Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Lilian Fernandes

‘No direction home – Bob Dylan’, novo documentário de Martin Scorsese, só poderá ser visto hoje, numa sessão para convidados. Mas, de amanhã a sexta-feira, quando o Festival Internacional de Televisão do Rio de Janeiro estiver aberto ao público, não faltarão opções para quem gosta do assunto. De ‘Le monde selon Bush’ (‘O mundo segundo Bush’), filme à la Michel Moore produzido por William Karel, à estréia mundial do novo documentário da série inglesa ‘The up series’, que começou a ser filmada em 1964. Também integra o evento, promovido pelo Instituto de Estudos de Televisão (IETV), o IV Encontro Internacional de Televisão.

– No ano passado, durante o III Encontro, olhei o auditório lotado e pensei: ‘Isto tem que crescer’ – conta Nelson Hoineff, crítico de cinema, diretor de TV e fundador do IETV. – Daí surgiu o festival, que em sua primeira edição já está maduro.

Seminário tratará de transgressão a ‘talk-shows’

O festival terá seis módulos e ocupará simultaneamente o Arte-Sesc Flamengo e o Centro Cultural Telemar, no Flamengo. Há atrações com entrada franca e outras pagas (a programação está no site www.ietv.org.br). Uma das mostras chama-se Panorama da TV Mundial e traz cerca de 50 horas de programação, 80% delas oriundas da Ásia. Também há programas da França, da Espanha e da Austrália.

Já a mostra Linguagem e Experimentação terá, além das quase 13 horas de ‘The up series’, produções da The Kitchen, instituição nova-iorquina dedicada à arte de vanguarda.

– ‘The up series’ é uma das maiores experiências audiovisuais de todos os tempos: a cada sete anos, o diretor faz novo registro das expectativas de um grupo de pessoas. Já o grande legado da The Kitchen é o acervo audiovisual que conquistou entre os anos 60 e 90, que é o que vamos mostrar – orgulha-se Hoineff.

A menina-dos-olhos do diretor é o seminário. Uma das mesas, sobre talk-shows, terá participação de Hal Gurnee, diretor de programas como o ‘Late show with David Letterman’; Bernard Timberg, autor do livro ‘Television talk’; e Ron Simon, diretor do Museu de Televisão de Nova York. Paulo César Pereio, Selton Mello e Paulo Mendonça, do Canal Brasil, e Michel Melamed, da TVE/Rede Brasil, vão falar sobre TV e transgressão. Já João Gordo, Penélope Nova e o diretor de programação da MTV, Zico Góes, tratarão da necessidade de inovar. E a interatividade será discutida à luz do programa ‘Ao vivo do paraíso’, exibido pelo Canal Adulto, da TVA, em que os telespectadores dirigem as aventuras eróticas de um casal ao vivo.

O evento trará ainda atrações vencedoras dos festivais de TV de Banff (Canadá), Rose d’Or (Suíça) e Xangai (China), listados entre os maiores do mundo, e, no módulo TV e Grandes Autores, programas de Godard, Hitchcock e Peter Greenaway.’



Beatriz Coelho Silva

‘Rio sedia festival mundial de TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 21/11/05

‘O documentário No Direction Home- Bob Dylan, de Martin Scorsese e Davi Tedeschi, abre hoje à noite, no Sesc-Flamengo, o 1º Festival Internacional de Televisão, promovido pelo Instituto de Estudos de Televisão (IETV). Até quinta-feira, serão exibidos mais de cem programas nacionais e internacionais. ‘Chegou a hora de crescer e reunirmos programas e profissionais que fizeram e fazem a história do veículo’, diz o diretor do IETV, Nelson Hoineff.

O filme de Bob Dylan, biografia autorizada pelo próprio, é o título mais famoso do festival, mas há programas imperdíveis – destaque para programas da China, Coréia, Irã e Iraque. Documentários de diretores consagrados no cinema, como Jean Luc Godard, Lars Von Trier e Peter Greenway também fazem parte da programação.

