Há décadas, a historiografia contemporânea tem incorporado a imprensa como fonte fundamental para se compreenderem momentos históricos e a atuação de protagonistas. Mas a fragilidade e as limitações do papel impresso, especialmente seu acesso, representam dificuldades para os pesquisadores.
Com o objetivo de ampliar o acesso a jornais e revistas do século 19 e início do século 20 no Brasil, o Arquivo Público do Estado de São Paulo acaba de lançar o site Memória da Imprensa, uma seleção de periódicos digitalizados do acervo da instituição. O serviço reúne, por enquanto, 14 títulos de jornais e revistas de época, que permitem acompanhar a trajetória da imprensa paulista e brasileira a partir da seleção de exemplares de 1854 a 1981.
De acordo com o Carlos de Almeida Prado Bacellar, coordenador do Arquivo Público, além de ampliar o acesso, outro objetivo importante do novo site é preservar os raros originais das publicações. ‘Jornais e revistas antigos têm um suporte muito delicado. O papel amarela com facilidade e a consulta é muito complicada. O acesso direto aos originais ajuda a destruir ainda mais. Quanto mais conseguirmos passar para o formato digital, mais colaboraremos na preservação dos originais’, disse à agência Fapesp.
Projetos de pesquisa
Segundo ele, a partir de agora pesquisadores não terão acesso aos originais dos jornais e revistas que já estão em formato digital. ‘Só poderão consultar em casos muito específicos e que serão analisados. Essa é uma iniciativa importante para preservar o acervo’, disse.
Parte do acervo já digitalizado ajuda a reconstituir momentos importantes dos mais de 200 anos de história da imprensa no Brasil. Pesquisadores já podem acessar desde publicações que marcaram época, como a revista A Cigarra (1914-1975) e o jornal Última Hora (1951-1971), até títulos menos conhecidos, como o jornal sindical Notícias Gráficas (1945-1964) e o anarquista La Barricata (1912-1913).
Segundo Bacellar, a ideia é colocar à disposição do público um conjunto variado de fontes. ‘Buscamos alguns exemplos de periódicos famosos, mas que ilustrem tendências ou conceitos diferentes. Temos desde a grande imprensa até pequenos jornais e revistas com perfis mais variados, como sindicais, políticos ou culturais’, disse.
A digitalização dos jornais e revistas é uma iniciativa interna do Arquivo do Estado. ‘Algumas digitalizações em curso estão envolvidas diretamente em projetos de pesquisa relacionados, por exemplo, à imigração em São Paulo e à resistência política durante a ditadura militar’, explicou.
2 milhões de páginas digitalizadas
O Memória da Imprensa já soma mais de 1.670 páginas de jornais, mas, de acordo com seu coordenador, as páginas disponíveis ainda representam uma amostra ínfima, se comparadas com a totalidade disponível no Arquivo do Estado. ‘Esperamos que esse material sirva para o uso do professor em sala de aula e dos próprios alunos. Caso o professor queira dar uma aula sobre o período da República Velha no Brasil pode, por exemplo, consultar alguns jornais anarquistas do período’, disse.
Um dos destaques é o periódico alternativo Movimento, que liderou a campanha pela anistia durante a ditadura militar. Lançado em 1975 e fechado em 1981, teve 3.093 artigos e 3.162 ilustrações censurados pela ditadura.
Segundo Bacellar, a alimentação do site será feita ao longo do ano de forma aleatória, com relação aos títulos. ‘Mas, às vezes, coincide com solicitação externa. Uma entidade pede, por exemplo, a digitalização de um determinado jornal. De qualquer forma, pretendemos chegar, até o fim do ano, a mais de 2 milhões de páginas digitalizadas’, disse.
O Arquivo Público do Estado de São Paulo é um dos maiores arquivos públicos brasileiros. Sua hemeroteca tem cerca de 1,2 mil títulos e 32 mil exemplares de revistas e mais de 200 títulos de jornais.
Já estão disponíveis no site as revistas O Malho (1902-1954), Panóplia (1901-1935), Anauê! (1935), Vida Moderna (1907-1925) e Escrita (1975-1988), além dos jornais Lanterna (1901-1935), Acção (1936), Germinal (1902-1913) e Correio Paulistano (1854-1963), este último, o primeiro diário da província de São Paulo.
Para acessar a página e mais informações: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoria/
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Repórter da agência Fapesp