O recente episódio da criação do Conselho de Comunicação no estado do Ceará provou que o poder econômico vai sempre ser o elemento a mais no processo de geração de oportunidades do povo dizer o que pensa da comunicação e o que quer da nossa mídia. É claro que vivemos momentos de ditadura do capital onde os meios de comunicação são dominados pelos que têm poder econômico e político e as lutas populares não vão a lugar algum se não houver união, agregação de interesses e disposição para a luta. No caso em questão, vimos uma total reação do movimento reacionário de nossa política e a quase completa subserviência de alguns setores da comunicação onde jornalistas, radialistas e grande parte dos setores da mídia se levantaram contra o Conselho acusando-o de fomentar o autoritarismo e de cercear a liberdade de imprensa.
Na situação atual, vemos que o povo vai sempre ficar atrás, pois não é chamado a participar dos debates nem tem oportunidade de exercer a cidadania participativa e dar sua opinião sobre os problemas da atualidade. Vemos nesta situação que os donos da mídia têm muitos escudos para se protegerem e o povo não tem nenhum, pois a mobilização popular ainda é muito dispersa em interesses políticos e ideológicos. Por que não abrem o debate? Por que não expõem as anomalias da mídia hoje? Por que vão sempre achar que o povo gosta da baixaria? Os questionamentos antes feitos provam que há uma névoa sobre os interesses do povo que não deixa que a população faça análise firme e coerente de seu papel no processo comunicativo ou se eduque para conhecer discursos e interesses que se escondem no processo comunicativo.
A pressa que a Ordem dos Advogados do Brasil teve neste processo no sentido de arguir inconstitucionalidade à lei e a forma como a deputada Rachel Marques (PT-CE foi tratada pelos donos da mídia mostra uma situação vergonhosa dos fatores que motivam nossa comunicação e de que lado as representações que se dizem populares estão. Por que a OAB não faz um monitoramento da mídia que, em muitos casos, atenta contra os direitos humanos banalizando a morte e expondo pessoas ao ridículo mesmo que sejam marginais ou delinquentes? Por a OAB não fiscaliza o direito de imprensa e o Código de Ética do Jornalismo, que sempre é rasgado quando os meios de comunicação falam a voz dos poderosos? Por que a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará não utilizou o poder de suas Comissões para discutir e debater a temática da comunicação e seus problemas?
Há muito o que fazer
Vale ressaltar que muitas entidades populares concordaram com o Conselho de Comunicação, porém para isso tiveram que publicar seu manifesto em matéria paga nos jornais cearenses e não foram sequer consultadas em relação ao assunto. Onde está, pois a democracia nesta caso? Não podemos aceitar que pessoas que sequer compreenderam o teor do projeto de lei e seu nascedouro possam emitir algumas opiniões extremamente conservadoras e truculentas sobre o projeto em questão. Se o projeto não é possível, quem deveria dizer isso era o povo através de um debate franco e esclarecedor sobre o assunto. É claro que os donos da mídia não querem isso, pois aqui a própria rádio da qual o presidente da Associação Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão é presidente é a primeira a promover palavrões, discriminações e desrespeito aos seus usuários sem providência alguma. Vale, sim, a máxima ‘ Manda quem pode…’
A questão é séria e vem sendo resumida a interesses partidários e motivações político-ideológicas que provam que a maioria dos que fazem parte de nossa sociedade não quer uma comunicação ética, verdadeira e segura para todos. O que muitos querem é a baixaria, o desrespeito e a truculência midiática que traz para todos uma prova cabal de que ainda há que se fazer muito para gerar dignidade, honestidade e verdade nos meios de comunicação. É triste, mas é verdade…
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Vice– presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE