MODA
Ditadura do horror
‘RIO DE JANEIRO – Há alguns anos, os costureiros decretaram que as mulheres deveriam usar calças de cintura baixa. Instantaneamente, garotas sem um grama de gordura em excesso e nem sombra de uma barriguinha saíram pela rua ostentando os mais inesperados pneus, culotes, pelancas e outras adiposidades. Sem falar em que a calça muito baixa retificou -tornou retos- seus quadris, cintura e demais curvas.
Essa moda foi substituída há pouco pela das batinhas de falsa grávida, fazendo com que uma nação inteira de meninas de 13 anos parecesse estar às vésperas de se internar para uma cesariana. Curiosamente, as grávidas de verdade não aderiram a essa moda, preferindo desfilar com a barriga de fora pelos shoppings, cafés e praias em qualquer dia e hora.
E, agora, somos contemporâneos de outra novidade: as mulheres passaram a usar um misto de bombacha com baby-doll -uma mini-camisola que, ao chegar às pernas, é presa por um elástico que a deixa bufante e em forma de chuchu. Woody Allen usou algo parecido, para fins cômicos, em seu filme ‘O Dorminhoco’, de 1973.
Oscar Wilde já disse que ‘a moda feminina é um derivado tão intolerável do horror que precisa ser mudada de seis em seis meses’. Eu não chegaria a tanto, mas às vezes me pergunto sobre a origem de tal ou qual criação. Será obra de um estilista isolado, nas trevas de um atelier no Bronx, dando risotas enquanto maquina mais esse assalto à graça e à beleza femininas? Ou será produto de uma convenção clandestina em Tóquio, em que o prêmio e a glória irão para o costureiro que inventar a moda mais absurda?
Por sorte, nosso amor pelas mulheres nos permite fazer vista grossa à submissão delas a essa ditadura perversa e nos concentrar em suas outras qualidades, que também tanto admiramos.’
GOVERNO
Lobão Filho é réu em processo de TV pirata
‘O empresário Edison Lobão Filho, primeiro-suplente e filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA), é réu em processo criminal que apura o funcionamento de uma emissora de TV clandestina no município de São Mateus do Maranhão (194 km de São Luís), em 1999.
Segundo os dados que constam do processo, a TV São Mateus operava sem licença da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), transmitindo a TV Difusora, de São Luís, que é de Lobão Filho.
São réus também no processo os donos da TV São Mateus: o bancário aposentado e pecuarista Rivoredo Barbosa Wedy e a estudante Shelyda Coran Salomão Pessoa. Segundo a lei, é crime desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação, com pena prevista de dois a quatro anos e multa.
O contrato firmado entre Lobão Filho e Wedy -sócios-gerentes da TV Difusora e da TV São Mateus, respectivamente- em dezembro de 1997 previa a retransmissão da programação da TV Difusora pela TV São Mateus no canal 9, ‘cuja outorga pertence à TV Difusora’, mediante pagamento mensal de R$ 1.500. O retransmissor usado pela TV São Mateus foi dado em comodato (contrato semelhante ao de aluguel, mas sem custo) pela TV Difusora.
Em depoimento ao Ministério Publico Federal, Wedy disse que não sabia que era necessário ter a outorga do canal e que foi ‘induzido ao erro’, pois a TV Difusora o informou que para o funcionamento da emissora bastava o contrato. A reportagem não conseguiu localizar ontem Wedy nem sua sócia.
O procurador José Leite Filho, do Ministério Público Federal em São Luís, recomendou a absolvição de Lobão Filho por entender que coube a ele apenas ‘liberar o sinal de retransmissão da programação da TV Difusora para a TV São Mateus’ e que não há provas de que tenha instigado os donos da emissora a funcionar sem autorização. O procurador pediu a condenação dos dois sócios da TV São Mateus.
O juiz federal Neian Milhomem, da 1ª Vara Federal de São Luís, disse que ainda não analisou o processo, que está pronto para sentença desde outubro de 2006. Caso Lobão Filho assuma no Senado a vaga do pai, que foi convidado para comandar Minas e Energia, o processo será encaminhado ao STF.’
Em carta, filho de Lobão nega irregularidades
‘A reportagem não conseguiu localizar ontem Edison Lobão Filho, mas ele enviou carta ao jornal. Seu advogado, Ruy Eduardo Villas Boas Santos, disse que tentaria falar com ele e que entraria em contato com a reportagem, o que não ocorreu até a noite.
No processo, o advogado disse que o sinal da TV Difusora não chegou a ser liberado para a TV São Mateus e que o contrato foi feito só para ‘reserva de mercado’.
Na carta enviada à Folha, Lobão Filho disse que ‘a TV Difusora nunca foi arrendada para o Instituto de Desenvolvimento Tecnológico, mas sim manteve, por um curto período, um contrato de terceirização de seu departamento comercial. A TV Difusora, depois de cancelado o contrato com o Idetec, absorveu os funcionários que tinham contrato de trabalho com aquele instituto durante a vigência do período de terceirização. Não há, portanto, irregularidade alguma, nem no que diz respeito à relação, já desfeita, entre a TV Difusora e o Idetec, nem entre a empresa e seus funcionários’.
Sobre o ‘Painel’, que informou que Lobão Filho estava anunciando em rádios a construção de termelétrica em Codó, ele disse: ‘Com relação aos investimentos em uma pequena termoelétrica, informo que se trata de um projeto em estudo há dois anos, de investimento privado, no qual tenho uma pequena participação, para a produção de energia a partir do coco de babaçu. Esclareço que não há investimento ou participação dos governos federal, estadual ou municipal nesta obra, que se concretizada vai gerar empregos e levar riquezas para a região de Codó, e que o anúncio em emissoras de rádio, a que se referem a nota do ‘Painel’, foi ao ar há quase um ano’.
Na realidade, Lobão Filho deu declarações sobre a termelétrica em julho de 2007.’
PROPAGANDA
Agência de Duda perde conta de publicidade da Petrobras
‘A Petrobras anunciou ontem as três empresas que ficarão responsáveis pela publicidade da estatal. A F-Nazca Saatchi & Saatchi, a Quê Comunicação e a Heads Propaganda venceram a licitação e irão atender a Petrobras por ao menos dois anos.
A agência do publicitário Duda Mendonça -que atendeu a estatal de 2003 a 2007, perdeu a concorrência.
Só no primeiro ano de vigência os novos contratos totalizam R$ 250 milhões para as três agências escolhidas. A contratação é válida por dois anos e pode ser prorrogada por mais dois. Segundo a Petrobras, essa foi a primeira vez que as propostas das agências foram analisadas sem que os membros da comissão soubessem a identidade dos candidatos.
De 17 propostas analisadas sob o critério de melhor proposta técnica, a F-Nazca ficou em primeiro lugar, a Quê Comunicação em segundo e a Heads Propaganda em terceiro. As empresas mantiveram a colocação estimada em dezembro passado, quando a Petrobras divulgou o resultado parcial da licitação.
Faltava a última fase da análise: a abertura dos envelopes com as propostas de preço. Essa etapa aconteceu na primeira semana de janeiro. As empresas que concorreram tinham até ontem, às 17h, para apresentar recurso, mas isso não aconteceu.
A licitação havia sido anunciada em janeiro de 2007, mas atrasou porque o Ttribunal de Contas da União apontou ‘impropriedades’ na concorrência, como o fato de o edital ter sido modificado às vésperas da abertura das propostas. A Petrobras disse que fez a mudança só para dar mais clareza à bonificação das agências.’
Simone Iglesias
RS faz licitação de R$ 93 mi para publicidade
‘Enfrentando baixos índices de popularidade e falta de recursos para investimentos, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), lançou edital de licitação para publicidade no valor de R$ 92,9 milhões para 2008.
Seis agências serão escolhidas até o dia 31. Um dos critérios de seleção será o desenvolvimento de uma campanha-piloto, com foco na crise financeira do Estado.
O edital orienta as agências a apresentar a situação atual -o Estado prevê déficit orçamentário de R$ 1,27 bilhão neste ano- como uma ‘herança de diversos fatores, entre os quais a ausência de novos meios para financiar o déficit e de políticas voltadas para sanear as contas’.
Segundo o documento, as agências terão que ‘comunicar para a sociedade a busca pelo equilíbrio fiscal’, tendo como público-alvo a classe C.
Segundo o secretário de Comunicação do Estado, Paulo Fona, a campanha servirá como uma espécie de teste para as agências em disputa. O material produzido, segundo ele, poderá ser veiculado na mídia.
Do total de R$ 92,9 milhões previstos para publicidade em 2008, 72% serão destinados a propagandas do Banrisul. Outros 13% do bolo publicitário ficarão para promoção de estatais como CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento) e Caixa RS. Os demais 15% servirão para custear propagandas da administração direta e do gabinete da governadora.
Segundo Fona, dos R$ 92,9 milhões, cerca de R$ 1 milhão irá para campanhas publicitárias voltadas ao gabinete de Yeda e R$ 13 milhões serão distribuídos entre as secretarias.
Por causa da crise financeira, a administração direta do governo gaúcho praticamente não anunciou em 2007, pois precisou cortar despesas ao máximo. Em 2006, ainda na gestão Germano Rigotto (PMDB), foram gastos R$ 96 milhões em publicidade, distribuídos entre nove agências. Esses contratos venceram em novembro de 2007.
Os gastos publicitários do governo gaúcho no ano passado se concentraram no Banrisul, com R$ 18 milhões. Para 2008, a previsão de despesas de propaganda do banco é de R$ 65 milhões. O secretário disse que o Banrisul recebe a maior fatia de recursos publicitários porque ‘é um banco importante e disputa mercado.’
‘Más notícias’
No mês passado, ao fazer um balanço do primeiro ano de sua gestão, Yeda disse que apenas ‘más notícias’ foram assimiladas pela sociedade, como atraso de salários, conflitos com outros Poderes e tentativas de aumentar impostos.
A governadora tucana afirmou que neste ano pretende dar maior divulgação às ações de governo, como forma de mostrar que está atingindo seu objetivo de ‘reorganizar as finanças públicas’ antes de passar a investir.’
MATO GROSSO
Juiz manda prender três jornalistas
‘EM CAMPO GRANDE Um juiz de Cuiabá mandou prender na tarde de ontem um fotógrafo e dois cinegrafistas que faziam imagens da audiência de um processo que tramita em segredo de Justiça sobre supostos atos de corrupção cometidos dentro do próprio fórum.
Os profissionais haviam se aproveitado de uma porta entreaberta para filmar e fotografar as testemunhas do caso. Ao ser informado da situação, o juiz da 4ª Vara Criminal de Cuiabá, Rondon Dower Filho, interrompeu a audiência e deixou a sala aos gritos. Receberam voz de prisão os cinegrafistas Marcos Alves, da TV Centro América (afiliada da Rede Globo em Mato Grosso), e Belmiro Dias, da TV Record, e o fotógrafo Otmar Oliveira, do jornal ‘A Gazeta’. Eles só foram liberados depois de duas horas e meia, após intervenção de advogados das empresas e do Sindicato dos Jornalistas.
Para sair, eles tiveram que assinar termo se comprometendo a não veicular as imagens. ‘Não houve crime’, avaliou o advogado do sindicato, Francisco Faiad, que também é presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Mato Grosso.’
ALAGOAS
Entidade cobra investigação sobre morte de cinegrafista
‘A OEA (Organização dos Estados Americanos) pediu ontem ‘investigação exaustiva’ sobre o assassinato, no dia 5, de Walter Lessa de Oliveira, em Maceió (AL). Oliveira era cinegrafista da TV da Assembléia Legislativa de Alagoas e foi morto com quatro tiros na cabeça enquanto esperava um ônibus. A Polícia Civil suspeita que o crime tenha sido cometido por um traficante filmado por ele.
O governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), disse, em nota, defender a ‘apuração rigorosa e cabal’ do episódio para ‘identificação de autorias e punição exemplar’. O delegado-geral da Polícia Civil, Carlos Alberto Reis, disse que a Gerência de Planejamento e Inteligência participará das investigações para garantir rapidez. O Ministério Público de Alagoas acompanhará a apuração.
Assessora da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência, Cristina Timponi disse que o governo brasileiro ainda não recebeu o comunicado da OEA. Ela disse que o Brasil atualmente é cobrado pela OEA por cinco assassinatos de jornalistas ocorridos nos anos 1990.’
TELECOMUNICAÇÕES
Compra da BrT pela Oi pode custar R$ 8,3 bi
‘A Oi (ex-Telemar) deve desembolsar R$ 8,3 bilhões para a compra da Brasil Telecom (BrT), caso o negócio se concretize. Desse montante, R$ 4,8 bilhões serão pagos aos acionistas da BrT e R$ 3,5 bilhões deverão ser oferecidos para a compra dos minoritários que queiram vender suas ações.
Pela nova Lei das S.A., de 2001, os acionistas são obrigados a estender aos minoritários a oferta de compra aos controladores, por meio de uma cláusula chamada de ‘tag along’.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não irá bancar diretamente a operação. Serão usados recursos da própria Oi. Segundo a Folha apurou, a tele possui R$ 7 bilhões em caixa e mais autorizações de créditos equivalentes a R$ 8 bilhões.
O financiamento do BNDES deverá ser feito aos acionistas Sérgio Andrade e Carlos Jereissati na operação de capitalização da Oi. Os dois devem aportar cerca de US$ 2 bilhões na empresa e pretendem pedir um empréstimo de R$ 500 milhões cada um para a operação.
A entrada do BNDES no negócio foi muito discutida entre os empresários envolvidos e membros do governo. O BNDES achou que o melhor caminho seria apoiar os empresários nacionais no processo de capitalização da Oi, a exemplo do que já foi feito no passado em operações semelhantes na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e na Globopar. Em ambos os casos, o BNDES apoiou os acionistas.
A compra da BrT pela Oi ainda não foi fechada, mas a configuração societária já foi mais ou menos definida. A Telemar Participações, a holding que controla a Oi, terá seu capital distribuído da seguinte forma: Sérgio Andrade e Carlos Jereissati devem ficar com 51% do controle da nova empresa, o BNDES, com 15%, e cada um dos fundos de pensão (Previ, Funcef e Petros) deve passar a ter de 10% a 12% das ações ordinárias (com direito a voto).
Hoje, o bloco de controle da Telemar Participações é dividido da seguinte forma: o BNDES possui 25% do capital; os fundos de pensão, 19,9%; Andrade Gutierrez (Sérgio Andrade), 10,2%; La Fonte (Jereissati), 10,2%; e Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, 10,2%.
Com a operação, saem do negócio o Citigroup, que faz parte do bloco de controle da BrT, a GP, que tem participação relevante na Oi, e o Opportunity, com participação nas duas.
Para ser fechada, a transação ainda depende de muitos passos importantes. Será necessário decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva alterando o Plano Geral de Outorgas, de 1998, que impõe restrições a um negócio desse tipo.
A aquisição também precisa ser aprovada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por concentrar o setor.
Se o negócio for efetivado, no entanto, o mercado de telefonia no país terá uma nova configuração. A nova Oi terá 29,6% do faturamento total das operadoras de telefonia fixa, celulares, banda larga e TV por assinatura, contra 29,9% da Telefônica/Vivo, 20,1% da Claro/ Embratel e 12,1% da TIM.
Segundo a Folha apurou, o governo acha que a TIM Brasil deve, mais cedo ou mais tarde, ser incorporada a alguma das teles. A Telecom Italia, que saiu recentemente da Brasil Telecom, é dona da TIM Brasil, tem a espanhola Telefónica no seu bloco de controle, com 7% de ações ordinárias, mas não participa da gestão da companhia por imposição da Anatel.’
INTERNET
Artistas podem desalojar seus ‘clones’
‘A página do Pato Fu no MySpace entrou no ar antes de a banda pensar em se cadastrar na rede, a maior vitrine mundial de músicos na internet. Quando os mineiros finalmente tentaram criar seu perfil, em meados de 2007, descobriram uma página ‘oficial’ meio capenga, com uma foto velha e uma só música disponível -o que não pegava nada bem para a imagem da banda.
Como o MySpace hoje em dia dá mais visibilidade que sites oficiais (e, ao contrário do Orkut, não permite mais de um perfil com o mesmo nome), retardatários como o grupo de Fernanda Takai não raro precisam negociar o ‘domínio’ com quem chegou antes ou driblar o atraso usando adendos como ‘music’ e ‘brasil’ no endereço.
Isso torna a tentativa de um artista de conseguir uma página com seu nome tanto mais difícil quanto mais famoso ele for. Maria Rita, por exemplo, não ocupa o myspace.com/mariarita nem o primeiro endereço que aparece na busca pelo Google, o ‘mariaritamusic’. Sua página, feita recentemente, é a ‘mariaritaoficial’.
O Pato Fu buscou amigavelmente a posse do myspace.com/patofu. Fernanda mandou e-mails e deixou recados na página falsa -em português, inglês e até francês, caso a falta de resposta fosse fruto de alguma barreira idiomática. ‘A pessoa nos ignorava. Daí tentamos outros registros, ‘patofubrasil’, ‘verdadeiropatofu’, coisas assim. Estavam todos ocupados. Um dia, a página original vagou, sem aviso prévio, e ficamos com ela’, conta a vocalista.
Na ocasião, ela teve o ‘insight’ de reservar uma com o seu próprio nome, que fica lá, às moscas, com o onipresente virtual André Abujamra e mais uns gatos pingados como amigos. ‘Minha página é bem tosca. Fiz porque fiquei em pânico, pra segurar. Assim que tiver um tempo, dou um jeito lá.’
Direitos autorais
Pato Fu e Maria Rita não sabiam -nem eles nem a maioria dos entrevistados para esta reportagem- que o MySpace garante aos artistas o direito de desalojar quem se passa por eles, já que o site foi criado justamente para reunir músicos.
Não significa que Maria Rita, a cantora, possa tirar da homônima (e anônima) Maria Rita o perfil que leva o seu nome. ‘Há dois tipos de perfis, o de usuário comum e o de artista. Se a moça cadastrada como Maria Rita não está se passando pela cantora, pode manter o nome. Agora, se pôs músicas ou fotos da cantora, pode ser denunciada’, diz Luiz Cesar Pimentel, diretor de conteúdo do MySpace no Brasil.
Ou seja, a cantora poderia passar por cima dos sentimentos do(a) fã que criou sua outra página e denunciá-la como falsa. ‘Nesses perfis só Deus sabe o que é colocado e que tipo de informação é repassada para o público curioso e sedento por informação’, diz Maria Rita, a verdadeira, por e-mail. ‘Não processaria nem tomaria atitudes mais drásticas -desde que não haja difamação e/ou calúnia-, mas não me agrada.’
A banda NXZero protagonizou um raro caso (no Brasil) de artista que vetou perfis alheios, ao pedir para o MySpace tirar do ar músicas suas disponíveis em outra página. ‘Devia ser coisa de fã, mesmo. Só que a gente não trabalha assim. Temos contrato com gravadora, temos os fãs, que ficam sem saber o que é verdadeiro’, diz o baterista Daniel Weksler.
Uma preocupação que aparentemente não atinge Zeca Pagodinho, cujo MySpace, ‘zecapagodinhooficial’, é atualizado pela produtora Predileta, a mesma que cuida das páginas de Maria Rita e Vanessa da Mata. O endereço myspace.com/zecapagodinho não tem nada de samba, mas garante visitas a um tal OzFunkera, que publicou faixas de Radiohead e Oasis antes de deixar a página ao léu.
‘Pode desalojar o cara?’, surpreende-se Adriana Penna, uma das sócias da Predileta. ‘Como faz? Vou ver isso… A gente viu que o endereço estava ocupado e fez o ‘oficial’, que na verdade é legal porque dá uma idéia de… oficial’, avalia.
É uma regra cheia de exceções. O ‘sandyejunioroficial’ é só um dos vários perfis que leva a ‘assinatura’ da dupla.
‘Kisses’
‘Hi people! […] I didn’t know that I’d have so much stuff here on MySpace […]. Kisses and kisses in all your hearts, Sandy.’ (Oi gente! Não sabia que teria tanta coisa aqui no MySpace. Beijos e beijos em todos os seus corações, Sandy.)
A página ‘sandyleah’ saúda os fãs em inglês, diz que algumas de suas influências são Elis Regina, Maria Rita e Norah Jones e conta até com mensagens de ‘boa sorte na carreira solo’.
Entre os 61 amigos adicionados desde 2005 -bem antes de Sandy passar a usar Leah-, está Junior Lima, com foto e música, em site que leva o nome solo do cantor e que não é atualizado há mais de dois anos.
A assessoria da ex-dupla diz que eles não estão no MySpace. ‘Mas, agora que se separaram, podem vir a querer algo nesse sentido.’ Sem ‘sandyleah’ e ‘juniorlima’ disponíveis, poderiam tentar variações como ‘sandy’, ‘juniorlima’, ‘sandylima’… Se não estivessem todos ocupados. ‘Devem ser de fãs [as páginas]. Eles não teriam problema nenhum em liberar. E depois dizer: ‘A Sandy só tem MySpace porque eu liberei’…’
Roberta Sá também tem perfil com o seu nome feito por um fã -só que no endereço myspace.com/nobraseiro. Um minúsculo ‘página não-oficial’ avisa não se tratar da cantora. Mas é para lá que o Google direciona o internauta que busca o seu MySpace, embora o verdadeiro seja o ‘robertasaoficial’. O ‘robertasa’ é ocupado por uma anônima.
Já Mariana Eva, a Madame Mim, que cuida pessoalmente de seu MySpace (e do fotolog, Orkut…), resolveu fugir do ‘oficial’ e inverter seu nome ao constatar que um ‘madamemim’ já existia. Não pretende lutar pelo endereço nem é contra os falsos perfis. ‘Acho isso divertido. Qualquer um pode ser a Marisa Monte, a Madonna. É legal qualquer um poder ser qualquer um.’’
Denunciado e denunciador precisam provar identidade
‘Quem se cadastra no MySpace pode fazer um perfil como usuário comum ou como artista. No segundo caso, a página inclui um player no qual o artista pode colocar músicas suas -e, pelas regras do MySpace, só suas. Não é como a seção de vídeos do Orkut, em que valem vídeos feitos por qualquer um.
Se alguém se fizer passar por um artista no nome, qualquer pessoa ligada ao artista pode denunciar o perfil. A regra teoricamente vale para casos como o myspace.com/zecapa godinho, um endereço que atrai cliques graças à fama do cantor, mas não de myspace.com/robertasa, de uma homônima da intérprete.
Ao receber a denúncia, o perfil é congelado. O MySpace pedirá ao denunciado e ao denunciador que provem serem os detentores dos direitos sobre nome, fotos, músicas etc.
Para anônimos que se passam por outros anônimos, a regra é parecida, embora um pouco bizarra. No caso de alguém criar um perfil com o objetivo óbvio de denegrir outra pessoa -usando nome e sobrenome, fotos, citações constrangedoras-, aquele que se sentir afetado deve enviar uma ‘saudação’ para o MySpace.
