Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No limiar do colapso

“Volume morto” – a expressão já entrou no jargão popular, até já virou piada, sinônimo de algo agonizante, condenado, em extinção. Volume morto é a água que a maioria dos paulistanos estão consumindo e os cariocas estão prestes a consumir.

A grande verdade é que estamos a um passo de um colapso hídrico. Colapso é muito mais do que crise. Colapso é quando as últimas cotas dos volumes mortos estiverem esgotadas.

E, atenção: quando falamos em água temos que encarar o fato de que água é um elemento que aplaca dois tipos de necessidades básicas, vitais – nossa sede e nossa total dependência de energia elétrica.

São Pedro não é o culpado pelo colapso hídrico – é uma tremenda injustiça e um diabólico equívoco atribuí-lo à falta de chuva. A água está escasseando porque de fato, neste verão, tal como nos dois anteriores, choveu muito pouco. Porém nossos reservatórios e represas estão secando porque na verdade quem faz chover é o ser humano. Quando interfere irresponsavelmente na natureza e desequilibra a balança ambiental, este ser chamado homem – considerado o mais racional de todos os animais – se equipara a uma anta. Que nos perdoem as antas.

Ameaça iminente

O licenciamento em São Paulo de setecentos carros novos por dia não pode passar impune. Nossa mídia, embasbacada, mostra veículos que custam 200 ou 300 mil reais mas esquecem que por muito menos, um terço, pode-se adquirir um carro de luxo com contribuição zero para o aquecimento global. O homem está mudando o clima – esta não é uma questão religiosa ou partidária, é científica, incontestável. Cada pedaço de Floresta Amazônica desbastado é menos umidade na atmosfera da Região Sudeste.

Em janeiro, o Operador Nacional do Sistema Elétrico explicou o primeiro apagão do ano com uma descoberta sensacional – o horário de pico das regiões metropolitanas mudou: antes coincidia com o horário do rush, mas agora começa no início da tarde.

Pergunta-se: isso aconteceu de repente? Claro que isso poderia ter sido detectado um ano antes e, a partir daí, com planejamento e rigor, as soluções apareceriam . E por que não fizemos este planejamento? Porque nossos estrategistas adoram utopias distantes e detestam o dia seguinte.

Num ano eleitoral prometem-se milagres e se esquecem as catástrofes que se avizinham. Esse é o costume eleitoral, em todos os níveis e esferas, sobretudo quando os programas de governo são entregues a marqueteiros que detestam a palavra escassez.

Este Observatório da Imprensa começa a temporada de 2015 com uma séria ameaça de catástrofe que seria menor, bem menor, se a imprensa cumprisse o seu papel de sentinela do interesse público. (Alberto Dines)