Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Governo e mídia esquecem das DST

O Movimento Feminino do PPS de Sorocaba deparou-se com uma matéria no jornal Folha de S.Paulo, no domingo de Páscoa, tratando da pílula do dia seguinte. A manchete trazia a notícia que gerou polêmica. O Ministério da Saúde aumentaria em 50% a distribuição do contraceptivo de emergência. No corpo da matéria médicos e representantes de igrejas deram suas opiniões. A maioria afirmava que a pílula era abortiva. A igreja ‘caiu em cima’, sendo contrária ao aborto, mas em nenhum momento alguém lembrou as doenças sexualmente transmissíveis, DST. Não sabemos se foi falha do jornal, por não ter procurado alguém que falasse a respeito, ou se faltou realmente a competência dos médicos em relação às DST. Afinal, esta medida do Ministério da Saúde pode ser um grande incentivo ao não-uso da camisinha.

Escrevi em nome do Movimento Feminino um texto que espelha minha indignação a respeito da postura do Ministério da Saúde.

Mas e as DST?

O Ministério da Saúde decidiu aumentar em 50% a distribuição da pílula do dia seguinte. A medida, tomada em abril, está gerando diferentes polêmicas. O contraceptivo em questão é usado em casos emergenciais, agindo como inibidor do surgimento de uma gravidez. Atualmente é mais utilizado em casos de estupro. O remédio age em 72 horas após o ato sexual, por isso o nome: pílula do dia seguinte.

No ano passado 120 mil contraceptivos de emergência foram entregues em 2.000 cidades, aproximadamente, segundo dados de movimentos feministas que acompanham essas distribuições.

Para alguns médicos e grupos religiosos esta pílula é considerada abortiva. Sendo que ela causa, entre outras reações, uma esfoliação do útero, o que dificultaria a fixação de um óvulo fecundado. A Igreja Católica afirma que o óvulo fecundado já é uma vida humana e por isso não pode ser eliminada. Outros médicos afirmam que a pílula não é abortiva. Mas até agora ninguém comentou sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis. As DST, por incrível que pareça, não estão sendo lembradas nesse caso. A discussão em volta do aborto foi tão grande que nem os próprios médicos se deram ao trabalho de intervir afirmando ser esta uma medida contrária ao uso da camisinha.

Uma gravidez pode ser o melhor resultado que uma mulher pode ter, sendo ela adolescente, jovem ou madura, diante de um resultado de HIV positivo, por exemplo. O aumento da distribuição dessa pílula é um incentivo ao sexo sem camisinha, um incentivo a doenças, ainda mais num país como o Brasil, em que a maioria da população não tem o mínimo de instrução.

É importante lembrar, até ao próprio Ministério da Saúde, que a pílula do dia seguinte não vai matar a Aids em 72 horas, nem um HPV e muito menos uma hepatite. Se for realmente matar, matará um feto, um ser inocente que poderia ser motivo de alegria.

Uma crítica que vai como sugestão ao Ministério da Saúde seria estudar maneiras de informar a população sobre a necessidade de prevenir as doenças transmissíveis sexualmente, a importância de se usar a camisinha. Se esta fosse a medida tomada agora o Ministério da Saúde poderia vir, em curto período de tempo, a diminuir a distribuição dessas pílulas, em vez de aumentá-las, devido à conscientização das pessoas sobre o assunto.

Esta medida está deixando clara a incapacidade dos encarregados da saúde pública em melhorar a saúde no país. E o mais triste é que a falta de seres pensantes pode prejudicar a saúde dos brasileiros. O problema não é só a Aids: uma doença como o HPV pode se transformar em câncer de útero, e a principal maneira de transmissão é por ato sexual. Além dela, muitas outras: sífilis, candidíase, herpes genital, gonorréia e hepatite (que não tem cura). Mas parece que o ministério não percebeu que povo doente é gasto para o governo. O custo dos tratamentos e medicamentos necessários para pessoas com estas doenças poderia ser bem menor se houvesse o interesse em levá-las ao conhecimento de todos.

Essa lista mostra que, além da Aids, homens e mulheres que não se protegem na hora do sexo podem estar assinando sua sentença de morte. E não pense que esta jornalista que vos escreve está pegando pesado. Escrevo na posição de uma cidadã e afirmo que apenas as pessoas que podem e sabem ler um jornal terão acesso a esta indignação. Parabéns se você for um deles, porque seu país não parece estar pensando em você.

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Presidente do Movimento Feminino do PPS