‘Significa que precisaremos de uma imagem sua segurando um cartaz escrito à mão com a palavra MySpace.com e a ID de Amigo [identificação do endereço]’, esclarece texto no site.’
POLÊMICA
Nana, os judeus e a maconha
‘A comunidade judaica está furiosa com Nana Caymmi. Numa entrevista à revista ‘Quem’, a cantora teria dito a seguinte frase ao explicar o calvário que é ter um filho de 41 anos dependente de maconha e que ‘age como uma criança’ por causa de um acidente de moto: ‘Fico me perguntando por que preciso sofrer tanto. Não sou judia, não crucifiquei Jesus!’
SEM PRECONCEITO
Nana nega ter feito tal declaração: ‘Todo jornalista, você me desculpe, deturpa o que a gente fala. Eu falei sobre o filme do Mel Gibson [‘A Paixão de Cristo’], sobre pirataria’. E desfila uma lista de judeus próximos: ‘A minha cunhada, Malaguti, é judia. Leila Crespi, a atriz, é minha amiga de 40 anos e é judia. Tenho um número enorme de amigos judeus. Nunca tive preconceito’. Segundo Nana, a profissão a obriga a dar entrevista ‘para uma revista de quinta’ -’Se não der, sou preconceituosa’.
TUDO GRAVADO
A diretora de Redação da ‘Quem’, a jornalista Paula Mageste, diz que a declaração está gravada e não foi descontextualizada -a cantora se referia ao sofrimento que é ter um filho dependente. Segundo Mageste, o nome de Mel Gibson não é citado na entrevista.’
CINEMA
Público de cinema no Brasil diminui 2,9% em 2007
‘O público de cinema no Brasil caiu em 2007. O ano terminou com total de 88,6 milhões de espectadores (o número de ingressos vendidos nas salas), o que representa uma queda de 2,9% em relação a 2006.
Pela primeira vez desde 2002, o público no país fica abaixo dos 90 milhões. A parcela de espectadores obtida pelo filme nacional (9,8 milhões) representa 11,1% do mercado, e a renda total (R$ 707,3 milhões) demonstra aumento de 0,9% em relação ao ano passado.
Os dados são do Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Rio de Janeiro. Na opinião do presidente do sindicato, Jorge Peregrino (Paramount), os números indicam ‘estagnação do mercado’.
Para Peregrino, ‘no Brasil, o preço do ingresso é artificialmente caro, por causa da meia-entrada [para estudantes]. No final, o sujeito pensa duas vezes antes de ir ao cinema’.
O distribuidor classifica o ingresso de ‘artificialmente caro’ porque, com a disseminação da venda de meias-entradas, dado o uso de carteiras por parte de quem não é estudante, é minoritária a parcela de espectadores que paga inteira.
Classes C e D
Esse fenômeno, na avaliação do presidente da Cinemark International, Valmir Fernandes, ‘é o câncer do entretenimento no Brasil’ e seria o responsável por afastar dos cinemas a população de baixa renda.
‘Enquanto a minha filha, que possui Ipod, viaja para a Disney, tem acesso a tudo, pagar meia e a minha empregada pagar inteira, não há como querer aumentar o público e a participação das classes C e D’, diz.
A Cinemark é líder no mercado brasileiro. Fernandes comanda as operações da cadeia em 13 países. Ele diz que ‘a percepção de que o custo do cinema é elevado está muito forte no Brasil’, o que julga inexato.
O preço médio do ingresso no país foi de R$ 8 em 2007. ‘Não conheço muitas opções de lazer com a qualidade do cinema por esse nível de preço’, afirma.
O secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Silvio Da-Rin, diz que ‘é procedente o argumento’ dos exibidores sobre o efeito prejudicial da proliferação indevida de carteiras de estudante, pois isso ‘desequilibra as condições’ do negócio.