A linguagem televisiva na globalização é o tema do 4º Encontro, que terá especialistas como o diretor do Museu de Televisão de Nova York, Ron Simon, o criador dos talk shows americanos, Hal Gurnee, e o diretor da CNN para a América Latina, Chris Crommet. ‘Apesar de haver centenas de canais, os donos da televisão são três ou quatro grupos empresariais, a maioria americana’, lembra Hoineff. As cores nacionais serão defendidas pelo ator Selton Melo, Penélope Nova, do Ponto P, da MTV, e Luiz Sanches, diretor do Canal Adulto. ‘Ele tem um programa pornô, Ao Vivo do Paraíso, em que o público dirige o ato sexual de um casal. Acho que este é o único verdadeiramente interativo da televisão’, comenta Hoineff.

Hoineff lembra que essa variedade de programas foi possível porque o festival não é competitivo. ‘Por isso, conseguimos os vencedores dos maiores do mundo, o Banff, do Canadá, o Rose d’Or, na Suíça, e o de Shangai.’’



BAIXARIA NA TV
Laura Mattos

‘Decadência sem elegância’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/05

‘Imagine uma televisão sem João Kléber, Ratinho e Márcia Goldschmidt. Pois o sonho de consumo da patrulha antibaixaria tem chance de se realizar. Os três grandes ícones da programação trash brasileira sofreram fortes golpes recentemente e correm o risco de levar cartão vermelho das emissoras que hoje os abrigam.

Com a possível queda do ‘império’ surgido há quase dez anos e marcado por brigas no palco, testes de DNA e de fidelidade, pegadinhas e dramas forjados, surge a nova fase do mau gosto, movida a auto-ajuda e a fofoca de pseudo-celebridades. Da nova vertente, os maiores representantes são Luciana Gimenez, com o ‘Superpop’ (Rede TV!), e Gilberto Barros, do ‘Boa Noite, Brasil’ (Band).

No sapato da, digamos, ‘velha-guarda’ trash há três pedras: 1) o ibope já não é mais o mesmo dos áureos tempos; 2) grandes anunciantes se afastaram pressionados pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados; 3) o Ministério Público criou uma estrutura de controle da programação e endureceu com as redes.

Pára, pára, pára

É exatamente essa lista tríplice de argumentos que faz com que a cúpula da Rede TV! esteja seriamente inclinada a se livrar de João Kléber e de seu bordão ‘pára, pára, pára’ a partir de 2006.

No Ibope, seu desempenho já não é dos melhores. A situação de João Kléber se agravou muito na semana passada, quando a Justiça tirou a Rede TV! do ar em São Paulo em razão de seu programa ‘Tarde Quente’.

Desta vez, a denúncia foi por ofensa a homossexuais, mas o apresentador já foi acusado de humilhar mulheres, de armar o ‘Teste de Fidelidade’ e outras brigas e até de simular o próprio desmaio ao vivo. Liderou por várias vezes o ranking da baixaria da Câmara dos Deputados. Diante de tanta confusão e de uma imagem cada vez pior, João Kléber perdeu um de seus grandes financiadores, a Marabraz.

Assim que foi informada da liminar que determinava a suspensão do ‘Tarde Quente’ por 60 dias, a direção da rede de móveis decidiu cortar o patrocínio ao programa do apresentador. Em comunicado, a empresa afirmou que sua ‘missão é trabalhar para o bem-estar de seus consumidores e da comunidade’. ‘Por isso, em virtude das ações contra a veiculação de programas que incentivam a baixaria na TV, a empresa optou por atender aos anseios da comunidade, suspendendo o patrocínio ao programa ‘Tarde Quente’, de João Kléber.’

Esse pode ter sido o xeque-mate contra o apresentador. A Folha deixou recado em seu celular, mas não obteve retorno até a conclusão desta edição, na noite de quinta. A assessoria de imprensa da Rede TV! afirmou que o apresentador estava em Portugal, onde seu programa é exibido com sucesso de audiência.

Em junho deste ano, quando liderou o ranking da campanha contra a baixaria, o apresentador deu a seguinte declaração à Folha: ‘Eu procurei a organização da campanha para me informar sobre os critérios do ranking, mas percebi que se pretende interferir na liberdade de criação e de expressão artística, como que querendo impor ao telespectador o que ele deve ou não assistir. Ao que parece, a grande inovação tecnológica chamada controle remoto não chegou ao conhecimento de alguns’.

