‘Chove. Chove no Brasil inteiro. Mas quando chove no final da tarde em São Paulo, o ‘Cidade Alerta’ (Record) dá um banho na concorrência.
O helicóptero da reportagem do programa enfrenta bravamente a tempestade oferecendo imagens privilegiadas dos principais pontos de alagamento.
Somos informados de que a chuva dessa vez foi democrática -atingiu o Morumbi e o Tatuapé. Vemos o São Paulo Futebol Clube inundado. Em vez de uma glamourosa piscina azul, uma imensa lagoa barrenta. As imagens do teto destruído da estação impressionam. A Radial Leste interditada por acidentes provocados por lâminas de aço voadoras dá as proporções do drama.
O ‘SPTV’ também conta com um helicóptero. O noticiário local da Globo é curto e eficiente. Vai direto ao ponto. Uma van sendo levada pela correnteza. Um ônibus ilhado. O ‘SPTV’ soa o alarme exibindo imagens selecionadas. Segue com clipes rápidos transmitidos durante os intervalos comerciais da programação.
Mas queremos mais. É como se o resto não importasse. Perto das agruras da mesma chuva -que cai aqui causando alhures-, as notícias frias e cafonas do ‘Jornal do SBT’, as reportagens esportivas na Cultura e as novelas do horário perdem o apelo.
Queremos ver imagens produzidas com afinco por Borracha, o cinegrafista do helicóptero da Record. Ele procura detalhes que ajudam a perceber o tamanho do desastre. O apresentador dirige do estúdio. Conversando com a repórter, que narra lá de cima, ele comanda as tomadas.
Não que muita coisa aconteça. Imagens ao vivo, de pontos específicos, se alternam com longas repetições. Há pouca ação. Mas a possibilidade, sempre iminente, de novas revelações, a sensação de que a TV nos transporta para lugares que não alcançaríamos a olho nu, ou o desejo de obter informações sobre regiões a evitar, justifica assistir ao programa.
Há dias em que ‘Cidade Alerta’ insiste em produzir o sangue que escorre nas ocorrências policiais. Quando chove, afinal presta um serviço básico: avisa que quem transita nas regiões atingidas pode ter perdido a sua casa.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
CIDADE ALERTA. Quando: seg. a sex., às 18h, na Record’
Nelson de Sá
‘‘Vídeos Incríveis’’, copyright Folha de S. Paulo, 5/02/04
‘Foi um dia de glória para os helicópteros da polícia -e das emissoras, pelo menos três delas. Em especial o helicóptero do Brasil Urgente de José Luiz Datena.
Foi como uma edição ao vivo de ‘Vídeos Incríveis’, programa de catástrofes da NBC reproduzido pela mesma Band, semanalmente.
Bebês de colo, vários, sendo resgatados em cestas por helicópteros.
Uma criança engatinhando num telhado, contida por bombeiro para não cair.
Jovens presos num ônibus cercado pela correnteza, com água quase no teto.
Grupos de salvamento cruzando ruas em jet-skis e barcos -um total de 32.
E a locução de Datena, elogiosa para os bombeiros, mas se esforçando na revolta com as imagens, aqui e ali:
– Atos de heroísmo… Merecem medalha… Uma verdadeira Veneza brasileira. Veneza da vergonha!
Globo e Record acabaram ficando para trás.
A primeira chegou ao ponto de cortar a cena de resgate de uma criança de cerca de quatro anos, segundos antes do resgate! Não podia atrapalhar a novela das sete.
A Record estragou o que tinha com a locução tresloucada no Cidade Alerta, que mais parece exorcismo de sexta-feira, da Igreja Universal.
(Mas o âncora Boris Casoy voltou, finalmente, ao Jornal da Record. Exigiu ‘coragem’ do Ministério Público no caso Celso Daniel. E narrou as enchentes com muita cobrança, mas sem exorcismo.)
Entre cenas de ruas, avenidas, bairros inteiros alagados como se não houvesse asfalto, vem o SPTV e anuncia a ameaça da Sabesp:
– A chuva forte não atingiu o sistema Cantareira e o governo do Estado pensa em implantar o rodízio de água para 9 milhões de moradores.
Nem parecia sério.
Enquanto se apresentavam horas de enchentes, Lula surgia nos telejornais entrando e saindo de aviões -e nenhuma gota de chuva.
Foi primeira manchete do Jornal Nacional:
– O presidente visita a região mais atingida no Nordeste. E diz que os desabrigados terão prioridade nos programas de casas populares.
Nas imagens, o presidente chegou a abraçar algumas criancinhas. Ministros e mais ministros de sua comitiva fizeram promessas no JN.
Essas coisas.’
TV SEM CERVEJA
Daniel Castro
‘Contra veto, TVs limitam cerveja no ar’, copyright Folha de S. Paulo, 4/02/04
‘Lideradas pela Globo e pelo Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), as emissoras de TV firmaram um pacto e estão limitando a exibição de propaganda de cerveja.
Comerciais vendidos avulsos só estão indo ao ar após as 21h na Globo e após as 19h nas demais. Durante o dia, só vão ao ar, apesar de serem muitas, propagandas vendidas em pacotes de patrocínio, como programas de verão, Carnaval, futebol e Fórmula 1.
