‘Transmissor brasileiro, caixa de conversão brasileira, software básico brasileiro. E tudo compatível com o resto do mundo. Assim começa a TV digital brasileira, cujo primeiro sinal está no ar desde o feriado de 15 de Novembro, em São Paulo. Bem melhor que o nome – Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) – são suas imagens de alta definição, com 1.080 linhas, transmitidas do Alto do Sumaré e recebidas na Cidade Universitária, da Universidade de São Paulo (USP), em televisores fabricados no Brasil, sendo um deles de 40 polegadas de tela plana, no Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica. O sinal digital é decodificado numa caixa de conversão desenvolvida pelos pesquisadores do LSI sob a coordenação do professor Marcelo Knörich Zuffo.
‘Essa é a primeira prova de que o Brasil pode ter um sistema próprio de TV digital, sem qualquer incompatibilidade, concebido para atender à sua realidade socioeconômica e cultural e criado mediante a associação de padrões abertos internacionais e padrões proprietários nacionais e internacionais’, comemora Zuffo.
O fato essencial é que a tecnologia utilizada no projeto funciona. Em TV digital não há meio termo: ou a imagem chega perfeita ou se transforma numa tela preta ou numa imagem congelada. É impressionante a qualidade obtida nas primeiras transmissões, graças ao padrão de modulação utilizado, que os especialistas chamam de Muliplexação por Divisão de Freqüência Ortogonal (OFDM. Com esse padrão de modulação, o sinal se torna muito mais intenso e estável, garantindo boa recepção em locais de difícil propagação e até com antenas internas de baixo custo.
Sem pretender reinventar a roda, a equipe de pesquisadores optou pelo padrão OFDM de modulação do sinal, o mesmo utilizado nos padrões japonês (ISDB) e europeu (DVB). O transmissor utilizado foi desenvolvido pela empresa brasileira STB, de Santa Rita do Sapucaí (MG), com apoio dos pesquisadores da Universidade Mackenzie, liderados pelo professor Gunnar Dedics.
Com financiamento da Finep, recursos do Fundo Nacional de Tecnologia de Telecomunicações (Funttel) e apoio do Ministério das Comunicações, o SBTVD congrega o esforço de mais de 90 pesquisadores, incluindo equipes da Universidade Federal de Santa Catarina, liderada pelo professor Valdecir Becker; do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), da Universidade da Paraíba e de entidades como FiTEC, CPqD e Instituto Genius.
PRIMEIRA FASE
Entre os pesquisadores, ninguém pensa que o desafio está vencido. Por maior que seja a vitória inicial, essa é apenas a primeira fase, a da integração de uma plataforma da TV digital brasileira. O circuito básico de transmissão só se completou no dia 14 de novembro, com o acoplamento da caixa de conversão brasileira. As etapas seguintes incluem os testes de middleware, a partir de amanhã. ‘A cada semana deveremos dar um passo adiante e anunciar novos avanços’, prevê Zuffo.
O SBTVD, segundo os pesquisadores, se propõe a ser totalmente compatível com os demais sistemas do resto do mundo, permitindo a adoção das tecnologias mais avançadas de produção, transmissão e recepção, tanto para imagens de alta qualidade como para as aplicações interativas. Para Marcelo Zuffo, ‘o SBTD segue a trajetória de evolução da televisão no Brasil, por incorporar em suas grandes linhas os padrões abertos e as tecnologias de domínio universal, como o próprio OFDM’.
Uma das peças básicas desse sistema é a caixa de conversão. Esse equipamento é, na realidade, um conversor digital-analógico que possibilita a recepção de sinais da TV digital pelos televisores de hoje, com imagens da melhor qualidade. Foi desenvolvido pela equipe do SBTVD da Escola Politécnica, com apoio da ST Microelectronics.
