanha para que ‘Tropa de Elite’ seja indicado ao Oscar de 2009 em diversas categorias, como ocorreu com ‘Cidade de Deus’ em 2004.


‘É muito difícil fazer isso, estaríamos concorrendo com filmes americanos. A gente tem que entender o tamanho do que ‘Cidade de Deus’ fez. É quase impossível fazer o que o Fernando [Meirelles, diretor de ‘Cidade de Deus’] conseguiu.’


Para Padilha, ‘Cidade de Deus é o filme mais importante da retomada do cinema nacional’, e, sem ele, ‘Tropa de Elite’ não existiria.


Em função da conquista do Urso de Ouro como melhor filme do Festival de Berlim, ‘Tropa de Elite’ reestreará em 50 salas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília nesta sexta.


Ainda ontem, um dos blogs do jornal britânico ‘The Guardian’ publicou o artigo ‘Fascismo no Cinema’, com severas críticas ao filme. ‘Os brasileiros deviam ter vergonha do sucesso de ‘Tropa de Elite’, um filme que desumaniza as vítimas da polícia’, disse o especialista em direitos humanos Conor Foley, que mora e trabalha no Brasil e é autor do livro ‘Combating Torture: a Manual for Judges and Prosecutors’ (combatendo a tortura: um manual para juízes e promotores).’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Moacir Assunção


ABI vê campanha de intimidação em ações da Universal


‘A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) classificou como ‘uma campanha de intimidação e coerção sem precedentes na história da comunicação no Brasil’ as ações judiciais contra jornalistas e a direção de três jornais, Folha de S. Paulo, Extra e A Tarde de Salvador, por fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus. As ações questionam reportagens dos veículos que tratam do patrimônio de Edir Macedo, líder da igreja, e agressões a imagens de santos católicos por membros da Universal.


O presidente da ABI, Maurício Azêdo, afirmou que o fato de as ações terem sido ajuizadas em localidades distantes – onde, em alguns casos, só é possível chegar de barco – demonstra a intenção dos autores: ‘Há a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa e do contraditório assegurado pela Constituição’, argumentou Azêdo.


Da mesma forma, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) se manifestou contra a conduta da Universal. ‘É uma intimidação ao livre exercício do jornalismo e uma tentativa espúria de usar o Poder Judiciário contra a imprensa e privar o cidadão de ser informado’, afirmou, em nota, a entidade.


O diretor de Redação da Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho, disse que o jornal respeita todas as religiões, mas isso não está em questão. ‘O que estamos discutindo é o direito de o jornal realizar seu trabalho jornalístico sem sofrer cerceamento por parte de quem quer que seja. A ação orquestrada configura litigância de má-fé.’


A assessora jurídica de A Tarde, Ana Paula Cardoso de Morais, demonstrou preocupação com as ações. ‘Se a moda pegar, estará extinta a liberdade de imprensa no Brasil’, criticou. A empresa responde a 35 ações propostas por pastores da Universal e fiéis que pedem indenizações de R$ 1 mil a R$ 15 mil por supostos danos morais causados por uma reportagem assinada pelo repórter Valmar Hupsel Filho sobre o vandalismo contra uma imagem de São Benedito por um fiel da igreja.


As ações, que alegam ‘discriminação religiosa’, foram ajuizadas em cidades como Uruguaiana (RS) e Araguatins (TO). A linha de defesa do jornal tem se baseado na ‘falta de legitimidade de fiéis para propor ações, já que a Universal tem personalidade jurídica e seus autores não foram citados nas reportagens’.


A empresa Folha da Manhã, que edita a Folha de S. Paulo, foi alvo, de acordo com a advogada Taís Gasparian, de 50 ações – quatro já extintas – por causa de reportagem de Elvira Lobato, que mostra o aumento do patrimônio da Universal. A igreja e Edir Macedo controlam, segundo a reportagem, 23 emissoras de TV e 40 emissoras de rádio, além de 19 outras empresas.


No caso do carioca Extra, os processos são contra a empresa e seu diretor de redação, Bruno Thys. Cinco pastores alegam, no pedido inicial, estar ‘correndo o risco de sofrer agressões diárias e discriminações’. Thys contesta as alegações. ‘Cumprimos o nosso dever de informar e confiamos na Justiça. De fato, causa estranheza a semelhança nos textos das ações e a coincidência das datas.’


