Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Incertezas do futuro

Estamos vivendo um período em que sentimos mudanças atingindo todos os setores da vida moderna. Tais modificações chegam de forma concreta e provam que precisamos renovar nossas concepções de mundo e de sociedade. No momento em que estas transformações povoam nosso cotidiano sentimos um quê de melancolia em relação a algumas mudanças que vêm para pior, no sentido em que destroem algumas tradições e aspectos da cultura do povo.

No rol dessas mudanças, um meio de comunicação está cada vez mais combalido, pois as que se fizeram não melhoraram a qualidade do rádio que, devido a interesses econômicos, tem sofrido perda de referencial e não fala mais a língua do povo. O que se tem visto hoje no rádio cearense é que o ouvinte (razão maior do rádio) está esquecido, não é consultado em relação a mudanças nem é respeitado em algumas emissões radiofônicas.

Essa situação já vem sendo discutida em várias instâncias da sociedade, mas parece-nos que os dirigentes de emissoras não ouvem os anseios populares nem se esforçam para a concretização de um rádio melhor que seja artífice de uma relação mais estreita com o que o povo pensa e o que o povo quer. A tecnologia tão propalada e que chega ao rádio não é utilizada para melhorar as mensagens radiofônicas nem abrir canais de interação realmente democráticos e eficazes.

Na programação de rádio vemos de um lado a FM com grande aparato tecnológico, com qualidade de emissão, mas sem nenhuma mensagem, nenhum construtor de aprendizagem nem interação com o ouvinte, a não ser concursos de perguntas vazias sem nenhuma contribuição para o seu engrandecimento. O rádio FM bem que poderia utilizar sua qualidade para criar mecanismos de informação, satisfação e lazer adequado para todos, saindo da mera veiculação de músicas geralmente de péssima qualidade e que em nada contribuem para uma melhor formação de nosso povo.

Por outro lado temos o combalido rádio AM, que sofre pela falta completa de investimentos, onde o radiojornalismo se resume à leitura dos jornais da capital, onde os comentários têm mais a ver com a vida do radialista do que com o que realmente interessa ao povo. Assim, vemos o crescimento e o fortalecimento de programas que agridem o ouvinte com palavrões e comentários totalmente desnecessários. O rádio AM sofre e perde com transmissões cada vez mais inaudíveis, com chiados, falta de potência no som e qualidade sofrível de alguns programas.

Resgate urgente

O que mais revolta é que ninguém toma providência alguma. Os grandes radialistas de nossa terra parecem não se incomodar com a situação, parecem compreender que sua missão terminou. Os proprietários de rádio com certeza não ouvem suas emissoras, pois já teriam tomado providências diante do caos que se instalou. A Acert, órgão que congrega proprietários de emissoras, limita-se a perseguir as rádios comunitárias – não reconhece as organizações dos ouvintes nem toma providência alguma em relação à situação. Os cursos de comunicação não procuram desenvolver práticas que visem a análise e a melhoria da programação do rádio tanto AM quanto FM (que seus alunos escutam). O Sindicato dos Radialistas limita-se à função de formação, mas não fiscaliza aqueles que se formam nem luta pela valorização da profissão. A pergunta é: será que vão deixar o rádio morrer?

Tais constatações fazem com que esse temor tome conta dos que realmente gostam de rádio. Teme-se que o rádio sucumba e que o povo não tenha oportunidade mais de se pronunciar nem se fazer entender. O povo tem se organizado para melhorar o rádio. A iniciativa de criação de associações de ouvintes é uma dessas tentativas, mas, infelizmente, não tem sido reconhecida por nenhuma das instâncias dos que fazem o rádio. Radialistas xingam essa iniciativa, proprietários não ouvem o que diz a associação, a Acert não reconhece a organização dos ouvintes, a ponto de barrar sua participação no Congresso de Radiodifusão. Os cursos de Comunicação da capital não buscam se integrar com o pensamento dos que fazem esta associação. Os estudantes de Comunicação não se ligam no rádio e deixam-no à mercê de outros interesses que não são os da comunicação.

É preciso resgatar o rádio urgentemente, com melhoria das emissões, com programação que fale a língua de nosso povo e com respeito ao ouvinte de forma concreta, valorizando sua organização, dando-lhe oportunidades de falar, educando sua participação e, enfim, fazendo com que o rádio seja o instrumento que sempre foi e continuará sendo mesmo que seja preciso uma revolução de costumes, ações e práticas do mercado radiofônico.

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Professor, presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará