Quando a Câmara dos Deputados organizar a sessão de despedida ao seu ex-presidente João Paulo da Cunha, seria interessante que os colunistas e repórteres políticos analisassem a sua gestão sob a ótica da imprensa e da comunicação.
O deputado foi, sem dúvida, um inovador. Sobre isso não há menor dúvida. No pior sentido da palavra. A sua participação numa mensagem promocional da Rede Globo e a custosa campanha de publicidade nos principais veículos do país para resgatar a péssima imagem da Câmara sob a sua gestão são inéditos. Inéditos e vexatórios. Na história republicana não há muitos exemplos desse tipo de populismo institucional.
O organismo mais representativo da sociedade brasileira não pode comprar espaço na mídia para mostrar que é responsável e está à altura de suas atribuições. Se precisa valer-se deste artifício promocional é porque falhou redondamente.
Tutti buona gente
JP encerrou o mandato de forma simbólica: inaugurou a nova programação da TV Câmara às 18 horas da segunda-feira (14/2), no exato momento em que estaria presidindo a sessão para escolher o seu substituto. Acendeu os holofotes para si mesmo. Como não conseguiu reeleger-se como queria, usou os recursos do erário para autobadalar-se. É quase a mesma coisa.
Não viu nisso nada de errado, o exemplo veio de cima: se o Executivo lançou o canal TV Brasil dias antes do fim do seu mandato e do colega José Sarney, para prestigiá-los, por que não pode ele fazer algo parecido? [veja remissão abaixo]
O deputado João Paulo Cunha aderiu com gosto a um caipirismo político que começa a afetar não apenas os ritos, mas também a essência do sistema representativo. Prova é a vergonhosa campanha eleitoral no recinto da Câmara Federal para a escolha do seu presidente. A caixinha para financiar os candidatos, os cartazes colados nos corredores e a compra de votos são flagrantes da falta de um decoro que não é apenas parlamentar.
O problema é que todos são boas-praças. Inclusive a imprensa. E neste clima de bom-mocismo generalizado vilões serão os que reclamam.