Graças a um controle remoto padronizado para a TV digital brasileira, essa caixa de conversão permitirá, ainda, um grande número de aplicações interativas, como pesquisas de opinião e audiência, votações eletrônicas e comércio eletrônico. A previsão é que o preço das caixas de conversão, quando produzidas em escala industrial, não supere os R$ 300.
Além da excelente imagem, a TV digital proporciona o salto qualitativo da interatividade. É com base nessa característica que o Brasil poderá criar projetos de inclusão digital e de governo eletrônico. Num só canal de freqüência de 6 Megahertz (MHz) podem ser transmitidos até quatro programas, em quatro níveis de definição: baixa, normal ou padrão, melhorada e alta ou high definition (HDTV).
A essência da contribuição brasileira ao projeto está no chamado middleware, software intermediário que funciona à semelhança de sistema operacional e conecta duas aplicações separadas, que torna possível a maioria das aplicações interativas. Há uma tendência mundial à padronização do middleware, liderada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), que tem recomendações específicas nessa área. O Brasil poderá utilizar muito dessas recomendações de middleware de TV digital.
Guido Lemos, líder das pesquisas no Mackenzie e representante do consórcio de desenvolvimento do middleware, diz que o projeto brasileiro levantou e estudou os pontos comuns aos diversos middlewares (europeu, japonês e americano) para, a partir daí, incluir a contribuição brasileira a esse segmento essencial da tecnologia de TV digital. Desse modo, o Brasil poderá não apenas manter as características do núcleo comum aos diversos middlewares, comoacrescentar as funcionalidades que a realidade brasileira assim o recomendar, sem depender de autorização dos detentores dos padrões internacionais. O padrão que atende a essas condições está em desenvolvimento final na UIT.’
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‘Maior risco ao projeto é a falta de apoio’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/11/05
‘Que virá pela frente? Não sabemos, mas esperemos que seja pela frente – dizem os humoristas. Para o leitor que acaba de ler a matéria acima, fica uma pergunta central: que significa esta primeira vitória dos pesquisadores brasileiros? Muita coisa, respondo. Em primeiro lugar, ela demonstra a competência nacional nesse setor. Em segundo, prova que é possível combinar padrões abertos e proprietários, associando-os de forma criativa e adequada no desenvolvimento de um sistema brasileiro de TV digital avançado, recorrendo-se a tecnologias de domínio universal, sem tentar reinventar a roda. Em terceiro, ela nos reforça a convicção de que a maior contribuição brasileira para a funcionalidade desse sistema é a criação de um middleware compatível com o resto do mundo e, ao mesmo tempo, voltado para as necessidades do País e para sua realidade econômica, social e cultural.
Numa longa conversa telefônica com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, na sexta-feira, transmiti-lhe, minha preocupação com os riscos à continuidade do trabalho dos quase 100 pesquisadores do SBTVD, especialmente a partir de 12 de dezembro, prazo final dos contratos de financiamento. Provocado, o ministro assumiu um compromisso público:
‘Pode escrever aí. Enquanto eu estiver ministro, irei fazer tudo pela continuação do trabalho desses pesquisadores, buscando os recursos do Funttel ou da Finep para a continuidade do trabalho de pesquisa e desenvolvimento do SBTVD’.
Vou cobrar esse compromisso. E lembro que o valor acumulado de tudo que foi destinado ao SBTVD até aqui não chega a R$ 90 milhões. Isso equivale ao que o Brasil paga de juros da dívida interna em algumas horas.
É claro que ainda há muita coisa a fazer. Além das etapas seguintes da tecnologia, é preciso definir o modelo de negócios e a política industrial. Os maiores obstáculos ao avanço do projeto, contudo, estão no terreno perigoso das intrigas palacianas e do jogo de interesses, políticos e econômicos.
Essa guerra de bastidores não leva em conta os interesses da sociedade brasileira. Ela une assessores despreparados, quando não corruptos, a lobbistas inescrupulosos, com o objetivo claro de torpedear o projeto brasileiro.
