Os moradores da maioria das grandes cidades brasileiras vão outra vez às urnas sem conhecer a visão de mundo e as idéias dos candidatos a prefeito.
Mais uma vez, a imprensa – com raríssimas exceções – fez uma ampla cobertura sobre o varejo da campanha e deixou de apresentar ao eleitor o que interessa: que políticas se pode esperar de quem for escolhido. E perde-se nova oportunidade para incluir a população na discussão sobre seus próprios problemas.
Claro que os episódios menos edificantes não podem ser debitados aos jornais. Eles apenas reproduzem aquilo que lhes chega dos candidatos. E é exatamente esse o problema: a imprensa espera passivamente que os políticos e seus marqueteiros encham sua cesta diária de notícias.
Dessa forma, nem mesmo os jornalistas têm a oportunidade de conhecer a fundo suas cidades, para julgar melhor os planos de governo de cada candidato.
Garantia democrática
Alguns jornais apresentaram estatísticas disso e daquilo, outros entrevistaram especialistas, mas nenhum deles penetrou profundamente nos problemas que esperam os futuros prefeitos.
A exceção mais notável ainda é O Globo, que fez uma série de reportagens sobre a ação de traficantes e milicianos em favelas do Rio, impedindo a livre circulação de candidatos e tentando impor aos eleitores os nomes de sua conveniência.
As reportagens do Globo tiveram o poder de despertar as autoridades, e a presença de tropas do Exército ajudou a melhorar o padrão democrático da eleição no Rio.
Mas em termos de informação sobre o que esperar das escolhas que serão feitas neste domingo, a imprensa em geral ainda fica muito a dever. A população perde com a falta dos debates diários sobre os temas que realmente lhe interessam. E a imprensa também perde, no longo prazo, porque em algum momento os cidadãos começam a perceber que ela vai deixando de ser relevante para a formação das opiniões sobre questões importantes.
No fim, perde toda a sociedade, pois uma imprensa qualificada e atuante é uma das garantias da democracia.