Eu sou sempre favorável à realização de concursos públicos na área de comunicação social. Creio que os futuros servidores municipais, estaduais e federais devem ser escolhidos por seu merecimento, não por qualquer outro motivo. Mas, por qualquer outro motivo, cito um que impera na seleção das pessoas para compor as assessorias de órgãos públicos: o fator político. Vagas acabam ocupadas por indicações, não por processos seletivos.
Muitos estudantes passam a faculdade inteira sem se aperfeiçoar. Encerrada a graduação, mergulham de cabeça nos editais. E são aprovados. Uma pessoa assim contribuiria a uma assessoria de comunicação com mais eficiência do que um CC que trabalhou a vida inteira na imprensa, por exemplo? Provavelmente, não. Ainda assim, a aprovação se deu de forma equânime perante outros candidatos.
O mérito dessas pessoas está em vencer a concorrência, mostrar-se o melhor numa prova cujos conteúdos são difusos e profusos. Concurso, portanto, é uma questão de merecimento e todos deveriam ter direito de concorrer a eles igualitariamente. Nem sempre as vagas entram em disputa, entretanto. Alguns profissionais, em razão de sua rede de contatos, encurtam os caminhos por intermédio de nomeações injustificadas.
Não pretendo citar nomes, mas no Rio Grande do Sul há entidades que não realizam concurso há mais de uma década. Os cargos em comissão comportam suas necessidades, sobretudo quando o partido se mantém no poder por vários mandatos. Há, de fato, CCs muito capazes, que desempenham um bom trabalho. Indivíduos com larga experiência em assessoria ou mesmo em veículos de comunicação. Há também aqueles lá estão apenas para ganhar um salário maior do que ganhariam na iniciativa privada.
Servidor de carreira tem autonomia
Comunicação é uma necessidade estratégica. Logo, nada melhor que ter alguém confiável para veicular notícias de interesse de uma gestão governamental. A confiança, penso, se conquista, mas os políticos preferem não arriscar. Indicam alguém vinculado ao partido, um profissional que coaduna das mesmas ideias da diretoria.
Em 2012, trabalhei numa assessoria pública. Na época, o presidente da entidade estava trocando de secretaria, por vontade do governador. O novo mandatário chegou uma semana após a saída do antecessor. E sabe o que ele trouxe na bagagem? Um assessor de imprensa. Mal preparado, o assessor chegou impositivo, demonstrando que, a partir daquele momento, era ele no topo da hierarquia do poder, e todos os outros servidores do setor, alguns concursados há tempos, deveriam se submeter ao jugo dele. Você acha que deu certo?
Aquele assessor era uma exceção. Criou uma autonomia relâmpago que, na minha visão, não existe para os servidores comissionados. Enquanto o novo “chefe” desejava prestar um serviço parcial, conforme os interesses da legenda que representava, o resto da equipe preferia manter o bom funcionamento que sempre permeou suas atividades, isto é, com fulcro nos interesses da imprensa e do público.
Quando a politicagem entra em campo, é muito difícil fazer assessoria com qualidade. Os políticos querem apenas notícias positivas e, quando não for possível, atenuar ao máximo os efeitos de uma crise. Atenuar a incapacidade administrativa deles, para dizer a verdade. Ademais, enfatizo que há CCs competentíssimos espalhados por órgãos públicos. Mas esse tipo de entrada não pode ser a regra.
Se você quer a aprovação, vá pelo caminho mais longo. Uma carreira é sempre preferível frente a uma indicação de ocasião. Lembre-se disso.
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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo