Duas fotos de Mazher Mahmood, repórter investigativo do News of the World conhecido como ‘falso xeque’, foram autorizadas a ser publicadas a partir da tarde de quinta-feira (6/4), depois de o jornal ter reconhecido a derrota na tentativa legal de impedir a distribuição das imagens do jornalista.
No dia anterior (5/4), a alta corte havia recusado o pedido feito pelo jornal por um mandado de segurança que proibia a divulgação de imagens de Mahmood até o julgamento, mas concedeu ao diário um período de 23 horas no qual as fotos não poderiam ser publicadas, a fim de que o NoW pudesse apelar da decisão. Na tarde desta quinta (6/4), no entanto, advogados da News International, que publica o jornal, decidiram não prosseguir com a apelação. O diário já havia apelado anteriormente a editores de jornais para não publicarem imagens do falso xeque.
A decisão do NoW de não apelar à alta corte deu passe livre ao deputado britânico George Galloway para divulgar as fotografias do jornalista – uma do passaporte de Mahmood e outra dele vestindo roupas árabes. O deputado alegou que decidiu expor o falso xeque depois que o repórter tentou induzi-lo a aceitar financiamento ilegal e a fazer comentários anti-semitas em um jantar no hotel Dorchester, no mês passado. Depois da liberação da publicação das fotos, Galloway disse que faria uma coletiva de imprensa no escritório do seu partido.
Argumentos inválidos
O advogado do jornal, Richard Spearman, alegou que a publicação das fotos impediria que o jornalista continuasse com suas reportagens investigativas e quebraria sua privacidade, o que seria ilegal segundo o Ato de Proteção de Dados. Ele também afirmou que a publicação das imagens afetaria a segurança de Mahmood e de sua família, tendo em vista que o jornalista teria recebido diversas ameaças das pessoas investigadas por ele.
No entanto, o juiz rejeitou os argumentos do NoW. ‘Para as fotos do Sr. Mahmood serem úteis para estas pessoas, elas teriam de ter mais informações sobre o paradeiro e hábitos do jornalista’, disse. Ele ainda acrescentou que a verdadeira intenção do pedido não era proteger Mahmood, mas ‘proteger a capacidade de lucro e a publicação do seu jornalismo investigativo e sua utilidade para seus empregadores’. O juiz também alegou ser ‘questionável’ o fato de o repórter ter agido em interesse público, pois ele não é um funcionário do governo, como um detetive da polícia.
David Price, advogado de Galloway, justificou que a publicação das fotos constituía liberdade de expressão sob o Ato de Direitos Humanos. Ele também teria dito que a foto do passaporte, que o jornal achava ter sido roubada por um ex-funcionário antes de ser repassada ao Observer e publicada em 2001, foi encontrada por Galloway na internet. A segunda foto, de Mahmood em trajes árabes, foi tirada pela vítima de uma das armadilhas do jornalista, que pediu para ficar anônima, segundo informou Price.
Spearman usou o famoso caso de privacidade da modelo Naomi Campbell contra o Daily Mirror para argumentar que as pessoas têm o direito de não ter suas fotos reproduzidas pela imprensa. O Mirror publicou fotos da modelo saindo de uma clínica após uma reunião dos Narcóticos Anônimos e uma reportagem com detalhes sobre seu tratamento e foi intimado a indenizar Naomi. O juiz mostrou-se surpreso com o argumento. ‘Os jogadores de futebol estão freqüentemente sendo fotografados quando vão às compras – você não pode dizer que a privacidade deles está sendo infringida’, exemplificou.
Declarações bombásticas
Durante sua carreira no NoW, Mahmood fez diversas vítimas. Fingindo ser um xeque árabe, ele armava ciladas para que figuras públicas como o técnico de futebol da seleção britânica, Sven-Goran Eriksoon, e Sophie, condessa de Wessex, fizessem comentários constrangedores – e gravava as conversas. O falso xeque também teria afirmado ter frustrado um suposto plano de seqüestro de Victoria Beckham e seus filhos, mas o caso contra os seqüestradores não foi aceito na corte e Mahmood foi acusado de tentativa de estimular o crime.
O NoW alega que Mahmood foi responsável pela condenação de mais de 130 criminosos. O jornal havia emitido anteriormente uma declaração afirmando estar engajado em legitimar o exercício jornalístico e prometeu que iria publicar os resultados de sua investigação sobre financiamento ilegal de partidos – o que ainda não foi feito. Informações de Stephen Brook [The Guardian, 5 e 6/4/06].