EU DUVIDAVA
Sei que, para a grande maioria dos leitores, existe sempre o temor de estarmos criando mais um frankenstein, do tipo PAL-M, o padrão de TV em cores analógica, exclusivo do Brasil e do Laos. Pagamos a conta pelo artificialismo do padrão. Por isso, confesso, sem constrangimento, que, antes de conhecer de perto o trabalho das universidades, eu tinha muita desconfiança na idéia de um ‘sistema brasileiro’.
Mas mudei de opinião, depois de estudar o problema, de ouvir especialistas independentes e de acompanhar pessoalmente os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento. Convenci-me de que esse é o melhor caminho.
E para nossa alegria, o projeto acaba de ganhar o apoio das emissoras de TV que, depois de muita discussão e negociação, passaram a apoiar o SBTVD, porque sempre defenderam a escolha do padrão de modulação OFDM, a criação de middleware brasileiro totalmente compatível com o mundo, baseado em padrões abertos internacionais como o MPEG 4, por exemplo.
Como mostramos na reportagem acima, a TV digital brasileira permitirá a transmissão de até 4 programas num único canal de freqüência, com 4 opções de definição: baixa (low definition), com 240 linhas, para PDAs e celulares; normal ou padrão (standard definition), com 480 linhas, para televisores analógicos comuns: melhorada (enhanced definition) , com 700 linhas, para DVDs; e alta definição (high definition), com 1080 linhas, para programas Premium. Com a aquisição de uma caixa de conversão por menos de R$ 300, ninguém será obrigado a trocar de aparelho para ter acesso à TV digital.
Quem se lembraria hoje das críticas surgidas em 1969 ante à simples idéia de criação de uma indústria aeronáutica, como a da Embraer? E, outra vez, nos anos 1970, das reações iniciais à criação do primeiro motor a álcool de nossos automóveis pelo Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA)?
Não há dúvida de que sempre existirão opositores honestos e bem intencionados ao modelo brasileiro. Outros serão contrários por desinformação. Outros, finalmente, tomarão posição agressiva em função de seus interesses particulares num mercado que poderá gerar negócios anuais de bilhões de dólares.
Qual é o papel do ministro e de sua pasta nesse projeto? Não há dúvida que o ministro Hélio Costa e sua Pasta têm dado razoável apoio ao SBTVD. Mesmo dele divergindo expressamente nesta coluna, quanto ao seu estilo, acho que ele, como radiodifusor, acabou aceitando a idéia de que podemos desenvolver um padrão brasileiro moderno e inteiramente compatível com o resto do mundo.
O maior risco ao projeto agora talvez seja a mobilização dos interesses contrariados, que se julgam atingidos pelo eventual sucesso de um sistema brasileiro de TV digital, por melhor que ele seja. Num futuro próximo, um colegiado de representantes terá a incumbência de avaliar e tomar as decisões sobre o futuro do SBTVD. Esperemos que seus integrantes sejam justos e equilibrados diante do projeto.’
TV PAGA
‘Viacom traz dois novos canais’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/11/05
‘Quando se fala em canal gay, imagina-se conteúdo erótico – como os dos canais G Channel e For Men. Porém, o canal Logo TV, que entrou no ar ontem pela Sky tem proposta diferente. É uma emissora gay, por enquanto comercializada em pay-per-view, mas que traz programas de variedade, séries e filmes com temática homossexual, porém sem cenas picantes.
A estrela da programação é o reality My Fabulous Gay Wedding, apresentado pelo comediante Scott Thompson (ex-Kids in the Hall), que precisa organizar uma festa de casamento para casais gays. ‘Pelo ineditismo do canal, não sabemos o formato ideal – pay-per-view, a la carte ou premium digital…’, explica o vice-presidente de Distribuição da MTV Networks Latin America e Viacom Networks Brasil, Álvaro Paes de Barros. Por enquanto, o pacote pay-per-view oferece seis horas de programação por três dias.