Na toca

Espécie de ‘pai’ de João Kléber, Carlos Massa, o Ratinho, há tempos já não é mais o mesmo que surrava a mesa com um cassetete, gritava sem parar e quebrava televisores diante das câmeras. Sua mudança para um programa mais ‘light’ é reflexo da pressão de ações judiciais por danos morais, falta de anunciantes de grande porte e queda de audiência.

Diante disso, Silvio Santos colocou em prática sua especialidade: mudar várias vezes o programa de formato e de horário.

Só neste ano, o ‘Programa do Ratinho’ foi trocado quatro vezes de lugar na grade de programação. Terminou fora do horário nobre (ocupado por Ana Paula Padrão e novelas) e teve de engolir o vespertino, com menos telespectadores. Além disso, Silvio Santos cogitou trocar seu nome para ‘Isto É Brasil’, ‘Ratinho Late Show’ e até ‘Ratinho Charmoso’ (numa tentativa de ‘suavizar’ a imagem do apresentador). Resolveu manter o clássico, mas mudar o formato. Ratinho é agora âncora de um ‘jornalístico’ popular, com reportagens de comportamento e auto-ajuda de saúde.

Diante de tantas mudanças, Carlos Massa está enfraquecido nos bastidores e enfrenta especulações de novas trocas de horário e até da possibilidade de Silvio Santos não renovar seu contrato.

Ratinho foi procurado pela Folha por meio de sua assessoria de imprensa, que não retornou as ligações até a conclusão desta edição. A assessoria do SBT nega que a emissora tenha planos de tirar o ‘Programa do Ratinho’ do ar. Afirma que ‘o conteúdo foi alterado, o que gerou qualificação de público e de anunciantes’.

Saias

Representante feminina da década trash, Márcia Goldschmidt já foi apelidada de ‘João Kléber de saias’ e, assim como ele, vive uma crise profissional. Neste ano, a Bandeirantes a vendeu como a ‘Oprah’ brasileira (em referência à bem-sucedida apresentadora norte-americana), apostando numa ‘plástica’ capaz de tirar de Márcia a imagem de ‘barraqueira’. Não colou. Dois meses após a estréia de seu ‘Jogo da Vida’ diário, a direção da Band decidiu suspender as gravações. As reprises vão ao ar até dezembro, e em 2006 o programa sai do ar.

A reportagem deixou recado no celular da apresentadora, mas também não obteve resposta. Em agosto, ao ser questionada pela Folha se conseguiria apagar sua imagem do passado, ela respondeu: ‘Acho que essa imagem não existe, é uma percepção errada. A Band não apostaria numa apresentadora com uma imagem prejudicial. Pode ser que em algum momento tratar da realidade tenha sido considerado barraco, mas então a vida é um grande barraco e não posso fazer nada’.

Por último, há Sérgio Mallandro, com um programa trash independente exibido aos sábados na Gazeta, que, não raro, registra traço de audiência no Ibope.’



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‘Novo trash aposta em fofoca de famosos e auto-ajuda’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/05

‘Enquanto João Kléber, Ratinho e Márcia Goldschmidt estão em baixa, a TV tem cada vez mais ‘opções’ de programas com fofocas de celebridades e auto-ajuda.

O ‘Superpop’, de Luciana Gimenez (Rede TV!), é o ‘rei’ dos artistas que estão fora da mídia. Coloca, por exemplo, ex-chacretes diante de uma saraivada de perguntas ‘construtivas’ sobre seu passado sexual e a dificuldade de sobreviver após a fama. Com a desculpa de ‘prestar serviço’, expõe casais com pouca roupa no palco para ‘ensinar’ posições sexuais e abusa de mulheres seminuas para as ‘dicas de estética’.

Seu grande concorrente é Gilberto Barros, do ‘Boa Noite, Brasil’. Apresentador da Band, ele foi o substituto de Ratinho na Record em 1998 (estreou o ‘Leão Livre’, no lugar do ‘Ratinho Livre’). Barros também coloca ‘celebridades’ como ex-’Big Brothers’ e ex-’Casa dos Artistas’ para ‘abrir o jogo sobre a vida pessoal e profissional’. Os quase famosos fazem cara de nojo ao degustar comidas exóticas como olho de cobra.

