“Ressaca eleitoral” é como a mídia está designando o rescaldo do noticiário das eleições. Ressaca é um mal-estar curável, passageiro, de fácil prevenção – basta amenizar excessos e evitar repetições.
O que não estamos vendo na grande imprensa – nela incluídas a mídia eletrônica e digital – são as imersões nos problemas que afloraram nos debates, considerados pelos candidatos como urgentes, urgentíssimos, mas carentes de soluções ou projetos.
O ano ainda não acabou mas é possível classificá-lo como um ano perdido, absorvido pelo desastroso mundial de futebol e a violentíssima disputa eleitoral. Não se justifica, portanto, que as convocações ainda sejam desconhecidas e as empreitadas não tenham sido anunciadas. Provavelmente não foram equacionadas nem cogitadas.
Mais importantes do que apelos genéricos e retóricos de reconciliação seriam as discussões objetivas, concretas sobre as principais ênfases da agenda eleitoral.
Pressionado pelo calendário, ampulhetas, relógios e, sobretudo, por nossas angústias, este Observatório inicia nesta edição uma série denominada “Todos Juntos”.
Todos juntos pela educação é a nossa primeira bandeira. Virão outras. Nossa esperança é que no lugar de maratonas surjam as provas de revezamento, coletivas, e se formos capazes de suar as camisas as ressacas vão desaparecer. (Alberto Dines)
A mídia na semana
>> Com a eleição de Zuenir Ventura aumentou para nove o número de jornalistas egressos das redações para o cenáculo dos quarenta imortais. É o maior grupo profissional, cerca de 23%, do elenco da Academia Brasileira de Letras fundada por Machado de Assis – que, aliás, também exerceu o jornalismo. Além da nova aquisição de Zuenir Ventura, o time de jornalistas compõe-se de Ferreira Gullar, Antonio Torres, Merval Pereira, Ana Maria Machado, Carlos Heitor Cony, Murilo Melo Filho e Arnaldo Niskier. Se incluirmos Nelson Pereira dos Santos, que além de cineasta também foi jornalista, e Sábato Magaldi, cuja atividade de crítico teatral o colocou por muito tempo na redação do Diário Carioca, a bancada sobe para 11. Como toda estatística, esta suscita diversas perguntas. Uma delas: por que nossos jornais e revistas são tão mal escritos?
>> A revista Veja não se corrige: obrigada pelo TSE a divulgar uma correção pela internet na véspera do segundo turno, depois de conhecidos os resultados a edição seguinte tratou sumariamente do episódio como se o assunto não merecesse ser retomado e a sociedade não estivesse preocupada com o desempenho da imprensa. A nota do diretor da revista fala em “busca da verdade”, como se esta busca se resumisse a veicular qualquer informação sem qualquer prova. Em sua defesa, alega apenas que o advogado do doleiro que acusou a presidente Dilma em momento algum negou esse fato. Esqueceu que o advogado não poderia negar nem confirmar um depoimento protegido pelo sigilo. Na sua coluna de domingo (2/11), a ombdusman/ouvidora da Folha de S.Paulo, Vera Guimarães Martins, critica as manchetes sensacionalistas construídas com fiapos de informações. Também critica o seu jornal por checar a informação de Veja com duas fontes, como se isso foi suficiente para comprovar uma acusação de tamanha gravidade. O episódio protagonizado por Veja não pode aguardar a conclusão do processo sobre os escândalos na Petrobras. Está em jogo não apenas a credibilidade de Veja, mas de toda a imprensa brasileira.
>> Nas próximas semanas, bem antes do fim do ano, conheceremos o relatório final da Comissão Nacional da Verdade que investiga violações dos direitos humanos durante a ditadura militar. Enquanto não se conhece o seu teor, a boataria e o falatório andam soltos. No domingo (2/11), a Folha revelou que a maioria dos membros da comissão – cinco a um – defende a responsabilização criminal dos agentes da ditadura que torturaram e mataram presos políticos. Antes, na sexta-feira (31/10), o Valor Econômico publicou uma grande entrevista com o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, membro da mesma Comissão da Verdade, onde ele prevê que o relatório proporá a anulação da Lei de Anistia.