Há duas maneiras de encarar a condenação sofrida por Jorge Kajuru, em Goiás.
Na primeira delas, a culpa é toda dele, ingênuo a ponto de deixar nas mãos de um advogado local um processo contra gente tão poderosa no estado. Resultado: o rábula simplesmente ‘perdeu’ o prazo de recurso contra a condenação e, ‘mortificado’, prometeu encerrar a carreira e ‘ir vender picolés no interior’. Mas não cumpriu, pois continua na ativa. O pior é que não foi por falta de aviso, tantas vezes Kajuru foi alertado para a necessidade de contratar um defensor em São Paulo.
A segunda abordagem diz respeito ao absurdo de sua condenação. Ele chamou de ‘oportunista’ uma empresa que comprou os direitos de transmissão do campeonato goiano por um preço muito inferior ao que suas concorrentes ofereciam. Campeonato que o governo goiano patrocinou ao trocar notas fiscais por ingressos e interferiu de tal maneira em seus destinos que seu lançamento foi no palácio do governador.
Mais: não só os direitos foram negociados por preço inferior aos direitos, por exemplo, do campeonato paraense, como, ainda por cima, o governo goiano anunciava nas transmissões e anunciava em seu nome mesmo, não por meio de empresas estatais.
Jornalismo e bajulação
Ora, se um jornalista não pode denunciar uma situação tão estranha como essa, devemos nos perguntar: o que todos nós estamos fazendo que ainda não fomos presos?
Custa crer que uma empresa de comunicação, com todo o espaço para se defender e desmentir o que possa considerar não verdadeiro, recorra à Justiça para calar a voz de um jornalista, sem dúvida impetuoso e de estilo, no mínimo, polêmico, mas que sempre mira para cima, jamais para baixo. E que merece a solidariedade de quem não se curva aos poderosos, ao merchandising, à grana.
Jorge Kajuru, com o poder de comunicação que tem, poderia estar milionário vendendo cerveja em programas esportivos e bajulando os poderosos. Mas corre o risco de ter de dormir em albergue.
É o Brasil, pois não?
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Jornalista