Classificado como programa feminino, o ‘Bom Dia, Mulher’ (Rede TV!), de Olga Bongiovanni, tem derrapado para a baixaria. Há um mês, colocou no ar a ex-mulher de um cantor que o acusava de ser homossexual. Pela ‘entrevista’, sofreu uma ação judicial.

Outra novidade da Rede TV! é o ‘Encontro Marcado’, com Luiz Gasparetto (fundador de um centro espírita), e o claro investimento na auto-ajuda eletrônica.

No SBT, há o ‘Casos de Família’, no qual a apresentadora, Regina Volpato, é uma espécie de ‘juíza’ dos convidados, que lavam roupa suja no ar. Na semana passada, uma moça acusava o marido de ser pior que o ex ‘na intimidade’. Na cama, explicou, ‘o Brasil só entra em campo por cinco minutos’. ‘Com meu ex era [sic] duas horas. Pra que eu quero cinco minutos, Regina?’, questionava a mulher, em plena tarde, horário liberado para crianças.

Há ainda o espaço garantido dos telefofoqueiros ‘clássicos’, como Sonia Abrão, na Record, e Leão Lobo, na Bandeirantes.

Fenômeno cíclico

A baixaria na TV é um fenômeno cíclico, na opinião de especialistas consultados pela Folha. O sociólogo Laurindo Lalo Leal, professor da USP e um dos criadores da ONG TVer, acredita que ‘estão em baixa os ícones da baixaria, mas ela volta de outra forma’. ‘Sempre existiram na TV episódios de mau gosto. Mas a baixaria se acentuou com a disputa mais acirrada por audiência, e o ciclo iniciado por Ratinho há dez anos só começa a cair agora em razão da pressão de campanhas, ONGs e do Ministério Público.’

Para ele, a sociedade passou a pressionar as TVs por estar mais consciente de que são concessões públicas. ‘Mas a briga por uma TV melhor será permanente.’

Para o sociólogo Sérgio Miceli, também professor da USP e autor de um ensaio sobre o poder da TV, o Ministério Público endureceu desde 2003, quando Gugu Liberato exibiu a falsa entrevista com a facção criminosa PCC. ‘Aquele episódio foi pedagógico do limite a que a coisa pode chegar. Isso trouxe também uma autodomesticação das redes.’ Mas, opina, novos nomes virão. ‘A TV é mais do mesmo. Não há muita saída, ela tem de ser assim mesmo.’’



Daniel Castro

‘‘Boca-suja’, ‘Pânico’ vira o rei da baixaria’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/05

‘Pela primeira vez desde que foi lançado, há dois anos, o ranking da baixaria não trará no topo da lista dos piores programas da TV atrações de João Kléber, Ratinho, Gugu Liberato ou novelas da Globo. O ‘campeão’ da décima edição do ranking, que será divulgada nesta semana, é o humorístico ‘Pânico na TV’ (Rede TV!).

O ranking é produzido pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, ligada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Seu objetivo é receber denúncias contra programas, divulgá-las e forçar anunciantes a não investirem em programas de má qualidade.

O ‘Pânico na TV’ foi alvo entre 4 de junho e 10 de novembro de 3.189 ‘denúncias fundamentadas’, um recorde. Nunca um programa ‘líder’ da baixaria recebera mais do que 205 reclamações no período contabilizado. O ‘Pânico’ alavancou a campanha, que nos últimos cinco meses recebera 5.449 denúncias -ou 21% do total de seus dois anos de existência.

O ranking divulga os principais motivos que levaram telespectadores a telefonarem ou escreverem contra determinado programa. O ‘Pânico’ foi denunciado por usar ‘palavras de baixo calão’, expor pessoas ao ridículo e por ‘crueldade contra animais’.

Coordenador da campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, o deputado federal Orlando Fantazzini (PSOL-SP) explica a ‘crueldade’: recentemente, o ‘Pânico’ instalou microcâmera em um balão de gás e amarrou nele um ratinho, registrando o ‘vôo’ do bichinho.

‘O ‘Pânico’ sempre apareceu no ranking, mas nunca em primeiro. Acredito que as pessoas hoje têm maior conhecimento da campanha e ficaram sensibilizadas pelo uso de forma cruel de um animal. Embora seja um programa de humor, o ‘Pânico’ tem conteúdo que desrespeita o telespectador, extrapola, ridiculariza e menospreza o ser humano’, afirma Fantazzini.

Emílio Surita, apresentador do ‘Pânico’, discorda, obviamente. ‘Não vejo baixaria no ‘Pânico’ por causa de anões. O ‘Pânico’ é uma grande gozação. Outro problema é que usamos linguagem da molecada, então acham que isso é palavrão. A gente nunca foi homofóbico. Usamos a cartilha do humor que sacaneia o homossexual, mas dizer que isso é baixaria é muito subjetivo’, diz.

Surita esclarece que o ratinho usado na ‘experiência’ dos balões de gás não foi torturado. ‘Ele só subiu cinco metros e desceu. Fizemos um making of que prova que não houve maus-tratos.’

Outro humorístico bem posicionado no décimo ranking da baixaria é o ‘Casseta & Planeta’, da Globo. Aparece em terceiro lugar, com 102 reclamações, atrás de João Kléber (344).

O ‘Casseta’ foi ‘vítima’ de uma frase infeliz sobre a crise do ‘mensalão’. Na edição de 13 de julho, foi dito que ‘em Brasília só tem prostituta e ladrão’. Mais da metade das reclamações (67) vieram do Distrito Federal.

Fantazzini nega que políticos tenham vestido a carapuça. ‘As pessoas de bem de Brasília se ofenderam. Eles generalizaram ao dizer que a cidade só tem prostituta, foram ofensivos. Essa é uma forma equivocada de fazer humor. Não acredito que a única forma de fazer humor seja o escracho’, afirma o deputado.

‘A gente não sacaneia Brasília, mas os políticos’, se defende Manfredo Barretto, empresário dos ‘cassetas’.

A Globo relativiza a importância do ranking da baixaria. Oficialmente, diz que ‘o universo das pessoas que se manifestam é tão inexpressivo que chega a ser consagrador para a Globo em termos de qualidade’.

O SBT acredita que o ‘Programa do Ratinho’ ainda aparece no ranking (em quinto) porque muitos telespectadores não teriam notado que a atração mudou, no início deste ano. ‘A troca dos quadros de teste de DNA e de brigas entre casais por informação e entretenimento já trouxe benefícios ao apresentador e ao SBT, que qualificou o seu público’, afirma a emissora, em nota.

Fantazzini retruca a acusação da Globo de que o ranking é inexpressivo. ‘A campanha é representativa e expontânea’, diz. Contesta também o argumento de que baixaria é algo subjetivo. Afirma que a campanha usa critérios de respeito à dignidade humana estabelecidos na Constituição, em tratados internacionais e em leis. ‘Não tem subjetividade, questão de gosto ou fundamentalismo religioso’, protesta.’



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‘Campanha ‘turbinou’ ranking da baixaria’, copyright Folha de S. Paulo, 21/11/05

‘O décimo ranking da baixaria na TV, que será divulgado hoje pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, foi inflado por corrente na internet.

O ranking recebeu 5.449 reclamações entre 4 de junho e 10 de novembro, recorde da campanha. O ‘Pânico na TV’ aparece como líder do ranking, com 3.189 reclamações (58,5% do total). Nunca antes um programa ‘campeão’ teve mais do que 205 ‘votos’.

Mas pelo menos 1.658 reclamações contra o ‘Pânico’ vieram de apenas duas fontes: uma comunidade no Orkut, chamada ‘Pânico na TV Passou do Limite’, e de uma ONG pró-animais, a PEA (Projeto Esperança Animal), que se revoltaram contra a exibição, em 9 de outubro, de um ratinho amarrado a um balão de gás.

Carlos Mota, assessor da Comissão de Direitos Humanos, admite que considerou 630 denúncias dos 692 membros da comunidade no Orkut porque ‘são 630 pessoas diferentes’. A PEA recrutou 1.028 reclamações via e-mail.