No entanto, Da-Rin observa que o crescimento da renda ‘mostra que os exibidores têm se compensado, com o aumento do preço médio do ingresso, o que é um processo perverso, porque elitiza cada vez mais o público cinematográfico’.
Em 1997, o preço médio do ingresso era de R$ 5,15. O secretário diz que o governo está atento às ‘transformações do espetáculo cinematográfico’, para adequar as medidas que toma, ‘de maneira a continuar protegendo o conteúdo brasileiro no nosso mercado’.
Embora o governo adote mecanismos como a cota de tela (que fixa número de dias de exibição obrigatória de filmes nacionais nas salas), o exibidor Leon Cakoff identifica ‘falta de vontade política para fazer com que o cinema brasileiro vá ao encontro de suas platéias’.
Para Cakoff, ‘o público do cinema nacional está na vasta teia de emissoras e retransmissoras de televisão’.
O exibidor sugere que, ‘taxando-se com 3% o seu faturamento comercial [das TVs] e mais a mensalidade dos assinantes, vamos alcançar o paraíso das produções da França e da Alemanha, onde triunfa o modelo dos fundos de cinema autoral com garantias de exibição ao menos nas TVs. Os melhores das safras de cada ano chegam aos cinemas também, mas por merecimento’.’
2008 começa em alta para filme nacional
‘‘Meu Nome Não É Johnny’, o primeiro longa brasileiro a estrear em 2008 (em 4/1), teve animadora performance nas bilheterias. Foi visto por 151 mil pessoas no fim de semana, com média de 1.482 espectadores por cópia -resultado característico de grandes sucessos.
Mas não é nos números que o diretor Mauro Lima, 40, tem se fixado, para dimensionar o êxito de seu filme. ‘Não me dou bem com a coisa no papel, na planilha. Gosto de entender [o sucesso do filme], quando me dizem que foram vê-lo no cinema e voltaram para trás, porque a sessão estava lotada.’
Lima é cauteloso sobre as razões da popularidade de ‘Meu Nome Não É Johnny’. ‘Se eu soubesse o segredo, estaria com meus próximos oito filmes garantidos.’ Mas ele estima que ‘talvez seja a atualidade desse assunto nos centros urbanos’ o principal chamariz do longa.
‘Meu Nome Não É Johnny’, protagonizado por Selton Mello, é baseado na biografia do produtor musical carioca João Guilherme Estrella, 46, que, pertencendo à classe média alta carioca, passou de usuário a traficante de drogas na juventude e foi condenado à internação em hospital psiquiátrico.
‘Pouco previsível’
Apesar da performance positiva do filme brasileiro que inaugurou as bilheterias em 2008, a expectativa de boa parte do mercado é que o desempenho do produto nacional neste ano repita o de 2007.
‘Estimamos aproximadamente o mesmo número de público’, afirma o executivo da Cinemark, Valmir Fernandes. O secretário do Audiovisual, Silvio Da-Rin é mais reticente. ‘O cinema tem flutuações muito grandes. O êxito dos filmes é muito pouco previsível’, diz.
O diretor José Padilha, autor do filme brasileiro líder de bilheteria em 2007 (‘Tropa de Elite’, 2,4 milhões) acha que a queda total de bilheterias no ano passado (de 2,9%, ou 2,5 milhões de espectadores) ‘não indica uma tendência’.
Padilha diz que ‘variações percentuais pequenas como esta podem decorrer de fenômenos que não têm a ver com a economia do cinema’.
O cineasta cita como possível causa dessa queda a pirataria que atingiu ‘Tropa de Elite’ antes de sua estréia nos cinemas.
‘Na opinião dos distribuidores e exibidores em geral, se a pirataria não tivesse ocorrido, o filme teria feito um público bem maior em cinema. Talvez, mais do que 2,5 milhões [além do que fez]. Assim, é possível que esta queda resulte, entre outras coisas, do ato de duas pessoas que roubaram o DVD de um filme [e o destinaram à pirataria]’, afirma Padilha.’
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