Mais do que longevidade, a milésima edição do Domingão do Faustão (Rede Globo), celebrado no dia 17 de maio, evidencia uma apatia quase irreversível dos dois protagonistas das disputas mais acirradas por audiência da televisão brasileira nas duas ultimas décadas. Ao lado de Augusto Liberato, Domingo Legal (SBT), Fausto Silva dava ao domingo da família brasileira um ar de guerra. E o interesse do publico – a massa – era incontestável. As estratégias usadas pelos dois programas rendiam comentários, críticas ao longo da semana e geravam expectativa para o domingo seguinte. A guerra dos domingos teve seu auge na segunda metade dos anos 90 e entre as armas usadas estavam bandas nascidas no calor do carnaval, que tinham em dançarinas quase sem figurino seu maior atrativo. Mas muita coisa pior que isso pôde ser vista naqueles domingos de fúria.
A existência dos dois, Faustão e Gugu, tem a mesma origem: Silvio Santos, soberano de incontáveis domingos. Quando a Rede Globo trouxe Fausto Silva para suas tardes, tinha como objetivo acabar com a hegemonia de Silvio Santos. Já Augusto Liberato, que há muito vinha sendo apontado como sucessor de Silvio, tinha como objetivo manter o domínio dominical com o SBT. É inegável que ambos tiveram êxitos em seus objetivos! O que ia sendo feito de forma alternada, ponto a ponto, domingo a domingo, muitas vezes sem o menor compromisso. Contudo, o que resta dos guerreiros são performances sem brilho. Ambos seguem apresentando de forma corporativa seus programas.
Criar filhos e pagar contas
Possivelmente, Augusto Liberato já teria virado história se seu Domingo Legal tivesse saído do ar. A mudança de horário e, sobretudo, a falta de atrações de expressão – para muitos, conseqüências do desastroso episódio do falso líder do PCC – tiraram-lhe muita de sua credibilidade, deixando-o visivelmente abatido, sem combatividade.
Por outro lado, um não mais animado Fausto Silva – que ainda consegue dar uma sobrevida a seu Domingão graças às atrações proporcionadas pelo casting da Rede Globo, o que dá ao programa um ar de vitrine global – afirmou em entrevistas que sua motivação, depois de tanto tempo, deve-se à necessidade de criar filhos e pagar contas. Possivelmente, as mesmas razões que mantêm seu antigo rival ainda em atividade.
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Crítica de televisão, Brasília, DF