Na Globo, que também não faz mais merchandising de bebidas em suas novelas, essas chamadas patrocinadas só têm sido apresentadas nos intervalos de programas considerados adultos. A falta de espaço para anunciar a bebida na Globo tem causado ‘congestionamentos’ após o ‘Jornal Nacional’. Há intervalos com até dois comerciais.
Não existe limitação legal nem do Conar de horário para propaganda de cerveja. Com essa ‘auto-regulamentação informal’, as TVs querem enfraquecer o lobby pela proibição de comerciais de bebidas antes de pelo menos das 21h, conforme proposta de comissão interministerial. As emissoras querem proteger uma verba de R$ 350 milhões por ano. O veto total à cerveja antes das 21h inviabilizaria o patrocínio de eventos e esportes. Para ‘fiscalizar’, o Conar contratou o serviço Controle da Concorrência. Diariamente, recebe boletins com os horários de todas as inserções de cerveja.
OUTRO CANAL
Verão 1
A Band foi a rede que mais cresceu no horário nobre em janeiro deste ano. No comparativo com janeiro de 2003, sua audiência aumentou 38%, de 2,5 para 3,4 pontos no Ibope. A Globo cresceu 18% (de 29,6 para 35 pontos). Rede TV! (-36%), Record (-22%) e SBT (-12%) despencaram. As TVs ligadas subiram 4%.
Verão 2
Band e Globo também aumentaram suas audiências em relação a dezembro, respectivamente 14% e 13%.
Parece
Os primeiros suspeitos de matar Lineu (Hugo Carvana) em ‘Celebridade’ serão o genro Fernando (Marcos Palmeira) e o neto Inácio (Bruno Gagliasso). Ambos discutirão com Lineu. Maria Clara (Malu Mader) desconfia de Fernando, que suspeita de Inácio.
Mas não é
No dia da morte, haverá uma festa no Espaço Fama, próximo do escritório de Lineu. O prédio dele estará aberto para uma exposição. Lineu ainda esquecerá a porta de seu elevador privativo aberta. E aparecerá com uma arma em sua mesa, ao saber que Ubaldo (Gracindo Jr.) está rondando a festa no Espaço Fama. Ele será encontrado morto a tiros, em seu escritório, por Maria Clara Diniz, que acaba de descobrir que é sua filha. No ar dia 17.
De volta
Patrícia Pillar será Emerenciana, mulher de Boanerges (Tony Ramos) em ‘Cabocla’.’
ELIANA vs. XUXA
Carlos Franco
‘Eliana supera Xuxa em licenciamento’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/02/04
‘Aos 6 anos, ela queria ganhar uma boneca grande da Estrela. O pai, zelador de prédio, e a mãe, empregada doméstica, não tinham o dinheiro para o brinquedo. A menina teve de esperar. Foram 12 anos até que em vez de ganhar a boneca, ela mesma virou a boneca dos sonhos. Um produto com 1,10 metro, que carrega o seu nome. A boneca Eliana é, há quase dez anos, um dos maiores sucessos de venda da Estrela, diz o diretor de Marketing da empresa, Aires José Leal Fernandes. Ele conta que outras bonecas, como Xuxa, Angélica e Adriane Galisteu não tiveram a mesma longevidade, nem o mesmo sucesso.
Mais: Eliana hoje bate todos os recordes do País quando o assunto é licenciamento. Fica à frente de Angélica e até da poderosa Xuxa, que pulveriza licenciamentos com outras marcas. Eliana também tem maior flexibilidade para o merchandising dos produtos no programa diário dela, exibido pela TV Record, em relação a Xuxa, da TV Globo. Ela pode mostrar e usar os 132 itens de 28 companhias e isso estimula novos contratos.
Só em licenciamento, sua empresa faturou R$ 43,8 milhões em 2003, que se somaram a R$ 21 milhões de TV, shows, publicidade, CDs, perfazendo quase R$ 65 milhões. Eliana insiste em que gosta de transparência em todos os negócios e diz que uma equipe imensa trabalha pelo sucesso do empreendimento Eliana.
Só que ela quer mais. Promete invadir as telas do cinema em janeiro de 2005, nadando com golfinhos e tubarões, numa produção que deve custar R$ 10 milhões e representará retorno de R$ 26 milhões. Também vai emprestar o nome para a Nutriara, de rações para cães e gatos, na expectativa de embolsar mais R$ 2 milhões.
Em seu escritório no bairro do Itaim, em São Paulo, a filha do zelador José Ercílio e da doméstica Eva, irmã de Helena, mostra ter pleno domínio dos seus negócios e da carreira. ‘Tudo que faço é com calma, mas tem solidez. O projeto de cinema levou tempo para amadurecer, agora temos os parceiros certos, a Moonshot (Casablanca) e o Roberto d’Avila.’ A pré-produção começa em março e as filmagens na Riviera Maya, no México, em maio.
Qual o segredo de Eliana? ‘Respeitar as crianças e os pais da crianças, só isso.’’