A leitura das ações sugere que os vários processos tiveram matriz única. Os pedidos de indenização contêm parágrafos idênticos, como se tivessem sido preparados pela mesma pessoa – o que indica uma ação orquestrada.


ILEGÍTIMAS


Em sentença na cidade de Xapuri (AC) em ação contra a Folha de S. Paulo, a juíza Zenair Ferreira Bueno anotou em sua decisão contrária ao autor, Maurício Muxió dos Santos, que ‘é impossível acreditar que 30 fiéis, nos mais distantes rincões do País, tenham sido abordados com os mesmos dizeres citados na ação’. Outros 29 fizeram a mesma petição. O autor alegou que estava sendo ofendido na rua por causa da reportagem.


‘O Poder Judiciário não pode admitir que seja usado por quem quer que seja que pretenda atingir objetivo ilegal’, advertiu a juíza, em sua sentença. Procurado por meio da assessoria de imprensa da Rede Record, o advogado de Edir Macedo, Artur Lavigne, não se manifestou sobre o caso.’


 


TV PÚBLICA
O Estado de S. Paulo


Artistas fazem lobby na Câmara


‘Um grupo de artistas e jornalistas foi ontem à Câmara pedir aprovação da medida provisória que cria a TV Pública. A MP é o primeiro item que tranca a pauta do plenário da Casa. Entre os defensores da nova emissora estava o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. ‘TV Pública é comum, é de todo mundo e não é de ninguém’, argumentou. Os governistas reconhecem as dificuldades de votar a MP e tentam mobilizar os deputados.


Também estiveram na Câmara o ator Sérgio Mamberti e os diretores de cinema Luiz Carlos Barreto e Tizuka Yamazaki.’


 


FOTOGRAFIA
Roberta Pennafort


Marc Ferrez na frente da câmera em 396 fotos


‘Mais célebre membro da família franco-brasileira Ferrez, Marc Ferrez (1843-1923), nosso principal fotógrafo do século 19, aparece na condição de retratado, e não de retratista, na exposição Família Ferrez: Novas Revelações. Os autores das 396 imagens que tomarão o segundo andar do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, a partir do dia 25 – todas da primeira metade do século 20 -, são seus filhos, Júlio e Luciano, e seu neto Gilberto, ‘herdeiros não só do sobrenome, mas da técnica’ e da paixão pelo Brasil que norteavam a vida do patriarca, aponta o curador Pedro Karp Vasquez.


A mostra desperta interesse não só pela ‘grife’ Ferrez, mas também pela qualidade das fotos, que retratam principalmente o Rio (a violenta ressaca de 1921, a grande exposição de 1922, pelo centenário da Independência, a remodelação do centro), mas também São Paulo, Minas, Mato Grosso, Goiás e Pernambuco. Entre os países estrangeiros figuram França, Suíça e Inglaterra, além de nações africanas.


As imagens são parte de um arquivo de oito mil negativos, de Gilberto Ferrez, sobre o qual Vasquez e Júlia Peregrino, também curadora, se debruçaram no ano passado, durante três meses. Nunca haviam sido exibidas. Para a exposição, elas foram tratadas digitalmente, para a retirada de manchas provocadas pelo tempo. ‘A qualidade impressiona; é a mesma que temos hoje, então são como se fossem cópias novas. O público vai se surpreender’, acredita Julia.


O embrião do projeto surgiu em 2006. Foi quando Júlia e Helena Ferrez, filha de Gilberto, conseguiram patrocínio da Petrobrás para a organização do acervo dele – tido como a mais importante coleção privada de fotografia brasileira do século 19 do País (Gilberto foi nosso primeiro historiador a se dedicar ao gênero). A estatal também banca a exposição. Além das fotos, ele guardava correspondências, diários de viagem e documentos da firma da família, que integrarão a exposição. Tudo foi doado ao Arquivo Nacional há quatro meses.


Marc Ferrez aparece como personagem das fotos dos filhos e do neto. Esses retratos fazem parte da seção batizada Comentário Social. Outra, Nossa Terra, mostra, etapa por etapa, as mudanças vividas pelo Rio no século 20. As fotos ficarão não só nas paredes, mas ainda em álbuns colocados sobre mesas.