Os algozes do ‘Pânico’ divulgaram modelo de e-mail para o envio de reclamação. No Orkut, postaram mensagem em que Carlos Mota os incentiva a reclamar.

Para os humoristas do ‘Pânico’, as ‘denúncias no atacado’ tiram a legitimidade do ranking. A coordenação da campanha diz que a mobilização pela internet foi legítima e expressiva.

OUTRO CANAL

Censura 1 A liminar que tirou a Rede TV! do ar durante 25 horas, por descumprimento de decisão judicial, uniu as principais emissoras do país. Foram intensas, na semana passada, as conversas entre executivos da Globo, Record, Band e Rede TV!. Todas acham a medida exagerada e temem que algo parecido um dia possa acontecer com elas, uma vez que se criou um precedente.

Censura 2 A Abra (Associação Brasileira de Radiodifusores, que reúne Band, SBT e Rede TV!) divulgou na noite de sexta nota oficial em que chama o episódio de censura e de ‘medida truculenta’ que ‘retirou dos telespectadores o direito de escolha’. E ‘conclama as autoridades, judiciais inclusive, a refletirem sobre a importância para o Brasil de evitar que atos de censura não se repitam’.

Censura 3 Também na sexta, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo divulgou nota em que manifesta preocupação com ‘decisões judiciais que restringem o pleno exercício da liberdade de expressão’.

Geografia A novela ‘Prova de Amor’, da Record, vai bem de audiência (para os parâmetros da emissora) em todo o país. Mas é no Recife (com impressionantes 22 pontos), no Rio (onde é ambientada e marca 12 pontos) e em São Paulo (11 no Ibope) que se sai melhor. A média nacional é de dez pontos.’



Leila Reis

‘Mudança de hábito’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/11/05

‘Por determinação da Justiça, a RedeTV! ficou 25 horas fora do ar – na rede aberta, pois no satélite e nos canais pagos tudo esteve como antes – de segunda para terça, gerando uma pequena polêmica sobre volta de censura e responsabilidade sobre a qualidade da programação.

O pivô do caso foi o programa de João Kleber, o diurno, que responde pelo título de Tarde Quente. Para quem não percebeu a ausência ou a discussão é bom rever os fatos. ONGs ligadas aos direitos humanos denunciaram ao Ministério Público o programa por conter quadros – de pegadinhas – que desrespeitavam cidadãos brasileiros sob pretexto de fazer humor. O programa foi retirado do ar por 60 dias, por ‘humilhar, ofender e reforçar preconceitos contra homossexuais, mulheres, negros, idosos e pessoas com deficiência’. A Justiça determinou que o horário do programa fosse preenchido por material educativo. Como isso não aconteceu, a RedeTV! foi penalizada com o corte do sinal.

A atitude surpreendeu a emissora e o mercado. Falou-se em truculência, exagero do poder público, etc. A razão do susto foi por se tratar de uma ação inédita no Brasil democrático. Mas convém colocar as coisas no foco correto. Ao atuar energicamente, a Justiça nada mais fez do que honrar a Constituição Federal que, no capítulo sobre Comunicação Social, trata com a maior clareza dos princípios que devem nortear o conteúdo do rádio e da TV. O artigo 221 reza que a programação deve, entre outros, dar ‘preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas’ e respeitar ‘os valores éticos e sociais da pessoa e da família’.

Dessas preocupações, programas como os de João Kleber nunca poderão ser acusados. Quando são chamadas à atenção para o exagero no mau gosto, as emissoras apontam o dedo para nós, telespectadores, com o argumento da audiência. Se esses programas levantam o ibope é porque o público (nós) gosta da baixaria. E, como dono do controle remoto, é o responsável pela qualidade da TV a que assiste. E qualquer intervenção nessa relação TV-telespectador fere a livre concorrência, além de significar a volta da nefasta censura.

São ilusões que produtores de TV vendem como argumentos. Quando se pula de um canal para outro e se depara com o mesmo tipo de show, cai por terra o argumento da opção. Escolher entre coisas iguais não é decidir. Neste país, cujos domicílios têm mais aparelhos de TV que geladeiras (98 ante 95% segundo o PNAD, do IBGE) e onde há rincões onde a única janela para o mundo é a TV, o mercado não pode ser o regulador exclusivo dessa relação. Como concessão pública, o conteúdo da TV merece mais atenção do poder público.

B em verdade é que as pegadinhas de João Kleber não estão sozinhas nesse mar de desrespeito ao cidadão. E que ele não pode ser responsabilizado sozinho pela cota de baixaria que permeia a programação da RedeTV! Há também em outros canais shows construídos à custa da humilhação de brasileiros avisados e desavisados, em que grassam atitudes preconceituosas para com gays, mulheres, negros, deficientes. Mas, por incrível que possa parecer, João Kleber presta um grande serviço para a melhoria do conteúdo da TV. A sua punição e a da emissora que o contrata são exemplares porque acenam para a sociedade civil que transgressões cometidas pela TV são passíveis de acarretar conseqüências concretas. E põem mais juízo na cabeça daqueles que produzem coisas que descambam para o mau gosto.’



CASSETA & PLANETA
Daniel Castro

‘Benício será galã de filme dos ‘cassetas’’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/05

‘O ator Murilo Benício será o protagonista de ‘O Julgamento do Século’, título provisório do segundo filme dos humoristas do ‘Casseta & Planeta’ (Globo).

Segundo Manfredo Barretto, empresário dos ‘cassetas’, a intenção foi a de ‘causar estranheza’, afinal o ator não tem nada a ver com Bussunda, Reinaldo, Hubert e companhia _que foram os protagonistas de ‘A Taça do Mundo É Nossa’ (2003), a malsucedida primeira incursão do ‘Casseta & Planeta’ no cinema, com 800 mil espectadores.

‘Já sabemos que somos bonitos. Precisávamos de um galã versátil, que tivesse mais entonação. Nós só sabemos meia dúzia de truques’, brinca Barretto.

No longa, Benício interpretará um advogado honesto, que é ‘malsucedido justamente por ser honesto’. Ele defenderá as Organizações Tabajara, que, sofrendo uma ação judicial muito grave, corre o risco de ir à falência.

O novo filme, diz Barretto, será parecido com o programa de TV, ao contrário de ‘A Taça’, que fazia referências à ditadura de difícil compreensão para o público-alvo dos humoristas (de 15 a 25 anos).

O longa será totalmente rodado nos estúdios da Globo, durante cinco semanas, a partir de 9 de janeiro. Com orçamento de R$ 4 milhões, não usará recursos de incentivos fiscais. ‘Não dá para usar benefício fiscal para fazer cinema enquanto tem gente morrendo de fome’, discursa Barretto.

OUTRO CANAL

Amor 1 Não é só dentro da casa em que está sendo gravado o ‘reality show’ ‘Amor à Moda Antiga’, do SBT, que está havendo muito entrosamento sexual. Um homem e uma mulher, que tentaram participar do programa, mas não foram escolhidos para ‘morar’ na casa, ‘desapareceram’ após serem deixados no aeroporto de Congonhas por um motorista do SBT.

Amor 2 Familiares dos dois procuraram a emissora, desesperados. Descobriu-se, no dia seguinte, que eles passaram a noite em um motel. Tanto o homem quanto a mulher foram ao programa porque se interessaram por pessoas que estão ‘morando’ nele.

Loira No ar em ‘Belíssima’, Camila Pitanga não aparecerá no segundo ‘Quem Vai Ficar com Mário?’, que a Globo exibe em 29 de dezembro. A intérprete de Diana, a chefe do protagonista Mário (Thiago Lacerda), só será citada em telefonema. Seu espaço será ocupado por Letícia Spiller. Matheus Costa, que fez o menino Rique em ‘América’, será filho da personagem de Letícia, Sabrina. A cantora Danni Carlos fará uma segurança de Mário.

Show A Band gravará os shows da banda Pearl Jam no Pacaembu, nos dias 2 e 3 de dezembro. Usará 13 câmeras, quatro gruas e trilho com 25 metros. Os shows, mais os bastidores, serão exibidos em especial de fim de ano, em 25 de dezembro.’