Acreditamos que uma das grandes soluções para os problemas hoje enfrentados pelo amigo rádio seriam investimentos firmes em interatividade para dar ao rádio um ar de democracia participativa e oportunizar aos ouvintes o poder de participar, opinar e dizer o que pensam sobre os diversos temas da sociedade. O rádio precisa ser mais democrático criando espaços para o que pensa o usuário da comunicação sobre o que se passa nas programações e fazer deste meio um instrumento participativo forte e ativo na construção de um processo de democratização das comunicações. No meio televisivo, é cada vez mais forte a participação dos usuários nas comunicações onde a televisão está indo aos bairros colhendo opiniões, verificando denúncias e ouvindo o que o povo diz, dando índices de audiência grandes simplesmente pela participação popular.
Por que o rádio não faz o mesmo? Hoje são raros os momentos de participação popular em nosso rádio. Há emissoras que reservam míseros minutos de oportunidades para os ouvintes e nesses momentos não há interatividade nem discussão sobre o que o ouvinte falou e muitos comunicadores deixam a comunicação do ouvinte às vezes sem resposta ou nenhuma opinião. Não é objetivo do ouvinte apenas falar; ele quer saber se sua opinião é válida, ou se os problemas que levanta têm consistência, ou se suas idéias são valorizadas. No nosso rádio (realidade cearense), são raras as oportunidades de participação popular e o que temos é um espetáculo de bajulação às autoridades que podem tomar conta da programação e dizerem o que querem. Nosso rádio, infelizmente, tem se transformado no paraíso dos ‘doutores’ que a toda hora são elogiados de forma intensa. Por que esquecem os ouvintes?
Ouvindo só um lado
O grande problema de nosso rádio é falta de interatividade, sim, o rádio precisa investir em canais populares. Por que não levar unidades móveis às ruas e colher opiniões, discussões, idéias e outras formas de opinião? Por que não colocar os ouvintes em contato com autoridades para que estas saibam o que a sociedade pensa de suas administrações ou ações de governos? A interatividade seria um caminho fácil para melhorar nosso rádio, pois o povo, ao saber que tem vez e voz, certamente daria mais apoio às programações, ouviria mais o rádio, compreenderia melhor o papel da comunicação. Claro que este processo deveria ser feito de forma responsável, exigindo do ouvinte uma participação séria, segura e concisa, como falas respeitosas e questionamentos sérios. Não queremos, claro, que o rádio seja feito só pelo ouvinte, mas achamos , sobretudo, que abrir mais espaços para o rádio dará a este meio mais credibilidade e respeito.
O rádio precisa se modernizar, porém não deve perder o seu glamour de sempre, onde os programas de maior audiência eram aqueles onde a participação do ouvinte era sempre valorizada e onde o rádio buscava a comunidade para ouvir o que o povo queria dizer e quais os problemas de seu local de vivência. Investir em interatividade é uma solução boa para resolver os problemas do amigo rádio, pois com participação popular certamente o povo que ouve rádio terá ao seu lado a certeza de que pode falar o que pensa e dizer dos seus problemas para o bem da comunicação e do desenvolvimento da democracia. Sem rádio participativo, certamente temos uma comunicação truncada onde só ouvimos um lado da cadeia comunicativa, ‘os poderosos’ que já têm espaço suficiente nas mídias, pois podem pagar propagandas, programas ou espaços nas programações.
Participação sadia e democrática
O rádio precisa beber a essência da democracia, seus proprietários precisam conhecer os desejos populares e precisam investir no quesito interatividade, abrindo ouvidorias para sentir os anseios populares sobre um meio que é concessão pública e não pode se tocado exclusivamente a toque de caixa sem responsabilidade pelo que se emite nem o que se diz. O rádio precisa aprofundar a respeitabilidade e emitir mensagens que não agridam quem está do outro lado da comunicação, que quer divertimento sadio e entretenimento saudável. Alguns programas precisam ser revistos, claro que não somos puritanos, mas ainda há muita agressão no meio rádio. Se o rádio pensar de uma forma mais democrática, certamente resgataremos audiência, lucratividade e respeito a este meio que resiste diante de formas errôneas de dar comunicação.
A interatividade é, sim, uma solução. Porém deve ser pensada de forma a dar espaços para uma participação sadia, respeitosa e, sobretudo, democrática.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE