O repórter iraquiano Muntadhar al-Zeidi, que atirou seus sapatos no então presidente americano George W. Bush, pode usar sua fama momentânea para promover causas humanitárias, noticia Jason Keyser [Associated Press, 10/9/09]. ‘Acho que ele vai deixar seu trabalho como jornalista porque sabe que será boicotado’, aposta seu irmão Dargham. ‘Ele me disse que está interessado em trabalhar em uma organização humanitária ou se tornar ativista dos direitos de mulheres ou órfãos’. Al-Zeidi chegou a receber ofertas para se filiar a partidos políticos, mas recusou todas. Após nove meses na prisão, ele será solto na semana que vem. Muitos iraquianos viram no seu ato um protesto válido contra a guerra e a ocupação americana.
O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, estava ao lado de Bush quando o jornalista lançou os sapatos durante uma entrevista coletiva, em Bagdá. Como Bush abaixou-se, acabou não sendo atingido. Em março, al-Zeidi foi condenado a três anos de prisão. A sentença acabou reduzida para um ano, pois ele não tinha antecedentes criminais. Por bom comportamento, o jornalista será libertado três meses antes do prazo. A cena do sapato foi reproduzida em todo o mundo e inspirou jogos de internet, estampas em camisetas e até pedidos de casamento. Um homem saudita teria oferecido US$ 10 milhões pelos sapatos, mas eles foram destruídos durante investigação para determinar se tinham explosivos.
De volta
Al-Zeidi trabalhava para a emissora de TV al-Baghdadiya. O canal continuou a pagar seu salário durante o tempo em que ele ficou na prisão e chegou a comprar-lhe uma casa nova, esperando que seu retorno pudesse aumentar a audiência. ‘Pelo que eu saiba, ele voltará a trabalhar conosco. Falei com ele esta semana’, afirmou o gerente da emissora, Abdul-Hamid al-Sayah. ‘Não apoiamos o fato de um jornalista usar um sapato para se expressar. Mas ao vermos seu histórico, percebemos que o ato reflete sua frustração com a ocupação militar’.
A emissora planeja uma coletiva com al-Zeidi e sua participação em um talk-show, no qual ele explicaria por que jogou os sapatos. Segundo al-Sayah, o repórter deve viajar para descansar e será bem-vindo se optar por trabalhar em uma sucursal fora do Iraque. A emissora tem sucursais na Jordânia, Egito e Síria. Para o analista político Nabil Salim, não será fácil para o jornalista trabalhar no país. ‘Por conta da sua fama, alguns políticos antigoverno irão tentar usar al-Zeidi em campanhas eleitorais. Já o governo sempre vai olhar para ele com suspeita’, opinou.
Já sua família está preocupada com a segurança. Em 2007, al-Zeidi, que é xiita, foi sequestrado por homens armados enquanto fazia uma matéria em um distrito sunita, no norte de Bagdá. Ele foi solto três dias depois. Em janeiro de 2008, ele foi preso por soldados americanos que fizeram uma busca em seu apartamento e soltaram-no no dia seguinte.