Para Pedro Karp Vasquez, será uma oportunidade para o público descobrir novas facetas dos Ferrez – Júlio (1881- 1946) e Luciano (1884-1955) são reconhecidos por seu pioneirismo na difusão do cinema, através do cinema Pathé; historiador, Gilberto, que morreu em 2000, aos 92 anos, foi um grande defensor da preservação do patrimônio histórico brasileiro, tendo colaborado para a criação do Iphan, na década de 30.


Assim como Marc Ferrez, os três nasceram no Rio (as origens francesas vêm de Zépherin Ferrez, pai de Marc, escultor que veio à cidade como membro da Missão Artística Francesa, no início do século 19, e acabou ficando). ‘É uma produção desconhecida que vem à tona. As imagens são o resultado plástico do profundo amor dos Ferrez pelo País’, diz Vasquez.’


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Séries dão ibope


‘A tática de exibir séries americanas no fim da noite e na madrugada tem dado certo para Globo e Record. A 6ª temporada de 24 Horas, no ar por volta da 1 hora, vai bem de ibope e marcou, até a semana passada, média de 8 pontos, com 36% de share (participação da audiência no total de televisores ligados). O número corresponde ao dobro de audiência e de share da emissora que atingiu a segunda colocação no horário.


Já na Record, as séries vão ao ar à meia-noite. A atração que mais rende público é CSI. No dia 8 de fevereiro, sexta-feira, a atração atingiu 10 pontos de média, ótimo índice para o horário. Outra série que vai bem é House, exibida às quintas e que atinge média de 7 pontos de audiência.


A Record mudou o dia de exibição de Heroes para ver se alavanca o ibope. A série, que marcou 4 pontos de média no domingo, dia 10, vai para segunda-feira, no lugar de The Black Donnellys, que costumava dar 6 pontos. Já a troca de CSI: Miami por The Office não deu certo. Na terça, dia 12, a série marcou 4 pontos de média – metade do ibope de sua antecessora. O 1º ano vai terminar na próxima semana e a Record não tem o nome da série substituta.’


 


LITERATURA
Ubiratan Brasil


A última vez de Marilyn no divã


‘Na madrugada de 4 para 5 de agosto de 1962, o telefone soou na casa do psicanalista Ralph Greenson, em Los Angeles. Um fato até corriqueiro, uma vez que ele era o médico das estrelas, tratando de artistas como Peter Lorre, Vivien Leigh, Tony Curtis, Frank Sinatra, Vincente Minnelli e Marilyn Monroe, que era o assunto da ligação daquela noite. Greenson recebeu um pedido alarmante de uma empregada da casa de Marilyn, preocupada por ela não atender a seu chamado.


Vedete do inconsciente freudiano ‘made in Hollywood’, Greenson, um homem magro, elegante, que falava sempre com gravidade e sabedoria, fora uma das últimas pessoas a ver a atriz viva e, ao chegar à sua mansão, quebrar um vidro e entrar pela janela, foi o primeiro a encontrá-la morta. Em poucos dias, a fama de Greenson foi por água abaixo – de psicanalista das estrelas, foi considerado indiretamente culpado pela morte de Marilyn, seja ministrando remédios fortes demais, seja levando-a a um estado de espírito propício para a morte.


A complicada relação entre médico e paciente envolvendo nomes glamourosos do cinema fascinou o psicanalista e crítico literário francês Michel Schneider que, depois de muitas pesquisas, escreveu Marilyn – Últimas Sessões, que a editora Alfaguara lança neste início de semana (tradução de Vera Lúcia dos Reis, 432 páginas, R$ 54). ‘Trata-se de uma história ao mesmo tempo banal e excepcional’, comenta Schneider, que preencheu com ficção as lacunas ainda existentes na investigação da morte da atriz.


Schneider, assim como seus personagens principais, não acredita na hipótese única de suicídio. Em seu livro, ele mostra como Greenson, ao descobrir o corpo desfalecido da atriz, chama primeiro o médico Hyman Engelberg, que também tratava de Marilyn, receitando-lhe, muitas vezes, calmantes. A polícia só é avisada pouco antes do amanhecer, quando Engelberg telefona para o delegado de plantão da chefatura de Purdue Street, comunicando que Marilyn Monroe havia se suicidado. ‘Os médicos não acreditavam, de fato, nessa versão mas sabiam que a casa da atriz estava recheada de microfones, daí a prudente decisão de anunciar o suicídio.’


Marilyn tivera um caso com John e Robert Kennedy, o que tornou sua existência arriscada.’


 


 


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