Está sendo badalado como o ‘o mais importante evento da indústria jornalística brasileira’. Logo se imagina que o 7º Congresso Brasileiro de Jornais, que começa na segunda-feira (18/8), em São Paulo, deverá comemorar os 200 anos da criação da imprensa brasileira apresentando-a como a instituição que impulsionou decisivamente o desenvolvimento cultural e político do país.
Nada disso: os 800 inscritos no evento querem discutir como serão os jornais no ano 2020 e como será a ‘A (re)construção do jornal para a era digital’. Ora, reconstrução faz supor que algo foi destruído. Os jornais, porventura, foram destruídos? Em caso positivo, quem ou o que os prejudica?
O pessoal da indústria jornalística acha que está tudo bem com os jornais de hoje, só está interessado no futuro. Aliás, o que é exatamente a ‘indústria jornalística’? Um conjunto de gráficas onde se imprime qualquer coisa desde que produza lucros? Não era isso que pensava o patriarca da imprensa brasileira Hipólito da Costa, que em 1808 via o jornalismo como um serviço público.
Efeméride escondida
Para Hipólito da Costa, a imprensa era uma instituição a serviço da sociedade. Uma indústria, em teoria, está a serviço de si mesma ou dos seus acionistas. Acontece que na agenda do grandioso evento de dois dias não está prevista nenhuma menção ao bicentenário do nosso jornalismo que deveria ser comemorado a partir de junho até setembro deste ano.
O ministro da Indústria e Comércio, Miguel Jorge, será o principal orador e na dupla condição de veterano jornalista e autoridade governamental certamente lembrará aos patrocinadores do Congresso que não se pode pensar no futuro sem rever o passado e entender o presente.
O que acontecerá em 2020 depende exclusivamente do desempenho atual. E, no momento, os participantes do 7º Congresso Brasileiro de Jornais estão empenhados apenas em esconder os 200 anos da imprensa. Uma instituição ou uma indústria – vá lá – que desconhece o seu passado condena-se a repetir os erros que cometeu.