Outro canal que a Viacom traz para o País é o VH1, que entra no ar na segunda-feira só na operadora NeoTV. A emissora é uma alternativa para os órfãos da MTV – que cresceram com a MTV, mas não suportam mais os programas adolescentes e os clipes da Pitty. ‘É um canal de entretenimento com ícones da cultura pop para quem tem de 25 a 49 anos’, resume Paes de Barros. Além de clipes nacionais e internacionais, o VH1 trará programas com celebridades, documentários musicais e filmes que remetem à música. Paes de Barros garante que os programas com celebridades não têm a ver com os exibidos pelo canal E!. O VH1 tem acordo com a NeoTV e espera fechar com a Sky. O canal está em 22 países e figura entre os dez mais vistos da América Latina.
A idéia da Viacom para os dois canais é chegar a ter produções originais – no caso da Logo TV – e até nacionais como a Nickelodeon, emissora bem-sucedida no Brasil.’
TV CULTURA
‘Sem caixa, Cultura atrasa pagamentos’, copyright Folha de S. Paulo, 19/11/05
‘Apesar da veiculação recorde de comerciais e do anúncio de que o governador Geraldo Alckmin liberou R$ 5 milhões para compra de equipamentos, a TV Cultura está tendo dificuldades de fluxo de caixa e vem atrasando pagamentos a prestadores de serviços.
A emissora pagou com atraso R$ 165 mil que devia à Globo pelos direitos da Copa das Confederações (exibida em junho) e ainda deve R$ 852 mil à Federação Paulista de Futebol (FPF) pelos custos de realização da Copa Cultura de Juniores, competição que a emissora criou e encomendou à FPF.
As relações entre a Cultura e a FPF andaram tensas. No final de outubro, a federação chegou a ameaçar o cancelamento de uma rodada da Copa Cultura _que começou em abril e termina dia 4.
A Cultura se comprometeu em abril a pagar os R$ 852 mil em quatro parcelas _até agosto. Mas o contrato não foi assinado pelo presidente da emissora.
Um ofício assinado em 25 de outubro por Rogério Caboclo, vice-presidente da FPF, dava 48 horas para a Cultura assinar o contrato e pagar a dívida, sob pena de suspensão das transmissões e ação judicial. A ameaça funcionou. O contrato foi assinado e a dívida, renegociada.
A Cultura negou que tenha ficado inadimplente com a FPF. Afirma que desde abril já estava previsto que a Copa Cultura só seria paga a partir de novembro. A FPF, no entanto, desmente a versão.
OUTRO CANAL
Global Ex-Globo, Paloma Duarte assinou contrato de três anos com a Record. Será protagonista de ‘Cidadão Brasileiro’, novela que deve inaugurar a faixa das 21h da Record, em 2006, e que terá também Tuca Andrade, Gabriel Braga Nunes e Francisca Queiróz.
Maratona 1 O SBT fará cerca de 1.200 testes na semana que vem para escolher parte do elenco de sua próxima novela, que até ontem não estava definida qual seria _só estava certo que não será mais ‘Cristal’. Os testes ocorrerão na cidade cenográfica da emissora.
Maratona 2 Aspirantes a celebridades participarão dos testes, entre eles Carolina Magalhães (neta de ACM), Luciele Camargo (irmã de Zezé & Luciano), Daniela Duarte (filha de Débora Duarte) e Gustavo Bongiovanni (filho da apresentadora Olga). Já velhos conhecidos dos testes do SBT, Alessandra Iscatenna, Ricardo Macchi, Helen Roche e Thalita Cardoso tentarão novamente.
Improviso 1 A Globo quebrou nesta semana a meta de gravar todas as cenas externas de ‘Belíssima’ em São Paulo. Teve que usar um restaurante do Rio para uma seqüência com Glória Pires, Marcello Antony, Alexandre Borges e Camila Pitanga.
Improviso 2 Segundo a Globo, a cena só não foi realizada em São Paulo porque Glória Pires tinha que gravar, no mesmo dia, várias cenas em estúdio, no Rio.’